Conviver consigo é ver o dia passar. O dia é a própria pessoa. O seu dia. Ver as cores do dia, desde quando o sol impõe sua luz fascinante e interrompe o sono. É difícil, pode-se pensar. Os sons da cidade são de fábricas de amônia e ureia. Os acontecimentos são imprevisíveis. As emoções estridentes. A criatividade precisa ser invocada. O silêncio da voz transforma-se em um ente de mil vozes, muitas mil vozes por serem caladas.
domingo, 17 de novembro de 2024
domingo, 10 de novembro de 2024
Nova montagem _7
Há um percurso de uma pesquisa e, pra cantar, há um percurso da voz. Tenho escutado a voz com muitos vibratos quando atinge um certo vigor e isso causa insatisfação. As pessoas que escutam no instante que ela surge se satisfazem. Em meus ouvidos é preciso encontrar a mansidão na execução, mas a tarefa contém muito trabalho. Muito silêncio e uma excelente captação. Uma oração em uma hora pra ir no caminho de entender como levantar a poeira política sem gritos mas com precisão em cada palavra cantada em suas exatas notas. Tenho orado com Milton, bem junto a esse deus.
Segredo
segunda-feira, 4 de novembro de 2024
Nova montagem _6
Fazer uma nova montagem com recurso financeiro escasso. Ou sem nenhum recurso financeiro, a não ser o que nos trouxer o borderô. Tenho muita fé no borderô, pois ele me deu o recurso base, custeando a banda e parte da produção . Nunca recebi um real por cantar, nem minha amada diretora de arte, mas todas as outras pessoas trabalhadoras de todas as produções, sim. Tive a sensação de ter recebido quando encontrei, depois de alguns anos, um envelope com dinheiro dentro escrito nele "bombambulante" - era o troco de um cachê que eu tinha pagado em dobro e fui atrás. Seria ideal reunir uma produção que trabalhasse pela renda do borderô. O custo com ensaios o borderô não paga, nunca pagou. Elevar o valor da entrada espantaria o público. O percentual de ingressos com valor pela metade se torna mais caro pra produção Há caminhos como encontrar um espaço de baixo custo pra apenas experimentar o que venho pensando em montar, mas o teatro oferece mais magias.
segunda-feira, 7 de outubro de 2024
O papel trocado
O papel foi trocado de lugar. O corpo ainda não, faz a volta pra buscar o papel no antigo lugar. O comportamento condicionado é assim. O reforço positivo é encontrar o papel mas o corpo ainda está no registro do antigo movimento de buscar o papel. Ele gira cento e oitenta graus e encontra nada. A memória recente (não aquela impressa no corpo que busca involuntariamente o papel no lugar antigo, que o caminho que ele conhece, ele sabe e vai) é buscada, o papel alcançado com o pensamento que ordenou o corpo a buscar uma nova direção ditada pela troca de lugar do papel. O novo lugar ainda não está impresso no corpo embora já esteja na memória. A palavra é dita pelo corpo.
sábado, 5 de outubro de 2024
A clínica. Parece o oposto de cantar. Uma requer escuta, silêncio sustentado, a outra pede voz e ganha palmas. Assim como logo percebi que podia cantar, quando me vi, já estava fazendo clínica. As mesmas coisas aconteceram em ambas. passa pelo reconhecimento do outro. A música é um vento que sopra nos ouvidos, analisar é atentar pra o vento soprando do outro mas sem melodias. Joguei as duas pro vento que dá nos pensamentos e estão soprando... É preciso movimento, muito movimento, e encontros, muitos encontros. Vem o desejo, o movimento, o reconhecimento, e resto é da fé, dona da imaginação indo na direção de realizações concretas.
terça-feira, 24 de setembro de 2024
Aconteceu algo muito estranho porque os cães da rua pareciam atordoados. Faço modulação de voz e pergunto olhando para um deles: o que foi? Ele ensaiou vir em minha direção com seu rabo baixo entrando pelas pernas. Desistiu rapidamente. Se eu sinto o cachorro, então ele estava assustado. Outros cães grandes passam e também outros pelo quarteirão. O cão acompanhante fareja mais do que o frequente. Pensei em cadelas no cio. Se eu sinto o cachorro, a respiração e a postura do cão pelo cio seria outra. Pensei na violência contra eles. O cão que me olhou parecia estar perdido, mas e os outros? E o desinteresse do cão na guia nos cães vagando a esmo quando sempre quer chegar perto? Parece que estive na marola que o eco faz no mundo dos acontecimentos. A onda dos cachorros que eu sinto.
terça-feira, 17 de setembro de 2024
Eu em Salvador
Enquanto incendeiam o país, o mar de Salvador remedia o meu dia. Parece até milagre existir uma relação entre o corpo humano, transhumano, e a praia, O cão nada comigo. O país está incendiando mas eu peguei a máquina concertada pela cidade baixa, fui parar na areia. O homem que ficou parado em pé na porta antes de eu abrir, suponho que desejava ser reconhecido como guardador saiu frustrado, pois não disse pra que veio. Só não entendi porque o homem tocou fogo no mato em frente a uma câmera na estrada e depois saiu de moto. Se não fosse o cão esse homem teria dito pra que veio? Outro homem devora um peixe frito todinho pra ele sentado na areia, e eu bem sei o valor disso assim como os pombos que se aglomeraram nos restos mortais da refeição. Eu nadei sem muito esforço na piscina salgada e consegui estabilizar o meu humor, enquanto o país pega fogo. Eu em Salvador.
sexta-feira, 6 de setembro de 2024
Saí com o cão bem de noite. A rua quase vazia e o cheiro da noite. Gente pra lá e pra cá e eu com o cão na guia de lá pra cá na rua aguardando um carro vermelho chegar. Como podem andar sozinhos assim na meia luz da noite no centro histórico da cidade sem medo eu me pergunto com um cão na guia. E ele avançou quando eu não consegui antecipar a presença do transeunte. Foi chamado de danado Ele é danado, foi assim.
Uma máquina pode ser seu amigo
Uma máquina pode ser seu amigo
Uma de costura pode ser aquele tira que a mãe do filho enquanto ela trabalha, a que faz andar suas pernas sem esforços pode ser um ente de importante relacionamento, o barulho discreto enquanto nesse silêncio motorizado os pés nos pedais e mãos na circunferência velejam pela cidade, muitos anos de companhia atuante, dorme a acorda e a máquina está lá envelhecendo tanto quanto você até a hora de cambiar porque todo cambia.
quarta-feira, 21 de agosto de 2024
Cantei cantei cantei cantei por horas e me perguntaram se eu já estaria cansada eu respondi que cantaria por mais algumas horas. Um ambiente de amor cheio de instrumentos musicais todo mundo cantando e tocando e dançando, por quantas horas você ficaria? A música provoca a união seja consigo mesmo seja com o entorno.
sexta-feira, 16 de agosto de 2024
terça-feira, 6 de agosto de 2024
Nova montagem _5
Há que se ter um preparo físico. Ando pelas ruas do centro histórico da cidade com meu cão, entre as pedras, o concreto, a areia da praça sombreada por árvores altas e olhamos pro mar das docas. Crianças indo à escola, mulheres negras na função ainda me olham evitantes. Agora está Caymmi rodando o peão nos meus ouvidos. Sapateia no tijolo, passa de uma lado pro outro. Meu corpo pesava menos nas apresentações anteriores, mas consciência de corpo agora surge aumentada. Agachamentos, alongamentos, mil danças, até o chão. Agora vem o motivo de alguma atividade física, é pra ela, essa coisa nova pois há mesmo um inédito em mim mesmo sem saber se chegarei até lá pra fazer o que tem que fazer. Importante lembrar dos meses frios e úmidos e saltar eles na agenda, o aparelho respiratório precisa estar livre das crises, assim como o gastrointestinal, sem refluxos. Quarenta e cinco minutos de andança na velocidade de um cão que também faz suas paragens. É andar pra ver o mar de manhã cedo. Alinhar com o horizonte e manter o corpo vivo.
domingo, 4 de agosto de 2024
Nova montagem _4
Estou com ela e reencontrei com afrocidade ao caminhar pela minha biblioteca. A música de abertura deve ser muito bem pensada, do mesmo jeito aquela que fecha a montagem. No imediatamente, as pessoas saem com o eco dos últimos versos e só depois elas vão relembrando as canções intermediárias. Eu canto poucas inéditas, nessa montagem cantarei nenhuma, de modo que os ouvintes já as terão ouvido em algum lugar. Meu trabalho de interpretação consiste em escutar o que já existe e já escutado quando elas vêm e me tocam a pele inteira. Assim apossam-se do meu corpo, e aqui o violão, esse instrumento apoio, proporciona o encontro de um tom, a construção de uma imagem primária, pois a imagem da interpretação propriamente dita se faz com a feitura do arranjo de cada uma, uma construção realizada no estúdio, como associação livre, cada instrumentista vai criando na hora com todos os presentes. Gravo a produção do dia, escuto repetidas vezes e volto, como o retorno do recalcado, trazendo os apontamentos das minhas dificuldades de respiração, de escolhas de tons, do que eu encontrei no caminho da interpretação. Ao longo de oito anos, essa prática inundava minhas noites, alimentando a insônia que já fazia parte de uma grande instabilidade existencial. A noite é realmente ideal à criação pelo silêncio oferecido pela cidade: já faz mais de zero hora e ela me toma, ainda que com um indutor na veia na hora marcada do dia que vem sendo eficaz em me fazer adormecer antes da primeira hora do próximo dia, proporcionando a dose de saúde para o corpo que dorme. Escrevo enquanto escuto a seleção, afinal é preciso escutar inúmeras vezes pois as melodias já fazem parte de mim, mas nem todas as poesias estão assentadas para que a mensagem seja transmitida com a justeza desejada.
"Sonhei com a rainha do ouro, ela tava me chamando, no horizonte tem um tesouro, continue acreditando "
segunda-feira, 29 de julho de 2024
Nova montagem _3
A serviço público
A indústria
O sindicato
A transição
É criar a montagem que me salva das realidades tão duras. Eis a imagem dela em atos. A tvbahia transmitiu a paralisação de motoristas de transporte coletivo em Salvador. Um dos manifestantes dançando com discrição o reggae. As manifestações dos operários são regadas de reggae. Participei de algumas. Antes de tudo começar, o protesto em música. Sistema do vampiro, Lili. Movimentos sindicais criaram um presidente de um país. Eu levei quase dez anos pra me sindicalizar enquanto na indústria, o fiz quando o movimento dos operários era de evasão. O sindicato me acolheu com assistência social, e orientou com advocacia no momento dificílimo de rompimento do meu contrato depois de uma década. A reforma trabalhista em 2017 quebrou empregados, demitiu em massa terceirizados, aumentou o número de acidentes de trabalho - pessoas desempregadas, com fome. Logo depois, estabeleceu-se o horror. Para os sobreviventes falam de empreendedorismo, o jeito do sistema que vive sugando todo povo. Assim, é uma montagem para operárias e operários, para trabalhadores, para associados aos sindicatos, principalmente, a mensagem a ser transmitida através da música no teatro. O ato três é composto pelo reggae. Agora pensei sobre não ter colocado o samba reggae. Coloquei. A canção é histórica e história, pois é preciso falar de canudos, evidenciando o nível impressionante de organização dos desvalidos, marginalizados, famintos, desesperançosos, sem-terras, crédulos religiosos, contra o cativeiro mental de um sistema centenário de dor e falsas libertações [GOMES]. É pra o grave tomar a atmosfera com a suavidade de Steel Pulse. Vocais, manchetes projetadas. Talvez o ato mais longo. Nesse momento será possível decidir em abrir o jogo ou não, ser eu mesma ilustração é um preço a ser pago. A sequência se abracadabrarará em GIL, sua presença e fazenda do ritmo no país.
domingo, 28 de julho de 2024
Viver e se perder pelo caminho de um destino só
Viver e se perder pelo caminho de um destino só
No caminho de viver quem sabe sobre a rosa dos ventos? Quem sabe sobre a rosa dos ventos deve saber se encontrar Quando ela roda rápido sob os pés de vento parece perdição O encontro, nele há perdição Senão é desencontro
O buraco do mundo É nele que ela foi se jogar Onde todo mundo vive a se perder em desencontros
sábado, 20 de julho de 2024
Nova montagem _2
O trabalho é para a voz ficar mais mansa, precisa, sem gritarias. Escutar a minha própria voz é da ordem de um eterno estudo, diferentemente do prazer de escutar outras vozes que gosto. A voz de Caroline Oliveira, Riane Mascarenhas, minhas amigas cantoras baianas, causa em mim o prazer de escutar uma voz. Já a minha própria voz não. O prazer de escutar a minha própria voz acontece no momento que eu encontro a execução satisfatória, onde eu entendo que posso seguir fazendo por esse caminho. O não saber sobre a satisfação dos ouvidos que vão ao teatro e escutam a minha voz é surpreendente quando as pessoas declaram suas satisfações. Até aqui, os corpos ouvintes já enxergaram na minha voz muitas outras vozes que considero importantes: Maria Bethânia, Edith Piaf, Elba Ramalho. Penso nos sinais que a minha voz, juntamente com a interpretação puderam alcançar e trazer o retorno sobre uma qualidade do que tenho feito. No palco o corpo está todo a favor da mensagem a ser transmitida. Assim, os sentidos circulam por todo o corpo - os olhos podem estar nas costas, a voz pode sair do coração, por exemplo. É um transe que não paralisa mas executa. Ao descobrir a minha necessidade da presença da percussão e do contrabaixo, amadureço as execuções. Então, desejo compor a banda com eles mais o meu violão de algum jeito e a guitarra e/ou o piano elétrico. Desejo a bateria e algum sopro também, por conta das explosões que prevejo. Enxergo nomes como Riane na voz e contrabaixo, desejo que ela cante e encante com o reggae. Na percussão seria excelente se Alana Gabriela pudesse vir. Trabalhar com quem eu gosto triplica o prazer de fazer música no teatro, a sintonia que se dá na intimidade, no afeto, faz diferença, o público sente junto. Na guitarra tem Gabriel Teles, tem Duda Brandão. Felipe Pires sempre está em meus pensamentos, multi instrumentista, pode assumir o piano, o violão, ele é de uma criatividade harmônica que admiro, como se a coisa ficasse sempre contemporânea. Tem Ícaro Santiago, criativo quanto Felipe. Na bateria conheci Ludovic Guirvach e me interesso pelo trabalho dele, mas seria muito bem-vindo Rafael Santana. Lucas Decliê na flauta e sax alto, um querido.
domingo, 14 de julho de 2024
Nova montagem_1
Está ficando linda e há um desencontro de ouvidos para escutar. Talvez haja encontro para ler. É o meu constante sonho, vivo para uma nova montagem. Está coesa, arredondada, rica de mensagens que me chamaram pra transmitir. Porque não sou eu e sim algo para além de mim. É sofrido o processo, muitíssimo doloroso, até o último segundo quando o primeiro pé toca no palco, ao mesmo tempo a pesquisa instiga, agita meus pensamentos criativos para um chamamento. Unir as trabalhadoras e trabalhadores num beco só pra dizer que nada cai do céu nem cairá [CONFINS], dizer que seus direitos podem ser garantidos. O peão entra na roda, bambeia, sapateia no tijolo [CAYMMI] e precisa de serenidade no movimento de mudar a própria vida de cabeça pra baixo na direção da realização de seu desejo. Eu estudo as minúcias mesmo que o resultado ao vivo apresente suas imperfeições. As obras são escutadas inúmeras vezes enquanto as melodias e a poesia absorvem meu corpo na busca da história a ser contada. Celine Dion diz que o mais importante é a interpretação. Assim, sem espelho de ensaio, frutifico a imaginação para quando ela encontrar a canção sendo executada sob a quentura das luzes na caixa escura. Trata-se de uma dramaturga, diretora artística e musical, cenógrafa, figurinista, orçamentista, produtora executiva, idealizadora e intérprete musical. Cantora, há quem prefira esse nome. É cérebro e corpo a todo tempo. E cachê, tem que ter cachê para a cantora dessa vez. Quero que o tempo me dê tempo pra realizar. A proposta do trabalho está a serviço das reflexões. Zero romantismo. O reggae vem com sua força resistente. É para tocar no fundo do coração civil.
Corpo corrompido
domingo, 7 de julho de 2024
Quanto custa a sua opinião? Falam pelos ladrões. Sabe bem o que é um ladrão? Na hidráulica pense. É o buraco por onde o excesso de água que sai. Quê que há de muito que poucos têm e poucos querem ter? O fio de cobre dos postes da cidade? Esse todo mundo têm, é do povo da cidade. Quando um morre eletrocutado em praça pública pra ter o que tem toda a cidade? O abuso diário na cidade. Quem ganha mais do que poucos têm quando expõe seus comentários sobre um churrasco humano na praça? É um tal de deus é mais...
sábado, 22 de junho de 2024
Se o corpo está em movimento cessam os pensamentos
Se o corpo só respirando no silêncio de um lugar há bastante poluição
Um milhão de imagens, infinitos sons, inquietação estática
Assim cenas com vozes in memorian
Sem saber onde colocar as vírgulas na circulação do sangue - escutei isso, fiz isso, vi aquilo, seria acolá quiçá numa análise apurada na borbulha de informações acatadas
Apaga o corpo exausto parado.
terça-feira, 11 de junho de 2024
Vivendo cada hora do dia
Outro dia, estudava por horas a fio, no outro dia estafava. Um dia cantava várias músicas inteiras, dançava por três músicas seguidas que escutava num dia, às vezes também no dia seguinte. Todos os dias precisava da luz deles para despertar o corpo - sem a aurora esplêndida , acamava. Cedo demais em um dia de longas horas recheadas. Trabalhava por horas no primeiro dia, depois silenciava. Por muitos dias, calava. Todo santo dia analisava, descascava seus caminhos. Por tantos dias chorava, por esses últimos dias secava. Domava seus malignos dias, vivendo cada hora do dia.
domingo, 2 de junho de 2024
Lourdes
Escuto minha avó dizer "calada" enquanto demente já
Ela me diz calada
Ela se diz calada
Ontem
Hoje
Agora
Estive com ela tão presente
Alimentando-me Adorando-me
Querendo-me bem
Enquanto eu viajava
Com dinheiro no bolso
Sorriso no rosto
Beleza no corpo
No sentido de minha morada
quinta-feira, 2 de maio de 2024
O melhor é desistir dos outros e persistir em si mesmo
Assim sendo si mesmo
Na coragem de ser si mesmo
Crer e ver
Ver e crer
O trabalho que o cada dia faz pra ser comprimido em muitos anos
Os olhos em volta com radares de enxergar os raios de toda gente já desistida
Saber ser fio de linha na rede de raios tão pessoais
Firmeza entre linhas é preciso
sábado, 20 de abril de 2024
terça-feira, 2 de abril de 2024
Desprezo para quem me despreza
No vasto imaginário entro na prática do desprezo
O desprezo é muito próximo do ignorar mas não se confunde com ele. O ignorante desafeta, mas a ira do desprezo despreza e cai no colo do desdém, pois já não se crê mais no outro desprezado. O silêncio é uma ferramenta importante
(Não consigo mais elaborar
(Vem poesia, venha agora
A prática requer concentração pra que os olhos desfoquem o desprezado
Sentidos desfocados, desse modo surgirão pálpebras nos ouvidos e narinas
Desprezo para quem me despreza
segunda-feira, 1 de abril de 2024
Contrassexual
Sofro assédio desde criança. Já relatei vários assédios que vivi a alguns homens que julguei confiáveis, que no mínimo acreditei que acreditariam em mim. Não adianta, eles dizem: isso deve ter sido impressão sua.
Eu quero estar sempre pronta pra reagir ao marido da amiga que passa mão na minha cintura ao se despedir bem na frente dela, ou o cara que pegou o elevador que passa a mão na minha bunda na saída , o chefe que arranca um beijo na boca do nada, sem falar das diversas mensagens privadas na rede social que eles mandam o pau na mão... Sem falar os que surgem no final das apresentações achando que a carne da artista está na mesa. Incontáveis maneiras de assédio, de estupro, de importunação sexual, todos os dias, todas as horas do dia.
Tem horas que estou bem atenta e quando o cara tá pensando em vir de lá eu já tô com meu pau na mão pra cacetar ele, porque é excelente poder ver as repetidas, iguais, formas que eles agem e ter tempo pra se proteger. A maioria das vezes não dá tempo, são cínicos, fingem ajudar, fingem admirar, fingem gostar de mulheres. Minha mãe não gosta quando eu digo que homem só quer o buraco pra meter, lutam todos os dias contra o desejo do buraco alheio, que geralmente é o cu de outros homens.
Então, minha mulherada, bora reagir, cacetar, quebrar o pau dos machos, literalmente. Observe atentamente o macho que você mantém por perto, porque justiça é dos home, onde o sofrimento da vítima é trocado por dinheiro e liberdade dos home e tudo o que você sentir como violência sexual em seu corpo será invalidado pelos home.
quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024
Saudade às vezes é burra
Saudade tem não estar:
Meu avô já deixou de bater na porta de casa pra que eu lhes transcreva suas palavras
O corpo impresso de emoções
Voz impressa saudade
Vamos chamar o vento...
Vamos chamar o vento...
Corpo saudade
A voz palavra impressa no ouvido do corpo carregada de muita emoção
Vívida saudade
Ignorante do tempo que nunca a matará