Eu vejo coisas antes mas o que é preciso ver mesmo pra me proteger eu não vejo.
Nada do que eu diga, que eu busque, nenhum movimento meu está sendo capaz de alterar alguma coisa. Essa é a bombambulante encarnada.
Muito límpida, do jeito que a música pede pra o meu corpo estar e transmitir, vulnerável, me deixei ser tocada. A coisa tão pequena. Os 10 reais mais caros que encontrei na rua. Exposição ao extremo, dor ao extremo.
O corpo não dorme mesmo induzido pela química Sem dormir, sem conseguir comer.
A voz de Tim Maia não sai e toda hora ele me diz que me ama mas pensa que não vai ser possível. Uma ferida narcísica tão grande incapaz de fechar quando eu não enxergo e deixo que futuquem nela, mostro a cicatriz e deixo que mexam nela.
Os dias têm sido ensolarados e o ceu azul. Nem a fé no azul. Nem uma resposta sobre o som. O dinheiro vem a serviço de tentar fazer passar a dor, injeto na música, encontro pessoas com rara compreensão de que algo bom pode acontecer e nelas estou me segurando mesmo sem elas saberem.
Eu quero sentir menos, eu preciso sentir menos. Sentir nada. Parece não ter outro caminho senão o da quimioterapia ou do suicídio. Estou na encruzilhada.