sábado, 10 de maio de 2025

 Quando o sol brilha menos na minha cidade de sol, meu corpo parece responder. Quando o dia chega sem o brilho, meu corpo demora. E se o dia passa enuviado, recolho meu corpo desanimado. O sol me traz a rua, seca minhas roupas, acorda meu sono e me traz vontade de viver. Muitos dias de chuva na minha cidade de sol e mar, mexem com meu corpo. 

Posso buscar encontrar saídas sem que nada esteja relacionado com o sol brilhante. A relação edípica quando não se resolve, vive pairando, faça chuva ou sol. Hoje eu até consigo colocar em palavras o meu sensível, também é possível endereçar essas palavras, mas ainda me persegue a sensação de que é melhor não dizer por se tratar do que é apenas sensível para mim. É muito notório quando um adulto foi uma criança bem amparada, quando a  suas dores e seus choros foram dedicados a devida atenção. Mas o desamparo e ataques quando vividos na infância deixam sequelas que nem anos e anos de análise parecem trazer alívio. O alívio pode vir com a morte de um dos lados do triângulo, troncho, tremido, temido. É triste ter que abandonar para se salvar. É difícil falar de uma dor quando o outro diz que todo mundo sente dor, menosprezando suas declarações. 

Quando a dificuldade de viver se alastra por tantos anos, parece melhor não viver. Um dor indizível mesmo que seja atendido o pedido de falar sobre ela. Não adianta. Quando doi, é preciso parar, afastar, proteger os berros e as lágrimas, esconder, fingir, mentir. Enxergar as incapacidades se possível. Uma história de solidão, de insubmissão, de revolução, é sofrida. Se o amor não é bem entendido é porque foi corrompido por gritos, abusos, por uma responsabilidade pesada quando o corpo infantil mal se aguenta. 

Dizer te amo não é o mesmo que escutar. Existem palavras da boca para fora. Existem marcas de dentro, bem no fundo. Cicatrizes invisíveis, mesmo deixando a vida levar, ela carrega sem saber se diz, se cala, se chora, se grita, se escreve, se espera o sol brilhar mais uma vez.

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