Duas mulheres negras reconhecem-se no vendaval da meca brasileira. O som ambiente é muito alto aos ouvidos delas.
É tão bonito e reconfortante para uma delas. Intuitivamente parece reconfortar as duas mulheres apenas por serem elas ali naquele momento. Por recados dados por seus corpos, comunicam-se, nem precisam falar para transmitir mensagens uma a outra. Uma coisa inexplicável, porém constatável, sensivelmente constatável.
Em encontros como esse é que a vida parece mostrar suas qualidades na atualidade. Sim, porque, para haver esse reconhecimento entre duas mulheres negras, foi preciso atravessar anos de escravidão e muita dor, continuamente encarando o racismo, o machismo e o classismo ao mesmo tempo.
Essa dor da história também está presente no encontro de mulheres negras quando uma delas não reconhece a outra como mulher negra.
Andam por aí falando de parditude, mas talvez seja tanta dor da história presente na vida dessa mulher que, diante de qualquer indício de branquitue, ela reaja, mesmo que seja contra outra mulher negra. Podemos citar as relações estabelecidas na meca brasileira, onde a maioria das funcionárias são negras e as clientes brancas - quando um cliente negra se apresenta diante da funcionária negra, esta última reage com recados dados através do seu corpo, com a sua cara fechada, com seu aparente mal humor em servir a uma outra mulher negra. Isso é muito ruim pois, ao invés de ser um encontro entre mulheres capazes de se cuidarem e reconhecerem-se em suas qualidades, provoca um afastamento entre elas se ambas não conseguem entender de onde vieram.
Em ambos os encontros falam de um lugar de reconhecerem-se na dor, mas um causa conforto e o outro escancara o mal-estar.
"Não confunda a reação do oprimido com a violência do opressor." (Malcom X.)
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