domingo, 12 de abril de 2015

AMOR
(João Ricardo - João Apolinário)

Leve, como leve pluma
Muito leve, leve pousa.
Muito leve, leve pousa.

Na simples e suave coisa
Suave coisa nenhuma
Suave coisa nenhuma.

Sombra, silêncio ou espuma.
Nuvem azul
Que arrefece.

Simples e suave coisa
Suave coisa nenhuma.
Que em mim amadurece

terça-feira, 7 de abril de 2015

Mantrando

O único contato anterior à experiência do Yoga Nidra, foi presenciar a prática matinal de Eduardo Rosa enquanto convivíamos.  Folheei algumas apostilas do seu material de formação em Hatha Yoga e escutei a explicações diversas, dentre elas sobre o pranayama, algo que me remeteu à respiração diafragmática, requerida no canto.

Sempre achei que a minha atividade mental, deveras excitada, teria dificuldade em acessar/acompanhar instruções de yoga. O meu pré- conceito era de que “tudo é muito devagar, muito calmo, eu não tenho paciência”. Então, confirmei presença, descumprindo a orientação de comer duas horas antes da atividade, pois despertei do sono à uma hora do início da prática, bebi um suco de melão e uma fatia de pão integral, pensando na rapidez dessa digestão já conhecendo a atividade do meu metabolismo. Mantive-me atenta às instruções. Primeiro a respiração. Minha concentração esteve na fala de Adelena e os movimentos do meu corpo. Senti que havia um descompasso. Eu tentei, como numa atividade de academia de ginástica, reproduzir os movimentos da maneira mais fiel possível. Senti que a minha respiração estava incorreta. Adelena aproximou-se num determinado momento e respirou demonstrando, quando eu pude ter o sinal do caminho a seguir, mas de nada adiantou. A coordenação dos movimentos com a respiração esteve descompassada. Os exercícios iniciais me fizeram perceber a proposta de exigir do corpo o que eu entendi como micro-alongamentos. A cada movimento, a cada repetição, era exigido do meu corpo alongar músculos que eu nem percebia que tinha!

Eu estava disposta no canto da sala – as laterais eram parede e uma gestante, ao fundo outra parede e à frente Adelena e uma porta. Nos alongamentos braçais, senti-me contida por conta do espaço. O suor chegou sinalizando o esforço que o meu corpo esteve fazendo – um corpo sedentário, cuja atividade física resume-se ao deslocamento que um dia de trabalho exige: subir e descer escadas e ladeiras, dirigir, carregar sacolas e realizar a limpeza da casa. As instruções para a entrada no relaxamento , escutei todas, inclusive e principalmente a da “obediência” a mim mesma de que deveria permanecer acordada.  Escutar o som mais distante possível foi uma prática especial - dedicar a atenção para isso me fez perceber o degradê sonoro como fato, aguçando esse sentido. Voltar a atenção para o corpo, coisa que tenho buscado em minha pesquisa pessoal, também – sentir os cotovelos no chão enquanto o relaxamento faz um “quase embalo” ao sono, foi um recurso para que o mesmo não acontecesse.  À  instrução em mentalizar determinadas imagens, como por exemplo, um elefante, dediquei um esforço, porém sem sucesso. Enquanto a voz de Adelena ficava distante, me remetendo a um sono profundo, eu pensava em coisas que eu tinha a fazer, lembro de uma coisa exatamente – entregar a uma amiga um chocolate, encomenda de Eduardo Rosa. O meu estar oscilava, podendo perceber isso através do som da voz de Adelena e os meus pensamentos de “a fazeres”. Pensamentos ausentes de qualquer pré seleção de conteúdo. A música presente também foi importante em me manter acordada, minha audição para esse tipo de estímulo se faz presente, sempre. Ao sair da posição do relaxamento, pude sentir na boca o “gosto do acordar”, com a certeza de que não havia adormecido. Senti o meu corpo revitalizado, solto. Saí da atividade e me dirigi ao meu carro, sem pensamentos. Digo sem pensamentos porque, costumo ter pensamentos que atormentam o meu dia, reminiscências. Era como se as lembranças tivessem deixado de me acompanhar. Então, “sem pensamentos”, fui  tomada por uma agressividade quase incontrolável, um mau humor despropositado – eu julguei - ao mesmo tempo em que passei o restante do dia realizando coisas que estavam sendo, dia após dia, proteladas.

À noite, pude realizar a respiração. Numa conversa com Eduardo sobre a experiência, pude chegar ao entendimento de que a prática do yoga colocou-me disposta a viver o dia, e que a experiência vivida foi uma sessão de análise, porém voltada a tonificar o meu corpo.