sexta-feira, 29 de outubro de 2010

MEU CÃO GENTE

Desde criança convivo com Pinschers. Tootsie, Tilt, Twinkle e June foram os mais marcantes. Tootsie foi a minha primeira paixão cachorreira, cadela de meu tio materno, vivia dentro da casa de meus avós. Namorava Tilt e gerou muitos filhotes, como Twinkle. Tootsie foi quem me fez desejar a raça para sempre, e ganhei June próximo ao Natal de 1999 da minha amiga de longas datas, hoje minha comadre. Meu tio falava inglês fluetemente (ainda fala) e penso que por isso a preferência por nomes na língua inglesa.
Eu passava horas com Tootsie e Tilt no terraço da casa de meus avós, conversava com eles, muito cedo descobri o valor da amizade de um cão. Tootsie tinha crias sempre, nunca vi uma pinscher parir tanto. Meu tio não controlava muito isso, mas ela era uma cadela linda, dentro dos padrões, amorosa, alerta, obediente dentro dos limites da obediência que lhe foi transmitida. Ninguém, além de mim e de meu tio, tinha intimidade suficiente para tocar-lhe ou manejar seus filhotes. Atacava quando necessário. É uma saudade da qual eu não gosto muito de falar porque inevitavelmente vem uma emoção com lágrimas. Para a raça admitir duas pessoas como dono é algo incomum, ainda mais entre uma criança e um adulto. Por isso ela é tão inesquecível e especial para mim.
Tilt era o macho, marido de Tootsie. O seu prognatismo inferior deixava sua espressão muito engraçada, esquisita para mim. Solicitava atenção a todo o momento, mas nunca deixava eu carregá-lo, rosnava e eu desistia de concluir o ato. [escrevendo esta postagem, neste exato momento, tive a sensação de deja vú] Pulava de alegria, pulava muito. Havia uma rede na qual eu sentava para me balançar, brincar, conversar com eles. Ele não subia.
Cuidei de fihotes, dei mamadeira, deitava Tootsie para dar de mamar aos filhotes. Muitos nasciam doentes, ela rejeitava, eu ficava tentando fazê-los sobreviver. Um deles morreu em minhas mãos de criança, e minha avó disse: "enrole num jornal e jogue no lixo". Assim o fiz, sem compreender, mas o fiz. Fora da casa havia uma lixeira feita de pneu de carro, e  lá o depositei com cuidado, sabendo que o caminhão do lixo viria e o levaria para qualquer lugar depois de imprensá-lo bastante.
Twinkle foi para minha casa e adotou minha mãe como dona, pois a mesma era quem dava a sua comida. Não comia ração. Gostava muito de carne crua. Minha mãe resolveu devolvê-la para a casa de meus avós. Durante as minhas visitas, a maior parte do tempo com eles no terraço, não me importava com outras coisas. Tinha agonia de vê-los o tempo todo presos num espaço, sem conviver com as pessoas, privados de circular pela casa. Não demorou muito recebo a notícia que todos serão doados. Chorei, e minha mãe criticou a minha dor. Meu pai interferiu sensível porém asperamente com minha mãe, defendendo a minha expressão de tristeza e dor.
Fui visitá-los na casa da acolhedora da doação, que não era nada acolhedora! Os cães ficavam num espaço muito menor, separados com uma tábua do restante do espaço e fizeram muita festa quando eu apareci. Choro até hoje. Não retornei para me defender de algo que eu não podia interferir e fazer voltar atrás.
Assim, nos meus quinze anos, idade a ser comemorada, preferi ganhar um cachorro. Não desejei festa, queria um cachorro. Disse exatamente as raças de pequeno porte que não serviriam para um bom convívio e as que não eram de meu desejo. Nada foi levado em consideração por minha mãe, figura que costumava definir esse tipo de ações dentro do lar. Ela fez uma festa de quinze anos no casarão de meus tios, mandou costurar uma roupa nova para mim, convidou pessoas, e alguns dias antes dessa festa não desejada por mim, apareceu com uma cadela predominantemente cocker spaniel, preta, linda, com cara de muito dócil, levada até lá por uma tia materna que, entre essa cadela e uma poodle, ficou inteligentemente com a poodle (que desapareceu tempos depois!). Lacinho de fita vermelho elas levaram até a minha cama e me despertaram com o presente de grego. A cadela veio com sarna, sem caudectomização, que na época ainda era legalizada, e tinha um temperamento nada parecido comigo: sua agitação era explosiva! Destruía tudo que tocava. Lembrei do filme Lilo e Stich, para quem asssitiu, Eva, esse era o nome dela, era igualzinha a Stich, programada para destruir o mundo, porém muito linda. Eu não tinha experiência para educá-la, nem tempo. A sarna e a cauda levou-me a conhecer o veterinário Gilton Marques, até hoje médico dos meus cães. Cuidamos, eu e ele (com o dinheiro de meus pais!) de tudo, e fiquei muito feliz ao receber as congratulações por ter feito um bom trabalho. Porém, Eva-Stich continuava programada, e como foi uma realização de desejo meio às avessas, eu não conseguia nem imaginar a hipótese de doá-la, comecei a entrar num estado de estresse. Minha mãe percebeu e eu cedi ao seu imperativismo - doar a cadela. Sofri e depois fiquei aliviada, ela foi para um lugar bom, aos cuidados de boas pessoas, isso era importante para mim.
Depois veio Jade, a primeira, única e última poodle da minha vida,abraçada por todos da família, cujas características antes da aquisição eu fiz questão de ressaltar. Minha mãe perguntou, lembro bem: "Quer levar, Mariana?" Eu prontamente respondi: "Querer levar eu quero, porém a cadela não será só de minha responsabilidade..." Visto que já havia ressaltado suas particularidades, principalmente com sua pelagem. Assim, dediquei-me a Jade, como a todos os bichos que passaram pela casa de meus pais (tinha um cágado chamado Mitchell o qual fui contra a permanência dele pois o lugar dele não podia ser no piso cerâmico! e um curió chamado Ninho, que desde a minha noção de mim mesma, ele esteve engaiolado, cantante e estressado também). Aí ganhei a minha querida pinscher, June, cujo nome tem relação com a deusa da sabedoria de não sei qual mitologia. Era para ser chamada de Joplin, por causa de Janis Joplin, porém minhas irmãs acharam difícil a pronúncia e, acertadamente a mais velha, muito boa nisso como fora ao escolher o nome de Jade, lembrou de um nome de perfume da Natura e assim batizamos a pequena.
Esse pinscher da foto é muito fofo! Queria um filhote para colocar aqui e ilustrar essa postagem. June era muito parecida com ele quando pequena, porém suas orelhas eram caídas. Eu cheguei a pensar que não iriam levantar, mas levantaram! June foi a realização do meu desejo, e está viva até hoje. Uma cadela obediente, que faz todo o trabalho de um bom pinscher mesmo sem ter sido adestrada. Longe de ser neurótica, como a maioria das pessoas que não simpatizam com a raça pensam. Sinto-me segura com a sua presença, pois é um excelente cão de guarda e alerta, não late por besteira e avisa o perigo, além de atacar quando preciso! Meu marido a acha dengosa, porque de vez em quando ela faz xixi no lugar errado, mas só para provocá-lo. Minha filha prefere o nosso pug, Tosh, porque, segundo a mesma "ele é mais carinhoso". Claro, um pinscher não é feito para ser carinhoso senão com o seu próprio dono! rsrsr Elas brigam como verdadeiras irmãs, e é algo muito interessante e engrandecedor para a educação de ambas. June é uma sábia e sabe viver muito bem, vai comigo para onde quer que eu vá, desde um passeio de carro até à praia, como um viagem de ônibus até ao veterinário, como tantas vezes fomos.
A partir dela eu reconheci o quanto sou mesmo capaz de criar bons cães. Segui a receita de uma moça com quem cruzei em frente à escola na qual eu estudei, já com uns 16 ou 17 anos, que apareceu a minha frente com um pinscher no colo e deixou que eu o tocasse:
- Mas não morde?
- Não, não morde, pode tocar...
- O que você fez para esse pinscher ser assim?
- É só dar muito amor, muito amor...


Indico a visitação do site a seguir para quem deseja saber mais sobre a raça Pinscher. Foi um dos textos mais completos sobre o tema que já li.
http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/pinscher/pinscher.php

SE GOSTOU DO TEXTO E SE GOSTA, INTERESSA-SE OU ADMIRA UM CÃO, SIGA O MEU SEGUNDO BLOG, ESTE TEXTO ESTÁ LÁ!
http://meucaogente.blogspot.com

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Escolhas

A revista Superinteressante faz tempo não é tão interessante. Minha crítica vai para o teor fútil e superficial das suas reportagens. Penso que uma reportagem séria tem seu custo, principalmente para uma revista brasileira.
Lembro de meu pai ter contratado a assinatura mensal da revista quando eu era criança. Nunca chegava o exemplar. Sabe-se lá o que acontecia... A assinatura foi cancelada, eu acho.

Meu marido vira e mexe adquire exemplares quando a matéria principal chama a sua atenção. Ele adora revistas, não se concentra muito em livros como eu, mas esse funcionamente rende-lhe sua atualização com o mundo, com as novidades. O telejornal eu aprendi a assistir com ele, e descobri que a minha atenção auditiva juntamente com a visual não se dão muito bem. Hoje eu ouço telejornal, prefiro o rádio à televisão. Entre um filme legendado e dublado, prefiro o primeiro, os sons são algo secundário num filme para mim, salvo os filmes nacionais, pois domino a minha língua pátria. Não tenho paciência para desenhos animados, às vezes assisto ao Os Simpsons, pelo conteúdo, pois o gráfico é muito pouco atraente!

Retornando à revista, encontrei num desses exemplares adquiridos cuja matéria principal é sobre os sonhos. Meu contato com a teoria da psicanálise tem uns 6 anos, minha biblioteca é composta principalmente com exemplares desse conteúdo. A teoria freudiana costuma me alimentar quanto aos assuntos psicológicos. Mas não comecei a escrever para falar dos sonhos. O que me chamou atenção foi uma sessão (da qual também retirei algo sobre os sonhos num exemplar encontrado dentro de um dos veículos que me levam ao trabalho), chamada PAPO. Nessa edição o título é: "Não escolha demais. Seu cérebro pode pifar", com texto de eduardo Szklarz numa entrevista à Sheena Iyengar, deficiente visual e professora de negócios da Universidade Columbia. Algo muito breve, conforme perfil da revista, mas interessante para mim, pois havia constatado isso desde que me tornei consumidora independente - meu salário, meus gastos. O que essa moça declara tem um sentido lógico. Vou transcrever uma parte para não violar os direitos autorais da revista:

"(...) quanto mais opções temos, mais esse processo [de escolha] fica pesado e confuso. Acabamos sobrecarregados. E nos sentimos obrigados a escolher só porque só porque as opções estão disponíveis. (...) Precisamos ser estratégicos. Quanto mais você simplificar ou delegar escolhas que não são importantes, mais recursos mentais terá para as que importam. Para mim, é importante pensar sobre como vou organizar um estudo. Não Não me importa tanto o que vestir para ir ao trabalho. Em 3 minutos decido a roupa e o sapato, e assim elimino decisões que ocupariam meu tempo. (...) O que digo é: escolha bem o momento em que vai fazer suas escolhas."

O quanto o aspecto cultural interfere nesse processo de escolha é fundamental. Assim vivo e sofro por viver numa sociedade capitalista, e brasileira, que recebe todo o lixo de tudo quanto é canto do mundo! Mas às vezes as oportunidades são únicas, ou se escolhe ficar parado na inércia ou agarrar. Até para gastar dinheiro tem que ter oportunidade (de tê-lo na conta!). Opto sempre pelos meus momentos de satisfação. Não sei se entrar na minha angústia toda semana é algo tão lucrativo, os momentos de prazer são raros nessa vida e eu não sei quando morrerei.

Enfim, passei aqui para corrigir os erros de digitação deixados nas últimas postagens e acabei escrevendo. Meu remédio...

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

SENSUAL

Líndíssima, e sem comentários. Mesmo triste e depressiva, mesmo aos que amam e desamam, essa poesia é algo singular que todo brasileiro, pelo menos eles, deveriam tomar conhecimento. Belchior está na minha lista de prediletos, um dos poucos que me faz chorar.

Ney Matogrosso regravou também lindamente, como tudo o que ele canta, embora penso que tenha trocado o trecho "uma fera- animal ferido" por "bicho- animal ferido" e "quero lhe deixar molhada em bom humor", ele canta "molhada de amor". A fonte de pesquisa dessa poesia foi a internet, não acho que seja uma fonte muito precisa...

Estou triste, mas esse achado me trouxe algo de bom, de bom do que existe em mim romântica e sensual.



Quando eu cantar



quero ficar molhado de suor.


E por favor não vá pensar


que é só a luz do refletor.


Será minha alma que sua


sob um sol negro de dor;


outro corpo, a pele nua,


carne, músculo e suor.


Como um cão que uiva pra lua


contra seu dono e feitor;


uma fera-animal ferido


no dia do caçador;


humaníssimo gemido


raro e comum como o amor.


Quando eu cantar


quero lhe deixar


molhada em bom humor.


E por favor não vá pensar


que é só a noite ou o calor.


Quero ver você ser


inteiramente tocada


pelo licor da saliva,


a língua, o beijo, a palavra.


Minha voz quer ser um dedo


na tua chaga sagrada.


Uma frase feita de espinho,


espora em teus membros cansados:


sensual como o espírito


ou como o verbo encarnado.



Sensual - Composição de Belchior e Tuca, interpretada por Belchior no álbum "Todos os Sentidos", de 1978

domingo, 17 de outubro de 2010

Vai ser uma overdose de ansiolítico se isso é que existe
Uma pessoa desejar o fim e não tocar no fim
Só uma overdose, a última dose, aquela que desliga tudo
sim , sim , uma vez depressiva, sempre depressiva
Bipolar
Ter, dê, à
Uma hora assim, outra hora assado
Ninguém aguenta um sujeito impetuoso e mal amado
Nem o próprio sujeito
Boicotador de si mesmo, correndo pra tocar na morte, experimentanto [experimentando] infelicidades
enlouquecendo o alheio de tão concentrado em si mesmo
Loucura também é narcisismo?
Tire o ponto de interrogação e diga
Se o quem me pôs nessa vida teve um péssimo plano
Sofrimento que não descola, angústia que me persegue, me amola, enche meu saco
Indignação com a falta de educação alheia, com moleques falando besteiras
Nem aí pra o futuro do país, nem aí para o fim do mundo
então que venha o fim do mundo
se ninguém quiser eu quero pra mim
Viver pra morrer, tem algo tão incomprensível quanto isso?
E se nem tudo eu posso fazer
em nome da moral , de bons costumes
em nome da hipocrisia do homem
Sublimar, sublimar, afundar
porque até a arte tem limite nesse lugar
que ninguém tem limite
quer algo mais contraditório do que não poder gritar dentro da sua própria casa
mas a casa não é minha, não é meu esse lugar
eu não sou da sua rua, nem falo a sua língua
minha vida é completamente diferente da sua
não sei resolver coisas
não sei o que é paz
nem soube o que é pai!
Quando eu pensei que sabia, me avisaram que era meu avô
E que dor... perder aquele que me deu lições e prazeres,
aquele que não gritava comigo, que me encaminhava e um dia eu estava pedalando sozinha
aquele que soube me pedir carinho, que era feliz com a minha companhia
O mundo era movimento perto dele, a música sempre estava, mesmo inventada
Eu fiquei com jackson do pandeiro, meu coração no seu santo, caetano, minhas lembranças no doce de leite
Eu pensava, sentia, curtia, sorria
Não consigo mais...
Talvez um ansiolítico resolva
Um psiquiatra fingindo entender a minha dificuldade de viver
Uma analista que eu supunha saber
Do meu próprio inimigo que eu tento conviver
Este espaço é meu, e ninguém me impedirá
Aqui eu posso gritar, xingar
Há um aviso na entrada, leia se aguentar
Escrevo pra ver se resolve
se eu consigo conviver com essa vontade louca de morrer, de deixar de ser
Sei que um sono vai me bastar
E se meu coração parar de bater eu vou agradecer

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Cama nova

Minha cama nova
Meu quarto pintado
Não aceito rugas nas paredes
quero-as lisas, limpas
Assim como o lençol da minha cama nova
onde com você vou deitar e inaugurar

Um cão novo, os cães de antes
Todas as paredes pintadas de branco
Caqueiro novo, muda nova
Cuidado com o que já está plantado
Nosso quarto, nossa cama
Livre de passados,
livre antigos amassos,
longe das velhas rugas

Assim quero seu abraço,
meus braços entrelaçados
No movimento do meu sono
encontrar seu corpo no caminho de me ajeitar
encontrar o seu gosto e dormir ao seu lado
Como um casal apaixonado

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Parte da parte da história,

Adquiri o novo álbum de Vanessa da Mata, "Bicicletas, Bolos e Outras Alegrias", juntamente com o de Zeca Baleiro, "Trilhas - Música para Cinema e Dança".

Vanessa e Zeca fazem parte da história do meu matrimônio. Fomos assistir ao primeiro show de Vanessa em Salvador quando foi possível pagar somente R$14,00 por cada ingresso. Imediatamente comprei dois, sabia que ele não iria resistir a esse convite. Teatro Jorge Amado, 2004, se não me engano. Como sempre testanto meus níveis insuportáveis de ansiedade, ele chega pouquíssimos minutos antes de começar o show, quando todos já estavam entrando e escolhendo os melhores lugares, todo molhado da chuva que resolveu cair subtamente para presentear esse encontro. A chuva é sempre bem-vinda, o mar é sempre bem vindo, foi dentro das águas que nos beijamos a primeira vez. Meu marido é literalmente meu presente das águas... Se sou mesmo de Oxum como dizem, nada mais justo.

Quando entrei na loja pra comprar o cd, ele disse que eu ia comprar pra ficar criticando. Mas eu funciono assim, desde que comecei a consumir música. Pouco compro o disco original hoje em dia, porém se o faço, vasculho tudo o que ele traz - observo cuidadosamente todos os detalhes de encarte, de capa, instrumentos de cada música, profissionais envolvidos, letras das músicas, minha interpretação delas, arranjo, cores. Ouço, reouço, ouço, reouço, de novo, e de novo. Minha mãe dizia antigamente com os LPs que eu ia "furar o disco"! Meu pai, que eu ia quebrar o aparelho de som!

Temos todos os álbuns de Vanessa da Mata, por coleção. O meu predileto é o primeiro, cuja criatividade de composições próprias ainda não foi superado, porém a dicção dela deixa a desejar. Isso foi melhorando nos próximos discos, o som foi chegando a sua influência do reggae. Sua parceria com Kassin foi fazendo o molde do que é o trabalho dela hoje. Som gostoso de ouvir, mesmo eu ficando irritada com o agudo persistente da sua voz, mas o som dela é pra quem ama, quem vive o amor. Baladinhas românticas, de uma moça com seus 30 anos que escreve poesias e faz músicas, tudo na sua cabeça, pois a mesma não toca instrumentos, só "arranha". Esse novo cd está assim. Como não sou de ouvir um som só, Vanessa me satisfaz de vez em quando. Estou no tempo de degustação do álbum...

Zeca Baleiro.. Ah! Zeca Baleiro foi meu grande amor quem me apresentou. Perguntando se eu conhecia o som de Zeca, ele cantou justamente "Quase Nada" enquanto caminhávamos pela praia. Fui capturada inconscientemente pela letra da música - meu marido tem um excelente gosto musical, porém quando canta é algo quase indecifrável! Mas eu gosto, amo quando ele canta, no seu tom especial, quando eu tento decifrar o que ele está cantando e consigo (às vezes não!rsrs) Ele não canta qualquer música para mim, as músicas se transformam em A MÚSICA, quando ele canta. Assim, Zeca Baleiro, com seu vozeirão grave, legítimo, com sua criatividade poética e sonora é o que há de bom e moderno na música brasileira. Não sabia que ele compunha para cinema e dança, e fiquei satisfeitíssima com essa ideia. O Xote do Edifício está tocando na rádio, e eu adoro. Rosi Campos (aquela atriz que fez a "mamuska" numa novela global), está cantando uma faixa e a voz é muito lindinha!

Ouço músicas internacionais, mas não existe qualquer coisa que se compare a boa música brasileira. Disso eu posso falar com muito orgulho do meu país, embora exista pouco reconhecimento e investimento da arte. Tenho vontade de morar em outro lugar quando penso da desvalorização de um artista brasileiro, quando penso na falta de sensibilidade dos próprios brasileiros em reconhecer uma boa música. Ouço tudo, do pagodão à música clássica, mas não consumo tudo. O ritmo do arrocha e música tipo seresta é o único que consegue bloquear a minha escuta. Lembro que minha tia tocava teclado e tinha um botãozinho que fazia o break nas músicas. Em inglês significa romper, quebrar, separar com "força". Não sei explicar isso direito, mas o arrocha para mim é assim, o botãozinho do break, o tempo todo, do início até o fim, fazendo faltar uma elabroação instrumental... Confesso que acho a dança algo super interessante, criativo, bem a cara do brasileiro, e invejo quem tem a coordenação motora hábil ao ponto de desenvolvê-la! André Abujmra, filho de Antônio Abujmra (o inesquecível Ravengar!), autor de trilhas como Castelo Rá-Tim-Bum! etc., aconselhou o não preconceito, que se imaginasse o encaixe de estilos como Sandy, com Pink Floyd e música clássica, e algo seria possível sim...Eu concordo. O que falta é esse algo possível aparecer mais na música popular brasileira.

Hoje não enxergo bons cantores, nem compositores. A mídia está fabricando um monte de artista que nem sequer estudou a sua própria voz, não tem técnica nem para fazer melhor ainda com o seu próprio dom. Ouvi dizer que Luan Santana canta muito. Discordei no ato, mas preferi não prosseguir com a discussão. Gosto musical não se discute, o que se justifica a diversidade. Dom também precisa de técnica, precisa ser educado, lapidado, e ser afinado é completamente diferente de ter uma boa voz. Gosto quando o cantor me arrepia com a sua potência de voz, quando a voz me transmite coisas diferentes do que já ouvi, quando me deixa sem respirar ou respirando melhor só pela atração que me causa com sua música. Por isso fico chateada com o agudo de Vanessa da Mata às vezes...rsrsrs Tem vozes maravilhosas de mulheres... As baianas Cátia Guimma, Márcia Short, Cídia (de Cídia e Dan), Jussara Silveira, Vânia Abreu, a própria Ivete Sangalo, a sua irmã, Mónica Sangalo (que voz maravilhosa!) fazem parte da minha lista de admiração. No Brasil inteiro... Ângela Maria, para mim é exemplo sim, pena que hoje em dia pouco se faz referência a uma voz como a dela.

Enfim, vou colocar a letra da música de Zeca Baleiro para ilustrar a postagem de hoje. Faz parte da parte romântica da minha história... Para você que ler a seguir, imagine-se caminhando na areia da praia, com o homem que julgar mais lindo. Cheiro de mar. A cena tem que ter cheiro!

Desejo momentos assim para todos que se descobrem amando...

QUASE NADA
(Zeca Baleiro / Alice Ruiz)

De você sei quase nada
Pra onde vai ou porque veio
Nem mesmo sei
Qual é a parte da tua estrada
No meu caminho

Será um atalho
Ou um desvio
Um rio raso
Um passo em falso
Um prato fundo
Pra toda fome
Que há no mundo

Noite alta que revele
Um passeio pela pele
Dia claro madrugada
De nós dois não sei mais nada

De você sei quase nada
Pra onde vai ou porque veio
Nem mesmo sei
Qual é a parte da tua estrada
No meu caminho


Se tudo passa como se explica
O amor que fica nessa parada
Amor que chega sem dar aviso
Não é preciso saber mais nada

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

no saci

Acabo de ler o jornal na internet e descubro o Dia do Saci: "Restaurante cria menu para o Dia do Saci e vende kit com cachimbo". Quem é Saci? O que é saci?


O Dia do Saci consta do projeto de lei federal nº 2.762, de 2003 (ainda não é lei aprovada pelo Congresso Nacional), elaborado pelo então líder do governo Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e Ângela Guadagnin (PT-SP) com o objetivo de resgatar figuras do folclore brasileiro, em contraposição ao "Dia das Bruxas", ou "Halloween", da tradição cultural dos EUA. Propõe-se seja celebrado em 31 de outubro. Anteriormente, consta que iniciativas semelhantes já tinham sido aprovadas na  Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo e na Câmara Municiapl de São Paulo.

FONTE: http://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_do_Saci

Sou do tempo que Saci era somente o nosso personagem folclórico, figura da raça negra, que fumava cachimbo e fazia brincadeiras de mau gosto para proteger a sabedoria da mata. Dispunha de uma só perna, o que o fazia pular ao se locomover com agilidade. Mas costumava mentir, lembro muito bem do Sítio do Pica Pau Amarelo, de Monteiro Lobato. A risada do Saci no programa de televisão era hilária! Meio rouco, penso que te tanto fumar...rsrrs

Estou no tempo em que o saci é uma gíria fluentemente utilizada pela população da cidade onde vivo, da periferia ou não. O cachimbo é o do usuário de crack, improvisados com latas principalmente. "Estou no saci" quer dizer que estou com muita vontade de. Como a origem da gíria vem dos usuários de crack,  então é somente a vontade de usar mais a droga. Essa vontade não é uma simples vontade, é algo insuportável de sentir, aí então o sujeito perde a noção de si mesmo e, para conseguir mais uma pedra para colocar no cachimbo, salta mais que o nosso folclórico saci. Essa é uma das consequências avassaladoras do uso so crack. A mentira do saci é que a droga vai saciar se consumida imediatamente, o que não acontece. O crack vicia rápido, reúne restos de substâncias químicas detonadoras de neurônios. Engana o corpo, engana a mente por pouquíssimos minutos, a sensação de desprazer é muito mais intensa que a de prazer. É o que dizem, é o que todos estamos constatando vivenciando as consequências da presença constante da pedra no caminho de todos nós hoje.

No CETAD - Centro de Estudos e Terapia do Abuso de Drogas, da UFBA, a maioria dos frequentadores dos grupos de terapia são dependentes do crack. Tomam o famoso rivotril para combater a ansiedade. Neste domingo na revista Muito do jornal A Tarde trouxe uma entrevista com Antonio Nery, fundador do CETAD. Ele declara descordar do slogan "crack é cadeia ou caixão". É mais que óbvio que a reposta à questão do crack não deve ser colocada de forma binária, vai muito além disso...

Não sou especializada no assunto, um pensamento vai buscando outro. Da manchete do saci do restaurante, para o saci da nossa mitologia, para o saci dos nossos dias... diretamente para o pagode oriundo da periferia da minha cidade, muitas vezes retrato da pouca leitura, do apelo ao sexual. A letra da canção a seguir ilustra a postagem de hoje. A banda não sei se existe ainda, mas o seu líder é hoje conhecido como Edcity, figura interessante do estilo, abordando pontos da realidade social.  Ah! observe que também tem a bruxa!!!!!! kkkkkkkkk São os símbolos fazendo arte...

 SACI - Fantasmão
"Todo mundo sabe que o saci dança de uma perna só
Ainda mais quando tá na bruxa!"


Eu sei que a galera tá curtindo a noite com azaração
Depois da balada a galera no posto quer mais curtição
Eu sei que a galera tá curtindo a noite com azaração
E depois da balada a galera do posto quer mais
curtição


Não exagere galera, se ligue na idéia que eu vou lhe
dizer


Cuidado com a lombra que a lombra te pega
Te joga daqui, te joga de lá
Cuidado com a lombra que a lombra te pega
Te joga daqui, te joga de lá
Cuidado com a lombra que a lombra te pega
Te joga daqui, te joga de lá
Cuidado com a lombra que a lombra te pega
Te joga daqui, te joga de lá


Tá no saci
Dançando de uma perna só


Tá no saci
Dançando de uma perna só
Tá no saci
Dançando de uma perna só
Tá no saci
Dançando de uma perna só


Tá na bruxa negão
Tá na bruxa negão
Tá na bruxa negão
Não vá perder a noção

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

No caminho

No caminho eu vejo carros, caminhões
Vejo os mesmos bichos, mesmos sítios
No caminho eu ora sinto frio, ora sinto calor
Agonia condicionada
Alegria quando abertas as janelas
Todo dia, nessa mesma trajetória
para lugar onde não estou
Para lugar parado e inflamável
De estruturas mórbidas, poluídas, poluentes

No caminho tento me concentrar
Em algo para me retirar
Me colocar de volta
É o meu caminho
Tento enxergar a beleza
De repente algumas flores azuis, amarelas,
acesas em meio ao denso verde mato
Coloco minha alma junto à música
Coloco meu espírito em atos dignos
Faço planos, desligo

No caminho, todo dia, filas nada organizadas
Atitudes ilegais e desleais
Buraco, asfalto

Casas de papelão
Lixo pelo chão
Meu estômago quase na mão
Minha cabeça nesse caminho
Todo dia
Indo e vindo


Cheguei na gaiola e abri minha caixa de mensagem. Recebo regularmente mensagens de reflexão, auto ajuda, sei lá como chamam. Coincidentemente parte de uma delas dizia que "a estrada do bem está cheia de tropeços e dificuldades,mas é por ela que se chega aos campos floridos da felicidade". Bonito isso, né? K K K, como costuma dizer quem me mandou a mensagem. Recorro ao meu remédio então. Tento escrever. Falar de felicidade? Meu marido fala tanto nessa felicidade, que quer ser feliz...

Quem será essa poderosa, dona de todos os sonhos alheios? Insisto em dizer que ela não existe. Existe o buraco que se cava para alcançá-la e, no meio do caminho, sente-se o cheiro dela, o gosto, temperatura e o que mais o sentido humano é capaz de captar - felicidade não é necessidade, não se pode pegá-la, nem alcancá-la. Já pensou "chegar à felicidade"? Eu morreria então. Lembrei do pote de ouro no fim do arco íris! Alguém conhece o fim do arco íris? Só existe o fim do arco íris quando a luz do sol deixa de incidir sobre as gotas de chuva presentes no ar, e quando tem alguém para obervá-lo. Se não existe observador, o arco íris aparece como qualquer outro fenômeno. Já cansei de gritar: olha o arco íris! quando ninguém ao meu lado ainda o havia visto.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

DESAPARECIDO

(Mano Chao)

Me llaman el desaparecido
Que cuando llega ya se ha ido
Volando vengo, volando voy
Deprisa deprisa a rumbo perdido

Cuando me buscan nunca estoy
Cuando me encuentran yo no soy
El que está enfrente porque ya
Me fui corriendo más allá
Me dicen el desaparecido
Fantasma que nunca está
Me dicen el desagradecido
Pero esa no es la verdad
Yo llevo en el cuerpo un dolor
Que no me deja respirar
Llevo en el cuerpo una condena
Que siempre me echa a caminar

Me dicen el desaparecido
Que cuando llega ya se ha ido
Volando vengo, volando voy
Deprisa deprisa a rumbo perdido

Me dicen el desaparecido
Fantasma que nunca está
Me dicen el desagradecido
Pero esa no es la verdad
Yo llevo en el cuerpo un motor
Que nunca deja de rolar
Yo llevo en el alma un camino
Destinado a nunca llegar

Me llaman el desaparecido
Cuando llega ya se ha ido
Volando vengo, volando voy
Deprisa deprisa a rumbo perdido


 
Manu Chao (Paris, 26 de junho de 1961), cujo nome completo é Jose-Manuel Thomas Arthur Chao é um músico francês. Recomendo a escuta desse som.