quinta-feira, 30 de março de 2017

Sou cantorinha

Foto: Carol Magalhães

Eu nesse momento sei que não sou uma boa cantora
 Sou cantora
 Cantorinha
É uma onda pq ela tb é o outro
Todo tempo
Eu acho que pirei
De vez
Quem olha pra ela
Quem se dispõe frente ao vazio dela
O outro é a região mais densa.
 Menos densa, mas densa.
 Eu lanço a densidade do meu canto. No vazio, que eh de onde ela sai
 E é propagado. Isso eh física.Se o outro só está escutando, dançando, cantarolando está menos denso que a densidade do meu canto
E vai no vazio dele
Que tá lançando outras densidades. Seja na carne e no osso, seja em outros símbolos.Mas só a arte.Só a arte faz isso. A psicanálise auxilia, é a arte marcial ao encontro de uma posição criativa e política.

quarta-feira, 22 de março de 2017

Um choque no microfone

Por mais que eu busque cantar, o que eu quero mesmo todo dia é morrer
Se puder morrer cantando melhor        
 O mundo me sufoca, e eu só tô buscando um jeito de tomar ar

domingo, 19 de março de 2017

Menina Baiana - claquete 1

Um circuladô
Ao vivo
Passou
E quer ficar
Um circuladô
Só beijou
Abraçou
Olhou no olho
E eu não tinha noção
Das suas dores

Circuladô na odisseia
Kahlo circuladô
Espero circuladô
Desenho
Canto
Escrevo
Circuladô
"É viva quem já me deu"
Teço
Circuladô
Já te amo, presente.


Diante de um existencialista ateu está a menina baiana. Ele angustia ela, mexe com ela. Muita gente já passou por eles, muita gente se foi, pouca gente ficou. Ela pede pra doença da paixão que pegou passar. O existencialista ateu diz: eu quero passar e ficar.


- Você é linda. Um anjo. Apaixonante. Um amor. Você é linda. - ele falou.

Falou também que a vida é feita de perguntas sem respostas.
Que as coisas são como são.

Eis que a doença a acomete, instantaneamente. Transumanamente ela, diante dele, se escancara novamente.

sexta-feira, 17 de março de 2017

Um papel

Sou um papel
Branco
Pardo
Vegetal
Me risque
Trace
Linhas da vida
Rascunhe em mim
Fique contente com o seu traço perfeito
E me beije
Me encha de beijos
Eu sinto o cheiro da sua boca
A maciez dos seus lábios
E seus cílios fazendo cócegas em mim
Agora me dobre
Com suas unhas
Ratifique a dobra que você fez
O papel tem cheiro de baralho novo, de livro novo
Em células mortas
Leve
Com você

quarta-feira, 15 de março de 2017

A cidade dominada por um gorila. A questão era onde se esconder pra que ele passasse e não percebesse a presença nossa. Entre familiares, amigos e toda a população, eu carregava minha cadela pinscher o tempo todo. As casas estavam destruídas, sem telhados, gente correndo, embora um silêncio. Silêncio de matagal, de floresta. Quanto menos barulho mais chance de sobreviver . Eu entrava num quarto escuro, com algumas seteiras. Lembro de minha prima estudar sugestionar algum local. Era corrido decidir. Aqui, vamos ficar aqui, em silêncio. O quarto enchia de gente, eu escutava os passos pesados do gorila se aproximando. A outrs cadela poodle soltou  um latido. A pinscher no meu colo, rosnava como um cão de guarda exímio, obedecia ao meu comando: "schiii, quieta" eu falava no pé dá orelha dela e pensava: se ele é um gorila, já escutou e sentiu o nosso cheiro de medo, já sabe q estamos aqui. Era nesse exato momento em que ele passava pela porta debochando de quem estava escondido no quarto. Não olhava pra dentro. Eu me indignava porque o tamanho dele era de um homem adulto, alto, e estava vestido de paletó e gravata, acompanhado por homens brancos e altos, subordinados a ele, como uma gangue. O gorila dava alguma ordem. Eu entendia que era pra atear fogo no local, ao mesmo tempo em q pensava que se ele me pegasse eu iria me debater até morrer. Quando eu olhava pras janelas, antes avistadas como alternativa de saída do quarto, elas estavam bloqueadas por entulhos, móveis etc. Não havia saída a não ser pela porta. Assim, permanecemos em silêncio até entendermos que a ameaça havia ido embora. Saí pela porta do quarto com a cadela no colo,  sentia com isso que estava sendo protegida por ela e que também lhe dava proteção. Era muito certo esse sentimento. Deparava com um campo enorme, com muros, gente correndo, eu dava a volta e entrava num local com piso em cerâmica e sentia água vindo pelos meus pés. Era algo como uma enchente, eu via antecipadamente e alertava os outros. Rapidamente estava de passagem por uma loja de departamentos (todos os locais eram abandonados) e pegava na prateleira uma boia, convocando minhas irmãs e primos a pegarem pra seus filhos. Eu pegava uma que era uma calca boia e uma camisa boia. Correndo, enchia a calça enquanto a água vinha subindo o nível. A cadela ainda estava comigo, eu enchia a calça e vestia, a água já estava levando tudo. Chamava meus familiares pra se segurarem em mim, eu estava segura naquele mar porque a calça me manteve estável. Eu dava a camisa pra minha prima encher e se proteger. É uma prima que mora fora do país. Eu me perdia da cadela quando chegava na terra. Eu assoviava, assoviava e ela nunca aparecia. Eu perguntava a todos pelo caminho se tinham visto ela, meu coração doía com a falta. Mas eu tinha que continuar andando. Um grupo rival do gorila, composto de humanos, surgira e essa foi uma alternativa pra que todos se sentissem seguros de algum jeito, mesmo sabendo que a batalha era entre eles, e era pra continuar se salvando quem pudesse. Eu continuava procurando minha cadela. Assoviava dentro de um local que respondia, coincidentemente ou não , com um "TOC TOC TOC". Eu insistia assoviando pra tentar descobrir de onde vinha o som, se ela estava presa sob os escombros. Eu imaginava ela magra demais e sem forças pra chorar e me mandar sinais, pra arranhar e me fazer ter certeza que era ela. Eu não tive certeza que era ela. Continuava a procurar, mas certa de que teria que desistir pra me salvar.

terça-feira, 14 de março de 2017

Um ciclo
Vai passar mais um
E a frustração trará frutos
Como a luz do rastro das estrelas
Será bonito ver pára brisas
Será bonito ver pára raios
De vez em quando olhar pro retrovisor será um benefício
A certeza de que não se tem um grande amor
Se vive um grande amor
É deixar​ ele ir

domingo, 12 de março de 2017

Só você e sua música
Quer que eu cante pra você
Uma música
Só minha
Pra você perceber
o meu vazio
Correndo pro seu vazio
De perguntas sem respostas

quinta-feira, 9 de março de 2017

Estão me falando de despedidas
E eu aguardando chegada
Parece uma mesma dor
A coisa e seu oposto
É o seu oposto

terça-feira, 7 de março de 2017

Case comigo
Tenha casos
Mil casos
Caso se case
Me largue
Amigo
Eu quase sempre
Não sei o que digo
Quando caso comigo
Descaso contigo