quarta-feira, 31 de julho de 2019

sábado, 27 de julho de 2019

Nem todas as caixas são para anotações
Ficou fácil compreender nesse caso
O pensamento cuspido sem julgamento merece apenas uma caixa
Ficar guardado lá
Se remexendo
Fazendo barulho de vez em quando
E desvirtuando a atenção
Plena
Tentando ficar
No mundo das palavras
Quanta besteira!
Quantas palavras!
Caixas!
Guarde o seu corpo podendo caminhar
Dispense o resto
O silêncio reverso
Uma reeducação
Um reencontro
As pessoas falam sobre elas mesmas
Estão todas certas - sobre quem mais haveriam de falar?
Diálogos vazios
Queixosos
Eu sou uma pessoa


No mergulho as vozes humanas são caladas
Escuto apenas estalinhos de crustáceos trabalhando sobre as pedras
Esse é o melhor silêncio
Embaixo d'água no mar calmo




segunda-feira, 22 de julho de 2019

Na simbiose
A cabeça dele segura as minhas pernas
As vezes repousa sobre o meu tronco
E a qualquer movimento meu
Ele desperta
Se meu corpo perambula
O seu corpo também perambula
Nos aquecemos no frio
Nos abraçamos no meu recolhimento
Basta uma parte dos nossos corpos
Em contato
Na simbiose
Somos necessários
Um para o outro

sábado, 20 de julho de 2019

A cada fase é como se o corpo procurasse uma nova forma dentro do próprio corpo. A desarrumação é a nível de imagem inconsciente do corpo, não na sua totalidade, senão viraria um bebê (na depressão há estados assim, não come, não faz higiene etc.)
O mundo contemporâneo se articula tão em direção ao corpo que já o domina, gerando essas desarrumações, muitas vezes incapacitando o sujeito de ser sujeito, mantendo-o assujeitado.
O corpo sentado por muitas horas na mesma posição.
A nova modalidade prisional.
O corpo vai perdendo a memória de corpo (que se movimenta, pula, corre, anda por aí) e fatores externos desestabilizam-no mais facilmente. A pulsão, que é de morte e se caracteriza por uma força entre o somático e o psíquico (Freud), fica sem objeto imediato. Objeto imediato eu estou chamando de qualquer coisa que sustente a direção dessa força, que impeça de o sujeito cair.
Quero comprar uma terra
Pra acabar com o mal dormir
Antes do sol e dos outros bichos
Me enterrarei
Mais um dia raiando, meu deus
Que milagre é o sono humano
Quando ele toma conta da terra

quinta-feira, 18 de julho de 2019

Alma pirata cansada
Pirada errante
Roleta em balanço
Bang bang no trampolim
Roldana pequenina
Roda gigante
Escadaria drenante
Rampa antiderrapante

Alma desenfreada
Cavalo de pau na areia
Sobre o asfalto escaldante
Escada rolante
Roleta russa
Elevador Lacerda
Sapatilha deslizante

Alma itinerante
Ambulante
Viscosa gosma
De saliva borbulhante
Trepidante
Saia na roda de samba

Alma encharcada
Água corrente
Enchente
Chuva na mente
Em corda bamba

Onda gigante



quarta-feira, 17 de julho de 2019

Querem notícias
Porque querem notícias
Porque querem
Notícias para minimizar o que a falta de notícias provoca
Deixem a falta de notícias acontecer
Raciocinem sobre o que não está noticiado
Se a moça se joga do alto do edifício e a outra moça diz que se jogou porque quis
Para quê tantas notícias
Se a moça se sente uma criança fantasiada de palhaço embaixo do sol do meio-dia e a outra moça olha para esse sentimento e diz
É palhaça mesmo
Para quê noticiar
A medida das dores
A medida das dores de um ser humano ninguém pode noticiar
A dor vira notícia porque ela não faz memória
Grito no silêncio desse sentimento
Choro todo o mar desse sentimento
Mesmo que digam que você nada tem
Nada não existe
Você tem
Fala-se da dor
Duvida-se da dor
Silencia-se a dor
Para que ela desapareça da terra



terça-feira, 16 de julho de 2019

Ah, essas crianças!
Ah, esses pretos!
Ah, esses nordestinos!
Ah, desapego!
Ah, liberdade
Ah, expressão

Parece que está tudo parado
Voltando

Descobriram!
Somos apenas estrelas fugindo do buraco negro
Somos luz
Fugindo da escuridão

Eu vejo o sol pela janela

Ok, aos meus ouvidos
Ok, a chuva princesa
Ok, são João, Xangô
Menino!
Menina!

OK, OK, OK
Planeta
Abandonado no espaço
Raso
Largo
Profundo
Não falo de amor quase nada
E aí
Vai lá

Tem nada
Mesmo não
Música
Angústia
Paranoia
Tudo bem seco no sertão

Vou ali
Aqui nessa casa não trago
Ninguém

segunda-feira, 15 de julho de 2019

Pedras de vidro lapidadas pelo mar
Foscas pedras do mar
O xique xique xique de meus pés na areia no mar
Pisando em pedras foscas
Parou
Coloridas pedras do mar
De vidro fosco
Deus que me livre me pegue e me coloque diante do caminho certo pra eu nunca mais.
Pisar em vidros
Mas em pedras do mar
O seu papel é ser a outra de mim mesma, essa que escreve escondida mas que na hora aparecerá. Você é o Real, surgirá quando tem que surgir e só você saberá.
Embora combinemos em músicas, da minha atuação na fala surge o que eu não sei, ainda que eu tenha algum roteiro em mente. A sua presença é por ali pela borda do palco. Ao surgir, poderá aproximar-se de mim, estarei atenta apenas ao som. Meu corpo estará disponível pra essa outra, mas ficará imóvel.

domingo, 14 de julho de 2019

[aqui um pouco de silêncio]
[silêncio]
[_ (piscando)
[gemido vagaroso]
[paralisa]

Vem de lá pescador
Sal de vida é prece


No mar no mar
No mar no mar
No mar no mar




A vida doi
uma dor assim por fora
Comprimindo principalmente todo o meu tronco e cabeça
Nunca toca em mim
Parece que vai tocar
É aí a agonia
Meus ouvidos ficam surdos por alguns segundos
Eu peço pra morte vir exatamente nessa hora
Eu quero morrer todo dia
O que é normal
Quando o sentido de viver é um só

sábado, 13 de julho de 2019

Quando o samba invadiu o terreiro

Primeiro o corpo entra
O ritmo marcado no pé
Samba aí
Depois as palmas
O movimento é circular
Apenas sinta
Agora cante

Passado a limpo

Trancafiei no nunca mais
Sim, fio a fio
Como me foi possível
São tantas tecnologias
Tantas informações alastradas
Querendo abrirão as portas
Depois trancafio de novo
Até irem finalmente para o nunca mais
Com quem quiserem ir
Agora só trabalho

sexta-feira, 12 de julho de 2019

Doente mental
Mentalizando
Mentaliza tanto
Materializa o som
Estrutura errante em corpo no mundo
Doença mental
Palavras preveem o futuro
Delírio
Doença
Mentaliza o amor
A ilusão do amor
Doente mental
Mentaliza o amor
Doença mental
Do corpo errante
Estrutura sintomática ambulante
A terra há de suportar

Terra embola tudo
Fora da mente
Parece silêncio
Mas os ouvidos estão ficando surdos com tantas palavras
Ditas
Diga
Uma doença mental
Fale
Problemas psicológicos

O corpo mental reza
Mentaliza forte
E suas carnes enrijessem de tanto rezar
Doente mental
Reações adversas ao medicamento
Doença mental no corpo errante

O amor me mata. Então o amor é uma mentira. Eu não sei o que é o amor. Vou me calar quanto a esse sentimento.

Carta ao oceano Atlântico

Eu sei que se estivéssemos perto, iriamos nos visitar frequentemente. Eu havia apagado o seu número, você ligou. Lembro das nossas últimas conversas sobre o relacionamento que não existiu, onde você disse estar se sentindo sufocado. Eu me enxergo agente desse sufocamento. Eu não consigo me relacionar com ninguém amorosamente. Ando triste, porque preciso me sentir em alguns braços pra prosseguir. Eu senti que o que vivemos foi a pureza do amor, como ele é construtor de laços fortes em qualquer circunstância. Quando ele existe entre duas pessoas, ele é a melhor coisa que existe entre duas pessoas. Meu sonho é viver cantando mas também é de um dia poder estar frente a frente com esse amor. Saber que você está vivo na terra sustenta o meu viver, a cada ano de vida seu, vou lembrar sempre de você.

quinta-feira, 11 de julho de 2019

Na minha aldeia ainda tem jandaias
Bem-te-vis
Urubus
Pombos
Corujas
 Uns passarinhos bem pequenininhos que costumam me fazer saltar num susto quando se mexem na grama
Há andorinhas no meu quilombo
Um dia vi uma garça no pôr do sol
Soube que era uma família com pai mãe e filho mas um dia adultos morreu enforcado na rede de pesca
Há aves da cor das pedras do mar, com bicos alaranjados, pescam todo dia
Gaviões planando, todo dia
Enquanto espero pelas baleias
Vejo águas vivas
Peixinhos coloridos
Caranguejos esbranquiçados
Lesma amarela
Pinaúnas e seus esqueletos
Tartaruga já apareceu depois de uma vida inteira
Já vi moreias também
Até os ratos em suas mil tocas na beira da praia eu paro pra ver
Passam os cães amarrados
Surgem os cães vagabundos

É um lugar muito bonito
Nasci por aqui
Vivo por aqui
Índia de minha aldeia
Preta do meu quilombo
Água do meu rio vermelho


Amanhã tento o suicídio
Só amanhã
Uma obra de arte
Ela não é discurso
Eis a coisa
É uma obra, como tem que ser a manifestação na arte
Discurso se esvai, a obra prolifera
Tudo mata
Tudo
Inventaram a vida pra tapar a morte
Quando eu estou com muito ódio no coração
Há ainda algum sentido pra o meu viver
Um alívio ao seu viver
No final a gente toca fogo em tudo
Esqueça as massas
É para ela que estão apontados os canhões
Para as massas
O entretenimento
Para a revolução
Uma tese de sua própria vida

quarta-feira, 10 de julho de 2019

Os espelhos são todos estilhaçados
Elas sofreram de amor
Cantaram puro amor
Se entorpeceram
Morreram
Esse corpo ambulante andou buscando apoio pelas paredes e móveis da casa quando o pensamento invadiu sobre o amor
Meu deus, é uma mentira...! O amor é uma mentira...
E agora?
Cadê as paredes
Os móveis
O corpo encontra um gradil na altura das pernas e se apoia
O choro enfraquece o equilíbrio
O corpo se enverga desarrumado
O cão fareja para além do gradil e olha pro corpo cambaleante
O corpo está marcado pelo canto de todas elas que morreram por uma mentira
O corpo é uma mentira
Ele só precisa ser verdade pra ir encontrar a morte
Sou um orixá
Muitos já disseram que me viram
Me viram
Me viro
Contorso
O orixá que sou
Quer recolhimento
É na hora certa que ele sai de casa
Sua casinha no terreiro

O dono da minha casa é o orixá que sou
Fiz minhas contas
Acendi minhas velas
Encolhi meu corpo até o chão
Gemi muitos ais os quais pareciam uma música na roça

Quando todo mundo está em silêncio
O orixá aparece
Derrama seu oceano
Na voz
Um orixá de corpo inteiro

Eu duvido de todo o mundo porque eu duvido de mim.

O cão não. Ele tem certeza.
No deserto de choro e gemido
Há um cão lambendo a sua face salgada
Tentando te fazer levantar
Tentando fazer o mundo continuar

No deserto há um mundo de muito silêncio
Gritos mudos
Cantos surdos
A água é pouca
O tempo é muito
Porque é espaço demais

O cão no deserto anda solto
Galopa
Sua missão é tão certa
Quanto a volta que o mundo dá
Ele volta e tenta te fazer levantar
Deita rente ao seu corpo

Quem é você no deserto
Alma penada
Dentes desgastados de tanto ranger
Enquanto células pra nada se espalham
Por tudo dentro
Estrangula tudo dentro

Quem é o cão no deserto
Ora corre pra bem longe
Depois volta com juízo
Passa fome ao lado do corpo estirado
Mira em teus olhos com piedade

A doença é incurável
Assim disseram
A vida toda no barro do deserto
Cante! Cante! Cante!
Escute seu próprio eco







terça-feira, 9 de julho de 2019

Isso não é sinal
Hoje não
Mesmo com educação
Melhor não
É apenas a realidade

Se sabe do sinal da chuva
Nem sempre chove
O carro buzina
O sinal amarela
A noite se revela

Essa mão segurando
Meu braço

Eu queria fazer
Um travesseiro
Dos teus braços
Láláraraiá


sábado, 6 de julho de 2019

Estou querendo chorar
A mesma dor
O choro fica nas batidas rápidas do coração
Fica nas mãos trêmulas
Quem sabe essa poesia acene pra um choro
Ele tem que vir
Pra noite seguir
O novo dia raiar
O choro de muito ilusão já se perdeu pelo querer
É tão querido que nem lágrima faz
Choro por dentro enquanto meus olhos ardem ainda em busca do bem-querer
Mal-me-quer
Mal-entendido
Mal-estar
Mal-dizer

Bem sabido o choro que não vem
Quando ele falta e faz falta
As palavras aparecem em farois altos na estrada escura
Quando ele falta e faz falta
Escuta o mato crescer
No chão
Na terra
Do deslizamento de um todo pela parte
Que impede de fazer água jorrar
Senão pela lavagem nas repetições mórbidas do que é amar aquele ponto final desde o seu início.

sexta-feira, 5 de julho de 2019

O local do acidente foi revisitado apenas hoje
Um acidente comum 
As conversas trazem os dados daquela comunidade
Pensou que ficaria aleijado?
Pensou
Uma semente de sucupira por alguns dias no suco de uva
Pensou?
Todo mundo sabe como é
Mas ninguém acredita na dor
A dor de quem geme a dor
É a dor do mundo humano dessa dor
A palavra faz a memória das dores e ajunta na lombar
Se está tudo aderido pelas vísceras
Cante com a alma
Nossa senhora agirá em livramento de todas as dores



Pra quê calar se todo ser é um ser digno de miséria
Da mediocridade frágil de uma dor incapacitante
Falar da surpresa do tapa na cara
Das mãos inusitadas do tio por baixo nas pernas da criança
Dos sustos em berros do homem que paga as contas
Se há pra falar é porque há coro
Quem não viu, sentiu, verá
Falar é dissolver-se em novos corpos
Tapar o ponto de um dor é entupir o ponto da dor do próximo
Se há gargalhadas sobre o medo de ser enterrado vivo
Há medo de ser enterrado vivo
Se na solidão o vizinho é convidado a dormir no mesmo colchão
Há impaciência em dormir só
Se esta hora está morta
E muitos sustentam suas colunas em condições ideais
A dor faz girar esse defunto

quarta-feira, 3 de julho de 2019

Era novamente arrumar o necessário e sair da cidade. Estado de emergência. Cada um com os seus e o cão solto. Cadê o cão? Cadê o cão? Que tristeza a mochila nas costas e a falta do cão... Ele virá... Um macho encontra a fêmea com seu faro por qualquer caminho, quando ele quer. Está tudo escurecendo, há muitos perigos. Se a memória está nos corpos através das palavras, a fuga é para um quilombo.  Os pulsos unidos guardaram a memória dos punhos amarrados e chamaram isso de uma manifestação de um espírito obsessivo. Fumaça e sinais de matança e correria. A cada 23 minutos um preto é morto. Onde está o quilombo nesse novo globo que vigia até o crescimento de pêlos pubianos? Onde está o quilombo nessa terra matada mais um pouco a cada dia? Um quilombo em qualquer lugar de esperança e ação.


Canção

- Ninguém entrou pra se sair
Acorda, amor
Acorda, amor
Toca esse corpo
Ainda há tempo
Ele se esfacelará e definhará
Na sua incapacidade
Nunca mais irá te visitar

- Menos drama, amor
Aqui jazz
Vou até a sua porta
Pra você me banhar
Daquele perfume que cai bem em suas narinas
Sou andaluz de Gandhi galopando sem relevo
Estarei para sempre fora
Há tantas pessoas especiais

terça-feira, 2 de julho de 2019

O chão do mar


Mergulhava em água límpida e salgada bem fundo, cheios de oxigênio os pulmões. Um mergulho nas nuvens de tão suave. Pensava no medo. Mas só pensava. Por milésimos de segundo pensava. Pelo resto do tempo mergulhava simplesmente. Havia testemunha durante essa ação. Tal qual um peixe ágil, muito ágil, chegava perto do chão do mar e desviava. Que coisa linda! Que água quente! Essa é a fonte do ser? Há luz do sol no chão desse mar. Antes e depois do mergulho foi esquecido. Pouco importa o mergulho. Deve ser essa a visão da morte. A morte é bem-vinda.