domingo, 12 de junho de 2016

Eu a encontrava deitada de barriga p cima na rede com meu pai, e ia direto beijar o peitoral dela, bem no lugar onde tinha uma marca branca. Ela tinha poucas marcas brancas, só essa no peitoral e nas quatro patas anelando a região das unhas. Meu pai se queixava falando com alguém que estava em pé, próximo à rede e cuja conversa era interrompida com a minha chegada em direção à Piaf: "Mariana fala com o cachorro mas não fala comigo". Eu fazia de conta que não escutava e continuava a abraçar, beijar, cheirar ela, toda. Muita saudade. Então a carregava e logo ela estava no chão correndo. A casa era de praia, como a família costumava se reunir. Minha felicidade era o encontro com Piaf. Significa pássaro em francês. Ela fazia tudo o que um cachorro faz, até as fezes eu observava, estavam saudáveis, inteiriças e oleosas, saíam sem dificuldades. Fazia na rua, no asfalto, alguém vinha recolher antes de eu decidir se recolhia ou não. Logo era o mar, maré cheia mas calma, chegando no muro que era o passeio da calçada, uma piscina de mar. Eu hesitava em me jogar, não sei nadar, mas num outro momento, o fazia. A água estava morna, calma, e eu brincava de nadar até à beira, mergulhando e nadando por baixo da água, colocando o braço esticado na frente pra não bater a cabeça na chegada porque nadava de olhos fechados.