quarta-feira, 31 de maio de 2017

o Menina baiana - claquete 93

CENA: O destino de tudo

O MENINA BAIANA:  Só o tempo pra dizer. O tempo diz. Ando só. Sem saber lidar com o tempo. Me faça gozar mais uma vez. Não lhe pedirei mais. Só mais uma vez e acabou. Como está hoje o ouvido? Melhor que ontem? Quero ver seu pau de novo. Me masturbo pensando em você. Vontade dá e passa. Eu tava indo bem. Vou desviar o pensamento de novo, pra mais longe. Acho que estou na volta do mundo por isso pensando em você​ assim. Talvez eu seja a mulher que vai medir o gás. É feio fazer isso de pedir isso. Esse meu jeito um dia me matará de vez.

ALGUÉM CANTANDO: Tá lindo o arranjo, hein?

O MENINA BAIANA: Escuto sanfona também​, quando eu puder. Uma realização de dentro do meu ser, tocar e cantar. E escutar que ficou bonito.

ALGUÉM CANTANDO: Tenho pensado sobre isso.

O MENINA BAIANA: A sua realização.

ALGUÉM CANTANDO: Realização do ser.

O MENINA BAIANA: É uma linha. É uma bolha. É uma passagem. É uma conexão. Depois se esvai. Poc! Um dia vamos cantar e dançar juntos no palco. Se vc quiser.

terça-feira, 30 de maio de 2017

o Menina baiana - claquete 91

CENA: Assim passou a haver

O MENINA BAIANA: Como você se sente depois que o seu santo baixa?

DIZ QUE EXISTE ESSA GENTE: Me sinto igual, como todo santo dia.

O MENINA BAIANA: estou falando em sensação não em alteração. Como você se sente?

DIZ QUE EXISTE ESSA GENTE: Às vezes envergonhado, às vezes feliz. Depende da situação.

O MENINA BAIANA: eu tenho sono mas meu corpo teima enquanto meus pensamentos também são teimosos. Uma moleza de mar... Estou gostando dessa brisa que atravessa o meu quadro hoje. Ela está tão macia no meu rosto. Eu invento que ele pode estar aqui e eu deitada no peito dele dizendo "aham" "sim" "não" "quê?" "venha". Mesmo em paz, eu quero um pouco um dia ele aqui na mesma brisa. Que toque primeiro o rosto dele e depois, logo depois, toque o meu rosto trazendo o cheiro dele. Hoje foi dia de muito. Eu fico desconfiada. Pode ser véspera de nada. Estou pensando que ele gosta de ver a cantora e só. Se for isso, assim, eu... Ela diz que isso é bom e pra eu tirar de tempo.

segunda-feira, 29 de maio de 2017

o Menina baiana - claquete 90

CENA: Santosha

O MENINA BAIANA: Ontem viram Elis Regina, só Elis. Aliás, Elis e alguma cantora de trio elétrico. A sensação hoje é de que estou com ansiolítico na veia... Meus olhos querem fechar num sono, minha fala tá arrastada e sinto paz.

domingo, 28 de maio de 2017

o Menina baiana - claquete 89

Hoje tem show da cantora criada. Tem menino que fuma escondido. Fuma. Percebo alguns espasmos em seu corpo. Está coberta e o violão se estende ao seu lado na cama. 

O MENINA BAIANA: Hoje é um dia muito importante pra essa pesquisa! Não precisa narrador. Eu quero dizer que estou me tremendo de medo. Eu quero dizer que criei uma cantora que sente medo. Menos medo. Uma alegria muito maior que o medo. Eu me tremo de medo e alegria ao mesmo tempo. Eles tem tamanhos diferentes. Cada um tem o seu tamanho e lugar. Eu acredito quando escuto que canto lindamente. É o lindo da mente do outro. Então é tudo lindo quando eu escuto alguém me dizendo que eu canto muito bem. É mais lindo ainda me sentir muito bem sendo instrumento de algo lindo. Ela é linda. O que é mais lindo que o lindo? Ela não tem cara mas tem jeito. Tem jeito comigo, sabe me pegar de jeito e me usar, abusar, me fazer chorar, gemer, sorrir. Eu sou uma cantora. Eu escuto música mesmo quando não tem. Eu às vezes passo mal. Tão mal. E ela me chama com tanto desejo que há em mim e eu vou passar bem. Eu sou uma cantora enquanto tiver voz. Serei também. Nunca. Nada.foi.tao certo. Dentro da minha cabeça. A tremedeira é meu corpo se dirigindo pra alguns minutos de transe. Um entra e sai incrível. Incrível. Ser acompanhada apenas por um instrumento é um desafio. Inventei de me criar com banda. Gulosa. Ousada. Arrogante. Apaixonada.

sábado, 27 de maio de 2017

o menina baiana - claquete 87

CENA: Está tudo bem

O MENINA BAIANA: Vixe! Giovani acabou de falar em outra santa. Santa fé. Eu dizia fecha a porta Maria mas nunca acreditei que ela fechasse porque eu tinha falado isso. É uma fala seguida de um toque, aí ela fecha, depois abre. Antes eu cheguei até a pensar em santa Maria. Antes. Antes de fechar os olhos e ver a imagem de santa morte em mim. Agora Giovani vem falar de Santa fé e eu não sei onde ela está.

sexta-feira, 26 de maio de 2017

o Menina baiana - claquete 86

CENA: A minha mensagem de amor é tudo o que eu tenho pra dar

O MENINA BAIANA: Ainda sinto vontade de passar as mãos nos seus cabelos. São quase as mesmas vontades. Quase. Sempre que você vem, quando você quer. Eu gosto tanto quando você está. Às vezes sinto o meu português surgindo como a tradução seca de uma língua qualquer. Um estranhamento dessa que sou, uma qualquer. Agora meu corpo está insistentemente febril e eu tenho medo da voz me faltar por qualquer motivo. Não falte muito. Venha sempre que quiser. Venha sempre.

o Menina baiana - claquete 85

CENA: Só vou te contar um segredo

O MENINA BAIANA: Ela disse que é assim mesmo, dois ensaios e pronto. Ah, como é bom viver quando há espelho pra se enxergar, um alívio, um desejo que tudo isso seja o início de uma linda caminhada. Ela disse que é assim mesmo, eu que me vire, que estude sozinha, que mexa meu corpo e que eu esteja pronta lá e esqueça tudo o que ela disse e faça o que tem que ser feito. Sugeriu que eu pisasse em bolinhas, enquanto minha mente borbulha excessivamente nessa casa cheia de máquinas, onde o silêncio é uma presença e um violão é afinado.

quinta-feira, 25 de maio de 2017

o Menina baiana - claquete 84

CENA: Uma sereia

O MENINA BAIANA:  Mataram 10 pessoas no Pará. 10 pessoas mortas pra desocupar terra. A polícia matou. Vou passar a frequentar o zoológico, acho que lá é um lugar pra mim. E os sentidos deles não ignoram nada. Os bichos tem outro nível de comunicação, mais parecido com o meu. Mas desse jeito não tenho me sentido bem. Não consigo lidar com esse real que me invadiu. How are you? Are you here? You exist? Are you fine? The inúteis questions in the world. Are you ghost again? Quem sou eu pra sugerir algo a alguém não é. Por que não faz o que eu sugeri? Domingo está chegando. Eu vou cantar. Depois vou morrer de vez. Muito pesar, muito pesar. Agradeço por completar o tamanho de meu entendimento sobre esse meu mundo. Liberdade demais só tem um único sentido.

YOU HERE: Vai cantar e ser feliz.

O MENINA BAIANA: Por horas. Depois induzir um sono bem profundo.

YOU HERE: Ou produzir mais felicidades em outro show. Porque ainda tenho que estar em sua plateia.

O MENINA BAIANA: Se Santa Muerte assim fizer um milagre. Coisa que ela não faz.

YOU HERE: Faz sim.

O MENINA BAIANA: Já operou milagres pra vc? Não sabia que era devoto da mesma santa que eu.

o Menina baiana - claquete 83

P MENINA: Se fosse megalomania mesmo, eu nao tava por aí choramingando. Então não é megalomania. Se fosse melancolia mesmo, eu estaria por aí choramingando mas incapaz de me movimentar como estou me movimentando. O sono é um negócio pra mim todo dia, um negócio falido. É insônia. É insônia. Insônia tem lucro pra algum ponto na rede, um ponto cego. A indiferença é um lucro pra alguns. O excesso de palavras é um lucro pra outros. Eu, eu mesma, o eu meu, quando eu saio, veste a couraça. Talvez por isso eu tenha evitado tanto sair desse lugar de quadro de mar. Levanta e sai. Você precisa. Você precisa. Você tem que levantar e sair. Você tem que ir. Você precisa levantar . Você tem que falar bom dia às pessoas no elevador, você precisa ser gentil. Eu sou várias coisas que eu não preciso.

quarta-feira, 24 de maio de 2017

o Menina baiana - claquete 82

CENA: Lugar na rede


O MENINA BAIANA: Comecei a falar lá no lugar errado e me atentei em vir pra cá. Aqui, pra rede, sem balanço. Eu me trouxe pra cá. Tenho me  movimentado bastante assim. Ou será que estou parada? Ou em círculos? Você se afastou porque minha energia está "pesada", isso? Energia pesada é energia do pesar... Ou energia ruim? Energia mórbida ou algo sem energia? Sem energia não é, porque colocou qualidade. Tantos têm se matado... Tantos se mataram também. Que energia é essa, né? Tem gente que se mata porque está feliz demais. É muito vazio esse lugar quando eu escutei de você: "eu quero você na minha vida". É de um vazio enorme tocando no meu vazio. O que é que eu faço com tanto vazio? Caridade? Será que fazendo caridade a coisa melhora? É cada uma que me aparece... Me disseram que eu teria que nascer de novo e construir minha subjetividade fora do capitalismo. Isso nunca acontecerá. Eu quero cantar o que eu quiser. Eu cantar três horas porque me pagam pra cantar três horas, continuo sendo operária se assim o fizer. Liguei e rapidamente me enxerguei pedindo um emprego à criatura de voz grave com tom grosseiro, rude. Não, não! Cachê fixo é salário! Não, não! Prefiro experimentar a oscilação desejante de um público até o dia de uma apresentação a ser empregada de uma dona de um bar pedra da sereia. As sereias são criaturas que quase mataram Ulisses. Tem uma versão nova global, um tal de sereísmo por aí, todo mundo metendo calda. Eu ainda não entendo. Penso que pode ser alguém que anda e nada por aí. Mas sou humana, demasiadamente humana. Os podres do mundo estão todos em mim. O belo é uma sensação. Índio litorâneo não ficava contemplando o mar. Sabia que com o mar ele não podia. Fez do mar deus. O sol, a lua, a mata e aquele outro bicho que ele sabia que não podia. Comigo ninguém pode. Um veneno. Sei que essa festa de aniversário vai passar e eu não. Eu vou cantar, vou cantar tanto, vou me acabar de tanto cantar

O Menina baiana - claquete 80

CENA: Pode acontecer dentro de alguns dias

O MENINA BAIANA: Eu quis isso mesmo e aconteceu. Cada um foi o que quis ali dentro, entre as quatro paredes e as máquinas. Foi um movimento. 

BOMBA: Ali eu cuspi tudo o que eu tinha. Fui colocando, colocando.

O MENINA BAIANA: Eu briguei porque a bateria não tava vindo...

BOMBA: No início não estava mesmo. 

O MENINA BAIANA: Quando acontece assim, quando o acontecimento vem bem nas palavras, é motor na busca. 

o Menina baiana - claquete 79



O MENINA BAIANA: Minha santa Muerte, me faça ser ágil em girar botões assim como sou precisa em mirar a agulha e soltar no início da faixa certa seja lado a ou lado b. Me sintonize em uma nova frequência, porque meus ouvidos estão frouxos. Eu quero, minha santa Muerte, encontrar um jeito de não escutar o que minha memória fez com o que já escutei e fez meu corpo gozar. Eu quero parar de ver o que minha memória fez com o que já vi e fez meu corpo gozar. Minha santa Muerte, me traga novas memórias pra que meu corpo goze de outro jeito. Eu sou um bicho. Bicho só tem o real pra fazer contato. Eu sou tão bicho que ninguém suporta. Porque ninguém é suportável. Há vários níveis de tolerância, cada um tem o seu. Não é? [fala olhando pro umbigo]   E você? Tem se tolerado ? O outro que se evapora é o real. Mesmo que um dia na vida ele tenha dito que te queria morando com ele. A página mudou. De repente. De repente é o real invadindo quem não se tolera. Vira um código e vive sem entender, mas vive, com tanta besteira que já escutou, tanta besteira que já falou. Cantar não salva ninguém do real. Eu tô falando muita besteira por quê? Mundo de besteira. Gente besta. Bicho. Eu sou um bicho. Hoje estou satisfeita. Cantei até minha voz cansar. É tão bom.

segunda-feira, 22 de maio de 2017

o Menina baiana - claquete 77

CENA: Melodia sentimental


O MENINA BAIANA: É pra chorar? Tô lembrando aqui que um professor da faculdade colocou meu texto no Google achando que era plágio. Esse mundo é uma piada. Escute Giovani Cidreira.

SEJA VOCÊ QUEM FOR: Muito modernoso.

O MENINA BAIANA: Chorei quase um dia inteiro escutando essa música. Não é exagero. É verdade. Pra nunca mais morrer de amor. Foi a paixão a minha doença da vida. Paixão é uma doença que mata.

SEJA VOCÊ QUEM FOR: Porra de paixão.

O MENINA BAIANA: Porra de paixão.

[Pausa. Silêncio] Não é só o psicotrópico, é coisa de gente que realmente não aguenta, eu penso assim.

SEJA VOCÊ QUEM FOR: Eu arrumei um paquera.

O MENINA BAIANA: Eu quero um paquera.

SEJA VOCÊ QUEM FOR: Namorar diminui minha angústia. Meu amargor. Minha descrença na vida.

O MENINA BAIANA: Por isso que agora sou devota de Santa Muerte. Só que​ eu mesma vou ter que​ fazer a minha imagem pra cultuar. [ela sai de onde está cantarolando "Samba de uma nota só" imitando Ella Fitzgerald. Pausa e olha] "O homem que nunca beija".

SEJA VOCÊ QUEM FOR: Esse não sou eu.

O MENINA BAIANA:  Nem eu! [gargalha, respira, pausa] Arnaldo Antunes é um grande artista e ao lado dele tem uma parceira. Quero encontrar um parceiro.

o Menina baiana - claquete 76

CENA: Já tá qualquer coisa

O MENINA BAIANA: Tô meio frouxa... Vovozinha disse que ele foi frouxa por ter conseguido desviar a ida à guerra. Eu hein?! A Venezuela está queimando gente como se faz aqui. Qual será mesmo a diversão da humanidade? Salão de beleza? Viagem turística? Sexo? Me disseram que eu tenho muito carvão molhado molhado pra secar aqui no país onde nasci. Como secar carvão senão tocando fogo? O pior é pensarem que carvão molhado só existe no país dos outros. Tô meio sonolenta. O sangue parece estar coagulado pra estancar. Se eu conseguir passar essas horas deixando que as vitaminas trabalhem, ficarei mais forte. Preciso fazer o roteiro pra apresentação. Está tudo na minha mente. Na hora eu mesma sou carvão e fogo, com certeza vou esquecer algo. Há um ano eu o vi com lágrimas nos olhos se dizendo... Orgulhoso? Maravilhado? Renovado? Ele dizia que a arte estava viva e que viajou até aqui pra testemunhar um processo de criação. Eu pensando que ele veio me ver. Me viu. Tremendo em concha, em feto, metida num sofá, insone sem encostar um dedo em mim horas antes de eu subir lá pra finalmente criar a cantora. Riu de mim. De repente inventou de sair porque queria matar a saudade da ventania de Ondina. Eu vou também, eu disse. "Você está maluca?!?Pegar todo esse vento e colocar em risco a sua voz?!". Eu disse, do fundo do meu ser carvão molhado, não posso ficar sem a sua presença até lá.

o Menina baiana - claquete 75

CENA: Acontece.

O MENINA BAIANA: O segurança perguntou se eu já ia embora. Uma dor nas cadeiras. Uma dor conhecida. Dor de aborto. Mas duvidei. Tive calma, me apeguei à Santa Muerte com força e caminhei pela rua deserta cheia de barulho de ondas e dor. Não há como chorar com dor de aborto. Pensei que bastaria me deitar. Seria só a velha hérnia dizendo que existe. Mas não. Estou abortando. Sangrando horrores. Isso não poderia estar acontecendo. Mas acontece. Tem preço ser devota de Santa Muerte.

o Menina baiana - claquete 74

CENA: Sem plateia.

O MENINA BAIANA: Eu lembro: respira. Eu desci e cheguei mais perto do mar hoje pra olhar pra mim e me ver na rua sozinha com o meu cigarro dizendo pra ele o quanto é barulhento e cantei que sou de Nanã mexendo minha perna esquerda no vai e vem do meu tronco junto com ela e de repente eu estava dançando, ali. Cantando, ali. Respirando, ali. Eu apaguei tudo da minha mente e falei meu cantar é um apelo que eu faço a Nanã. O canto pra Nanã joguei ao mar. Que ele leve porque eu nem sei quem é nanã. Eu sei que sambei na passagem de som na hora exata que a onda bateu.

domingo, 21 de maio de 2017

o Menina baiana - claquete 72

CENA: Devotagem.

O MENINA BAIANA: Sinto o silêncio da sala todo em mim. Como se nesse silêncio fossem capazes de escutar o meu corpo por dentro. Eu fico esvaziando minha mente e coloco o sorriso no rosto. De repente uma música qualquer. De repente música nenhuma. E vem de novo o sentimento. Eu sinto aqui no meu peito. Estão pedindo pra eu cantar. Eu tento e a voz quase não sai. Meu corpo está muito frágil ou eu não sei cantar quando me pedem. Eu tento e meu óculos embaça. A voz não sai. Aplausos. Eu canto coisa qualquer. Aplausos. Aplausos? Fico quase cega. Nem levanto meu rosto escolhendo enfiar meus olhos nas notas que muito mal eu coloco no braço do violão."Sua voz é perfeita" ... "Te dizem que você parece com a filha de Elis Regina? Digo assim, na presença, no palco?"... Me dizem tanta coisa. Cantem comigo! Eu não entendo muito bem o que me dizem, o que é essa voz perfeita. Eu não entendo nada, apenas de me esvaziar pra que ninguém escute o que se passa dentro de mim. Pra que eu circule sem que ninguém perceba que estou pedindo à santa Muerte que guie meus passos. Eu não tenho culpa se não me veio o senhor do Bonfim, nem as nossas senhoras, tantas Marias. Eu senti a santa Muerte muito perto de mim. Será que a moça que me fita os olhos e fala baixo a minha frente me vê acompanhada de Santa Muerte? Ela tem uma voz grave bonita. Eu fico tímida e digo, meu santo baixa no palco. Mentira. Meu santo está em qualquer lugar, minha santa Muerte. Eu preciso aprender a deixar ele vir em qualquer lugar pra o suor sair das lentes e percorrer o meu corpo inteiro e viver a paz em esvaziar-me.

o Menina baiana - claquete 71

CENA: Oração.

O MENINA BAIANA: Santa Muerte, lê meus pensamentos e me acompanha em minhas ações.
O MENINA: Não interessa me mostrar a ninguém se quando me mostro ele não me vê. Eu faço à favor do meu novo ofício. Mais nada. Eu tenho que ficar buscando uma foto bem bonita pra chamar gente e eu poder cantar. Mas ele não virá. Nem enxergou a foto. Me dá alegria quando ele me enxerga, mas eu abusei. Quase que nunca mais ela fala comigo porque eu transbordei de ciúmes. Talvez ele jamais possa ser comigo quem ele deseja ser pra outras pessoas. Eu não o entendo quanto a isso. Eu não sei o que fazer. Ele não me vê tampouco me lê. Eu não posso ir lá bem no lugar em que eu queria estar. E eu choro de querer e não querer. Me tire esse querer, meu Deus. Me tire pensamentos sonhadores, pensamentos inúteis. Me faça pensar que de onde ele está ele pensa em mim e quer me ouvir cantar, meu Deus. Me retire esse foco, traga alguma novidade pra minha vida. Pode ser um acidente. Mas me deixe cantar primeiro, já está perto do meu aniversário.

sábado, 20 de maio de 2017

O MENINA BAIANA: Se deixar, mexo com a casa toda. Ela dizia. E o que faz um artista? [gargalha] Mexe com a casa toda, ora bolas! Quem não mexe não é artista. Eu subi no palco muito pequena... Tenho minhas dúvidas quanto a fazer isso com uma criança. A minha criança fez, fez tão direitinho que, quando sua saia subiu sem querer, arrancou gargalhadas da plateia. Todos estavam de olho nela e pouco importou a saia subir, tudo foi feito como tinha que ser. E para sempre foi assim. A minha criança é artista desde sempre, mas vai viver as etapas. Ao artista hoje é exigido ser "chefe". O roadie me manda mensagem de áudio: "Ohh, minha patroa! Digaí!!?" Eu vou explicar o que pra um sujeito que se coloca no lugar de escravo porque acredita que existe um senhor? Vou explicar a ele que somos colegas no trabalho? Eu não. Eu sei o meu lugar. Às vezes é bem complicado, incomoda muito a artista, incomoda muito as pessoas mais próximas. É um preço muito alto.
CENA: Tive culpa

O MENINA BAIANA: As coisas são mais simples. Há muita dor no mundo. Eu preciso estar atenta. Entre eu e você ausentar a dor do mundo. Cuidar de você. Mimar você. Me encher e esvaziar de amor com você. Apague tudo de minhas dores, apague, meu amor. Um menina birrenta cujo apego materno foi inseguro. Criança insegura chora demais. Criança que ouvia gritos dos pais lá de dentro. Estarei em atenção plena. Em meditação. Eu vou viver esse dia e fazer o que tem que ser feito, meu amor. Eu vou cantar. Já estava cantando. Vou cantar mais e quero que escute esse meu jeito de espantar as minhas dores. Espantar a flecha negra do ciúmes, espantar o sentimento de impotência. Porque eu posso, meu amor. Eu posso cantar, desenhar, escrever em qualquer página em que eu estiver, em qualquer página em que você estiver. Sua voz me acalma, suas palavras são certeiras e você me mostra todo dia que está daí comigo aqui. Será que me engano? Eu sinto você. Eu sinto você sabido, muito sabido do meu coração.



A tela está vazia. Ela não entende. A insanidade é algo que não pode ser compreendido. Os pólos dela em seu corpo todo. Nunca mais será lida por ele. Então fará dessa tela vazia seu bloco de anotações. Pra sentir-se um pouco com ele. Um pouquinho. Uma migalha invisível dele. As pessoas quando morrem deixam migalhas. Um roupa com cheiro que logo se esvai, um som chamando o seu nome que de repente sai de dentro dos ouvidos e, mesmo que ele pouco tenha chamado o seu nome, tem sons de sua pronúncia particular, sons que nunca mais, nunca mais... Recorreu às pílulas essa noite, eu vi, não aguentou as leituras, chocou demais, chorou demais. Tac. Tac. Tac. Três, eu contei. Disse que era pra não sonhar. Não sonhou. Acordou resignada. Diante da morte não há o que fazer. Dizem os mais velhos que o tempo abranda o coração. Um coração frustrado deve ser um tempão pra isso acontecer. Coloca o headphone. Retira o headphone. Encontrou um música e a fez tocar repetidas vezes por horas. De nada adiantou. Não salvou. Porque música não salva da ignorância diante do incompreensível sentimento de frustração. Música alivia a dor de existir, movimenta o corpo inerte dentro de um quarto escuro e sujo.

A BAIANA: Eu quero tirar de mim essa inveja que vem junto com a vontade de estar com ele e poder abraçá-lo mais, beijá-lo mais, estar despida junto a ele. Conhecer um museu, sentir o sol na pele e caminhar ao lado, mesmo que ele nunca me dê a mão. Mas é um desejo forçado à morte, assim como eu. Ontem antes das pílulas eu tive a certeza que cantar também é uma ilusão. Não tem nada a ver com ele. Se ele estivesse vivo a sensação seria de um grande alívio. Mas agora. Desilusão. Submersa em lavas de vulcão. Se eu já sabia pouco dele, agora o meu saber virá das migalhas deixadas pela morte. Não posso sair por aí chorando. Avise que amanhã eu não vou comer a comida baiana, por favor. Eles querem que eu cante, não tenho canto pra dar nessas condições lutuosas .

sexta-feira, 19 de maio de 2017

O MENINA BAIANA: Às vezes sinto que nunca cresci. Será que minha vovozinha também sente essas coisas ou alguma coisa na vida dela fez deixar de sentir coisas de criança? Eu choro muito. Choro de saudade, choro de raiva, choro de frustração, choro de alegria, choro porque leio uma pesquisa que mexe comigo. Mexe comigo. Preciso me recolher um pouco. Sair das vistas. Minha carne está muito viva, como a carne de uma criança na beira de uma lagoa cheia de crocodilos e sucuris. João Marcelo disse que Elis tinha isso de ficar escutando repetidas vezes de tanto que desejava uma música. Disse que ela desejou meu bem meu mal, mas uma baiana chegou primeiro. Eu sinto que encontrei meu novo diretor musical, mas ele está muito ocupado. Ele fala sorrindo. Eu vi. Sem ver. Foi por telefone. Mas eu vi. Cantarolei porque tive que explicar. Confesso que tive muito medo. Minha voz tem afastado muita gente. Enquanto isso, vou vivendo na cama, enquanto isso escuto pacientemente o mar sendo cortado pelas pedras e pela areia, porque ele não tem mais forças pra ir adiante e vir aqui pra eu passar minha mão nele enquanto escrevo, enquanto choro, enquanto canto, enquanto crio o Menina baiana. Acho que eu tô abaixo dele, isso sim, submarino. Eu quem não tenho forças pra subir.
O MENINA BAIANA: Eu queria saber tocar um violão ou um instrumento que não a minha voz sozinha, porque​ eu preciso me salvar toda hora "meu submarino sou eu, minha força de sonhar sou eu também, porque quando todos vão embora eu me tranco aqui e tudo bem" Giovani Cidreira. Eu não consigo parar porque se eu parar eu vou morrer. Eu não preciso mais sair daqui. Lá fora tem gente perigosa demais. Meu perigo sou eu, a força do meu medo sou eu também e ninguém vai entrar aqui, nunca mais, nunca mais. "Comecei a navegar em nada porque tudo me parece incerto" Giovani Cidreira. Há horas, há horas estou o último submarino. Sou eu. "Eu vou te guardar em tudo que não foi" "as portas fechando pra nós, os olhos abertos" meu submarino sou eu, minha força de sonhar sou eu também. Meu submarino sou eu, minha força de sonhar sou eu também. Ela é toda linda e me esvaiu. É tão linda... Um dia vou abraçar Giovani. Vou abraçar ele muito apertado. Não está longe disso acontecer. "Eu não sou tão bom".
Sem pimenta

Deixar somente cebola
e feijão

Aumentar o fogo

É no dendê e no dinheiro vivo

Senão ela não compra tudo mais barato

Passarinha

Um bolinho

Sem dendê

Só salada

A paz

O amor

E a verdade






o Menina baiana - claquete 63

CENA: Pensando naquilo

O MENINA BAIANA: O som ta gostoso na minha mente. Alucinógenos, psicotrópicos, ansiolíticos, mata virgem, sementeira. Tanto faz. Um ou outro. Minha droga é essa vida, é dela que me entorpeço. Camus não sai da minha cabeça. Vou encontrar ele amanhã, sentir o cheiro gostoso. Gostoso como a minha mente agora. Coisinha pequena mas poderosa. Eu viverei. Serei aprendiz sacerdotisa no canto do sótão com harpa. Será lindo. Chamei o triângulo também, pra chamar os santos todos. Pouco importa se tem gente que não acredita em feitiço. Feitiço é a inveja. Acreditar que existe inveja nem precisa, ela se denuncia mesmo sem crença. Coisinha pequena. Eu quero muito. Nesse mundo eu sou pequena, mas tudo posso naquilo que me fortalece. Isso está no atravessamento das brumas. Dá uma cegueira. Quando o lado de lá chegar vai ser mais gostoso do que está na minha mente. Decidi aguardar à gosto. Tome nota, eu costumo esquecer minhas decisões quando o desejo me consome.

quinta-feira, 18 de maio de 2017

Eu não quis olhar praquele homem bonito
Ele me perguntou onde era o final da fila
E era logo atrás de mim
E eu não olhei pra trás
Eu olhei pra televisão
Pra trás
Eu não quis olhar praquele homem bonito
Atrás de mim
Ele me olhava
Eu mexia o braço
Ele me olhava
Eu falava com a moça
Ele olhava pra mim
Com aquele cabelo Ebony and ivory
Solto de homem bonito
Ele olhava pra mim

Eu não quis olhar praquele homem bonito
Antes que a fila acabasse
Mirei as mãos dele
E me salvei
De não querer

o Menina baiana - claquete 62

CENA: Dique

O MENINA BAIANA: Eu queria ter pálpebras nos meus ouvidos, urgente. Eu queria meu corpo... Meus ouvidos estão muito sensíveis e me sinto perturbada. Por favor, cante baixo. Esse som alto nos meus ouvidos me irrita e eu sinto febre. Eu não tenho culpa dessa febre, eu não entendo muito quando ela vem. Eu digo que é o volume de coisas nos meus ouvidos. Eu fico cansada, com o corpo dolorido, meus olhos ardem e o ar parece sair como fogo da minha boca e narinas. Uma criança impressionada porque escutou o perigo do vírus ebola. Pode vir pro Brasil. Pode vir. Assim como pode ser. Pode ser que eu pinte o cabelo. Pode ser que estejamos em páginas diferentes. Eu preciso me afastar de você. Mas quando penso em fazer isso fico tão triste que sinto febre. Onde você está eu sinto que estou quando eu me faço presente e você vem. Mesmo nunca vindo. Eu sinto que você vem.

quarta-feira, 17 de maio de 2017

o Menina baiana - claquete 61

CENA: Arte1

O MENINA BAIANA: O show vai acontecer ou eu não nasci na Fonte da Vovó lá nas sete portas. A arte é o encontro com o espiritual, eu sinto. São sinapses raras. Tô pensando em felicidade, mas isso tem a ver com infelicidade. Porque ninguém busca a espiritualidade porque tá feliz. Pode ficar agradecendo a Deus pelas graças alcançadas. As gracas alcançadas são sinapses raras. Tudo é desgraça mesmo. Infelicidade. Tô me sacudindo aqui. Vê? To nem aí. Minhas costas doem. O colchão não está mais me suportando. O colchão. Dei vida a um colchão. Viver é isso, dar vida ao que não tem vida. Ao que já está morto, eu digo, condenado à morte. Portanto, nem venha com prêmio. O sucesso é apenas alimento pra os invejosos, aqueles que quiseram minha carne fritada, aqueles que me endureceram dizendo que me queriam bem. Tanto bem. Acabei de ter notícias de Albert Camus. Uma vez comecei a ler O Estrangeiro, lá na minha sala de psicanálise. Hum! Sala de psicanálise! Metros quadrados de psicanálise! Dentro da minha cabeça nada de psicanálise. É para esquecer que ela é psicanálise. Eu amo Freud, ele nem sabe. Agora soube de Camus. O que é que eu soube de Camus? A peste,  homem revoltado, a morte feliz. Nada.

o Menina baiana - claquete 60

Alguém faça o favor de ir lá. Daqui eu posso nada... Olhe pra ela.

O MENINA BAIANA: Um peixe que ascende em caranguejo. Mar e mangue, muito sal, sal demais. Lágrima e urina. Muito sal. Tem essa chuva agora em salvador que irrita a formiga também. Pouco importa a formiga. Meu avô me ensinou a matar lesmas com sal. Meu avô matava filhote de rato com uma mão em concha. Acho que estourava o cérebro do rato com a pressão. Ele não sabia de biologia, da semelhança genética entre ele e o rato. Nem precisava. Ele matou meu medo. Meu pai acendia meu medo no mesmo instante que abrandava. Um segundo pra cada, de um pro outro. Ah, sim, Sartre diz que eu não interessa o que fizeram comigo, mas o que eu farei com o que fizeram. Uma bomba ambulante. Eu disse pra colocar nome no peixe que ascende em caranguejo. Pessoa submersa que é tocada por chuva. Parece até que mangue sente chuva. Sente a maré, isso sim. Toda menina baiana deve sentir a maré, não é possível que não.

terça-feira, 16 de maio de 2017

o Menina baiana - claquete 59

CENA: The Heart asks pleasure first


O MENINA BAIANA: Eu amo CID. Juntinhos. Dentro de mim. Não sei que nota é I. Parece que é para sempre, porque quando eu penso que ele vai embora de mim, ele fica. Passa o tempo, ele fica. Às vezes eu digo que vou embora. Tá nem aí. Ele fica. Ele é lindo. Pouco diz que me ama. Eu sinto que me ama. Ele já disse algumas vezes. A nota que C me faz é de um bloqueio desbloqueado. Bloqueio. Desbloqueado. Desbloqueou? Eu me aborreci tanto com ele! Quase morri dizendo que era fim de carreira. Eu disse a ele que eu não sou cantora. Ele disse que sim, eu sou, no meu ouvido. Um amor desbloqueado. Ele nunca disse que me ama mas, de dentro de um cemitério, eu disse que queria morrer primeiro que ele e ele disse que ele que queria morrer primeiro que eu. Pra mim isso é amor. Dizer que está apaixonado não basta. Paixão é uma fantasia de salvação. Se Cristo não fosse tão apaixonado, não teria sido crucificado. Hoje pareço querer viver mais um pouquinho. Desejo encontrar D, essa nota fora da pauta, meu deus! Esse presente inusitado... Eu o amo, já disse.

"No silêncio da noite abro a janela do meu quarto
Me debruço nela, me debruço nela
Lua é testemunha de que realizo um diálogo com as estrelas
Com as estrelas
Se eu pergunto eu tenho resposta
Na imaginação
A saudade só tem de quem se gosta
Ai, que paixão
Se eu pergunto eu tenho resposta
Na imaginação
Que o bom da vida é viver com amor no coração
É bonito e eu grito:
O amor é infinito
É como a cura
Da solidão"

o Menina baiana - claquete 58

Hoje é dia do vazio mais vazio. Que menina pesada de viver! Tem sol, tem mar, tem até piscina, menina, vá! Tem chão, tem água de côco, tem acarajé de Cira, vá! O que é que a baiana tem?

O MENINA BAIANA: Não vou que eu não sou ninguém de ir. A maré ta baixa e tem poças. Quando eu sair...

TRANSALGUÉM: Queixa. A palavra é queixa. Quando você sair da queixa você ainda vai é capitalizar essa loucura e aí isso vai render dinheiro.

O MENINA BAIANA: Tá antecipando ?

TRANSALGUÉM: Isso eu concordo.

O MENINA BAIANA: Acho que tô perdendo minha sensibilidade, meu romantismo. É  pensar que o que estou fazendo é apenas um movimento de buscar ar pra viver, que não há mudança real em nada, em ninguém, só em mim. Mas eu não escondo de ninguém o que​ tô fazendo não porque a arte é meu remédio, eu digo: tô cantando pra viver. E é isso mesmo, eu não vejo mais outro jeito de me sentir nesse mundo. Essa deve ser a minha loucura

TRANSALGUÉM: LouCura!

O MENINA BAIANA: A solidão acostuma a gente com cada coisa louca.

TRANSALGUÉM: Ainda mais que você tá louca. Agora é hora de usar o manicômio. Fique escondidinha no manicômio só incubando...

O MENINA BAIANA: Acho que hoje é o melhor. Preciso me reorganizar. Quero mesmo fazer o meu show novo.

o Menina baiana - claquete 57

CENA: Ajeitando

O MENINA BAIANA: Eu quero cantar a música baiana. Nós somos cúmplices, nós dois somos culpados. Quando a percussão domina os ouvidos, eu me derreto toda, entro nela, ela nem sabe. A guitarra é outra voz, canta, canta demais, mais que eu. Hoje eu tenho um entendimento: conjugar o verbo amar é entrar em estado meditativo. Quem consegue mais tempo viver nesse estado, vive com mais qualidade. Diferente de cura, é um estado. Pode esvair-se num piscar de um olho, aquele olho que acaba com tudo. O olho do furúnculo, quando não há mais como sustentar um estado. Como entrar em estado meditativo em pleno estado de exceção? Eu tô vendo coisas que me fazem duvidar do meu próprio estado de consciência. Eu lhe entendo, meu querido. Ponho-me no meu lugar.

segunda-feira, 15 de maio de 2017

o Menina baiana - claquete 56

Dá vontade de passar a mão nos cabelos dela. A respiração parece um pouco ofegante, seu tórax mexe ritmado na altura do peito e não do abdômen. E os cabelos pretos convidam a minha mão. Mão calmante pra essa respiração eu queria ser enquanto narro minhas vistas sobre essa menina. Se ela me escuta, vai me olhar de canto de olho dizendo que não é menina. Vai enfezar a cara pra mim. Dar muxoxo. Então eu fico em silêncio daqui, mirando o movimento que seus cabelos fazem sem vento, sem nada. Ela está parada e respira fundo agora. Menina baiana... Mulher baiana?

O MENINA BAIANA: Isso que eu sinto no meu peito, que eu sinto apertar no meu peito, isso que me tira o ar e sinto descargas sequenciadas de adrenalina, como se a cada instante eu tivesse levando um susto... Isso é o quê? E isso que faz vir lágrimas nos meus olhos em qualquer lugar que eu esteja? Meu nariz entope quanto mais eu tento conter essa enxarcação toda. Isso que me tira a vontade de comer algo especial, que me tira vontade de estar em outro lugar que não a minha casa e minha cama olhando pra o meu quadro mar, isso é o quê? Isso que me trouxe de volta um corpo de menina, esturricada, bochechas chupadas e pele flácida, isso é o quê? Falta de atividade física? Trrrrrrrrrrrrr trrrrrrrrrrrrr Olha aqui. É o dia todo assim, como um bebê. Veja isso. Trrrrrrrrrrrrr trrrriiiimmm mn mn mn p p p Observe. Agora minha barriga, bem aqui, imagine, meu diafragma. Trrrrrrrrrrrrr trrrriiiimmm Prrrrrr prrrrrr Só parei de abrir as minhas pernas. Meu buraco é mais em cima.

domingo, 14 de maio de 2017

AMo[n]stra


O Menina baiana - claquete 55

O Menina baiana: Enquanto essa roupa me aquece, eu aguardo a sua resposta. É aqui. É agora. Consciente. Uma interrogação apenas. Um silêncio. Ok, pode falar baixo.

ALGUÉM:  Como assim?

O MENINA BAIANA​: Sim, assim você ficará à vontade pra comer. Vai precisar dessas camisinhas. Lembra? Seu pai chegou naquele dia, justo na hora, mas hoje estamos a sós. Venha hoje, vamos continuar exatamente de onde paramos. Quando a liberdade é usada e depois vem o arrependimento, deixa de ser liberdade. Fica preso. Essa coisa de gente que não se contém por tanto ter que estar contida. Gente que não contiveram. Enquanto eu me mostro pra poucos, resisto em me mostrar pra muitos e dizem que eu devo me mostrar pra muitos, mostrar a minha cara senão eu não vou cantar como eu quero. Eu vou cantar dentro de casa agora. Como sempre fiz. Nem bonita, nem arrumada. Eu não sou só porque eu quero, sou só porque é assim mesmo. Tudo só.

sábado, 13 de maio de 2017

O Menina baiana - claquete 54

Cena: Ninguém

Menina baiana: Eu não amo ninguém porque ninguém sabe o que é o amor. Alguém fica tentando descobrir. Inventando amor. Ninguém sabe de nada. Ficam inventando coisas.

O Menina baiana - claquete 53

Cena: Chorando

O Menina baiana: Eu quero olhar pra ver se sinto alegria. É impossível cantar todo dia. Então eu quero olhar pra ver se me traz alegria. Quero escutar pra ver se anima meu dia. Não está só dentro de mim. Isso não é possível. Já está chegando o dia de eu ser feliz. Nesse dia eu posso olhar também, eu sei olhar. Escutar antes e contar depois, assim que eu chegar. Não? Acabou? Corta a membrana simbiótica. Acaba com essa doença de existir. Eu aprendi tudo errado? Entendi mal? Eu sou má por isso e tantas outras coisas que já fiz e pensei. Eu sempre andei só e agora nem a rua eu vejo enquanto estou andando. Eu quero olhar pra ver se sinto a quentura desse chão labaredando o ar, fazendo bolhas na minha pele, pra que ninguém nunca mais me enxergue e eu nunca mais enxergue ninguém. Bolhas nas pálpebras, bolhas nas pupilas, bolhas nas narinas, nos ouvidos, herpes na minha boca, herpes na minha buceta, no meu rabo, bolhas nas minhas mãos, nas pontas desses meus dedos, e muitas, muitas nos meus pés, pra que eu não passe do meu limite e seja só uma bolha. Ninguém desejará triscar porque pode pocar e se contagiar. Ninguém ousará um adjetivo, de tanta bolha que há. 


o Menina baiana - claquete 52

CENA: Dê um nome

O MENINA BAIANA: Ao artista, bolsa artista. Ao artista. Pra onde eu vou com essa mania de fazer diário. Eu vou. Onde ela é egoísta no mesmo lugar em que nem ego tem. Uma inconsciente! Às vezes é frio o vento que entra pela janela e eu me cubro toda, mas deixo ele entrar. Janela é feita pra gente valorizar o vento. 

sexta-feira, 12 de maio de 2017

o Menina baiana - claquete 51

CENA: Qualquer coisa

O MENINA BAIANA: Não, não... Papo, Papinho, não! Sim, sim... Sinto abrandar a paixão. Vamos falar de amenidades, sobre sexo não. Se for uma pesquisa, sim. Um porno-pesquisa. Eu vou me virando pelo mundo faltante. Meu fone é bom, o técnico disse. Disse também que homem e mulher é tudo igual e que a quantidade de canais não quer dizer nada. É o recurso sonoro que a mesa traz que quer dizer. E diz. Enquanto vou-me dizendo. A minha barriga mexe nessa gestação inquieta. Às vezes doi muito e ninguém sabe o tamanho da dor, porque quem tem a dor é quem geme. Quem tem a fofoca que compartilhe. Quem tem parceiro que transe. Quem quer cantar que cante. Quem quer vir, diga que quer. Papinho, tô dispensando. Deixa que eu mesma me como. O que é um corpo? Uma forma imaginária, um mapa para agulhas e bisturis. Abri a porta. Tenho sede. 

quarta-feira, 10 de maio de 2017

o Menina baiana - claquete 50

CENA: Reza guardada

O MENINA BAIANA: Quero ser velha logo. Eu quero a paciência deles... Alguns devem ter mais paciência que eu, mais paciência do que essa velha que já sou. Não é possível que não. Eu quero pedir a minha Bahia, ao Senhor do Bonfim, aos orixás, a esse mar teimoso a minha frente, aos meus amigos, ao universo, ao matagal cheiroso do parque da cidade, ao horizonte,  à música, à arte, à vida, que me traga uma pessoa pra dirigir musicalmente meu Menina baiana... Quero pedir que lavem o meu caminho de toda a sujeira que há nas ações de seres humanos sujos. O que existe nessa vida é apenas o sentido dado pela civilização. Eu não acredito mais nessa existência. Eu tenho vontade de meu Menina baiana...

o Menina baiana - claquete 49

CENA: Humanos e formigas

O MENINA BAIANA: Eu sinto algumas dores. Sinto febre às vezes. Dores incuráveis, porém remediáveis. Hoje eu quis ser uma formiga. Sentindo raiva das formigas ao mesmo tempo, porque seres humanos são formigas -  ao invés de fazer crateras só pra dentro da terra e se organizar com outros bichos, não, acharam de aprender a fazer fogo e acabam com tudo. Eu me vejo mais só. As pessoas não querem saber das pessoas. Eu agora só quero saber da minha música. Eu vou levantar bandeira contra a violência à mulher. Uma mulher que já sofreu bastante violência. É o tempo todo. Pra entender onde não há e o que é essa violência é difícil, mas estou enxergando melhor do que antes. Estou ilhada musicalmente nesse momento. Eu tô fazendo outra coisa. Meu universo é uma ilha. A qualquer momento sucumbirá.

A AMIGO: Pareceu aquelas falas de Gil que ninguém entendia...

O MENINA BAIANA:  Então tenho história, tenho batalhas. E passei a me posicionar politicamente nas minhas relações.  Não é todo mundo que eu consigo deixar chegar, embora eu seja uma pessoa que deixe chegar. E eu quero me blindar com meus verdadeiros amores. Digo política não como uma forma, mas um posicionamento, posicionamento é mutável.

domingo, 7 de maio de 2017

o Menina baiana - claquete 48

CENA: Homem abusivo

O MENINA BAIANA: Sozinha na escuridão. Disseram que a vida é tão fácil. Mentira. Tenho medo de não conseguir cumprir meus prazos pra nova apresentação. Tenho medo de cair de novo. Mas há algo que vejo alterar. Eu estou mais forte e reconheço homens abusivos, tenho vontade de dar um murro na cara e vê-los caídos no chão e pisar com um salto pontiagudo no olho. Tô sem diretor musical desde ontem. Está bem difícil pra mim continuar. A demanda genital do cara falou mais alto que o profissionalismo dele. Estou com o show praticamente montado só pra entrar em estúdio e estou sozinha mais uma vez. Eu tive o maior cuidado pra que nada atrapalhasse o meu trabalho, mas eu não sei o que aconteceu na cabeça do sujeito. Pra quê tô aqui falando né? Só nascendo de novo pra eu mudar esse meu jeito. O que é complicado? Ele foi abusivo. Ele disse que eu não ligasse mais e esquecesse o trabalho porque eu não atendia às ligações dele. Quando ele me excluiu da rede social dele sem motivo aparente e ainda mentindo dizendo que o celular tinha quebrado. Porque minha voz "excitava" ele e eu fiz o máximo pra não falar com voz sabendo disso. Por que fazem isso? Por que acham que mulher simpática é disponível? Eu dizer ao cara que contenha tudo na música e na amizade faz acabar com um trabalho... Por quê? É difícil, não é? Separar as coisas. Não priorizou o trabalho. Mas eu tenho algum futuro. Eu vou conseguir fazer o que estou criando. Tô me sentindo esvaziada. Uma sensação de vazio, de ar parado. Acho que homens abusivos têm algo de pedófilos. Não sei o que​ ainda, mas está me vindo algo. A vítima não se dá conta. Uma criança não se dá conta do abuso. E é ludibriada. Ontem na hora em que apareceu a mensagem dele me ameaçando, imediatamente apareceu a sua abaixo dizendo: se puder desfazer, desfaça. Como se trata de uma repetição de abuso, sua mensagem ligou o meu interruptor, antes eu estava apenas em standby. Se eu desconhecesse por completo o funcionamento, embora desconfiada, ia seguir com o trabalho, poderia retornar a ligação inclusive, porque o trabalho é pra onde eu dirijo a minha pulsionalidade.

Atira

Fale do presente
Tome consciência!
A porta é apenas um criação
É oca mesmo passando o trinco
Dois trincos
Três trincos
A porta pode cair trincando tudo
A porta
No meu peito
Planta baixa
No meu jeito
Corte
No meu desejo
Fale do presente, menina
Guerrilha exige tática
Enrola a consciência
Com a arma nas mãos
Vumbora
Aqui
Agora
Junto
Senta
Não?
Atira
Viva
Morta

sábado, 6 de maio de 2017

o Menina baiana - claquete 47

CENA: Quero

O MENINA BAIANA: Você nunca gostou de ser ninada", escutei muito isso. "Dormia só, evitava colo", também escutei muito isso. "Quando um não quer, dois não brigam", isso também. "Dia de muito, véspera de nada". Um dia ele me colocou deitada em seu colo e pôs a mão sobre meu corpo, sobre meu rosto, meus olhos, meu peito. Eu quase quase saía de mim. Muito rápido. Me assustei e abri os olhos ligeiro. Ele pôs a mão pra eu fechar e eu me concentrei pra não desconcentrar. Um dia eu estava chorando e, depois que ele riu da cena de novela das oito quando minhas costas deslizavam do alto até o chão pela parede, ele veio, pediu pra eu deitar, eu deitei. Começou a arrumar meu corpo do jeito que quis e massagear meus dedos da mão. Eu levantei pra ele parar com isso.
Um dia eu senti que alguém me queria bem. Só isso, só me queria bem. Não queria o meu corpo pra ser buraco de nada. Só me queria bem. Um dia eu senti que alguém estava ao meu lado mas muito naturalmente eu sabia que nunca poderia encostar, porque quem quer bem não é encosto. Um dia eu quis bem. Ainda quero. Muito bem, eu quero... Hoje quero estar com alguém que eu tenho vontade de abraçar bem apertado, deitar no peito e escutar o coração até meu sono chegar. Alguém que eu gosto de sentir o cheiro, a respiração, a temperatura, a voz, a pele.

o Menina baiana - claquete 46

CENA: Casa das máquinas


O MENINA BAIANA: É lindo esse lugar. É meu sair estando dentro, lugar que posso ficar e trabalhar. Se eu tô com medo? Não. Mas não disse a ela que não. Eu disse nada a ela. Eu voltei pra casa dela, cheia de máquinas espalhadas. Eu me sinto cantorinha perto dela. Também não disse isso a ela. Não precisa. Há uma língua que se faz quando a transferência acontece e é lindo. É lindo mesmo. Pode não ser um resultado lindo, porque é do caminho de cada um, mas que é bonito ver acontecendo é, eu estou dizendo porque eu só falo de mim. Eu sei o que é transferência. Sem ela nada pode ser feito, mesmo sabendo que o mundo não tem jeito.

sexta-feira, 5 de maio de 2017

o Menina baiana - claquete 45

CENA: Respirar

O MENINA BAIANA: Hoje vou encontrar com ela e com certeza respirar. Cry me a River. Dream a little dream of me. I try, I try, but I don't have time. Por isso eu vou. Pedi um empréstimo e vou. Pedi um empréstimo pra isso! Isso é o meu isso! Problema dele se não quer continuar com isso. Isso sou eu. Todo dia é dia de encontros e despedidas e eu sou elástico, com fibras rompidas, mas elástico. Me encontro, me despeço, te encontro, me despeço. É absurdo sem par. Absurdo sem par. Sem par. Já sei. Escutei sim, você é ímpar. Eu não. Eu vou encontrar com ela hoje.

Um compromisso

Um compromisso marcado com o cuidador dos hipopótamos, amanhã às 8:00 vamos alimentar os filhotes. Eu vi apenas um filhote, mas parece que há mais. Duas fêmeas adultas e um macho adulto. Há uma fêmea gigantesca que fica embaixo da água a maior parte do tempo. Ela surge quando serve de ponte para algum de seus conviventes. Há um portão de entrada que não fica muito distante desse lugar aquoso. A água é turva e a terra enlameada. Ali eles vivem. Eu pergunto: não sabem desse portão? Com o tamanho que têm seria muito fácil derrubar. Alguém me diz que o cuidador parou de falar com eles sobre a existência do portão. Ao lado dessa área em que vivem há um conjunto habitacional e esses dois locais são acessíveis, porém a área dos hipopótamos não interessa aos habitantes. Interessa a mim, interessa ao cuidador que cumpre dia a dia a sua tarefa.
 Eu me despeço dos hipopótamos avisando que estarei lá no dia seguinte e que me aguardassem, seria um dia dedicado a eles.

Cio seco

Cio seco
No playground
Cio seco
No playground
Quem não sabe brincar
Não desce
Quem não sabe brincar
Cio seco

quinta-feira, 4 de maio de 2017

o Menina baiana - claquete 44

Aqui, hoje, a menina baiana ficará distante do existencialista ateu. Ela quis ser a menina baiana que ele sabe que um dia vai viver a vida dele. Mas há tantas meninas baianas por aí... O jeito dela, a dança dela, o corpo dela, o canto dela está em todas as meninas baianas por aí. Engole um choro hoje. O seu mal jeito acabou com tudo. Há meninas baianas mais jeitosas por aí. Ela quis o mundo e ver as voltas que ele dá, quis acompanhar, mas ele não existe, já disse: não é rótulo.

o Menina baiana - claquete 43

O vento entra assobiando no quarto. O corpo está estático. Imagino que o assobio toque sua nuca à mostra. Os olhos estão cerrados, os lábios unidos, a barriga voltada pro colchão. É sob a luz escassa do final de um dia que eu a vejo daqui. Começa a movimentar os pés, alisando o lençol. Os quadris acompanham. São movimentos circulares, um rebolado... É bonito ver as ancas se mexerem. Suspeito que esteja cantando, porque rebola, rebola... Cantando no pensamento e a voz saindo pelas ancas.



o Menina baiana - claquete 42

CENA: Quem guiou a cega


O MENINA BAIANA: Um dia eu quase morri afogada e antes quase deixei que ela morresse afogada. Fiquei assistindo a ela quase morrendo e quem me salvou veio de lá e salvou ela também. Os mais velhos sabem mais sobre a morte. Eu quase não sei. Já vi mortos. Já senti o cheiro de sangue derramado. Mas sei quase nada da morte, não mais que os mais velhos. Ela não cria cascas como a mágoa, parece que escancara a vida. Perplexiza com moderação a existência e toma nota de quem decidiu por uma existência robótica. Em algum momento paralisa. Um colapso existencial. Entre o ser ou não ser um robô, na saída do não ser um robô e na constatação de se ver um robô. Um quase robô, porque a inquieta plasticidade de ser fez o quase, sempre, e trouxe o colapso.


"fui eu o violado, rábula doutor, meu Deus!" (Mateus Aleluia)

quarta-feira, 3 de maio de 2017

o Menina baiana - claquete 41

CENA: O beijo 

O MENINA BAIANA: Eles sentem cheiro, jeito. Elas também. É tudo bicho, não tem jeito. Agora o cheiro sai pela minha boca que parece perfumar, porque eles olham com pupilas dilatadas pra ela na hora que eu abro com meus lábios pintados de batom vermelho e se aproximam, fecham os olhos e, se eu deixar, querem me beijar. E dizem "cante"... Eu me assusto muito. "Mas eu não tenho instrumento aqui, eu toco mal o meu violão"... Eles dizem "cante, só cante". Eu obedeço. Quando eu canto eu não sou dona de mim. É ela quem me tem. Eu deixo que me peguem por causa dela. Eu deixo que passem a mão nas minhas pernas, que toquem nos meus cabelos, que segurem a minha mão e digam que não conseguem soltar. Que se aproximem do meu rosto pra quase me beijar. Que me desejem visceral. Eles chegam pelo vento, eles vêm na minha voz, não em mim, não em mim.


"Lascívia dama, ela era só provocação, provocou tanto que o negão virou vulcão" (Mateus Aleluia)

o Menina baiana - claquete 40

CENA: Bombambulante

O MENINA BAIANA: Volte volte volte venha com viver comigo mais tudo é só o tempo o fato é que eu me falo sou uma bomba ambulante. Mariana Magalhães. Lembro o quanto eu fui apaixonada. O quanto esse meu jeito não é o melhor pra me relacionar com as pessoas. Eu prefiro ficar na minha casa. Sou só um fetiche. Sou só uma vaidade na vida de quem se aproxima. Não tem como voltar pra útero. Sua presença marcou mesmo. Mais tarde estarei mais livre. Você​ não tem mais energia pra estar perto de mim. Eu sabia que isso ia acontecer. Eu exijo demais. E por isso ninguém fica. Ninguém. Estou indo embora. Não adianta falar, ela mata, eu estou morrendo. A vida é uma doença. Grave. Tinha uma arma na minha mão e o gatilho estava quebrado. Eu vou consertar.

terça-feira, 2 de maio de 2017

o Menina baiana - claquete 39

CENA: Cantora Criada

O MENINA: Eu não busco mais nada. Só cantar. Cantar com qualquer instrumento me acompanhando, cantar em público, atirar minha carne pra quem quiser elogiar ou meter a faca. Se eu morrer em cima de um palco, pode ter certeza que morri feliz. Isso não é bom. Eu só tenho esse fio de vida. Viver por um fio não é bom. Será que é isso? Viver com a morte é viver por um fio ou sem aquela vontade? Quando tanto faz viver?

segunda-feira, 1 de maio de 2017

A corda

Uma corda bamba
Uma corda fina, muito fina
Uma corda bamba
Eu em cima da corda
Como queira imaginar
Em cima da corda
Bêbada
Fumada
Chapada
Dopada
Drogada
Uma corda bamba
Talvez uma nota
Se eu consigo me equilibrar

o Menina baiana - claquete 38

Distante de um existencialista ateu está o menina baiana. Ele diz não poder ser o que ela quer que ele seja, enquanto ela já havia esquecido de querer que ele seja alguém além de apenas existir aos ouvidos dela, assim, perto dela. Agora ela está ali sentada com a ventania que faz a brisa do mar. Mais cedo um arco íris se apresentou desse mesmo lugar de onde eu a vejo. A coluna está ereta e seus lábios se mexem e se tocam. Há pouca luz, eu não enxergo sua face... Seus cabelos pretos...O queixo está apontado para o chão. O olhar fixo. Nada mais além disso eu vejo daqui.