sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Pra quem se enche de saber

 A gente fica cheio de saber

Enquanto vive

Saber das marcas das dores

Saber do gosto das alegrias

A gente vira pro mundo


Reprime

Regurgita

Realiza


Por não saber


A criança não sabe

As crianças se despedindo da infância não sabem

As pessoas adultas não sabem

Minha avó não sabe

É me pergunta se eu sei


Livros

Química

Trabalho


Eu não sei


Pra quem se enche

De saber

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

As duas pessoas são movimentos intensos
Suor derramado
Gotejando
Devagar

As duas pessoas são medidas compatíveis 
Espanto no ai
Mãos atadas
Divagando

As duas pessoas são canções 
Tocadas
Entocadas
Demorando 

As duas pessoas passarão 
Em sigilo
Ateado
Queimando






quinta-feira, 1 de outubro de 2020

 Arrastar-se para a morte

Viver

Na dura poesia

Viver

Moinhos de vento

Urgir


Oásis epitafiano 

Cantigas de ninar

Colchão de dormir

Cabeça vazia


Muito vazia

Dura poesia

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

História sobre Abano

Pense assim em um rapaz. Um rapaz não muito rapaz. Preto, alto, seus pés são muito grandes. Magro. Nunca foi gordo. Pense assim na visita desse rapaz pra me contar sobre Abano.

Uma voz locutora, pense.

Abano vive lá perto do Bogun*. Eu não sei o que fazia Abano mas vou procurar saber. Eu sei que hoje a rua amanheceu fedorenta, podre. Nem dá pra respirar. Rato podre. Onde é?Merece uma gargalhada de tão grotesca a situação. Ovo podre. Carne em putrefação. Em todas as casas foram postos focinhos humanos. Nada. A casa de Abano. Acabou a história. Acabou a história? A porta da casa de Abano é arrombada. Ali jaz, como previsto, o cadáver. Fim da história... Não senão o cadáver nunca seria parte de uma história! Inchado, fétido. Por baixo dele saía uma gosma. Abano foi fotografado. Talvez um furo de reportagem.

segunda-feira, 31 de agosto de 2020

 Me salve! Me salve, palavra! Transcorra por meus dedos rápido! É urgente! Me dê um pouco de calor, esperança, palavra... Me dê colo. Cante pra mim pois não tem outra coisa que façamos bem juntas. Tem? Tem uns gritos também. Me encobre com alguma banalidade pra eu dormir e acordar em paz. Não me venha em sonhos, palavra, contenha meu grito e dissolva em você. Toda em você, palavra.

sábado, 29 de agosto de 2020

 Ó minha rosa do deserto

Desabrochada pra quem

Quem grita no deserto

Em choros surdos

Nem os uivos de uma rosa dos ventos calarão

À frente pode haver água pra alguém matar a sede 

São imaginações desarticuladas na tentativa de um texto

Texto meu

Com meus eus mortificados ressuscitando 

Um moinho de eu

quinta-feira, 21 de maio de 2020

Lixo

"Você enche meu saco
Você entendeu ?
Porque você enche meu saco com essa ladainha
Agora entra a coitadinha.
Agora é a fase da autopiedade.
Agora é a vez da maluca
Vamos ver mais facetas de sua personalidade doentia."
Só encontro lixo ainda que não esteja procurando. Posso até estar. Eles vêm como plumas de algum bicho bonito e depois transformam-se em lixo. Amor, cuidado, pele com pele... A repetição é o que me intriga. Por que eu posso passar por lugares mais limpos e só encontro lixo. É ele diz (enquanto plumas): "eu te amo. Estou louco por você. Não paro de pensar em você. Eu conheço as marcas do seu carro..." Lixo. Valem nada essas palavras.

terça-feira, 19 de maio de 2020

O último a sair do barco
É o médico
O último a sair do barco em evacuação é o médico. Quem tem essa função de salvar vidas a faz a qualquer distancia.
Foi de continente à continente o toque de emergência. Para salvar ela.
Para salvar um pessoa.
Ela não entra no assunto

domingo, 12 de abril de 2020

Na gaiola



Estou na gaiola, curio
Imitando o seu canto eu me arranjo
Eu me arranjo com dois cães e um ser humano
Na gaiola
Bem fechada
Naquele dia que eu abri a porta pra você sair
Você já não podia
Mas eu quero, curió
Quero sair e pisar na areia da praia com os dois cães
Quero que o outro ser humano vá para onde quiser
Quero que você saiba, meu ninho curió
Que na gaiola, imitando seu canto, estou proibida de sair
Mas meu canto só sai quando eu imito o seu
Subo e desço as escadas  sempre acompanhada de um dos cães.
Lembra que você ficava de galho em galho dentro da gaiola?
O que eu não entendo é como você cantava tanto
Minha voz está trêmula
Rouca
Talvez cansada
Talvez drogada
Talvez presa
Quando foi mesmo que você ficou livre na gaiola, curió?

domingo, 29 de março de 2020

O coração dela vai parar
Tenho quer ser rápido daqui onde estou
Meu deus, ela morrerá...
Por quê?
Preciso fazer algo rápido!
Pronto. Consegui.
Polícia.
Médicos.
Socorro
Ela vai parar
Não
Não era um romance
Ela não tem condições de explicar
Um amigo
Amigo
Ouviram?
Anotaram?
Eu salvo muitas vidas todos os dias
Perco muitas vidas também
Mas não percam ela
Por favor
Fuma, ela fuma

Lufá
Vou embora

segunda-feira, 23 de março de 2020

A rede

Baianos deitam na rede pra se balançar
O balanço da rede com as pernas pra fora faz um vento passar
Parece um cavalgar
Baianos usam a rede para conter a inquietação
Baianos
Baianas
Baianxs
Baianes
Baian@s

A rede que balança parece um cavalo
Com a ventania entre as pernas
Uma motocicleta para baianos trabalharem
Trabalha, baiano, nesse confinamento da existência
Falem dos baianos que deitam na rede
Se arriscam pra te entregar o que você pediu
Por telefone sem sair do sofá
Baiano dorme na rede
Também pode ignorar o que lhe está prestes a lhe matar
Amanhã baianos saberão de baianos mortos a cavalgar
Na rede saberão
Como se lembram Dorival a se balançar
Fez uma revolução mundial
Revolução mundial
Um baiano.






sexta-feira, 20 de março de 2020

o senhor Aleluia

como julgar o seu olhar? Apenas seu corpo amuletado pelas suas mãos virando e olhando para minha direção. Eu dirigindo julgo seu olhar. Está-me julgando, senhor? Pelo canto de uma flauta que um dia lhe levou uma notícia ruim sobre mim? No meu rádio, aquele que eu escolho as músicas, o senhor prefere pescar do que retirar a sua própria vida, senhor? E quando o senhor aqueceu a voz na garagem e me ensinou a solfejar gargarejando, eu estava escondida aprendendo tudo, o senhor não viu. Esta minha cabeça feita de ar, às vezes batem ondas e o seu olhar pareceu julgar os meus peixes, meu peixe mulher. Senhor, eu fiquei para mais águas, pra ver mas cachoeiras, para sentir mais o seu cantar. Olhou-me assim, por quê? A paixão não deu certo, o trabalho formal acabou, a batalha pelo pão de cada dia continha, senhor Aleluia. Abençoa com seu canto que ecoa pelas paredes de concreto onde o seu canto funciona. O canto funciona. O canto ecoa do canto. Naquele corpo perto das pilastras atrás de sua mulher, o senhor me olhou eu eu lhe julguei por parecer me reprovar porque eu pensei em desistir. Eu canto, senhor Aleluia, sabe? Vou continuar. Talvez tenha que fazer uso de muletas tais quais as suas. Qual problema há nisso? Pensei em escrever para isso. Continuo crescendo, senhor Aleluia. A sua velhice me reprovou na minha rádio deturpada. Mas segui levando minha mãe, cumprindo até o lugar onde estacionar. Eu às vezes páro, senhor, talvez não saiba. Distraio-me entre o bem e o mal de mim, essas coisas que ninguém pode julgar. Também me distraio. O senhor queria saber qual era o nome de quem pensou em desistir. Estou aqui, resistindo, olhando e pensando, escrevendo sob seu olhar. Continua a moça. Continua a vida. Eu escuto flutuante mirando aquela pedra que não se cobre nem em maré revolta, onde passarinhos fazem ninho algumas vezes e depois voam. Se eu colocar um ponto (ou mais), fui ferida. Vi tudo mudar. Modificar, senhor. Tenho voz cantante, o senhor ainda não sabe. Pesquisei-lhe, sonhei, dormi com uma proteção da maré numa casa sobre as águas salgadas tentando enxergar um novo dia. Senhor Aleluia, o tempo dá, tira, comove-me. Entre o lógico e o cronológico nessa penumbra, com muletas, continuo. Vamos nos reencontrar e quero olhar nos seus olhos e ver outra direção. É impossível julgar o seu olhar e o seu corpo virando-se para mim. Merecemos novos encontros. O lápis vai e eu voo, senhor Aleluia. Cantarei, Aleluia. Há uma diração.

segunda-feira, 16 de março de 2020

Eu acho que é gritar
Eu acho que é gritar
Você grita de lá e eu grito de cá
Você grita de lá e eu grito de cá
Ver os carros passando e o meu parado cá
Ver Caetanos cantando e eu me pondo a chorar
Caetano canta de lá e eu grito de cá
Eu acho que é gritar.
Eu acho que é gritar.
Eu acho que é gritar esse  cantarolar.
Eu acho que é gritar.
Eu acho que é gritar.
Ver os carros passando e eu o meu parado cá.
Ver a cidade andando e meu pé fincado cá.
As folhas balançando e eu parado cá
Eu acho que é gritar.
Eu acho que é gritar.
Eu acho que é gritar
Eu acho que é gritar
E se não for gritar esse é o meu chorar
Eu canto de cá eu acho que é gritar
Nada disso vai passar
Isso só vai piorar
Eu acho que é gritar.
Eu acho que é gritar.
Eu acho que é gritar
Eu acho que é gritar
Ver os carros passando e o meu parado cá
As folhas balançando
E o meu corpo da desdobrar
Meu corpo desdobrando e as pessoas andando
Todo mundo correndo e eu andando devagar

sábado, 14 de março de 2020

Quem me ensinou a tragar foi meu corpo
E brisa
A fumaça é do fogo dos raios na mata
E a gente puxa
Prende
Solta
Puxa
Prende
Solta
Puxa
Prende
Solta
Brisa
Quem me ensinou acender com fogo
Foi meu avô
Tio
Tia
Novela
Amiga
Bar
Holywood
Wolkswagen
Rota de fuga
Máscara
O fumaça entra
Prende
Puxa
Solta
Todo mundo
 Puxa
Prende
Solta
Puxe
Prenda
Solte

quarta-feira, 4 de março de 2020

Seu nome é Daniel e o meu é Mariana
Você anda assim, fala assim, faz tudo isso
Você é maravilhoso
Eu consigo ver a beleza aos poucos novamente
Que seja sempre enxergada pelos meus sentidos
Você me aparece na televisão enquanto eu choro emocionada
Estou vendo manifestações da vida
Amigos, sons, palavras, o teatro
A música
As reuniões pra dramatizar e dançar e tocar e cantar
As nossas mamães, mainhas
São nossas imagens no tempo cuidando de nós
São as Marias
Que sejamos nós Jesus e que deixe pra lá o martírio e o pecado a ser pago com os nossos corpos
Sejamos jesus vivos
Com nossas Marias
Deixar o amor crescer
Belezas brotarem
Daniel, vou lembrar de você caminhando pela Lapa vestido daquele jeito
Maravilhoso

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Na busca do Coquetel

Na noite fica piorNn. Nao noite são sons. O mar está forte esses dias. Se não fosse minha companhia eu estaria aborrecida
Minha companhia de mar um pouco aborrecidaa pelo feto dedicado ao vazio dos afetos
Como auxiliar os passos sem o afeto aol da morte é seca
E existe outra coisa
A indiferença
Estou em um funil de sons
Ondas quebram forte e amendrontamos meus ouvidos, os ombros chegam a se encolherem
O mar é maior que todos os meus medos e eu eu esqueço os outros
Tenho pensado muito em Ingrid Jonker
Antes surgia Sônia em Aquarius
somas agora diante te tantas ameaças e violências em nome da morte, como se o matador tomasse posse do corpo mirado e matado
É. Ee toma posse. Todo mundo mata um pouquinho.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

CARTA ABERTA A UM MÉDICO ESTRANGEIRO

O transtorno de humor bipolar existe. Existe também isso que você disse, pode ser um jeito de ser. Se todas as pessoas entendessem como jeito de ser todos os transtornos, o mundo se empenharia a tornar mais acolhedora a vida das pessoas. Não é o que acontece. Essa semana estou iniciando um grupo de estudos sobre o transtorno de humor bipolar a partir da infância e adolescência, coletei artigos brasileiros e vou me debruçar no DSM-V, entender, confrontar etc. O que mais me intrigou em um dos antigos que selecionei foi a questão de haver relação entre os elementos que atuam no sistema autoimune e suas interferências nas partículas cerebrais. Falam da citocinas entre outros que, medidos em adultos na crise, surgem com alterações. Talvez você saiba disso. O artigo é de medicina. Mais ainda, pessoas com doenças autoimunes (a exemplo da endometriose, AIDS) estão propensas aos transtornos mentais, pois há um funcionamento ininterrupto do sistema imunológico inato em combater o processo inflamatório. Por isso podem ocorrer constantes estados febris, corpo cansado, falta de apetite e depressão.
Talvez os estados de mania ou hipomaníacos duram pouco. E os pensamentos e planos suicidas,  as alucinações auditivas com muitas memórias, sejam alguns dos indicativos da psicose dentro do espectro bipolar, por exemplo. Crises de pânico também fazem parte. São transtornos entrelaçados. Somos anormais.
Vou vibrar pra que você leia essa mensagem e que me traga algo sobre o que leu.
Com amor,
Mariana

sábado, 15 de fevereiro de 2020

Parece que lá em baixo é lá em cima
Parece que não existe lá embaixo e lá em cima
A pulsação é constante no repouso
De maneira a manter em atividade
Eu acho que a vida é atividade do corpo
Na subnutrição há quem sobreviva
Os pensamentos podem parecer tortos
Mas aquilo que circula
Esquenta
Suga, expele
Digere, tritura
Tranaformou-se em uma cédula plastificada
Em ouro
Em tudo o que for mais rentável pra alguém
Até ser mais rentável pra alguém
Quando deixar de ser rentável pra alguém
Fim da atividade
Eu quis dizer
Que o fim do mundo não é o fim do mundo
O globo virado
É outro fim do mundo
Fazer atividade qualquer
No vira mundo
É a direção à favor da gravidade
No chão está o mundo
As pegadas podem fazer buracos fundos
Soterrados pela manhã de cada dia

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Linda
Querida
Maravilhosa
Amada
Você me adoece
Suas palavras
Chatinha
Desperdício
Você me faz mal
Vai ficar louca
Se eu quiser

Navega eu

Se o corpo está morto mas ainda assim caminha
É um corpo conscientemente político
Anda fazendo com a morte
Isso não é pra qualquer pessoa
Diferentemente dos zumbis
O corpo morto conscientemente político interfere ativamente aonde quer que vá
Muitas vezes é expulso de muitos lugares
Afinal, como pode um morto falar?
Até no seu silêncio esse corpo defunto assusta só de olhar pra ele
Pouco importa porque todos os espelhos do mundo que se coloquem diante de um morto estão estilhaçados
Se não estiverem, em pouquíssimo tempo se desmantelarão
Os corpos vivos saem catando os caquinhos do vidro
Há os corpos vivos que pegam uma ponta de estilhaço e se cortam
O corpo morto conscientemente político é todo despedaçado mesmo
Quando o sol bate nele é bem capaz de cegar
Tem corpo vivo que chora com o brilho e agradece pela oportunidade de estar com um corpo morto: uma experiência com a morte
Bem de perto
Triscando
É frio calculista cético realista psicanalista artista transtornado em muitos pólos o corpo morto
No meio da festa ele é pouco notado mas ainda assim entra na roda de samba dos corpos vivos suados na beira da praia
Faz tudo isso enquanto anda
Abre a boca para denunciar aos corpos vivos que o seus corpos mortos chegarão em breve
Por causa da onda
O corpo político morto consciente aponta
Dele quase nada se extrai de ego
É um só
Ego da morte no corpo conscientemente político
Arma de fogo não lhe comove
Aliás, é desprovido de emoções vitais
Despido da busca pela existência
Provoca choques e altas pressões nos corpos vivos
Marginal temido
Duro na queda
Um corpo morto conscientemente político
Tem ginga e expressão porque a morte sempre será música na vida dos corpos vivos

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Depois dos estilhaços de grama

A ressaca foi tão forte que amanheceram os garis desenterrando os barcos de madeira na praia. Era um barco pintado de azul, eu vi parte dele. De repente uma napa imensa azul é sacodida pelos homens e eu jurava que aquilo antes era a água do mar com a areia da praia e a grama. Sacodiram tão forte que os estilhaços da grama cortada vieram parar na minha cama! Ah! Eu tive que levantar! Desci com o cão na guia e fiz uma oração pra que hoje ficassemos livres das ameaças de morte ao visitar a praia. Descemos pela praia dos pescadores e fui andando em direção à prainha já com o cão solto. Aquelas pedras todas haviam sido cobertas pela areia com a ressaca. Caminhei macio na lisura daquele chão úmido. De longe avistava o cão e assoviava em vão pra ele vir. Tudo limpo. A ressaca limpou tudo da beira. Tirei as sandálias e desejei sentir a temperatura da água. Confortável. O cão retornou alegremente e nos banhamos às sete horas da manhã na água morna da prainha deserta.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Sequestro

Impediram-na de sair do local
Arrancaram-lhe a chave do seu carro da sua mão Na ignição
Um círculo de gente incapacitada de atestar um estado de saúde
Se capaz de conduzir um veículo
Um circo
De sequestradores
Corpos submissos
Sequestrando um corpo
Livre
Amigo, me ajude! Clama uma voz
Chorosa e desesperada
O amigo era inimigo
Corpo vendido e prostituído querendo devorar a refém
Meter mesmo o pau
Na buceta
Polícia! Quer reaver sua liberdade de ir
Continua presa
Presa
Família
Chega
Quebraria todas as caras
Uma por uma
Há química
Chega

domingo, 9 de fevereiro de 2020

O transtorno desse espectro é o limiar para acontecer uma esquizofrenia. Então, parar de suspeitar que o estalo será escutado um dia deixa de ser suspeita e transforma-se em certeza. Se o caminho para a estabilização desse limiar onde se encontra o transtorno desse espectro depende de drogas, surge a dúvida entre usar ou não usar a droga. Assumir ou não assumir os efeitos colaterais. Denunciar ou não denunciar os transtornos causados pelo entorno que interfere diretamente no humor quando em um passeio matinal em uma praia deserta com o cão que late sem parar pra uma determinada pessoa e ela ameaça de morte o ser humano mesmo e o cão ainda que este último passe a estar preso pela coleira. A humanidade é absolutamente transtornada. Transtorno desse espectro faz ondas no corpo como o balanço das águas se maré cheia ou vazante, se as fases da lua. O planeta é transtornado. Vive tremendo e explodindo, vive deslizando e produzindo ondas gigantescas. O que realmente importa é encontrar o tratamento criado a partir da descoberta do transtorno. Um trabalho de pesquisa química de transtornados. As festas, as fodas, as bebidas alcoólicas amenizam os transtornos. A música ameniza? A absorção na criação ameniza. Quando não está se criando, está-se morto.

sábado, 8 de fevereiro de 2020

Consciência de corpo - imersão


Fica tudo mais claro enxergar o corpo como ligamentos e que não são ossos pés, ossos pernas, crânio cabeça. São áreas correspondentes. Retire um pedaço de 3 cm do intestino delgado do corpo. Agora grude com o tecido endometriótico boa parte do intestino. Mais detalhadamente, 25 por cento da musculatura do seu reto. Abra a caixa torácica com referencial mediastínico e deixe que mexam no coração. Para sempre. O dente quebrado por um chute de um pé calçado com coturno e a ponta da língua pela gengiva rompida sangrando. Gosto de sangue na boca. Cheiro de suor. Mau hálito. Corrimento vaginal. Herpes genital. Febre. Nariz entupido com tosse e dores nas têmporas da cabeça. Inspira e expira.
Para sempre.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Multas que não serão pagas

Iemanjá levou ela pra outras terras mesmas
Foi pelo ar que ela levou
O amar levou
Acredite
Repita
Pense no que for bom
Não me pergunte por quê
Em outras terras há seu filho crescido
Você uma mulher sucedida de ser mulher
Vai dar tudo certo
Todo dia
Repita
Nem que você se arraste
O sol vai e há de vir
A noite é apenas uma roda gigante girando nessa hora
Vista desse lado da terra em que habita
A vida é injusta
Esqueça
Repita
Multas que nunca serão pagas

domingo, 2 de fevereiro de 2020

Pesquisa de uma coisa 2

A amostra está na rede social e o conteúdo das postagens. Independente da faixa etária, pois talvez não seja possível detectar. Se houver mais de uma postagem de perfis diferentes, melhor.
O que sig.reis traz é essa deformação do imaginário. Por que as estrias incomodam se são características do seu próprio corpo atravessando a existência? Ela aponta os corpos da rede social. Quais as características comuns/massivas desses corpos? Um programa consegue fazer sumir as estrias nas fotos desses corpos da rede social. Sabendo disso, será alterada a visão de si mesma?

Carta à @sig.reis (número 2)

É um instrumento de se ver fazendo desde que se leia poucas as notícias sobre a vida alheia. Atualize-se sobre a política do país onde mora. Você é um agente nesse lugar, mesmo que olhe pra um canudo plástico e não veja como rejeitar pra não se molhar bebendo água na boca do côco porque pode estar com a bactéria da leptospirose. Ratos comem comida de gente, lembre-se. Ratos não comem comida em putrefação como faz o cão. Seja agente de saúde, social, seja agente . Repare nesse corpo que se movimenta e para onde o balançar dos braços e passos dados estão levando seus pés. Só pode ser esse o caminho da morte. É fazer o que anda pensando todo dia. É bom manter ao menos um cão seu ao lado para acompanhar na caminhada. Mantenha a delicadeza com o ser humano. Faça uso do bem-dizer mesmo maldizendo. Na selva da palavra sincera seres humanos ainda estão lentos. Na selva de covardes tente não cometer suicídio porque às vezes vem a vontade. Alguém vai te bloquear. O dia vem e vai na sua passada. Deixe passar.




Carta à @Sig.reis

Flores, chapéus de palha, folhas benzedeiras, isopores, samba de roda, caixas de som, filas, polícia, sereia, areia, plásticos, gradis, acarajé, cachorro-quente, alfazema, poça, lama, àgua, sol, bombeiro, cocada, toalhinhas, fitas do Bonfim, miçangas, sereia, latas, fogos de artifício, sombreiro, açúcar, saco de alinhagem, microfone, mini-trio elétrico, cartaz, suor, cerveja, água, barcos, homens, mulheres, crianças, grávidas.
Sobre a rede social, é um instrumento de se ver fazendo desde que se leia poucas as notícias sobre a vida alheia. Atualize-se sobre a política do país onde mora. Você é um agente nesse lugar, mesmo que olhe pra um canudo plástico e não veja como rejeitar pra não se molhar bebendo água na boca do côco porque pode estar com a bactéria da leptospirose. Ratos comem comida de gente, lembre-se. Ratos não comem comida em putrefação como faz o cão. Seja agente de saúde, social, seja agente. Repare nesse corpo que se movimenta e para onde o balançar dos braços e passos dados estão levando seus pés. Só pode ser esse o caminho da morte. É fazer o que anda pensando todo dia. É bom manter ao menos um cão seu ao lado para acompanhar na caminhada. Mantenha a delicadeza com o ser humano. Faça uso do bem-dizer mesmo maldizendo. Na selva da palavra sincera seres humanos ainda estão lentos. Na selva de covardes tente não cometer suicídio porque às vezes vem a vontade. Alguém vai te bloquear. O dia vem e vai na sua passada. Deixe passar.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Sexta-feira de manhã cedo no Rio Vermelho

É preciso ficar em silêncio e apenas agir. Quem me benzeu agora na praia disse pra continuar os planos, mesmo que eu vá me arrastando, chegarei lá. Como vou ficar em silêncio total eu vou aprender. Se encontro Carlos na balaustrada da praia mais bonita da cidade e ele me pede pra tocar e cantar. Isso nunca poderei negar a Carlos.Ele me fez cantar mais um vez na noite e eu nunca esqueci de tudo dessa noite. Ele me agradece dizendo que eu o enxergo e pede música. No início de tudo ele me dá bom dia e aperta a minha mão. Depois diz que eu faço muitas perguntas e propõe recomeçar pelo bom dia.Tocando em frente é a primeira canção a mim dedicada. Ovelha negra, alô alô marciano. Essas são a minha cara, ele quem diz.
Então recebo seu violão surrado e um tanto desafinado em meus braços
Ele diz que é assim mesmo, mesmo desafinado, pra eu tocar
Vou de sangue latino e ele bate palmas, fala as frases
Continuo do poutpourri à flor da pele
As pessoas passam e querem registrar a cena linda, elas dizem
Os olhos de Carlos quando me fitam cantando e tocando sempre estão cheios lágrimas contidas
Devolvo-lhe o violão e ele toca a paz
Essa eu sei!
Ele me devolve o instrumento, eu erro as notas e ele me faz uma nova proposta de começar tudo de novo e aponta pra o mar
Só a guerra faz o amor em paz
A chuva cai mansa refrescando a manhã debaixo da amendoeira frondosa que nos protege
Carlos pede que eu toque e cante mais uma
Por onde andei começa
Ele vai virando o seu corpo sentado até ficar de costas pra mim e percebo que chora
Chora, chora, e levanta da balaustrada, dando passos pra longe de mim
Volta, passa por mim chorando
Volta, senta novamente na minha frente, olha nos meus olhos, seus olhos derramando muitas águas
Sorri
Bate palmas
Finalizo a canção
Ganho o seu abraço
E ele declara ser meu irmão

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Lagarta no ar

Eu vi
Uma lagarta
Verde
Pendurada
No ar
Contorcendo o corpo
Presa
No ar
Olhei pra cima
Nem planta
Nada
O ceu
Lagarta no ar
Eu juro
Eu vi
Quase ninguém viu

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Mapa

Se eu não sou só uma
Se estou em várias quando elas querem vir
São chamadas muitas vezes
Aparecem monstras com
Transtorno de pânico
Transtorno misto ansioso e depressivo
Episódios depressivos
Transtorno depressivo recorrente
Estado de estresse pós-traumático
Transtorno de adaptação
Elas escarnam cancros
E ficam de olho na ferida
Como um bicho acuado
Que já viu muita gente matar muita gente
Elas aparecem em um mapa
Os olhos têm motivos pra se debruçarem nesse desenho
São códigos emburrecidos
Ela causa no mundo com todas elas
Mexe com você
Surgem até tremores e sua pressão arterial sobe quase te matando
É mentira?
É tudo mentira sobre tantas elas
As cúmplices
As oferecidas
As putas
As quengas
As artistas
As loucas
As desequilibradas
As apaixonadas
As desleixadas
As vadias
As vagabundas
As milf
As desencantadas
As necessitadas
As mal educadas
As cara dura
As Maria-rapaz
As monas
As minas
As mães
As meninas

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Sentido iluminado

Você tem sorte de alguém olhar pra você assim
Ou falta de sorte
Porque sou eu quem te vê com meus olhos
Meus olhos de olhar assim
Boa sorte
A sorte que você deseja ter

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Bombafunk

Menina na rua
Mulher na esquina
Atrás do balcão
Ela se domina
Mete o carão
Vai até o chão
Te chamam menina
Sem saberem
Menina velha
Ela foi um plano
Quase dá errado
Um estudo na língua
Menina...

Menina se domina
Mete o carão
Vai até o chão
Menina se domina
Meta a bala
Mande ver
Segura na agulha
Menina veneno
Disco compacto
Vai!

Menina se domina
Chama outra menina
Mais uma menina
No paredão
Mete o carão
Vai até o chão
Quem não te conhece
Menina
Não te vê
Canta assim
Uma lágrima pequena assim
Domina sim

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Parada e ereta. Não, não estou parada. Estou respirando, embora à noite não consiga fotossintetizar. As outras ao entorno estão inclinadas, curvadas. Elas são desse jeito mesmo. Assim elas procuram a luz, envergando-se. Talvez de minha parte nasça uma flor rosa. Essa flor bem parece comigo mas nasce rosa enquanto eu busco a luz do sol assim quieta respirando. Outra parte de mim vai no fundo desta terra muitas vezes seca mas molhada a tempo suficiente de eu não murchar ou morrer. Sobrevivo com pouca água, confesso. Daqui estou de frente pra um outro ser cuja água sai das duas bolas pequenas e bem próximas que se mexem e também se contraem, fecham e abrem. Veja! Lá vem o dia! O azul do céu! Um passarinho piando baixinho. A luz me faz viver mais até chegar o dia de me tornar apenas uma folha seca no chão.
Um dia essa agonia passará
Porque hoje em dia olhar nos olhos do amigo se perde o efeito da amizade
Ao lado há um macho fingindo ser anti machista
Do outro lado uma fêmea fingindo ser anti-racista
No meio está uma mulher preta já muito debilitada
Um cão doente morre matado pela própria matilha
O ser humano era pra agir diferente
Ele mistura químicas
Ele pensa em cortar o cabelo
Ele só não pode escapar
De seres humanos ao lado
Aí jaz o medo de viver e a criação da coragem
Diga "morra!"
E uma multidão surge ao redor
Para lhe matar
Olhando pros seus olhos
Rindo (por dentro) da sua cara
Um homem branco
Uma mulher branca
Que o mundo se acabe
A civilização já está acabada desde que nasceu
A palavra representa o que não está ali
A coisa morta



Quando eu saio é atrás de música
Quando eu saio ela vem também me procurar
Quando não nos encontramos
Nunca

sábado, 18 de janeiro de 2020

Menstruar
Deixem a mulher
Com o pau ereto
Menstruar
Contrações sem contenções
Deixem a mulher
Menstruar
Tinta sem pintura
Deixem a mulher
Chorar suas causas
Acolham a mulher
Abracem a mulher
Sintonizem com a mulher
Menstruando
Deixem a mulher
Aderir a si mesma
Por todos os cantos

Se olhar pro desprazer saberá conduzir
Só falo dela
Falo
Ninguém aí?
Você, menino
Tem pênis?
Menina tem pênis.
Se olhar pro desprazer há de ver
Desenlace
Lance
Além do alcance
Na beira
Segura na beira!
Pra não cair
Vá além do princípio
Veja
A coisa
Saiu de lá
Que loucura?
A coisa sumiu de lá
E agora?
Busca
Se olhar pro desprazer
Pode ficar cego por instantes
A cegueira é a mentira
Pra viver em paz

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

SOBRE CÉREBRO E BUNDA

Você ficou doente por minhas palavras. Eu queria que todo ser humano antes de qualquer atitude enxergasse a sua condição de animal que foi civilizado. Apenas trabalhasse para a manutenção da vida. Sedução, intenção de amizade, amor, paixão, nada disso existe. Existe trabalho entre os homens na terra. A morte é uma celebração. Celebrar a vida é insignificante.  Pra quê querer saber notícias do outro se o seu labor está distante do labor do outro? Nada lhe renderá. Meu cérebro é imprestável, adoece. Minha bunda é descartável, envelhece. Há tantas pessoas especiais com cérebros fenomenais e bundas extraordinárias.Há tantas pessoas  amigas. Há tantas pessoas silenciosas. O mundo está lotado de pessoas. Eu fiquei doente por suas atitudes.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Vou inventar um dia....
O dia da folha de goiabeira que eu amo cheirar!
Meu deus do ceu
já sentiu o cheiro da filha de goiabeira?
Lagarta pintada tem no verde das folhas
As futuras borboletas
Passarinha bica uma goiaba e a moça se irrita
Quer goiaba sem picada de passarinho
Ela enriquece de goiaba
E eu peço encarecidamente alguns galhos pra eu cheirar
Ficar cheirando
Até as folhas seracarem
De tanto eu cheirar

sábado, 11 de janeiro de 2020

Chamaria

O estado de paixão não sustenta nada. Ele acaba com tudo. Vê-lo passar e ver o que fica é o melhor. E a atração dos corpos? E a atração intelectual? Podem ser confundidas com o estado de paixão. Então chamaria de paixão desejar estar perto do intelecto do outro. Não. Chamaria de paixão desejar o encaixe do corpo em determinado outro corpo. Não. Chamaria de obsessão desejar? Também não. Chamaria apenas. Sem chama, nem uma coisa nem outra, nem o que ficaria depois de tudo acabado.

"O seu amor, ame-o e deixe-o livre para amar"

Eis o exercício em viver em liberdade. As pedras também amam. Amam as intempéries -  parecem saber que basta vê-las passar.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

O pânico faz alguém paralisar ou correr. O instinto é o de sobrevivência. A reação à situação de ameaça à vida é inusitada. Dois ladrões em Salvador anunciaram os seus ofícios a um CASAL QUE SE AMAVA na turística Itapuã. Nas imediações da Sereia. A décima segunda delegacia de polícia parece estar logo ali do outro lado da rua. Dois ladrões mandam o homem do casal ir buscar os pertences dele para doar-lhes senão acabarão com a vida do casal. O homem obedece, talvez pense que obedecendo ele possa salvar a todos. A mulher fica com os ladrões como garantia da entrega dos pertences. Um ladrão estupra a mulher na ausência do homem. O estuprador se assusta com a viatura e obriga a mulher correr. A mulher tem crise de asma e ambos páram e recebem água de um estabelecimento. O estuprador abandona a mulher que pede socorro em seguida. Ninguém faz nada. Ela consegue retornar ao hotel quando alguém faz.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Agorinha eu vi uma vassoura varrendo as flores de jambo. Você já comeu flores de jambo? Eu já. Deliciosas como o jambo. A flor antecede o gosto do fruto no jambeiro. Nele há sempre lagartas de fogo. Na mangueira também, mas nunca comi e nem reparei nas flores da mangueira. Sei que lagartas de fogo podem ser muito verdes. Eu já me queimei quando segurei no galho.  O ardor doloroso percorre muitas horas. Irradia pro braço a sensação. Depois passa. O fim da dor é de repente. Quando se tenta olhar pra ela, sumiu.

domingo, 5 de janeiro de 2020

Texto a ser mexido

Pode dizer que é bonito? Eu sei quase nada do que pode ou não pode. Mexe com tudo, todos os sentidos. Minha pele sente e arrepia pelo som que meus ouvidos recebem nas cores das vestimentas sutilmente coloridas sobre o predominante branco. Branco no chão do salão. Branco nas paredes. Uma branca ao meu lado um pouco atrás de mim. Quero saber dançar aquelas danças por todo o salão. Quero saber cantar aquelas músicas bem alto no coro do salão. Quero a voz daquela ekede no salão. Será que eu posso dizer pra ela continuar cantando? Eu pedi pra ela continuar cantando no salão. Aquela mulher preta e muito magra. Pedi na frente do pai da casa porque ele estava bem na frente nessa hora. Lágrimas engolidas com tudo do salão mais meus pensamentos indo longe e trazidos pra dentro do salão. Quando eu coloquei ali o que me afligia foi sendo possível tratar daquela imagem carregada de afeto na memória. Eu descarreguei no silêncio do meu salão. Eu rezei de novo. Sorri de simples belezas de pessoas tão pretas quanto eu ali dançando com toda a cabeça entregue ao fluxo do movimento.