terça-feira, 16 de novembro de 2010

Beleza x Horror

"(...)a beleza torna o indivíduo insensível ao horror." Disse Philippe Julien no livro Psicanálise e o Religioso - Freud, Jung, Lacan - o qual dedica "para aqueles que, ardendo no prazer da verdade, tornaram-se presa dos cães de seus próprios pensamentos". Assim ele define a sublimação, conceito tão divergido entre psicanalistas. O trabalho como resposta à angústia, o belo como resposta ao horror. Algo assim, eu penso e concordo com Philippe Julien.

O que me levou a escrever esse post a partir dessa leitura foi o meu dia de ontem, especialmente. Desprovida de um veículo próprio, sem qualquer vontade de ficar em casa, combinamos, eu e meu marido, de irmos à praia. Já passada a hora ideal do sol para a pele do ser humano, fomos ao ponto de ônibus. Itapuã? O ônibus dá muita volta... Barra, então. Sol muito lindo na cidade de Salvador, ponto turístico da cidade, saltamos na praia da Barra, já sem a beleza histórica das pedras portuguesas (nunca deixarei de me indignar!)andamos até o Porto.

Muita gente no caminho, muita gente. Começa a minha sensação de horror. Sem óculos escuros para aplacar o excesso de luz, eu sigo ao lado do meu companheiro, sentindo-me protegida daquela multidão. Vez ou outra ele pára e verifica se existe algum lugar para o nosso estacionamento, mas não. Sinalizo a areia preta, suja. Caminhamos. Relembro a Avenida Sete de Setembro com tanta gente, indo e vindo, bebendo, sorrindo, caminhando. De repente um alvoroço! Nada não...só um transeunte acabara de ser surpreendido por uma mão atacando o seu pescoço que carregava uma gargantilha (quem sabe de ouro)!

Minha definição de que nada não existe é impávida, sigo assustada. Meu marido decide ir ao sanitário público e, levando a minha bolsa junto consigo, diz para eu ficar próxima à roda de capoeira que acontecia. Cena bonita: sol, praia, pessoas sorrindo na roda, música de capoeira. O mesmo grupo de garotos assaltantes vem na mesma direção que me encontro. Escondo com os braços cruzados a minha aliança de ouro, ainda assustada.

Decidimos estacionar no Porto da Barra. Aluguel de cadeira e sombreiro são mais que necessários. Eu, assutada e mal humorada, prefiro sentar na minha esteira de palha. Uma mulher gorda reclama da cadeira quebrada enquanto na mão carrega um osso de galinha. Um amontoado de gente e cadeiras ao meu redor. Assim decido olhar para o que eu entendo por belo: meu marido, seu sorriso, o mar.

Muitos minutos tentando enxergar um lugar mais vazio para entrar na água. Lugar onde nunca me banhei, tenho receio de entrar sozinha, pois não sei nadar. Assim, entramos juntos na água da praia do Porto da Barra, eu tentando manter o equilíbrio com tantas pedras embaixo dos meus pés para não cair. A água está espetacular! Fria, transparente, energizante. Vejo beleza. É o mar, e sinto-me bem.

Já sentados num restaurante, supostamente protegidos, meu companheiro diz:

- É a cidade onde eu moro, fazer o quê?

Volto para casa, com o frescor inesquecível das águas do mar do Porto da Barra, decidindo o lucro o meu dia.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Simplesmente linda

A letra da canção a seguir vale a pena ser ouvida. Posto aqui em comemoração ao primeiro ano do meu blog, remédio para tantas horas...

O Rouxinol
Composição: Milton Nascimento

Rouxinol tomou conta
Do meu viver
Chegou quando procurei
Razão pra poder seguir
Quando a música ia
E quase eu fiquei
Quando a vida chorava
Mais que eu gritei
Pássaro
Deu a volta ao mundo
E brincava
Rouxinol me ensinou
Que é só não temer
Cantou
Se hospedou em mim

Todos os pássaros
Anjos dentro de nós
Uma harmonia trazida
Dos rouxinóis

Bis, para crianças!

DIA DE CARURU

Na Bahia, em Salvador se come muito caruru. Na casa da tia Carminha não era diferente - todo ano tinha caruru. Aliás, não só caruru, tinha vatapá, farofa amarela, xinxim de galinha, banana da terra frita, arroz branco e dois tipos de feijão – o fradinho e o preto.

Tia Carminha, era negra, descendente dos que eram escravos na Bahia. Era casada com tio Vítor, e só tinha uma filha, Aninha. Como Aninha não lhe deu netos, então os filhos da sua irmã Lourdes eram seus sobrinhos, mas tratados como filhos. Os filhos dos seus sobrinhos-filhos eram os seus sobrinhos-netos, e enchiam a casa quando era o dia do caruru.

Num determinado ano, todos os sobrinhos compareceram à casa de tia Carminha. A casa era toda verde, num bairro chamado Pau Miúdo. Já era noite quando aos poucos começaram a chegar seus sobrinhos-filhos e seus sobrinhos-netos, além dos só sobrinhos e demais amigos.

Na casa havia um terraço, onde Aninha e tio Vitor preparava as mesas e cadeiras, a vitrola para tocar música e os refrigerantes dentro do gelo para servir na temperatura ideal. Tia Carminha não saía da cozinha até tudo ficar pronto.

Ah! Também havia plantas e jabutis, muitos jabutis, de diversos tamanhos, no terraço. Tia Carminha acreditava que a presença dos bichos afastava os maus espíritos que quisessem entrar na sua casa.

Então, todos estavam lá, comendo, bebendo, conversando, dançando. Fafá, Cacá, Vevéu e Tatá estavam lá, conversando encostadas na mureta do terraço de onde podiam ver o quintal da casa lá embaixo, guardado pelo cachorro Tubarão.

Tubarão ninguém via. Tio Vítor dizia que ele mordia e só aparecia de noite, bem tarde, para espantar os ladrões. Fafá era bem pequena, mais gordinha que as outras, e não tinha altura suficiente para nem para enxergar por cima do muro.

Fafá, Cacá, Vevéu e Tatá conversando ali, resolveram começaram uma brincadeira de adivinhar a música. Uma dizia uma palavra que a música continha e as outras cantavam músicas que continham a palavra, até acertar a música que estava no pensamento de quem lançou a palavra. Assim, cada uma tinha a sua vez de dizer a palavra para as outras acertarem a música do pensamento.

De repente, Vevéu, a mais velha daquele grupinho perto do muro formado por meninas sobrinhas de tia Carminha, percebeu algo muito esquisito e falou:

- Fafá, você está alta...

E todas olharam para Fafá, tão gordinha e agora mais alta, conseguindo enxergar tudo por cima do muro.

- É mesmo! – concordaram Cacá e Tatá.

Fafá sorria sorrateira, feliz por estar enxergando o que antes não conseguia enxergar. Só não conseguiu ver Tubarão, porque esse ninguém via.

Observando Fafá da cabeça aos pés, tentando entender que tipo de mágica tinha acontecido para que ela repentinamente crescesse, Vevéu teve um sobressalto!

Fafá estava em pé, em cima do jabuti da tia Carminha, toda gordinha, agora não mais baixinha!

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Primos-irmãos

Era uma vez três irmãs e dois irmãos. Matilde, Afrodite e Brigite eram irmãs, primas de Luiz e Geraldo, também irmãos. Eles já brincavam muito juntos quando nasceu Curó, irmã de Luiz e Geraldo, prima de Matilde, Afrodite e Brigite também.


O pai das primas era irmão do pai dos primos, e a mãe dos primos era irmã da mãe das primas – quase um problema de matemática! Mas tudo ficou mais fácil quando eles cresceram e entenderam que faziam parte de uma grande família.


Seus sobrenomes eram iguais, e por isso eles se chamavam de primos-irmãos. Sempre passeavam juntos, ou encontravam-se na casa de Luiz, Geraldo e Curó para brincar. As meninas moravam em apartamento, no último andar e por isso era melhor brincar na casa dos primos, pois correr ou pular no chão não incomodava os vizinhos embaixo.


Quase todos os domingos, os pais deles iam visitar o sítio do irmão mais velho chamado Tonho. O sítio parecia um clube de recreação – havia uma casa grande, uma piscina com uma parte funda e outra rasa, árvores, churrasqueira, brinquedos e muita música. A animação era completa para os primos-irmãos!


O nome da brincadeira predileta era “baleado”. Eles montavam dois times e um contra o outro tentava acertar a bola no adversário. O time que conseguia acertar alguém gritava bem alto “baleô!” e a pessoa atingida pela bola, se não a segurasse nas mãos sem deixar cair, tinha que sair e aguardar a próxima jogada. Quando outros primos estavam presentes no sítio o jogo ficava mais eletrizante! Mas não eram primos-irmãos como eles.


Matilde e Luiz eram os mais velhos, e por isso tinham mais força no arremesso. Geraldo era menor, mas muito habilidoso, corria velozmente para pegar todas as bolas. Brigite era do mesmo tamanho que Geraldo, não tão ágil, mas conseguia fugir de ser baleada pela bola. Já Afrodite, mesmo um pouco maior que os mais novos, era a mais sensível de todos. Costumava chorar em todas as jogadas, pois sempre era atingida pela bola desastrosamente.


Um dia, enquanto jogavam baleado no meio das várias árvores do sítio do tio Tonho, o time do Luiz estava ganhando e Afrodite ainda não havia sido atingida por nenhuma bola, algo muito ruim aconteceu. Brigite passou a bola para Luiz, que com seu arremesso forte tentou eliminar do jogo Matilde, tão forte quanto ele.


Curó brincava de fazer bolo e docinhos na terra molhada bem perto da clareira, pois era a menor e não podia participar desta brincadeira por medida de segurança. Aliás, Curó, quase não participava das brincadeiras, mas ficava atenta por perto, brincando de outras coisas como nesse dia no sítio.


Ao lado da casa, na clareira onde acontecia o jogo, havia um tapete rosa formado pelas flores do jambeiro. Ao redor, uma mangueira, alguns coqueiros e um limoeiro que pouco dava limões. Eles sabiam que as árvores do sítio haviam sido plantadas e cultivadas pelo pai dos pais deles, o avô José. Ao fundo podiam ser avistados o chuveiro e a piscina.


Como uma bala, a bola arremessada por Luiz com tanta força, passou por Matilde e, quando ia atingir Afrodite, Geraldo pulou para agarrar. Mas a bola-bala escapuliu das suas mãos ágeis e foram parar no limoeiro. Num segundo saíram do pé de limão muitos bichos formando uma nuvem de formigas voadoras.


Mas não eram formigas voadoras! Eram marimbondos! Todos os primos-irmãos foram atacados por picadas dos insetos voadores, incomodados com a bolada que a casa deles recebeu...


Em toda parte do corpo de cada primo-irmão apareceram caroços enormes, inchados, e eles sentiram muita dor. Choraram até acabar o dia de domingo no sítio.


Afrodite chorou mais que todos.


Curó foi a única que escapou das picadas dos marimbondos.


FIM.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Mais achados

Até hoje arrumo coisas da mudança... Encontrei um papel que uma colega do tempo de escola escreveu ao estudar a minha caligrafia.  Essa mesma pessoa um dia fez al eitura da minha mão e disse que eu não viveria muito, só até uns 60 anos! Poderosa ela, hein?! Eu, como toda adolescente curiosa e destemida, sujeitava-me a essas interpretações... Só não me deixei hipnotizar, porque até hipnotizador tinha naquela escola! Penso que ela transcreveu a análise, tipo péssimos psicólogos ao fazer um relatório com base em testes psicológicos - a receita está pronta, é só somar os pontos e ver em que resultado se encaixa. Eu fazia todos os testes da revista Capricho e Querida na minha adolescência, não consigo lembrar do resultada de qualquer um! rsrsr... Sou avessa a testes psicológicos, seus resultados são, na maioria, inconsistentes e inexpressivos. Um bom psicólogo tem que saber fazer uso objetivo de um teste, pois só ele pode aplicar e interpretar, então... prefiro não entrar nessa questão, é algo para ser dissertado posteriormente.

Vou transcrever esse papel e depois descartá-lo. Todos os meus testes de revistas da adolescência serão representados pela transcrição a seguir! Minha caligrafia mudou muito, ficou mais "preguiçosa". Nos tempos de escola fui obrigada a escrever com caligrafia técnica. Quando criança minha diversão era fazer caligrafia em letras cursivas, e quando adolescente, com a introdução da caligrafia técnica, tudo ficou misturado! Talvez porque os pensamentos vão ficando mais rápidos com o passar dos anos, com o amadurecimento, e não dá tempo de escrever com tanta destreza quanto antes, hoje enxergo o quanto minha letra está feia. Mas como em todo teste, descrição de signos de zodíaco, ou até mesmo no encontro de algumas charlatãs "mães de santo", sempre há algo que se encaixa perfeitamente (em qualquer ser humano!), aí vai:

MARIANA
- Equilíbrio é a palavra. Concentrada, egoísta, narcisista, raciocinadora, reflexiva. Dona de si;
- Detalhista, minuciosa. Amante da análise de consciência;
- Agradável naturalidade;
- Dureza mo trabalho, energia em todas as atividades e em todas as manifestações da vontade;
- Cultura principalmente. Temperamento analítico;
- Originalidade de pensamento, ama os jogos e os prazeres;
- Pessimismo talvez causado por cansaço momentâneo;
- Pessoa nobre e honrada que trilha o melhor caminho a seguir tendo em vista a obtenção dos deus objetivos. Controle do estado de ânimo;
- Moderação. Precisão e raciocínio. Perfeição em tudo que faz;
- Pessoa enérgica e boa constituição física. Solidez de princípios e ideias bem determinadas;
- Capacidade auditiva, luta de sentimentos, gosto pela música. Temperamento nervoso;
- Fácil adaptação, equilíbrio e harmonia espiritual;
- Equilíbrio, equilíbrio + equilíbrio...
- Expansão e reserva, visão clara, lucidez, boa inteligência;
- Cortesia e boas maneiras. Organização;
- Vaidade e presunção que conduzem à mentira para alcançar glória ou parecer mais do que se é;
- Vacilação ou indecisão;
- Reserva, ocultação do verdadeiro modo de pensar, hipocrisia;
- Se apega ao sólido e tangível, ao prático;
- Esquecimento, descuido e distração;
- Timidez, inibição no sexo;
- Gênio explosivo, fácil irritabilidade;
- Consciência aberta, espírito menos estreito.


Isso não deixa de ser interessante - minha letra fala de mim? É o outro falando de mim..


terça-feira, 9 de novembro de 2010

Tem gente que pouco me interessa



Tem gente que pouco me interessa
E só me fez rir à beça
Com seu mal jeito de ser
Tem gente que nem sabe dessa
E caminha sem ter pressa
de rir e feliz viver

é aquele que não se enxerga
é aquele que não se escuta
é aquele que se diz pai
é aquela que diz dar a mão
Tanta gente pouco me interessante, verdade
Tantos palpites nada intrigantes, falta sagacidade
Pouco me interessa
Pouco me interessa
E me faz rir à beça

Na hora do afã
Pouco me interessa
Quando a boca pede mais
Pouco me interessa
Quando peito meu desejo
Nada mais interessa

Talvez um sujeito
Um desejo
um sonho
um aperto
um amor
um beijo



É assim que ando, caminhando, permitindo somente a presença das pessoas que me interessam, que realizam trocas, adicionam ou multiplicam comigo. O bem estar alheio incomoda muita gente. Que espécie estranha é essa o humano! Pensa pra existir, sorri quando quer chorar, chora quando quer sorrir, grita quando quer dizer "eu te amo"... Sou eu parte dessa espécie. Parte porque tenho meus cães para me lembrarem todos os dias que sou nada, e nada não existe. O que existe eu penso que existe, pois me treinaram a não duvidar que existe. 

Quem disse que cadeira é cadeira, que verde é realmente verde etc.? Acredito nisso tudo aí. Só me custa agora é acreditar na humanidade, porque essa precisa ter fim urgentemente, está sem limites. Poucos os que dizem que são e são de verdade. Ah! Como saber o que são de verdade? Verifique seus atos! Veja se é aplicável o altruísmo, a caridade, a honestidade, verifique se num conjunto de atos em 24 horas essa pessoa reúne virtudes admiráveis por qualquer livro religioso. Humm, nem você mesmo? Nem eu. Mas o que mais me interessa eu posso querer, compartilhar, adquirir, alugar. Quem mais me interessa eu posso me comunicar de alguma forma - pego o telefone e ligo, ou coloco um disco compacto para ouvir ou assistir.

O que menos me interessa também importante, saber o que não se quer é importante. A humanidade é a derrota do mundo, não precisamos de bomba atômica. O ser humano é tão ruim que vai-se matando aos poucos. Masoquistas enlouquecidos. E eu? Levo a consciência de que sou nada, portando, não existo. Porém eu me interesso por mim, porque eu sei em que acredito, em que duvido, sei do que me esquivo. 

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Achados

Um pedaço de papel, uma folha, um caderno sempre me acompanham. Assim encontrei alguns escritos meus...


ISSO
Quando sinto isso quero a morte
Quero a sorte de ser alguém
Com sabedoria bastante pra saber que isso é assim
Porque quando sinto isso
Tenho nós de estresse nos músculos da minha face
Meu corpo se encolhe e dói
Como a "fecha-a-porta-maria" do mato
Vou lá na minha infância onde busco o frescor de estar feliz
Pois quando sinto isso sempre lembro de ter sentido
Agora de maneira muito mais frequente
Espíritos obsessivos? Descrença em deus?
O que será, o que será?
Isso tem remédio? Então o que é isso?
Saber que isso sou eu não me basta
Porque quando sinto isso não me suporto
Me odeio, me maltrato, me incompreendo
Isso pode ter vindo de lá de dentro, onde tudo era tão quente
Lugar de gritos abafados, sem amor
Só  planos
Sou fruto de um plano! É isso!
Plano de quem? Meu é que não...
Disseram-me que para aliviar isso, eu chame por deus
Já chamei. Ele nunca chega.
Minha saúde é da natureza, dos gritos que com certeza ouvi
Minha tristeza
Sou o boicote de plano alheio
Decidi não me tornar objeto desde muito cedo
Agora sinto isso
Estou pagando o meu preço.



BOA MORTE!

Para quê sofrer para escrever
Sofrer e esquecer
Para essa dor passar e eu, finalmente
Obviamente
Morrer

Quero palmas, gargalhadas
Muita pompa, casa lotada
Minha presença em 48 horas
Arrumadinha, confortável
Sem ser incomodada

Quero nesse dia ser o olho que tudo espia
Mas não denuncia
Ser o ouvido que tudo escuta
Mas não julga
Minha boca bem fechada contra a moscaria
Quero agonia
Um som dançante, bastante alegria
Quando chegar o meu dia