quarta-feira, 22 de julho de 2015

Auto-Erotismo


Antes havia uma mulher no meio. Músculos bem definidos, glúteos carnudos e enrijecidos, pele macia, hidratada – provocava muito tesão. Esse corpo me convidava para o sexo a três. Eu atrás, ela no meio, um pênis à frente. Pouco importava o dono do pênis. Meus braços alcançavam a mulher e minhas mãos alcançavam o pênis, que logo ejaculava e logo eu me retirava, desinteressada no prolongamento da atividade sexual. Assim como se abandona a cena da masturbação ao se atingir o orgasmo.

Então, dançando, sua boca encontrava o seu pênis. Mamava o seu próprio pênis numa dança contorcionista onde os ligamentos do seu corpo mostravam-se em movimentos pulsionais. Num palco de teatro, a luz sobre o seu corpo, somente.  Pouco interessava o seu pênis. Interessava a sua boca, fazendo a sucção. Poderia ser o seu dedo, poderia ser o seu braço, seu pé, seu joelho. A contração sobre si mesmo, a sucção de si mesmo.

Palavras.

O vazio.

Um bebê.

A criança.

O Pai.

Abandona.

O si mesmo.

Um outro.

 

Nem todos os beijos se parecem com uma chupada, não, não, de modo algum! É impossível descrever quão agradável é a sensação que passa, pelo corpo todo, ao chupar; fica-se simplesmente fora deste mundo, inteiramente satisfeita e numa felicidade acima de qualquer desejo. (...) É uma sensação maravilhosa; não se quer nada senão paz, uma paz que não seja interrompida. (...) É indivisivelmente lindo: não se sente nenhuma dor nem tristeza, e ah! A gente se transporta para outro mundo!” (FREUD, Sigmund. Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud.Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade. P. 170 nota 2)