Antes havia uma mulher no meio.
Músculos bem definidos, glúteos carnudos e enrijecidos, pele macia, hidratada –
provocava muito tesão. Esse corpo me convidava para o sexo a três. Eu atrás,
ela no meio, um pênis à frente. Pouco importava o dono do pênis. Meus braços
alcançavam a mulher e minhas mãos alcançavam o pênis, que logo ejaculava e logo
eu me retirava, desinteressada no prolongamento da atividade sexual. Assim como
se abandona a cena da masturbação ao se atingir o orgasmo.
Então, dançando, sua boca
encontrava o seu pênis. Mamava o seu próprio pênis numa dança contorcionista
onde os ligamentos do seu corpo mostravam-se em movimentos pulsionais. Num palco
de teatro, a luz sobre o seu corpo, somente.
Pouco interessava o seu pênis. Interessava a sua boca, fazendo a sucção.
Poderia ser o seu dedo, poderia ser o seu braço, seu pé, seu joelho. A contração
sobre si mesmo, a sucção de si mesmo.
Palavras.
O vazio.
Um bebê.
A criança.
O Pai.
Abandona.
O si mesmo.
Um outro.
“Nem todos os beijos se parecem
com uma chupada, não, não, de modo algum! É impossível descrever quão agradável
é a sensação que passa, pelo corpo todo, ao chupar; fica-se simplesmente fora
deste mundo, inteiramente satisfeita e numa felicidade acima de qualquer
desejo. (...) É uma sensação maravilhosa; não se quer nada senão paz, uma paz
que não seja interrompida. (...) É indivisivelmente lindo: não se sente nenhuma
dor nem tristeza, e ah! A gente se transporta para outro mundo!” (FREUD,
Sigmund. Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud.Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade. P. 170 nota 2)