terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Eu vi um menininho parado na frente da nossa varanda em festa. Parece ter sido capturado pelo som do violão, da percussão e das vozes que emanava de lá. Ele estava acompanhado de uma babá, chegou a caminhar mas só até a outra parede da varanda, parecia estático mas os olhos se dirigiam pra dentro da varanda, mesmo eu não sabendo pra onde seus olhos se dirigiam quiçá seus tantos sentidos. Eu estava usando um copo e um canudo de plástico pra tocar, mostrei a ele. Perguntei: você está gostando da música? Ele anuiu quase sem esboçar movimento e o seu olhar na minha direção durou apenas como um flash, rápido, sem sorriso, sem movimentar visivelmente qualquer parte do corpo.

Outra pergunta poderia substituir a primeira: Do que você está gostando? Talvez o corpo dele mexesse mais na elaboração da resposta a essa pergunta. Mas eu não estava trabalhando, estava me divertindo ainda que com profissionalismo. O cachorro fez aproximação mas a criança pouco se mexeu mesmo quando o animal subiu até alcançar-lhe os ombros. Parecia que ele tinha pousado ali em meio a música. Recebi notícias que ele esteve tocando algum instrumento no palco local. Então estava explicado. A contemplação na qual aterrissa o artista captura o corpo do artista.

Ao disponibilizar os sentidos (audição , tato, olfato, visão, paladar) para a música especialmente, tende-se a afinar o corpo de uma forma tal que onde soar uma nota os ouvidos estarão lá.