terça-feira, 27 de novembro de 2018

Olhei pra um espelho e disse eu sou assim. Eu demoro. Todo mês. Eu fico pensando. Pensando . Choro pelo mundo todo. E o meu mundo. É o vento frio entrando pela vidraça. Barulho das ondas no mar.
Minha filho cacau
Essa fruta quase baiana de tão bem plantada e tão quanto espantada
Vassoura de bruxa quem te criou te põe pra fora
Minha filho cacau
Eis a solução
A tentação da apetência de única ponte
De tentativas
De amar

domingo, 25 de novembro de 2018

Quando o corpo precisa parar
Fica quieto e ninguém te bole
Ninguém te liga
Você desliga
Do mundo
Quando o corpo descansa
Seja lá quanto tempo levará pra isso
Carimbaram de outro nome
Inventaram novos códigos
O corpo inerte passivo
Em transformação
Entre dobras dançadas em luto por outros corpos
Agora sem órgãos
Apenas tecido
Essa vou decantar
Brasa leira
A brasa e leira
Sangue latino
Lero lero
Puapixuna
Avacanoeiro
O sertão o mar o grito
Abraço
Caravana
O mundo
Meia lua inteira
Cicatrizes
Meu mundo e nada mais. Homens não admitem mulheres homens ainda que sejam mulheres. Mulheres homens eu digo pra colocar um nome na mulher. Não existe mulher e homem, feminino e masculino, xereca e pinto - tudo invenção pra diminuir o outro a partir da diferença. A mulher fica vulnerável enquanto sangra, enquanto grávida, enquanto parturiente. Nessas vulnerabilidades, dependente da figura que não sangra, que não gera em seu ventre, que não expele do seu ventre, que não amamenta, aconteceu os primórdios da relação de poder e diferenciação de sexo. Lacan fala desse primórdio da diferenciação a partir das placas M e F em portas distintas dos banheiros. O corpo feminino sofre alterações hormonais ciclicamente. O corpo masculino não tem menopausa. Há corpos de mulheres muito mais fortes do que corpos de homens. Mulheres copulam com vários homens, homens copulam com várias mulheres, salvo quando o corpo da mulher está sangrando, gerando, parindo, amamentando, além das variações cíclicas hormonais. Homens sempre estão aptos a copular. Mulheres não. Mulheres podem copular com vários homens quando sangrando, gerando, amamentando, girando ciclicamente seus hormônios. Crianças também são vulneráveis e crianças mulheres são educadas a serem vulneráveis. Mulheres começam a alterar a gramática. A mulher homem sente na pele a homofobia. Una mujer sin complejos. Desea  todo hombre. O homem esconde sua fantasia sexual da mulher porque ela não admite essa fantasia. O homem divide a sua fantasia sexual com outra mulher-homem. Gosta de um homem chupando seu pênis e sente prazer no seu ânus.

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Eu abria a porta da minha casa e lá estava o casal. Eu olho pra moça me colocando na ponta dos pés pra ficar mais alta do que ela e imponho um olhar com arrogância. Ela de mãos dadas com ele, na minha porta, eu tendo que receber na minha casa. Senti-me trêmula. Com mal-estar. Passei mal. Eles olhavam pra mim sem entender porque fiquei muda diante da cena do casal. Quando eu te reencontrei, você estava só. Depois escolheu quem te acompanhar. Eu, muda. Ó arvore frondosa!, tanto recolhimento, avanço, acendido pelo reencontro do reencontro. Não foi tão bom quanto você imaginava. Não foi tão bom como o que está contido em uma cena de cinema e cruzamento de hormônios-intelectuais. Vou parar com isso.

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

O princípio do fim

"Vou sair pra ver o céu 
Vou me perder entre as estrelas 
Ver d´aonde nasce o sol 
Como se guiam os cometas pelo espaço 
E os meus passos 
Nunca mais serão iguais
Se for mais veloz que a luz 
Então escapo da tristeza 
Deixo toda dor pra trás 
Perdida num planeta abandonado
No espaço 
E volto sem olhar pra trás
No escuro do céu... mais longe que o sol... 
Perdido num planeta abandonado 
No espaço"
O que é um vício
O que é uma paixão
O que é a calúnia
O que é o tesão
O que é a distância
O que é o abandono
O que é a aproximação
O que é a ponte
O que é o corpo
O que é o homem
O que é o chão
O que é o grito
O que é o maldito
O que é aquela coisa que não se vai quando tem que ir.


segunda-feira, 19 de novembro de 2018

 Uma tentativa de escrever pra você, amor. As rugas vão-se fazendo pelo corpo e sustentam-se no dia todo mesmo em febre de final de dia. Ventosas nos sorrisos ao  receber um sanduíche quente na padaria de tantos olhos reconhecíveis enquanto cruza com aquele ator de cinema irreconhecível e ri durante uma conversa sobre ter ou não ter dois cães. Despede-se dos que não lhe oferecem futuro em voz alta pela rua sozinho. Estou deixando claro pra você, amor. Lugares desertos lotados, o homem catando lixo esforçando-se em seduzir pelo pára-brisa sem perceber os esforços daqueles pés no acelerador e na embreagem em terreno tão íngreme e quase insuportável na escuridão de flash vermelhos. Tenho pouco para te dar, amor. O caminho pelas pedras solicita cada micromúsculo debaixo do sol no ser tao cujos pés minúsculos escorregam sobre o limo fresco cheirando à maresia. Assim será se for, amor. Errante corpo atarantado agarrando-se a uma corda no pescoço de um animal guiando pelo norte verdadeiro do outro lado da rua catando comida pelo chão. Seja lá quem você é, amor. Mate-me.
Há algo cíclico e o trabalho é saber qual o ponto da curva
Se é parabólico
Ou algo que aponta na distância perfeita daquele centro eu
Girando feito um catavento desmantelado
Enquanto o sol nasce e queima
Enquanto a maré sobe e desce
Enquanto o sol se põe e turvam-se as vistas
Clamando alucinações

O mundo é todo sujo mesmo
E a liberdade é o gozo do morto
É a razão pela boca daquela criança preta
Neta de pescador
Aqui é o lugar onde ninguém sabe
Há ânsia de vômito
Falta de apetite
Insônia
Asfixia
Tontura
Coisa emperrando a saliva descer pela garganta
Nessa busca de saber
 Buraco vai-se abrindo
Areia seca ou areia molhada
Pessoas permanecem na margem
Eu fundo
Bem fundo
Segurando a corda no pescoço animal
Definhando em Gardner
Desconfiando em Claudel
Esvaindo em Jonker
Sufocandom Regina

Mergulhando nos demônios

É proibido sonhar