terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Canção atrás do caminhão
De lixo
Na ida e na volta
Boca abre e fecha e o cheiro ganha outros ares

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Não
Ela não parece tanto comigo
Eu pareço tanto com ela
Com os medos todos dela
O desaforo dela
Alguma força que ela tem
E uma beleza marcante

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

O vazio é um convívio irrecusável.

As coisas parecem andar
Saltitantes pela simplicidade
A grama
A lama
Balaustrada
rio vermelho
Corridinhas
Ora cão
Cidadão
Reunião
Em lamari, alá, rico, chico, merlin, pagu
Lacan e Juno
Pandora

Fresca
Brisa
Entre a pista, o verde, o mar

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

O sertão é o melhor lugar
Quando vem a nuvem preta
Da amargura à paixão
Basta andar descalço
na hora em que a sombra some
A alma vai bem no meio
Do ser
Meio sedento e insaciável
Contido no desejo
Vê coisas sem forma cor
Textura de areia passando
Pelos dedos
A cegar o olho
Fecha a boca
E abre as asas
Respira no fundo sertão
Chama a lua vermelha
O outro dia virá
Na seca
Rota pertinente ao amor

domingo, 10 de dezembro de 2017

É vital a companhia de um cão
Vital a presença das plantas
O vento de passagem cortando a massa de ar quente da janela
É vital ver o mar
Virando cinza
Com a vitalidade da chuva vindoura
Vital haver nuvens carregadas escurecendo o dia
É vital um passeio em família
Uma visita
é vital
Ser visita
Saber notícias
É vital tantas vozes

É mortífero quando parece ser sentido amor
Quando o amor é sem sentido

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Um acidente com muitos mortos. Junto ao meio-fio, mortos ou agonizantes. Nunca vi isso antes... Parecem mortos de guerra, empilhados. Nenhum som. Som de dor ou de respiração, nenhum. A espera pela ambulância é de mais de uma hora, então quem poderia sobreviver, estava morto. O caminho se faz em direção a uma amizade de longas datas. Um laboratório com muitos computadores numa penumbra. Saímos pra almoçar mas nesse tempo há uma consulta psicológica agendada e um ex-namorado é insistente em acompanhar o trajeto ainda que seja tratado com indiferença. A sessão acontece e, ao final, antes de sair, é observada a porta entreaberta e o sentimento de que tudo fora escutado lá fora. Não, não, é garantido pela psicóloga - há muito barulho, parece ter sido realmente impossível. Depois a profissional é uma amiga, o ambiente  fica familiar, a filha dela chega e não me cumprimenta. Vou buscar o meu cachorro. Ele faz cocô na rua e ainda há dúvidas se recolher ou não. Um armazém está bem defronte, um saco é disponibilizado e a coleta feita, ainda que com pouco amor pelo cão. Agora a direção é a casa de uma tia. Familiares encontram-se de férias em Guarajuba e eu  trabalho. A sobrinha surge do mar à areia em minha direção com os cabelos esvoaçantes parecidos com a menina que eu gerei. Um tio ja morto aparece vivo e me cumprimenta de maneira diferente da habitual, passo a saber que a sua memória está lesionada. Vejo o mar à frente. De camisa preta e calcinha, sinto a liberdade pra um mergulho antes de ir trabalhar, um mergulho só. O faço. A água é turva, extremamente salgada. Saio convicta de que a água do mar do lugar onde moro é melhor.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

A água deveria apagar o fogo
A chuva quando vem pode acabar com o incêndio na mata
Há fogo que surge do nada
Na seca
E um pingo d'água resolve
Fogo surge, gota apaga
Fogo surge, gota apaga
Gotas de água salgada todo santo dia, são Pedro
Gotículas dos zoio de labareda, são José

Um peixe cru enrolado na alga, maçaricado, por favor.

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

EXcertos

A coisa é o seu oposto. O oposto da verdade não é a mentira, é a palavra. A palavra reta, analítica. Nisso há o amor, por conseguinte, o ódio. Tão verdadeiros quanto a palavra. Então eu amo (odeio) (verdade) (palavra). Faço uso de um expandidor de mentes. A palavra é uma mentira, representa algo que não está ali. E eu vi a negativa. Essa prática como pesquisa é sei lá o quê. Porque sei que lá em algum lugar saberá. Lá depois de essas palavras que eu escrevo terem saído do meu corpo. É incrível e certo.
Atiro-me à criança. Criança é trabalho. Houve trabalho. É como um cão. Mas a criança piscava os olhos pra mim, repetidas vezes. Pisquei os meus pra ela e soltei-lhe um beijo.
Há quem diga que é questão paterna. Os pedaços e sonhos tentam juntar pedacinhos , enfiando cenas com cola falhada. Nem consegue colar. Porque não cola. Dorme cedo, bem cedo, logo chegará um novo dia. Lide com pedaços, coisas inteiras são quebradiças.
E vai chegando dezembro. Vai chegando dezembro e muita memória. Vai chegando dezembro e eu queria cantar parabéns com todos desde que ele surgiu. Se já sou chorona e tudo é motivo pra choro, eu choro. Acho que encontrei Juno. Ainda não sei. Parece que sim.  Meu dimon é um cão. Um cão.
Parei pra amar. É uma delícia. Onda do mar macia em barra do gil. Mar que salva a alma do dia. Parei e amei. Pensei e falei, que a vida doi. Depois levantei e andei. Anuviei, o amor nunca cicatriza. Nunca cicatriza. Cicatriza o amor. Cicatriza. Eu quero essa costura perpassando poros. Mucosas e células mortas brotando da minha cabeça. Que coisa sexual de tanto cabelo nessa cabeça.

sábado, 2 de dezembro de 2017

Na mania

Rodar a baiana, vou rodar. Pergunto o que é que eles querem? Não, não querem, eles exigem e eu acredito que isso é amor. Isso é babaquice. Muitos babacas. E babacas que se disfarçam. Tem medo? Por mim. Se caguem de medo e brochem de medo. Desgraças. Desgraça pouca. O olho não bate na mira nunca! Míope é assim. Tem que chegar muito perto pra ver. Ao redor, fica tudo anuviado. Desgraças. Um colchão pra deitar é o bastante. Uma noite é o bastante. Virão mais noites e outras más noites também virão. Essa deve ser a doença. O corpo todo, inteiro, pena em esperar. Pra quê falar da sua vida? Desgraça muita. Sinal de quê? Desgraças. Vão-se para sempre. É favor. Agora é a arte da indiferença. Sucumbência. Morte. Até lá.

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Quero contar! Mariana conta um, é um, é Ana! Viva Mariana, viva Mariana. Mariana conta dois, Mariana conta dois. É dois, é um, é Ana! Viva, Mariana, viva, Mariana. É um mar de alegria, essa inconstante correnteza, que nesse momento paira no continuar fazendo pois a coisa virá.  A conta vai até quatro ou cinco, além dos demais. É segredo contado. É segredo cantado. É segredo encantado!

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Era só o que faltava. Mesmo se. Perdi tudo. Fui buscar sobre a psicose. Sobre sermos uma psicose unida. Tanta ciência pra tanta irresponsabilidade! Perdi sobre a luz acesa no horizonte de água, tão rígido quanto o concreto. Perdeu-se sobre o concreto. Nada de concreto, por isso sobre esse horizonte veio e foi-se. Até hoje, na maré, vem e vai, quando quer-pode passatempo. Passa tempo. Todo cambia. Digo mesmo.

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Muito apego
Muito apego
Meu livre afeto
Meu parto natural
É de água morta

Serve a um rio?
Bebedouro?
Poça
Fresta
Espirro

Sobre o asfalto com as mãos na roda eu desapego
Por ser mais uma na cidade
Um ser humano na tristeza e na solidão
Contra a criança acesa entre gigantes
Sem apego
Sou ruim
Pertenço a nenhum lugar
A pessoa vai morrendo aos poucos, obviamente. Há ambientes em que cada pouco que a pessoa vai morrendo é sentido pela própria pessoa.

terça-feira, 28 de novembro de 2017

São os cabelos brancos no campo de visão. É de onde se vê que é impossível ser feliz sozinho. É impossível ser feliz. Felicidade é como a chama do isqueiro no escuro tocando a ponta do cigarro estando de olho no espelhinho pra não errar a mira. Coisa rápida, tal qual o melhor amor do mundo. O melhor beijo do mundo. O olhar mais lindo do mundo. O melhor cheiro do mundo. Vem e vai ao mundo, tal qual a lógica da felicidade.

As mortas confirmaram que há vida após a morte. A morta disse que  está triste porque está cansada e o homem é triste e solitário. Disse que está morta! Ela não está sozinha. A morta diz que canta sabendo que há vida após a morte. Uma clareia, a outra derrama muita água astral. A morta-viva segue com saúde mental.

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Eu entendi que suicídio é apenas uma modalidade de morte. Dizem que o sujeito escolhe. Eu acredito que acontece justamente quando o sujeito não tem a escolha. A morte poderia ter sido a única escolha quando o diário foi lido. Pra evitar a prorrogação do trauma, as palavras se jogam no mundo. Sentimento oceânico em pleno mar do norte. Com marinheiro e tudo. E nada. Podemos ser amigos simplesmente.

Brasa entre os lábios

É pra falar de amor, de dor, de viver. Vejo o mundo todo machista e homofóbico, e vejo o mundo todo homossexual e heterossexual, porque diferença nisso mesmo, de verdade, nunca haverá. Porque mulher tem buceta e homem tem pau? Porque mulher tem bigode e homem pinta as unhas? Raspam as axilas? Mijam de que jeito? Masturbam-se mais que o outro, será? Minhocas, paraminhocas, conclaminhocas, comaminhocas! Tudo cavando buraco nessa terra, meu Deus! Quero ver homens das ideias, mulheres das ações. Quero ver homens das ações, mulheres das ideias. Concreminhocas. Quero ver quem vai tocar pra cantora criar. Já estou vendo. Piraminhocas para mim, pra você, marxminhocas, gilminhocas, raulminhocas, macuminhocas.

sábado, 25 de novembro de 2017

Cheiro de disco novo
De vinil
Do plástico que envolve o disco
Cheiro do encarte do disco
Da capa do disco

Mira, mira
Mira a agulha naquela favorita
Solta, solta na linha do começo
Limpa, limpa a poeira da agulha

Toca o disco
Músicas do lado B
Álbum duplo
Muito rico

Ficha técnica
Cheira
Beija
Abraça a capa do disco
E dança
A felicidade é só isso
Escuta o chiado de prazer
Entrelinhas
Há sempre uma próxima música
Fecha os olhos
Tampa a radiola

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Meu pouquinho

Te darei um pouquinho
Gota a gota
Teremos a vida toda pra conversar

Pisei um pouquinho no seu solo
Antes de você
No meu solo
Rio vermelho
No meio
Dentro

E o seu nome
Antes de você
Meu sonho
Minha mentirinha
Meu pouquinho
Conta gotas
No meu mar

Está tudo certo. Se eu fosse marinheiro, eu quem teria partido.

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Uma parada pra consertar
Essa coisa que jorra
Excede
E serve a nada
Diz adeus e nada
Pro mar

Quem há de se jogar no norte?
Quem há de se deixar levar pelo alvoroço
A espera da calmaria apenas em alguns dias de verão

Um bicho mamífero
De sangue quente
Pernas ágeis
No jorro se encolhe
Parece sentir frio
Mas não é não
É medo
Aquilo que não consegue conter
O óleo depois do furo na terra
Que boia no preto do jorro
De lágrimas negras inestancáveis
Foi assim: coloquei a pessoa no mundo e de repente ela dá uma volta na rua e de lá me traz dois bebês. Um menino e uma menina. Tudo bem. Aceito criar esses filhotes de não sei quem. Tem que dar o leite. O leite que tem. A pessoa se vira como pode, mamadeiras de não sei aonde, leite ninho. Está errado - passo a conduzir o aleitamento. São gordinhos, cheirosos, saudáveis. Parecem mais um presente. Mas não darei conta! Você pode comprar na sua saída o leite para bebês? Qualquer um daqueles. Gosto tanto dessas coisas fofas já...
Tudo muito conformado, alguém me ajuda a criar essas duas crianças?

Eu disse feito louca no meio da noite pra não sei quem com um violão no colo, eu disse:

- Eu preciso cantar, você entende? Faz muito tempo que eu não canto, você entende? Mas tudo bem.

Eu saio calada com olhos desse mar do norte, todo esse mar em mim. Eu poderia ter cantado alto lá na mariquita quando a plateia pediu, quando me disseram pra ser mais artista e me soltar.


Preciso aprender como é ser mais artista. Preciso aprender como é ser mais artista?

Nem sei o que é ser artista. Sei que perdi a plateia por não ter cantado. No meio da mariquita minha voz, há dias fraca, sem corpo pra se fazer em voz.

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

De repente aqui com fuxicos
No belo e aterrorizante da solidão
Coisa bem particular
À vida
O que mais virá, senhora
Santa
Dona
Mãe
Pode mandar

Um corpo morto por dentro
Vivo por fora
Entre o somático e o psíquico
Exclame.
Exclame.
Freud explica
Uma força
Que vai, vai, vai, vai, vai
Mira o objeto
Nunca o alcançará

Morto vivo
Surto sorte
Revertério sentido
Flutuante, flutuante

De repente um corpo deitado
Alegre e triste
Pode mandar, senhora
Levanta
Prende
Puxa
Passa
Hora marcada
Perdida para amar

Aqui nada sai
Vazio
Com uma música na cabeça
Besteira



Lixo teórico.
O mar é tão cheiroso
As ondas tão sonoras
Meus olhos fecham e rapidamente eu lá estou
Ou aqui ele vem
Transparente
Acolhedor
Deslumbrante
Amante
De minhas noites e meus dias de amor

Meu amor é marinheiro.

terça-feira, 21 de novembro de 2017

O corpo trabalhou o dia inteiro
Fez o tempo transplantar
O dia que não veio
Falou pra ele evitar de falar
Até amanhã
Bom dia
O que soube desejar
Música na memória
Anestesia na cirurgia

Fala de saudade
De muita saudade
Quase conta um segredo
Promessa de mordidas
E...

Ai, pequenina...

Te amo, viu

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Poesia do Adeus

Adeus em português é mais fácil
Adeus
Um adeus hoje
Um coração puro depois
Outro coração
O direito de sair dali
De lhe proibir que volte a tocar
Em mim
Porque tenho medo de você
Enquanto eu sou


Amorosa
Apaixonada
Apaixonadinha
Atraente
Ambulante

Irresistível
Inesquecível

E você segura a sua cabeça
Com força e pensa
Uma loucura

domingo, 19 de novembro de 2017

Quando a luz bate na cara
É o sol
A luz que doura as escamas dos peixes
É sol luz
Fica toda D'Oxum
Canta, canta
Sai da cama
Pinta a boca
E faz vídeo chamada
Chama ele
Pra ver
O Brasil
E o que é que a baiana tem
E o que é que a baiana tem
Ascendente baianidade
Aprende a chamar pelos santos
Santa MFM
Meu Deus! Quantas santas!
Muerte ------ Música
.

.
.
.
Acende
Mamãe, papai, vovó
Outras tantas vidas pós a morte vida aqui
Justo aqui
Eu me vejo
No mundo da lua
Sem saber o signo
Dessa maré de março
Magalhães
Do mar
Ri
-ri
-ca

...... Revoltada
:!:!:!:!:!:!:!:!:!:!
Perdidamente apaixonada

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Novela - Pura

Então eu fiquei brega, clichê, vulgar. Virei uma antena a captar sua voz por todos os sete buracos da minha cabeça. Fiquei pequena, encolhida, pensativa. Depois cresci, quando antes era só água, agora vem mania de possuir... vem êxtase! Doi sim. Meu peito. Flui sim. Meu desejo. Cabeça girando, delírio do amor, vícios, metas, rotas, correnteza. Tremedeira. Palpitações. Calmaria. Então eu me voltei à geografia, pontos no mundo, pontos no porto. Adeus. Adeus...

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Meu companheiro é o mar.

Meu casamento é com a música.

Meu macho é médico.

Meu amor é marinheiro.

Mariana.


Ôi, nhonhô
Quando tu seguras aquela cobra verde
Pela cabeça
Tenho medo, nhonhô
De cobra verde tá morta
Pendurada toda enrolada no galho
Pensei que tava morta
Que era de mentira aquela cobra

Ai, nhonhô
Tu pegaste pela cabeça aquela cobra verde
Me disseste que era de verdade
Cobra mansa ou preguiçosa
Cabeça em sua mão que é minha, nhonhô
Tenho medo de nunca mais passar por ali sem tu

Cobra viva
Cobra verde
Tua mão a leva ao muro
Divisor de casa desabitada
Tu me mostra, nhonhô
Ela está viva e pode ir
Verde, verdinha
Tal qual a cor da esperança

Eu me faço de argila
Em verde
Converso com espelho
Me vejo craquelar
Meu nhonhô
Tenha pena de mim
Porque deus não deu
Asas à cobra
De teimoso e preguiçoso que é

sábado, 11 de novembro de 2017

Apague a luz e me deixe só
Com o som
Estão falando sobre a poesia portuguesa
Enquanto eu transo com um
Pessoa
Eça não
Ensaio sobre a cegueira
Meu corpo iludido
Prossegue

Apague a luz e me deixe só
Com os imortais
Reparo os cabelos brancos daquela
Antiga cantora
Amante de
Pessoa




O importante disso tudo foi a criança sentada no colo a ler. Mais importante foi a presença do novo analista na velha análise. É filho, não é sobrinho. Um cheirinho de carinho na face macia e o colo acolhedor. A meia volta em surpresa do novo velho, sentado ao lado, conforto de atenção. Prazer do cheiro, dos fios lisos do cabelo levados pela brisa à outra face, aquela que sente o amor.

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Bem teúda e manteúda
Pequenina do seu coração
Cabe aonde quer que vá
Cabe em suas mãos de imaginação
Nas asas que deus não deu às cobras
Na sorte da rede de marinheiro
Pescador de navegar
Vá-se lá compreender o amor!
Era tudo muito mais pesado antes
De ser
Ver crescer
Bem teúda e manteúda
Fantasmas da exploração
Apagarás, apagarás

domingo, 5 de novembro de 2017

Você só quer me usar
É como um casamento

Não teremos uma relação
Não espere por mim
É isso que posso te dar

Você está fazendo a minha tese!
Não é estar a te diminuir, pode ser tensão pré menstrual

Foi você quem escolheu criar um filho sozinha




VOCÊ NÃO É O PAI. EU QUEM PUS A BARRA. EU DESENVOLVO E EVOLUO COM TUDO O QUE EU GERO NESSA CONSTELAÇÃO FAMILIAR. MACHISTAS. É O QUE TEMOS.
Alê Siqueira.

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Enquanto o pau vai e volta, folgam as costas.

É tudo o que eu tenho pra te dar
A vida não é filme
É teia até a morte

Meu mocinho pulou da telenovela
E me tirou pra dançar rodopios no meio do salão
É tudo que tem pra me dar

Eu pré-menstruo
O mocinho aponta, pede pra auscultar
Digo das demais tristezas
Nada demais
Ao fazer caminhos
O pau vai e volta
E as costas folgarão

Escutei tantas vezes meu nome da sua boca
Me apraz esse seu português
Anel em voz
Nuvens em volta
E tantas coisas bunitas
Anti-melodramáticas

Fecho os olhos e tudo o que tem pra me dar
Sinto
Muito
Amor
Por esse seu português
O mocinho
E tudo o que eu tenho pra lhe dar
Ao fazer caminhos
A corda afrouxará


[Não] teremos uma relação.
[Não] me espere.

É tudo o que tem pra me dar

terça-feira, 31 de outubro de 2017

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Naturalmente eu deitei. Pacto imediato de sigilo e associação livre. Olho de morto. Peixe morto. Bonito. Limpo. É o que eu chamo. Relações limpas. Contador.

Contador! (Meu Deus, duas vezes). É aqui a coisa dessas tantas. É aqui, aí, lá, acolá, entre a terra e o mar. Meu Deus! O nirvana político. Uma decisão.

Que frutífero terreno! Alpercatas macias nos meus pés, leveza do algodão a roçar em minhas costas febris. Dolorido corpo. Eu olho pra ele depois, onde está outra teoria, onde está a psicanálise é onde ela não está. Meu Deus...
Meu Deus do céu. Estou em análise, graças a Deus, você sabe, se eu posso pensar que Deus sou eu. Prenderam um artista performando na rua, sedaram ele e levaram pro "manicômio". Ele foi "solto" por uma psiquiatra. Agora Caetano e Wagner "são" pedófilos. E Edir Macedo tem uma fortuna de bilhões. Três bilhões. Parecia que eu estava arrancando minha pele, porque eu passava as unhas pelo rosto, pescoço, braço. O corpo do analisando precisa ser apontado, o biólogico e comportamental. Basta aprontar " o que é isso?" e fazer um espelho, ou "o que é  isso?" e perguntar sobre esse braço mexendo pra  trás e pra frente. Há diferença entre ir lá hipnotizar e deixar falar o que vem à boca. Não é à mente, é à boca. Qualquer boca. A pulsão é entre o somático e o psíquico. Está na voz.  Porque "onde é o id estará o ego" . Meus olhos fecharam enquanto associava livremente.
Muito tempo de olhos fechados, propósito a um transe. Há um som chato de ar condicionado e falei isso. Isso é psicanálise do sensível. Eu disse, estou sensível a esse som, minha voz eu sinto ter que forçar mais pra falar. Ao mesmo tempo em que isso me fez usar algo do cantar.
Eu sou mesmo uma Monstra.



Pitú

Eu vi e ninguém me disse
No quarto há um quartinho
Bregueços e soluções
Bregueços e invenções
Na beira da cama
A luz apagada
Senta
Enverga
Acende o cigarro
Único cigarro
De todo dia
Nesse começo tardio
Diante da vida humana
Sem sete vidas
Mas sete portas
A janela pro poço
Projeto do filho
Cobertura da sua morada
Festas do seu samba
Espuma de cerveja
Na boca das crianças

Lá vai a menina a girar
Na roda a passar
Os meninos na esquina
Bem na esquina
Fumando um cigarro
Lá vai a menina a girar
Na roda a passar
Para os meninos na esquina
Com batom na ponta do cigarro
O importante é ser feliz.

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Eu sou puro segredo?
Eu te conto
Eu te quero

Vou-me embora
Queira ficar

Sou o seu preciso de você
A sua luz
A preterida preferida
Então faltarei
Ficarei
Com o som da sua voz
Porque quando a gente gosta mesmo
Não quer mudar a pessoa.

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Eu duvido de olhares condescendentes. Quando a boca abre em local impróprio, quando o caminho desvia pra falar coisa inútil onde o amor é inexistente, onde a ganância é imperativa, onde gente é tratada como cadeira. Eu duvido e congelo. E ele vem com força, o medo aqui dentro de ir lá fora, atravessar a catraca e ter que cerrar meus olhos intolerantes, me atirar entre famigerados e ricos de poder onde não há poder e o amor não existe. Eu mudo minha pele, eu rasgo minha íris, suplico por pálpebras nos ouvidos, tranco minha boca, retardo meu raciocínio, meus pés incham, meus pêlos eriçam, meu pescoço endurece. Paralisa. Falta ar.

Tratamento pra o que não tem cura, não existe tratamento pra parar o que não tem cura.

sábado, 21 de outubro de 2017

Com palavras na cabeça e ouvidos em lágrimas negras eis que surge o dia em que você desejou visitar minha playlist. Uma, duas, três e logo desistiu - muita melancolia, não? Procurava declaradamente por uma agitação dessa cuja boca você deseja no microfone. Lágrimas negras, caem, saem, doem.
Vapor barato.
Sem poupar coração.
Pra mim tudo tanto faz
Quando tudo é repetição
O gozo da fantasia
Pra mim tanto faz ouvir vozes
Chamar atenção
Silenciar um toque
Nem sempre é possível cantar bem alto
É quando vejo tudo colado no gozo fantasmagórico
O terceiro é a maçã no Éden
É tudo aquilo que tanto faz

Uma lágrima escorregadia
Uma bocejo
Um grito quando não gritado
O choro engolido
A viagem custosa
O amor escondido
O livro aberto na página desmarcada
A barca virada
O navio mais lindo do mundo
Cisne branco em alto mar
Tudo isso
Muito mais
Muito mais
As coisas do mundo
Tanto faz.

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Sei onde estão as dores do mundo. Estão exatamente sobre as minhas costas. Estão precisamente na região cervical da coluna vertebral. Micro paralisia em dores, rejeitando a química analgésico antinflamatória. E o corpo insubmisso carregando as dores agora. Bem na hora do almoço. Agora. O choro. Quando se vê só dolorido é deprimente. Quando se vê só já o é. Vai acostumando porque ninguém sabe o dia de amanhã. Tomara que sem as dores do mundo, meu mundo.

domingo, 15 de outubro de 2017

Quando a base do gozo é perdida, a coluna dói. Ou os ouvidos doem. Alguma coisa há de doer. Depois passa. Agora está na vida que pediu a deus. Desocupada de mim na vida. Autismo, esquizofrenia, hiperatividade, bipolaridade, transtorno depressivo. Estou trabalhando. Abraço Cabeça e sinto o quão bom partido ele é. Ao longo do meu abraço, alguns insistem em ficar. Quando lembram de mim. Ela quis desocupar-se. Eu digo ela quis, eu quis, nós quisemos, pelo cordão do imaginário, pela viagem das fantasias. Pelo não dito. Pela herança psíquica transgeracional. Cadê? Cadê que me conta? Um dia parece que começou a contar e eu disse que não contasse. Porque eu estava muito em baixo e me faltava condições de escuta. Você entendeu? Agora não, por favor. Mais tarde. Eu poderia dizer. Não soube dizer. Alguém, depois de anos, sussurrou. Como sussurraram durante as festas de aniversário. Olha ela. Deitada. Agora não, isso é pra depois.
Sentir o corpo a docilizar em milímetros. Uma luta contra uma grande força. Um choro contido. Lombar, ranger dos dentes, insônia, perda de apetite, auto-mutilação e conta bancária.
Queixa.
Doce queixa.
O sino da minha aldeia começa todo dia às sete. Ele é holofotado e nesse dia me tira da lama. Um mar fétido, sujo, meus pés fogem desse esgoto mas uma onda vem como um cobertor gigante, eu me agarro à areia seca, colo minha cara no chão, ela vem passando por cima e eu não posso fugir. Deixar vir e torcer pra que nenhum pingo toque no meu corpo entregue ao chão de areia.

terça-feira, 10 de outubro de 2017

É tao bom é Uma reza feita por um baiano pai do axe. Ele diz (reze comigo): é tao bom quando a gente se entrega à beleza se sente em total realeza com a natureza e o amor. É tão bom quando cicatriza uma ferida abrindo as portas da vida pra um beija-flor te beijar é tão bom quando a gente tem fé e acredita que existe uma vida bonita como quem cultiva uma flor é tão bom nao we desesperar com besteiras nem levar a sério as asneiras que algum see humano tramou é tão bom ir colando os pedaços da vida sentir toda ira incontida que teima em queimar todo o ser e esquecer toda mágoa que molhou os seus olhos saber que no fundo unicórnios pavões e mistérios no ser há é tão bom.



Hoje posso morrer feliz.

domingo, 8 de outubro de 2017

[(tanto faz) + (o vazio)] . m = ok

Oca na roda viva. Olhadela que avista sobre o ombro os que desejaram ir, ir depois do amor. Amor que nunca cicatriza e convoca a seguir lentamente, peixes no fundo do oceano. Bem fundo, onde há pouca luz e é vasto, muito vasto. O encontro com uma correnteza na vastidao. Peixes rodam na profundeza do oceano?
O corte
O dinheiro
O dinheiro faz o corte
O acordo
O corte
O acordo faz o corte
Depois cicatriza
Faz memória na pele do discurso
A fobia
A harmonia
O que não têm cura
O vazio
Tanto faz
Na matemática
Do desejo.


O mundo nos leva a matar porque sabemos da morte. Todo mundo é assassino.

quarta-feira, 4 de outubro de 2017


  • A previsão é de que o caminho para a morte carregue a febre no final do dia, todo dia, e não se sabe o motivo da noite trazer tanto queimor sob a pele, labaredas pelos olhos a marejar. 

terça-feira, 3 de outubro de 2017

Silêncio é movimento
Fala do absurdo
Retroage impulsos
por vezes inflama o corpo e há febre
Deixa ele banzeiro
E os olhos se fecham
se flecham certamente
Olhos nos próprios olhos

Silêncio é ajuste
Tremor sob a pele
Alguma dor no peito
Minutos pra uns cigarros
O corpo arrumado pedaço por pedaço
Sabendo muito bem das suas emendas

O silêncio é zoada
Dentro do meu corpo
Em silêncio

Dentro de uma garrafa ao mar

Para não sentir o que estou sentindo, eu tentei me despedir mais cedo. Estou falando de um ritmo e teor de comunicação que foram alterados. Espero que esteja bem. Beijos.

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Quero ver o mundo com a morte bem na minha cara
Parapeito
Alto da escada
Montanha
Pára-quedas
Dentro do balão
Eu posso ver o mundo com a morte bem na minha cara
Cheia de vida
Cheia de mentiras
Se não fosse o verde que avisto
Um pássaro voando
Uma viagem à terra de terremotos
Onde me aceitam como visita
Me rejeitam para o amor
Me convidam a entrar na água fria
E sinto meus pés saírem do chão
E a morte bem na minha cara
Debochada
Sorrindo de novo

domingo, 1 de outubro de 2017


  • Há um corpo. Frágil corpo. A febre antecede as bolhas nesse corpo. Doi mente, doi alma, doi coração, de tanta dor no corpo antes das bolhas. Se esse mesmo corpo souber habilmente colocar-se com febre diante do espelho e calar a boca, ficar só esperando a febre ao cair da tarde passar, sentir as bolhas surgirem, e nada falar, absolutamente nada, todos os corpos envoltos serão salvos das bolhas estouradas e inflamadas. 


sábado, 30 de setembro de 2017

Um passeio sobre uma folha gigante dentro de um rio com antiga paixão. Passeio amigável. O caminho se faz numa natureza pós guerra. Há corpos de animais mortos, já decompostos, cujos corpos de animais vivos passam por cima. A vegetação está seca, destruída, porém algum verde é avistado. A folha caminha suavemente sobre o rio e às vezes ouso em pôr a mão na água escura. Então eu digo: tenho medo de jacaré, de cobras surgirem e abocanharem essa folha frágil em que eu me deito, acompanhada por alguém que me trouxe a alegria de cantar e, durante o passeio, transmite mesma segurança quando juntos no palco. Muito silêncio, mirando as margens do rio, vejo cobras, lagartos caminhando na paisagem deserta. O passeio acaba. Eu pergunto: que dia vamos novamente?
Minha doença é a minha memória.

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Uma poesia aos críticos de poesia

Limpei a mesa
Limpei a mesa, guardei as roupas
Pendurei casacos
Lavei as roupas
Limpei a mesa, varri a casa
Varri a casa, lavei a louça, desinfetei as frutas
Fiz uma vitamina de frutas
Estendi as roupas brancas
Devolvi as cortinas às janelas
Bebi uma vitamina de frutas
Banhei-me
Olhei-me no espelho
Deitei na cama
Acendi o cigarro.




quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Mais lixo teórico

As palavras sempre souberam esperar. Portanto o amor sempre soube esperar. Mesmo quando esse tempo não existe. Ai. Eu morro nessa inexistência.

Agora mesmo, um cachorro arfando, eu escutei. Parece um cachorro grande. Uma cadela. Cadelas fazem guarda pessoal melhor que os cachorros.

O que eu quero dizer com isso? Que temo o manicômio, a interdição, aquela tal da castração que alguns psicanalistas dizem que a psicanálise faz a resolução. Se a teoria freudiana é basicamente a pulsão, isso que ele disse que existe e a gente não apalpa porque é uma força situada entre o somático e o psíquico, eu sou um surto psicanalítico.
Coelhos. Coelhos dorminhocos e mansos. Talvez seis coelhos. Todos juntinhos no meu colo, branquinhos, calmos.
Comi um.
Conversa vai, conversa vem. Em paz. Alguns se mexem dormindo. Outros despertam vagarosamente e se locomovem em meus braços.
Comi o segundo.
Aviso: comi o segundo. Ninguém viu. Os que ficam continuam calmos. Branquinhos e mansos, um sono de muita paz e fofura. Veja que fofura esse bicho. Impossível comer os demais. É bom pegá-los no colo. Sei que roem tudo, tudo o que encontram pela frente. Mas diante de tamanha fofura...
Sem gritos, agora eu os disseco. Pelo abdómen, com uma faca amolada, a pele é talhada e, dispensada a faca, puxada inteira com as mãos hábeis nesse serviço. Eu me recuso a comer carne de coelhos. A dúvida é se fui eu mesma quem os matei ou me foi dado apenas o serviço de retirar as suas peles. Sinto a presença da matriarca em pleno incentivo. Eu já prestes a  romper os abdómens  dos coelhos e retirar-lhes as tripas, haja vista que a matriarca adora meninico. Tudo o que eu quis, por ela nunca foi incentivado, porque eu, com faca, com mãos, com tudo, haveria de abrir a barriga de coelhos mansos?

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Urros na vizinhança e, em meio a muitos estímulos, o vazio
Aquele que suicida
Vazio
Depois de tanta alegria atravessada por tantas dificuldades
 Vazio
É suposto o oco do canal por onde passa toda criança
Depois da passagem
Choro
É suposta a dor porque
Choro
Cegueira
Murmúrios
Silêncio
Em vida
Morte

E aquela dor no peito depois de ser o buraco?
E aquela intuição de um menino ainda dentro do buraco?
Dor no peito é memoria
Menino no buraco da memoria é menina na terra enfiada
O que aconteceu, meu deus?
Urros inúteis
Lágrimas invisíveis
Silêncio
E morte.



segunda-feira, 25 de setembro de 2017

O ar parece farpar a cada passo na cidade
Tropeços nos calcanhares na feira
Desculpas
Seta pra esquerda
Licença
Medo do próximo passo
em músicas petrificadas já conhecidas pelos pés
Pés de aço são precisos
Trituradeiras
Passo mal, muito mal
Pouca coisa alivia
Muita coisa irrita
Ideias recentes são esquecidas
E a garota da vitrine pergunta o que é seguir
O que é seguir?
A filha, as contas, a gasolina e a munição da coreia do norte
E a Amazonia a salvo
A prisão e a indignação da professora doutora baiana
Quer seguir?
Muitas farpas no ar
Pés de aço no chão
Escuta-se música portuguesa e que lá essa pele preta é branca
O sonho é com uma ladeira
Mirada de uma outra ladeira
A ladeira que sobe no meio do matagal
Está a mulher mais linda do mundo.

Eu voltando à defesa civil e uma casa em edificacão. Cimento, poeira, entulhos, tudo muito cinza. E pessoas comiam por ali, trabalhavam sobre papeis por ali, naquele caos cinza. Eu conhecia a maioria das pessoas. Ficava alegre por reencontrá-las, mas aquilo tudo era muito bagunçado pra mim. Meu nariz irritava, minha garganta também. Meus olhos abriam com dificuldade. Passava tropeçando de um lugar pra outro em meio às pedras. Eu teria que ter paciência e ficar contente no encontro com aquelas pessoas, não tinha jeito.
Ela é um genio
um gênio
Muito inteligente
uma intelectual
Esperem ou se arrependerão
Se fecharem a tampa antes
Não poderão despedir-se

Depois da depressão
Qual o caminho que vocês farão?

Não há depois da depressão.
Um gênio não tem créditos
Não tem cura.

sábado, 23 de setembro de 2017

Como se reparam gritos uterinos?
Faz-me  chão de giz
Me foi negado o grande quadro negro
À Negra foi negado
Àquela que não tem nariz mas ventas
Ao menos respira
em falta de ar na prisão
Faz-me chão de giz
Depois eu apago
Esse quadro grande
Que eu enchi de linhas
Quaisquer
Atensionalmente autorizada
E nessa hora de gritos uterinos



Ficou o sal na boca
Depois da língua na língua, lábios nos lábios
Língua nos lábios
E o sal
Em meu peito há muito

A vida é depois da morte.

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Bom mesmo é estar na rede e a boca sustentar por si só o sorriso de paz depois dos ouvidos receberem voz. Voz que entende a piada. Voz que entende a maré. Voz do meu sotaque. Voz do meu amor.

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

O dia do esquecimento será escolhido
E serão escolhidos os esquecidos
Nunca mais haverá vaidade
Ou sentimento de sorte
Palavras bonitas
Serão apagadas
Memórias da pele
Registros da voz e da visão
Confiança e atenção
A criança vive a reeducação
Entre os bêbados e loucos


terça-feira, 19 de setembro de 2017

Isso que está dentro de mim, que emana, que tenho chamado de amor, não é amor. É um pedido de socorro.

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

A mulatinha
Cabritinha
Macaquita
Seu amor
Partirá
A mulatinha
Cabritinha
Macaquita
Do seu coração


Porque acha que sou mulher diferente das outras?


Prove.

domingo, 17 de setembro de 2017

Não existe, não existe
Se escreveram o quanto isso doi sentir, existe
Eu escuto alguns cantos doloridos
Chorosos e indignados com isso
Não existe, não existe
de tão longe
O peito fica escancarado
Pronto pra correr ao oceano
Em correnteza de lágrimas
Rio existe
Inundação disso
Medo disso
Quero isso
Não existe.

sábado, 16 de setembro de 2017

Quando ela chorar
Dê-lhe um chá
Diga-lhe: vai passar
Quando ela chorar de soluçar
Dê-lhe um chá, diga-lhe vai passar
Matenha a distância
É importante
Muita coisa vai passar
Quando ela chorar
Se, por acaso, lhe pedir desculpas
Conforte-a e fique no mesmo lugar
Segure-se
Tape os ouvidos
Quando pertinente
Muita coisa vai passar
Um grito soluçado
Roupa rasgada
Pratos quebrados
Muito cuidado
Nunca retire os talheres das mãos dela
Cuidado com ela
Quando ela chorar é pra lhe proteger
Acredite
E fique
Dê-lhe o chá
Observe
Vai passar

I just can't stop loving you.

Esta sou eu na terça-feira de sarau na casa da mãe. Lá tem sido um palco pra o andamento da minha prática como pesquisa. Esse registro foi feito pelo meu amigo e ator Ricardo Stewart, e é um material muito importante. Nele eu estou observando o movimento de Papi, o Pescador, figura assídua nos saraus. A música fora escolhida por ele. "Todo mundo vai cantar". Nós não dispúnhamos de retorno, fator que dificulta um pouco no desempenho. Mas Papi parece comigo: a gente lava a alma cantando e tocando ali. Essa semana me perguntaram qual tratamento psicológico estou fazendo e eu digo, os saraus têm esse efeito. No movimento atensional, ......... Eu vou me dispor a cantar e tocar um instrumento que toco com dificuldades.
Ah! Ele voltará, duvida?
É o moinho girando
São os ventos do mundo
Por que ficar?
Ah! Ficar é diferente de esperar
É estar ou não estar
Encontro e despedida
Abraço apertado e cílios enxarcados de mar
Enquanto isso as últimas play input
Is there a time
Cordas de aço
My head under water
Músicas clássicas são interpretáveis
Por isso vêm hoje a mim
Por mais que ele feche os olhos
É machista
Don't you cry
Change the world
Há uma voz vindo ao meu encontro

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Romance

O relógio criou a espera
Não bastou o sol
Não bastou a lua
Há lua também de dia
Não bastaria

A maré também poderia
Na volta que faz o dia
Fazer lento tic tac
Quando você surge
E faz saltar o meu coração

E o fuso que leva
Essa geografia
Enquanto o relógio trabalha a minha agonia
Até raiar o dia
Sentir vibrar o despertador
E sua voz perguntando se aqui estou.
Os gatinhos em minha direção, quando me alcançam, escalam o meu corpo, envolvem o meu pescoço e sinto surpresa, buscando cada olhar, dirimindo suspeitas de más intensões. Olho da janela pra ver a maré. Está baixa e é transparente. Busco meu biquíni bicolor, alguém me olha com desejo e se mantém ao meu lado na arrumação à praia. "O que temos feito - Amor, ao sabor do vento e da maré", assim é a vida ao que me parece.

terça-feira, 12 de setembro de 2017

Só agora olhei pra ver o mar
Enchente
Ondinhas sobre as pedras
Essa janela pouco abre
O vento derruba tudo
E me entope
E meus olhos ardem
Salgados

Armadilha é esse sentimento oceânico, isso que rola os dados empenados.

Não fujas de mim

Eu, recém chegada, andando pelas ruas de Portugal acompanhada amorosamente. Ar feliz e sorridente. Senti a umidade das pedras e das casas, ruelas  arrumadas e sombreadas. O assunto é o que vamos fazer? Vamos, ao mercado. Tiro o casaco. Vamos comer algo. Preciso conhecer o hotel. Vamos caminhar um pouco pelas ruas sem compromissos, depois tudo se ajeita.  Até que um taxi encosta no meio-fio, e perco a companhia, que adentra no carro, onde já está uma idosa e uma criança aguardando.  Nenhum deles me dão os olhares. A companhia se vai em silêncio e sem olhar. Vi a morte. Olho em volta e começa a escurecer neste ponto de ônibus, de carga e descarga. Um dos homens me assedia sexualmente e eu, paralisada, causo irritação até que recebo um tapa na cara. Começo a chorar e me rumar pra outro lugar, buscando onde me hospedar, desnorteada, criando vagarosamente estratégias pra sobreviver. São locais escuros, com suas políticas grotescas. Encontro uma amizade de longas datas em um desses lugares e ela me ajuda minimamente a me organizar, pois também está desorganizada e o tempo é sempre curto.

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

O mundo é machista. O contemporâneo é a camada mais exposta do mundo. Quem vê o machismo é contemporâneo.

É fim, marinheiro
É fim

O barco bateu na baleia
E quase afundou
O marinheiro disse que
está tudo certo:
Provavelmente ela será encontrada
Morta
Em algum lugar.



domingo, 10 de setembro de 2017

Quanto mais eu mais você
Diferente de acreditar
Sabemos ser mais nossos eus
Árvores cruas
Madeiras nobres
Quanto mais eu mais você
Enceirados de amor
Puro
Existe
Em liberdade e coragem
Boca justa de perfume
Voz exata penteia
Cílios úmidos
Quanto mais eu
{Choro}
Mais você
{Sorrio}


Como é que faz
Assim
Chora, chora
Ser dependente de almas canibais
Uma doença grave
De difícil cura
Está tudo perdido nesse muito dentro de mim
Pessoas amedrontam
Mesmo com oculos escuros
Elas petrificam o meu ser
Assim
Chora, chora
Enfraquecida chama da vela da vida
Quando decidir apagar?

sábado, 9 de setembro de 2017

É uma devoção. A vida toda tentando encontrar com algo que está dentro de si a vida toda. É muito sério. É muito lindo sentido como algo de verdade máxima, do encontro com o amor puro.
É propulsora. Uma incrível mecânica do mundo. Então eu li "era o silêncio. Depois a canção. E não tem mais nada. Isso já é tudo"
É um transe. A carne sempre treme antes. Essa mesma carne trata de se organizar antes da passagem.
É mensagem.
Desculpe, estou muito atrasado.

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Veja bem
Eu não bebia
Dentro dele havia
Bebida
Era pra ele dançar
Ou circular
Ou ir ao banheiro
Quem nunca
Cantou em copo
De vidro
Retorno natural
Significante
Metáfora sintomática
Lerão para mim
Um delicadeza para memória
Um querer bem de lembranças

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Eram deusas de pedras, furiosas, surgiam quebrando muros onde estavam adormecidas lá dentro, onde ninguém imaginava que existissem. No portal de pedra, muito alto no meio de um bosque cujo caminho dava tanto pra praia quanto pra um campo aberto, surgia uma tempestade de insetos, uma onda escura, arrastando tudo pela frente, inclusive pessoas, pessoas conhecidas. Algum evento familiar acontecia. Uma mesa de almoço de uma determinada família, posta na beira da praia, acontecia e eu, que não fora convidada, aproximei-me para cumprimentar os presentes. Algumas palavras minhas foram encaradas como inconvenientes, alguém me fazia sinal pra parar de falar. Com um papel em uma das mãos e uma bolsinha com meus documentos pessoais na outra, vi a onda do mar aproximando-se antes de todos. Não deu tempo, ela veio inundando tudo. Comida, celulares, pratos, peixe frito em postas - tudo desfez-se. Depois do recuo da onda, peguei meu celular que estava sobre a mesa e o abri pra tentar fazê-lo funcionar, já descrente. O alívio me vinha quando percebi que o papel em minhas mãos estava intacto. Eu seguia. Era uma apresentação em meio a confusão de deusas de pedras furiosas caminhantes e errantes, tempestade de insetos, praia, campo, e eu fora convidada a cantar. Minha voz, sensível aos acontecimentos, eu sentia fraca, mas sabia: o que eu cantar dará certo, a cantora já foi criada. Um copo de vidro é deixado  em minhas mãos como responsabilidade. Entro no palco sentindo-me fraca, voz fraca. Começo a cantar e de repente me dou conta que estou no palco da concha acústica e um público de convidados, casa cheia!, canta junto comigo, canta alto, grita, e eu me sinto acolhida e feliz, enxergando muitas falhas no canto, sabendo que depois dali será o mesmo desamparo de antes dali.
Algumas palavras na caixa
Quem sabe, as últimas palavras
Performance
Agradecimento
Havendo um índice econômico para palavras
Eis que conheço a matemática
Do desejo
Pés descalços
Fora da caixa cheia de palavras
Assim
Inúteis
Estas palavras que escrevo
Espelhadas imagens enquanto se arruma
O caminho
De palavras
Com o amor e a sua pureza
A esvaziar-se.

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Morder a fruta e sentir o caldo escorrer dos labios até o pescoço e além
O que temos aqui?
Quero tudo - corpo e alma
O que temos é intenso e lindo
Selvagem, tribal, animal, espiritual, carnal, pleno
Explica...
Toda a minha boca sedenta
Faço apenas o que pedem os instintos
Quero devorar
Tudo - corpo, alma, coração, o seu olhar
Assim é complicado porque me enlouquece

Preciso de ti.

terça-feira, 5 de setembro de 2017

Sereísmo (2)

Não quero ser sereia
Sereias são perigosas
Dúbias
Quero te amar, não te prender
Quero me deitar em seus braços
Meu corpo sobre o seu
Venha, te encontro no Rio Vermelho ou na praia do Porto da Barra?
Não posso ser sereia se não sei nadar

domingo, 3 de setembro de 2017

Coloque a barra, vamos
Barra da saia?
Teça a barra, vamos
Barra de linha?
Um pau é barra
Galho é barra
Braço é barra
Força barra, vamos
De cima pra baixo?
De um lado pro outro?
Me diga: é barra ou balaústre?
É barra, pra atravessar as ancas, garganta, tropeçar na barra, cair na barra, engolir o choro
Usar palavras
Silêncio
Coloque a barra, vamos
Interdite. Acredite.
Nunca houve diferença. Sempre tudo misturado. Brincadeiras misturadas, corpos misturados, mulheres fálicas. Desnecessária a inveja porque nada havia pra isso se manifestar. Talvez o camarão de capote e a crença no casamento - nunca pode acabar. Muitos gritos e ofensas e murros nas paredes e embriaguez. É chegada a hora do lazer. Embriaguez. A hora do samba com aroma de churrasco e cloro. Prato com farofa voando. O breve divórcio. Radinho de pilha estraçalhando. Eu sentada na escada chorando. Por quê? Porque não é possível que aquilo tem nome de felicidade. Onde estará o meu amor? Cheguei a arrumar tudo. Seria muito legal. Seria uma amizade. Será isso? Uma amizade?  Antes de tudo é isso. A coisa mais sincera que pode ser oferecida a alguém.
Aquela que caminha espera nada, ainda que nada seja em forma de vento no caminho

É uma lâmina de água e seixos percorrendo a geografia, irrigando no caminho terra fraca, encharcando chão de amor, essa coisa incompreensível

Aquela que caminha refresca as pontas dos seus dedos e é você e nada, tudo a mesma coisa, nua por aí, transparente para você

Mostra as ancas de sonho, olha através da sua cabeça aquela caminha e deseja um ponto no mundo, um ponto de verdade nesse mundo

sábado, 2 de setembro de 2017

Mãos
Búzios
Navios
barquinhos
Toda festa vem
Fazer minhas contas
Transparente
Leve
No meu pescoço
Papeis espalhados
Lápis feito arames farpam o branco
Na ponta de um raro cigarro
Cala a boca
Se os ouvidos não estão
Para escutar

o Menina baiana - claquete 222

CENA: Final

O MENINA BAIANA: Encontrei mais uma música, chama-se Mar Mirante, de um compositor baiano chamado Ian Lasserre. O tempo é o senhor do destinos, o que estive montando está-se transformando por si só enquanto essa minha busca por músicos que afinem com o meu desejo de cantar. Eu desejo muito o que vi nos seus olhos enquanto miravam os meus. Imaginário expandido quando a metáfora é imperativa. Pouco importa. Poupe os meninas baianas. É tudo muito breve, como em um sonho. Breve e errante. "Eu desando manco, de toda galeria só restou meu pranto, dedico todo dia o meu ego em branco, você pode até me desenhar", "para a alegria e o amor não nasci" pessoa.

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

o Menina baiana - claquete 221

CENA: Alma cativa


O MENINA BAIANA: Machistas. Eu também não escapei. Mas o resto é mais, muito mais. Pior, fóbicos. Pra não se mijarem, tornam-se perversos. Quero ver agora. É chegada a hora do silêncio absoluto. A hora de adquirir um instrumento de trabalho também. Tem a ver com asas essa hora chegada. Sim, sim. Sinto a inspiração através de você e de cada um. Parece que tudo se converte em mim e pra sair é voz. Voz. Uma força à beira do abismo. Cada vez que cada um é tocado, mais conversão e mais voz. [Pausa] Está aí? [Pausa] Eu sinto muito por tudo e lhe agradeço por tudo.

o Menina baiana - claquete 220

CENA: Alma gêmea

O MENINA BAIANA: As últimas impressōes ficam por muito tempo. A quentura e o som custam evanescer. Uma coisa de abraço por trás. Uma coisa que não se esquece. Eis que eu ando com saudade de pessoa. Ele tem algo muito de mim, me vejo pessoa. Parece que sou velha e é possível viver esse amor. Ele me conforta quando diz que é pra depois essa coisa. Eu quero ir fazendo. Em todo canto. Aquela doutora do samba falando e cantando é muito gostoso aos meus ouvidos e me traz terra pra pisar com conforto, nem que sejam quinze minutos cantando, quero chegar mais perto dela. Vou procurar saber onde mora pra eu ir lá. Eu não tenho o que fazer. Ela já me mostrou que não é como eu quero, trabalhada em calendário não está viva.

O para sempre

Para sempre azul
para sempre as palhas de coqueiro
para sempre os beijos
Para sempre?
Para sempre meu medo
De para sempre
Eu vejo
Para sempre
Prisão
Quando penso que é
Para sempre
Para sempre ave
Para sempre ondas
Para sempre paixōes
Para sempre?
Eu vejo
Para sempre
Prisão
Para sempre tesão
Para sempre sol
Para sempre paraíso
Erosão
Rio para o mar
Para sempre
Para sempre corpo caído
Para sempre enfraquecido
Para sempre adormecido
Para sempre?
Para sempre
Estrela
Para sempre
Amor
Para sempre
Para sempre

terça-feira, 29 de agosto de 2017

o Menina baiana - claquete 2119

O MENINA BAIANA: É sobre a diferença que faz na geografia de si mesmo quando a natureza junta dois pontos. A erosão pode abrir caminhos pra um rio chegar ao mar. Depois que isso acontece, a terra está para sempre marcada.

o Menina baiana - claquete 218

O MENINA BAIANA: Pouco me importa a barra, as balaustradas riscadas. O mar é logo ali. Sou feto nesse paraíso. Pés gelados pisando pouco no chão. Será que é isso?

o Menina baiana - claquete 217

CENA: Azulejos brancos


O MENINA BAIANA: A vida é tão insensata que coloca dois pontos do mundo em lugar só pra depois afastar.

AQUELE QUE É RECONHECIDO: A geografia não afasta o que a natureza junta.

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Faz de conta que você está no mar
Em alto mar
E assim que a terra avistar
Sua voz virá aos meus ouvidos
Uma música a me acalentar
Enchendo de voz parte do meu vazio
Nessa minha terra onde cristo é impossível
Nesse lugar onde o rasgo da minha rede pra respirar
É cantar
Cantar o amor
Limpe as minhas mágoas desse mundo
Respire o mesmo ar entre esses dois pontos
Deixe eu deitar no seu colo e acreditar
Existe essa minha fé no ser humano

sábado, 26 de agosto de 2017

o Menina baiana - claquete 216

CENA: Soluço


O MENINA BAIANA: Escutar a voz que eu desejo é o mesmo que escutar música, me faz bem. Mas música é feita e lançada ao mundo, as vozes não. Me disseram que a vida é um ioiô. Você sabe o que é um ioiô? Ele vai e vem nas nossas mãos. Às vezes eu me sinto cheia de coragem, outras vezes não. Sem filtro, no paraíso.

UMA PESSOA NO INFINITIVO: Minha linda Eva. Pureza original. Beleza infinita. Bondade eterna.

O MENINA BAIANA: Você lê todas coisas que escrevo? Seus olhos enxergam coisas tão boas... Toda pureza tem o bem e o mal. A coisa é também o seu oposto. Eu sou uma aventura pra o mundo. O mundo quando se mostra pra alguém através de mim, ele diz que é uma aventura. O mundo não me escolheu pra viver em paz.

UMA PESSOA NO INFINITIVO: Minha baiana linda, estou aqui para te pegar ao colo, para tomar conta de ti, para te beijar, para te limpar de todas as mágoas, para te fazer sorrir, para te amar, para te tocar no corpo e na alma. Eu vejo a sua alma.

o Menina baiana - claquete 215

CENA: De repente nem dá tempo


O MENINA BAIANA: E quando eu encosto e apoio o meu queixo nesse osso aqui, bem aqui, quando minha cabeça eu coloco no meu colo. Eu limpei tudo, me coloquei de joelhos arrastando o pano no chão pra que ninguém percebesse quaisquer rastros de água salgada. Nenhuma lágrima de samba. Quebrei a cara. Agora é incenso. Lagrimas pelos ouvidos, quem já viu?

o Menina baiana - claquete 214

CENA: Eva

O MENINA BAIANA: Tanta paixão um só corpo não aguenta. Hoje é cheiro de alfazema entrando, adivinhando a combustão. Qual é o orixá que viu? Quem me vê? Eu canto para quem? É um canto assassino de uma sereia muda. Um canto assassino.

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Depois do recreio

Eu estava subindo a escada. Muita gente fazia o mesmo. Havia um portão que se fechava quando a subida de todos era concluída. Como uma prisão. Uma prisão. Uma menina. Uma dedada enquanto subia a escada. Olhei pra trás de susto. De tanta gente, não havia alguém que pudesse ter feito isso. Depois, algum sangue do meu sangue escarnece - havia uma testemunha, sangue do meu sangue. Escarnando, pra não dizer comemorando. Como pode um estupro ser comemorado quando se é sangue do sangue? Não é meio sangue, é sangue inteiro. O que é estupro? Meter o dedo no corpo alheio onde não é autorizado. E vergonha, muita vergonha sentida pelo corpo invadido.

o Menina baiana - claquete 213

CENA: O vento uiva

O MENINA BAIANA: Ressecamento e desidratação. Salvador e avião. Rio Vermelho e uma vila dentro de um castelo. Nudes e tropicálias. Partidas e chegadas. Gente fonte, gente fria, tempo quente. Eu só falo com você. Eu só falo com você todo dia. Ler biografia é saber-se infeliz tão quanto os biografados, que nada mais fizeram da sua infelicidade do que transformá-la em registros, o que chamam de arte. Você tem razão quanto à Salvador. Também as suas palavras quanto à cidade mexeram comigo, sobre dizer que aqui nāo tem nada. Estou fazendo uma gig. Serei eu mesma na rede. Não há vida em plásticos. Proteja-se se aqui estiver. Isso tem eu. Música é algo muito particular. Quem ama lambe e as lagartixas são muito amorosas, viu? Um dia eu serei sabida, ou saberão por mim. Pra existir um Caeiro, existiu Pessoa. E mais cem e tantos. Volte pra minha rede. Em nome dos cem e tantos Pessoa. Volte.  Uma coisa é cair uma árvore milenar na cabeça de mais de vinte pessoas, outra coisa é atravessar uma criança numa lancha sem usar um salva-vidas. Acho que terei que ser umas duzentas.  O meu samba de roda tá bem próximo de acontecer. Vou me planejar pra não ser tão doloroso ficar longe dessa cidade que amo tanto.

AQUELE QUE É RECONHECIDO: Acho que a melhor coisa é não nascer.

O MENINA: Eu não tenho dúvidas quanto a isso mais.

AQUELE QUE É RECONHECIDO: Já que tamos na merda, só resta a putaria.

O MENINA BAIANA: O meu todo amassado me protege e o sino da minha aldeia me conta as horas. A velha ave maria. Nunca mais vou me sentir culpada por minhas paixōes. Sem elas sou mais morta do que já sou. Ninguém tá ligando pra ninguém. Agora, nesse momento, uma pessoa à beira de uma roda de samba. Ela tem nada a perder. Será que o tempo deseja que eu cante? Será que dará tempo?

AQUELE QUE É RECONHECIDO: Cante

Tudo o que eu vejo
Quero que você Veja
A Mariposa
Bela
Solitária
Romântica e doce

Você tem olhos pra ver
O que quiser
Eu me desperdiço em palavras

Contemplada vida irritada com o passado longe, a saudade perto. Eu sou vinicius e pessoa. Como um ser faz poesia com a badalada de um sino? Esse ser lindo, Pessoa. Daqui da minha aldeia às vezes me estremeço em mal-estar durante as badaladas. É um saber estar parada, muito dificil escutar a badalada quando meu corpo está em movimento ou a música adentrando os meus ouvidos. O mundo que me cabe é esta cama. Você disse que ela é o paraíso.


(Algo entre assumir outros nomes)

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Quando vou aceitar abismos
Sem acreditar que por eles
Passam rios

Me salvarão boiando  este corpo?

Este corpo seco de toques
Seco e salgado

Até quando o doce sustentará uma lambida onde há abismos?

o Menina baiana - claquete 212

CENA: Porçōes de arroz depois

O MENINA BAIANA: Uma baleia passou pela praia do Porto da Barra. Então eu não sou louca quando fico parada de frente pro mar da praia do Rio Vermelho procurando baleias. Louco é quem não espera baleias do mar a sua frente. O ciúmes é uma doença. Eu tenho o vírus incubado. Às vezes a doença se manifesta e faz mal às pessoas. É doença da humanidade. A rede de proteção é afetuosa. A trinca no amor dessa vez quase quebrou tudo. Se há rede, a trinca ficará invisível.

UMA PESSOA DO INFINITIVO:  Estás aí?

O MENINA BAIANA: Estou! Que queres tu de mim? Mon amour. Tell me, my dear.

[Pausa]

Me chama quando não pode vir...? Meu coração aperta. Talvez eu esteja sendo boba. Sonhei com você, deitado aqui na cama conversando comigo, antes disso trabalhando intensamente numa pesquisa. Uma criatura meio laranja mecânica com um olho aberto sustentado por uma máquina e a discussão sobre palavras conscientes. Ora! Qual a palavra que não é consciente! Então que eu fique onde estou e coloque palavras em outro lugar. Temo corroer os fios da rede. Assim como a música é particular, os afetos o são. Você nunca mais virá. Não como eu imagino.

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Imperativo

Pegue a sua mala
Agora coloque roupas dentro
Roupas para lhe aquecer no frio
Fará muito frio
É uma baixa estação que irá atravessar
Nao importa quanto tempo
Sim, acredite
Se ele disse que a periferia é o melhor lugar
Se você disse que quer viver um lar
Pague o seguro viagem
E vá
É o amor quem lhe chama
Lembre-se daquele sonho com o nome dele
Acredite no sonho dele dizendo queria ficar
Você não é obrigada a ficar
Pode ir
Loucura é dessa vida dizendo que nada pode quando tudo pode
Até ele chorar por ser obrigado a partir
Até você se derreter por saber que ele iria
Leve seu coração aonde ele encontre o conforto e segurança pra amar
Ao mar, Mariana
Leve
Ao mar

o Menina baiana - claquete 211

CENA: Se sabe que muda o tempo


O MENINA BAIANA: Estou oscilando muito. Com chá, sem chá, com álcool, sem álcool, com pílula, sem pílula. Josephine vive. Ela sabe da sua condição enquanto eu procuro saber da minha. Química. Ela é tão sabida que sabe que de nada adianta. Prorroga surtos psicóticos mas não apaga pensamentos de morte. Entre, entre um segundo e sentirá a assassina de um calango morto com água fervente. A assassina de lagartixas com inseticida em spray e o grito delas. Delays. Replays. Eu sinto muito pela vida de morte. Eu vejo coisa onde dizem que não tem, escuto coisas que dizem que não falaram. Escuto chamarem meu nome na paciência enquanto estou na rede. Chego a me erguer pra atender. Treze anos com o corpo aportado no divã me fazem reconhecer que ninguém me conhece na paciência e não posso atender a esse chamado senão me atiro da rede pela janela. Talvez não morra. Talvez você não morra, se ficar bem longe de mim. Eu entendi tudo o que a moça mexicana falou em inglês. Entre, entre, parece que é possível uma nova língua depois dos cinco anos. Continuo me afalbetizando sozinha. Continuo sozinha. Até morrer, estou cansando de me procurar. Entre se quiser. Minha voz está mais potente mas não me alimenta. Você sequer escuta.

o Menina baiana - claquete 210

CENA: Pegue uns panos pra lavar


O MENINA BAIANA: Estou refazendo o meu português. Escutar um recém nascido chorar ressoa bem dentro de mim. Tempos de nada a fazer quando a cura está no canto. Pinto a cara pra parecer saudável. Lavo os cabelos e os penteio, as pessoas olham pra eles com espanto enquanto eu me interesso apenas pelos fios de prata que são vários agora bem na frente, na fronde.


SER DE LÁ DO SERTÃO: Por que está agressiva?


O MENINA BAIANA: Tenho dúvidas se sou eu ou o mundo. O eclipse e todos os astros. Se é o seu silêncio ou o meu excesso de pensamentos emitidos por voz em palavras. Sinto minha voz tecnicamente mais potente, mas estou sem voz.

sábado, 19 de agosto de 2017

o Menina baiana - claquete 209

CENA: Fish are jumping


O MENINA BAIANA: A verdade é que eu nao sei qual a diferença entre menino e menina. Se me ensinaram, não a reconheço. A descoberta de si é algo muito, muito particular. Se o pinto de um menino fosse duro na tentativa de enfiar no rabo de uma menina eu até entenderia a existência de alguma diferença entre os dois. Sendo mole, tanto faz. Ele pode tentar enfiar em todas, em tantas, pernudas, bundudas, boqueteiras de altíssima qualidade - de nada vai adiantar pra fazer a diferença. A não ser que a diferença resida no camarão encapotado. Chega a ser ridículo. Aliás, é ridículo.

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

o Menina baiana - claquete 208

CENA: Ali onde qualquer um chorava


O MENINA BAIANA: Um cheiro de casa que tem búzios entrando pela janela da sala que tem rede. Aroma confortante. Coloco-me em meditação. Vou-me atirar. Ontem escutei alguém cantarolando é tão bom na minha companhia.

Uma porta entreaberta

Eu fiquei lá por uma semana. Trabalhando. Olhando no olho dele e observando seus movimentos. Um muro e um portão nos separávamos. Ele não permitia que eu me aproximasse, com seus dentes me dizia pra não chegar perto. Ao menos me dizia com seus dentes. Têm os que ficam em silêncio. Não suportam a minha insistência em chegar perto. Eu mostro meus dentes também. Sou assim, igual a ele. Foi o que o fiz enxergar durante todos os dias da semana. Até que entrei e nossos corpos se tocaram.
Ele quis que eu fosse dele, de modo que o seu companheiro no espaço passou a ser impedido de aproximar-se de mim. Minha mão não podia tocar o seu companheiro unicamente. Os dentes eram exibidos, uma violência anunciada. Eu passei a usar uma mão pra cada um. Aquilo me deixou confusa e cansada.

o Menina baiana - claquete 207

CENA: Algum veneno antimonotonia


O MENINA BAIANA: Bata-bate quando pega no dedo doi demais. Doi mais porque é um se bater. Uma brincadeira meio burra essa. Bate-bate, acho que era essa a brincadeira. Eu disse que você poderia vir, mas me desculpe, mais uma vez, estou assumindo meu bate-bate. Você talvez tenha sido apenas um dos pêndulos. Eu disse pode vir, você acreditou. Eu disse, talvez você seja um relâmpago e só eu o enxergue. Como pode ser feliz ao meio dia escutando voz, e à noite, porque leu um pronome possessivo com um substantivo, passar mal. Nem sei se está certa essa análise gramatical. Sei que entre o português português e o baianês há uma melhor comunicação. Há a mais justa adequação de diálogo, em precisão. Quando eu não entendo, eu digo, e vice versa. Desde o beijo em cada olho meu. Desde a segurança das mãos, desde quando eu fui enxergada, vinda de um sonho recorrente e premonitório, até aqui. Até este exato momento. Eu sou muito exigente. Uso essa palavra que você me deu porque ainda não existe outra. Um vacilo, um trauma. O tempo. Duas palavras, o retorno do recalcado. Não, não é sua a Bahia. É minha. Eu sinto saudades de estar com você nessa cidade. Estou pensando num movimento de sair daqui. Talvez longe do que eu penso que é meu, eu possa me sentir minha.

SER DE LÁ DO SERTÃO: Isso é bem comum.

O MENINA BAIANA: A minha bateria está acabando. Parece um livro de traumas. Desde muito cedo, traumas. Sinto que estou indo quando sinto que você está indo. Preciso me encontrar. Aqui nessa cidade, esse meu jeito, não tem cabimento. É um lugar de prostituição. Eu tive problemas em todos os lugares que passei. Nas relações amorosas que vivi. Porque não me viram, eu quem vi primeiro. Agora alguém me viu antes e estou água em correnteza oceânica. Sei que vai ficar bem. Eu acredito que essa busca findou pra mim. Tenho que me encontrar longe, bem longe.

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

o Menina baiana - claquete 206

CENA: Te voglio bene assai


O MENINA BAIANA: Pareço cega. Sóbria, mas cega. Perdi as palavras quando você agora me surpreende com a sua voz. Diz-me coisas bunitas e pouco importa muita coisa. Quem disse que ser saudável é lavar-se todo dia, pentear cabelo, sorrir pra estranhos, lavar a louça? Serei saudável dirigindo-me ao seu encontro. Amor. Amor que existe. Diz-me que a vida é maluca. Digo-lhe: insensata. Verão pra você e eu sou água quando lhe sinto perto nessa estação em que sintonizamos. Amor. Sua voz está no meu ouvido, entrando pelo meu corpo, apertando o meu peito, descendo a minha pélvis, fechando os meus olhos, entreabrindo meus lábios num sorriso. Amor. Eu sou o resto de um amor querendo amar. Você quer que eu apalpe esse futuro? Acabei de me desfazer do lixo. Vou cantar pra os seus ouvidos.

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

o Menina baiana - claquete 205

CENA: A sagração da primavera


O MENINA BAIANA: Há machismo e covardia. Os homens e mulheres aprenderam muito bem como atingir aquelas revolucionárias, aquelas vanguardistas. Eles vêm, dispostos, e vão, sem qualquer explicação de mínimo respeito. Eu vou me entendendo sujeito nesse mundo em que quero morrer. Fora da alienação há salvação ou suicídio? Fui kardecista e é uma perturbação essa coisa de caridade, espírito obsessor e umbral.

UM SER DE LÁ DO SERTÃO: Essa coisa de fé na humanidade... Tá por fora.

O MENINA BAIANA: Só não cortei meus pulsos ainda, acho que porque fiz análise esses anos todos. Está cada vez mais curto o salto. E quando eu estou na rua sinto uma agonia enorme. Hoje o carro era uma arma em minhas mãos. Não fique perto de mim. Você está longe, mas sabe, não fique perto. Esse perto pode lhe fazer algum mal. Eu quero mesmo morrer. O seu movimento, o meu movimento, tem funcionado. As pessoas ficarão mais tempo na terra se o conhecerem.

UM SER DE LÁ DO SERTÃO: É importante para viver encontrar-se com o ser.

O MENINA BAIANA: Mas é proibido ser aqui nesse mundo que criou os seres. Esse encontro com o ser é a própria morte. Estou me tremendo muito. Acabou.

[Pausa]

Josephine falou disso - pra mulher a arte é muito mais difícil. Imagine eu aqui nesse lugar chamado Salvador. É isso, mas é velado. Tenho que me transformar all the time.

UM SER DE LÁ DO SERTÃO: Penso em você todos os dias e todas as noites.





terça-feira, 15 de agosto de 2017

o Menina baiana - claquete 204

CENA: A vadia



O MENINA BAIANA: Estou molhando o meu cigarro com água salgada enquanto ele está pendurado na minha boca depois que eu acabei de me despedir de Josephine. Ela me explicou tudo, tudo. Eu me tremo. Toda. Toda. Estou acendendo o meu cigarro. Espere um pouco. Meu amigo faz cigarros perfeitos pra mim. Me disseram que há uma máquina de fazer cigarros, mas quem tem amigo vai lá querer uma máquina? É uma casca que está sempre sendo partida e refeita. Eu não disse? Eu disse. Eu disse que eu me rasgo toda e que a morte me chama. É que eu escuto as vozes das pessoas me chamando. Eu escuto as vozes delas quando vem a tona coisas boas, coisas ruins. Eu sei o tom delas. Espere. Espere um pouco. Ainda está passando pelo meu corpo esse encontro é essa despedida de Josephine.

o Menina baiana - claquete 204

CENA: Relampiando


O MENINA BAIANA: Estou enxergando o horizonte um pouco acima, um horizonte com nuvens. Parece muito junto ao horizonte com  água, mas não é. Do quadro vejo este horizonte e às vezes uns pássaros pretos. Maybe black birds siggining. I don't listen. Maybe. O quadro não sai de mim. Como um relâmpago escuto que alguém pensa em mim todos os dias. Eu duvido de tudo. Duvido do sexo das meninas, dos meninos. Duvido dos meninos, das meninas. A dúvida é um pesadelo. Agora vou precisar trocar a resistência novamente. Minha voz está impotente e congestionada. Eu penso no sol e seus efeitos. Quero comprimir esses dois horizontes. Bem aqui no meu peito. Com pássaros pretos e tudo.

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

o Menina baiana - claquete 202

CENA: Fio a pavio


O MENINA BAIANA: Uma última carta se isso é jogo. Parece que ela não me quer mais. Isso me enfraquece. Parece que há somente uma vida. É o que eu sinto. Não tenho muito tempo. Não mesmo. O que ele quer de mim eu não sei. É uma prova e eu não estou conseguindo lidar com isso. Vão esquecer que eu criei uma cantora. O feitiço parece que está virando contra a feitiçaria. Sinto que algo está impedindo mesmo da coisa continuar. Penso em ir lá falar com Heitor. Caso ele não tenha interesse, vou adiar a cantora. Não sei o que realmente acontece. Talvez seja eu. Estou muito triste. Viver pra mim tanto faz. Estou me cansando demais. Isso não é viver. É já estar morto. Não consigo recuperar peso. Parece que afasto as pessoas a cada passo que tenho dado. É pouco provável que ele aceite. Mas eu já não tenho mais nada a perder. Essa coisa de ter criado uma cantora talvez não tenha sido uma boa ideia. As consequências são ruins. Sinto um deboche vindo de pessoas a minha volta, eu estou intolerante. Eu sou intolerante. Exigente. E a história vai acabar assim. Me expus demais. Mostrei a ferida pra o mundo. O mundo não é cicatrizante, ele fere mais e mais. Por mais que eu dê o que eu sinto que é amor, não sinto amor vindo de lugar algum.

o Menina baiana - claquete 201

O MENINA BAIANA: Os terreiros nessa cidade são inúmeros e fortes. Quase coincide com o número da população. Eu estou pensando que a minha tropicália pode estar vindo com força. Mas é coisa de minha cabeça. Se eu conseguir desconstruir arquétipos, dará certo. Não sei se desconstruir é a palavra. Tudo vem do que já é. Eu estou dizendo tropicália. Acho que estou vivendo dentro de um sonho onde tudo pode acontecer. O nome disso o que é? Crença? Surto?

o Menina baiana - claquete 200

O MENINA BAIANA: Está muito difícil continuar no desejo do que é grande, porque o que é grande depende de mais gente além de mim. Se existe inveja e ela faz esse tipo de coisa na vida de alguém, invejosos deveriam ser exterminados. Um por um. Minha voz está comigo e eu posso ir sozinha com meus dedos nas cordas. Se for pra me enforcar que seja depois dos dedos nas cordas.

o Menina baiana - claquete 199

O MENINA BAIANA: Olha eu depois do roquenrou. Acabei de chegar. Coma menos carne vermelha.

UMA PESSOA DO PLURAL: Por quê?

O MENINA BAIANA: As tartarugas estão morrendo. As pessoas estão morrendo pelos fazendeiros. Índios. Uma pessoa que nunca tinha me visto antes disse que tem muita inveja me rodando. Que eu compre uma cabeça de alho macho e coloque um dente na bolsa. E que tome banho de mar

UMA PESSOA DO PLURAL: De novo isso de inveja.

O MENINA BAIANA: Disse que vê muita luz. De novo isso também. Elas falam em aura, que veem minha aura. Mãe menininha disse que o feitiço é a inveja. Já falaram isso pra você?

UMA PESSOA DO PLURAL: Da inveja?

O MENINA BAIANA: Sim. De alguém chegar pra você e te falar isso.

UMA PESSOA DO PLURAL: Acho que bem isso não.

O MENINA BAIANA: Quem tem boca fala o que quer.

o Menina baiana - claquete 198

CENA: Roquenrou


QUEM QUER SER AMADO: Sabe muito bem ser tocada e olhada na alma. Nunca vi uma mulher tão linda. Não só por fora... Também na alma. A mais linda que vi, em ambos os aspetos! É evidente a sua luz. Quando te vi a primeira vez, iluminava toda a sala. Brilhava. A sua aura é linda. Sou você. És muito especial. A sua beleza parece sobrenatural. Minhas mãos pertencem ao teu corpo. O seu olhar pertence à minha alma. Minha alma gêmea. Fico muito triste quando me diz que chora. Gosto de te ver alegre.


sábado, 12 de agosto de 2017

o Menina baiana - claquete 197

CENA: Domina, domina


O MENINA BAIANA: Pode ser um triste fim. Pode ser a mania também. O bipolar é um suicida em potencial. Alguém pode falar de mim depois da mania? Eu não entendi como é comer a carne humana, morder, e deixar marcas nos ossos em zig zag, marcas com ferramentas. Muitos mil anos atrás. E muitas marcas em zig zag ainda são feitas. Eu estou com as minhas e olho pra elas e não tenho como mostrar. Com certeza eles gritaram muito porque gritaram a vida inteira. Com certeza eu escutei os gritos quando minhas bainhas de mielina amadureceram. E por mais um ano, dois anos, a vida inteira. Agora bom dia e emojis não reparam. Agora, olhe, veja, sou um feto. Um feto cansado. Natimorto. Assim nasci pedindo vozes. Ando pedindo vozes pra viver. Isso não é coisa que se peça. Canibais têm dentes e ferramentas pra marcar zig zag. O meu nome tem mar, ele me chama todo dia, mesmo sabendo que não sei nadar. Jonker resolveu-se no mar. Eu não sei o que Valente fez quando se resolveu. Talvez eu tenha sonhado com você essa noite pra me sentir melhor. Talvez aquecer a minha mão no bolso da sua calça, receber o seu seu sorriso e o seu olhar enquanto faço um caminho qualquer guarde um pouco do que resta.

o Menina baiana - claquete 196

O MENINA BAIANA: Nada de dividir, vou compartilhar agora. Aqui. Se quiserem saber que venham aqui. Aqui será o meu silêncio e meu grito. Meu choro, meu soluço. Meu resmungo. Meu aqui. Input e já tenho oito músicas mal tocadas no violão. Se debocha quando eu digo que não sei cantar em videoke é onde reside a largura que afasta o ser intérprete.

MENINA BAIANA GIRANDO: Você canta?

O MENINA BAIANA: Uma cantora me orientou a dizer que sim. A sacerdotisa disse que eu estou cantando. Embora eu tenha criado uma cantora... é, se  e eu criei uma cantora, eu canto sim. Aqui está finalmente o meu dizer se moldando. Com ele, a minha tropicália. Torquato sentiu o peso e teve o encontro com a certeza, ficou cara a cara com ele e passou ao ato, o mais poderoso ato. Isso é que é ter poder, é o que é ter direito, e saber que nada deve fazer a não ser passar ao ato.

MENINA BAIANA GIRANDO: É por isso que eu gosto tanto das câmeras. Prefiro ficar atrás delas.

O MENINA BAIANA: Eu prefiro nem saber delas. Pedem, gostam, mas isso que faço é outra coisa, muito diferente do que estar na frente das lentes. Eu sou uma intérprete. Eu gosto de teatro. Vou fazer o quê se a música me acorda e me nina? O teatro sempre estará vivo, mesmo que eu passe um tempo na casa da mãe nesses dias que eu nem sei que cor o santo pede. Sei que sou dos santos. Eu gosto tanto de Pedro Luís cantando o mundo. Ele parece menino baiano mas não é. Parece que tem contas no pescoço ele. Se for, é. Tem uma de Giron que eu gosto muito também. Talvez seja o tempo da repaginação. É um novo samba reggae, são novos meninos baianos que estou encontrando. A licença está as cumprindo e eu tenho medo de voltar às catracas. Eu tenho muito medo. Eu sou um pássaro. Meu curió morreu e só saiu da gaiola morto.

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

o Menina baiana - claquete 195

O MENINA BAIANA: Parece que dentro de mim hoje há duas ou três de mim. Uma que quer só pegar o violão e ficar cantando e tocando mesmo sem saber tocar, outra que quer dirigir um show novo, outra que quer saber como é isso de gravar em estúdio. Obrigada por não ter ido até hoje. Eu sinto a sua presença na minha vida e saber que é possível lhe encontrar frente a frente de novo me enche de felicidade. Acho que terei que escolher entre uma das três, e talvez a do violão seja a escolha mais prudente. Vou dar um tempo dessa montagem. Preciso de um violão elétrico pra mim. Escutar alguém me pedindo perdão sempre será um ruído desagradável.

o Menina baiana - claquete 194

CENA: Canção de despedida


O MENINA BAIANA: Sou alegre quando estou cantando. Todas as vezes em que me escutar cantando pode ter essa certeza. E sou alegre quando lhe sinto perto. Você viu a lua cheia?

UMA PESSOA DO PLURAL: Vi mas não fotografei.

O MENINA BAIANA: Quando vi pela primeira vez a lua cheia nascendo eu fiquei muito surpresa, lembro até hoje. Lembro também de quando vi pela primeira vez o sol nascer na praia. Achei que era alucinação de tanta beleza que via. Alguém teve que me explicar que aquilo era o sol nascendo. Fotografias nunca vão traduzir a beleza Assim como nunca trarão o cheiro, a textura, o sabor. São coisas que só o corpo sabe. Isso de desejar alguém é um mistério. Uma pessoa nunca saberá o que a outra deseja. Onde lê que está escrito um reencontro? Como é possível ler o futuro? Felicidade só existe no encontro com as coisas belas. Foi um belo encontro. O vento levou pra onde eu não consigo ver, tampouco desejar. Há muitos limites entre essas duas pessoas que se encontraram e foram felizes. Desejar não impõe limites. Eu me contentarei em fazer parte de uma história contada por você.

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

o Menina baiana - claquete 193

O MENINA BAIANA: Talvez eles venham apenas pra me mostrar músicas novas. Fazem trilhas sonoras e se vão. Que vida existe nas canções que ainda não vieram? Nem sei se quero escutar mais. Falei alto andando pela cidade: fiquem longe de mim! Todo mundo escutou. Escutou eu cantando explode coração rolando pela escada acima. Tanta zoada na minha cabeça que só sai assim. Acho que me apaixono pelas músicas deles. Eles vêm por quê? Por que vão? Por que há sempre outra escolha que não eu pra ficar?

QUEM QUER SER AMADO:

o Menina baiana - claquete 192

O MENINA BAIANA: Meu corpo na cidade está tensionado. Pra distensionar fiquei rica por algumas horas. Não sou só eu que ando tensionada. Fiquei queixosa, me metendo nas conversas alheias. Mas também, alguém se matou hoje cedo na cidade. E eu ficando rica. Nem vem com esse negócio de que rico é ter saúde. Não o é. Rico é ter dinheiro. Ter dinheiro. Algum dinheiro. Mesmo que depois da compra suspeite que a marca esteja utilizando trabalho escravo. Eu não tenho tudo na memória pra ser rica e fazer esse tipo de escolha. Sem perfume. Com perfume. Sem joias. Joia. Um presente sem presente. Resmungando pela passarela da riqueza, chorando no provador. Cabelo pro lado mirando no espelho. Pro outro lado mirando no espelho. Rabo de cavalo. Coqui. Ser rico é ser bem tratado aqui na Bahia. Gente que anda por aí sem abrir mão da condição de escravo.

o Menina baiana - claquete 191

O MENINA BAIANA: O sol voltou a brilhar na cidade esses dias e eu gosto de sentir a quentura no meu corpo, o suor escorrendo enquanto eu ando pela praia. Do lado de lá uma missão acaba de ser cumprida e alguém se sente feliz, quando eu pergunto pela felicidade. A pergunta é devolvida e eu, após longos segundos de silêncio, digo que sim. Digo que sim, se saudade é ter felicidade, eu penso e não digo. Se chorar fizesse brotar dinheiro, diria que sim. Por enquanto, eu canto e isso de nada vale. O tempo resolveu me calar por duas semanas. Nada de cronograma, joguei fora. Sinto a contradição digna do absurdo. Cantar pra quê? A segunda língua está vindo pra mim como fendas mentais. É bonito. A música é o instrumento. Eu ontem agradeci tanto à Marisa por isso. Input, input, input. Ah, sobre o bom dia que recebi hoje, com flores, senti nada. O tempo já me trouxe calos. Sobre a voz que escutei ao acordar, o tempo me trará o alento.

o Menina baiana - claquete 190

CENA: Último pau de arara


O MENINA BAIANA: Eu sou absurdo. Eu, eu, eu. Pau na minha buceta!

UMA PESSOA DO PLURAL: Meta, meta, meta tá tá tá tá, meta pau na sua buceta tá tá taratatatá!

O MENINA BAIANA: Mulher faz muito cu doce.

UMA PESSOA DO PLURAL: Mulher é triste. Mulher é muito difícil. Mulher não dá. Pra essas coisas é muito complicado. Mulher é melhor pra bater papo.

O MENINA BAIANA: Então eu sou homem.

UMA PESSOA DO PLURAL: Você é gay. Você é um homem gay. Assim como eu sou uma mulher lésbica.

O MENINA BAIANA: Vou te comer. Comer seu cu.

UMA PESSOA DO PLURAL: Quem disse que eu quero dar o meu cu?

O MENINA BAIANA: Eu como com a minha buceta.

UMA PESSOA DO PLURAL: Uma hermafrodita, auto-suficiente!

O MENINA BAIANA: Sou bipolar, não hermafrodita.



Voltei ao salão
A batucada está
Olho em cada rosto passante
É certo
Você nunca mais virá
É certo
É certo isso?
Eu vim de branco pra me entranhar no azul
Eu vim de branco sobre minha pele preta pra ser orixá
Lhe chamar
Gritar
Chorar
Cantar este meu fado
Mirando o mar
Que se vê derramado pelos meus olhos
Onde está escrito?
Eu quero ler onde está escrito que vou olhar
Fundo em seus olhos de luzes
Onde está escrito consegue ler que as ondas se agitarão ou se acalmarão?

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

o Menina baiana - claquete 189

CENA: Que vem


O MENINA BAIANA: Você tem razão quando diz que estou andando à margem. Eu sou absurdo e você diz que é legal quando o ego começa a trabalhar a favor do real. Eu a favor do que não tem jeito de ser a favor porque não tem jeito. Meu corpo está em ressaca. Ressaca e sonho. Tudo bem que a lua apareceu como uma bola de fogo ontem e eu estive tão encharcada, sem saber. Waltinho diz que esse artigo definido masculino singular pode suscitar ideia de erro. Eu já falei? Que suscite. Quero suscitar. Esse é o absurdo. Camus diz que respirar é julgar. O mundo todo é marginal. O mundo todo gira fazendo borda no real.

o Menina baiana - claquete 188

UMA PESSOA DO PLURAL: Bateu uma onda.

O MENINA BAIANA: Também tô sentindo. Forte. Não tem cura. Tô enviando algo que me aliviou. Jocasta enforcou-se. Matar é todo dia. É assim o tempo quase todo. Eu não vou aguentar por muito tempo. Com não ou sem não, é tudo não. Não sou amorosa. Sou uma mentira. Tudo isso é não. Vou capotar o carro com eu e ela dentro. Desgraçada. Eu teria o direito de matar se não fosse essa merda de civilização.

UMA PESSOA DO PLURAL: Aí nem precisaria de direito.

o Menina baiana - claquete 187

CENA: Se encher mais cedo


O MENINA BAIANA: Conheci uns meninos baianos. Eles já estao vivendo o farol da naturalidade faz tempo. Já falei com um dos pais de Ogã Mirim. É linda. É lindo receber abraços, conversar com uma linda menina baiana e  um compositor baiano enquanto rola o som, depois que rola o som. Eu estava apontando pra mim e perguntando quem sou eu o tempo todo pra decidir que sou eu. Ali. Se sou feio ou bonito, pouco importa. É no discurso, no dispôr, na entrega. Sinto que tenho pouco tempo de vida, preciso correr. Solidão no salão hoje. Sambadinha e carinhosos cumprimentos. Não fui à cozinha. É samba e forró. Coisas lindas em frevo no meio do azul e branco. Eu fiquei contente por avistar um retorno. Eu acho.

terça-feira, 8 de agosto de 2017

o Menina baiana - claquete 186


  • O MENINA BAIANA: Quero acreditar em várias vidas. Sem o barulho das contas em minha cabeceira. Sem Smetak caminhando na minha cabeça. Sem essa pontada nas costelas ao respirar. Sem criança saindo entre as pernas. Eu odeio os barulhos de minha mente. Enfio música mas não está amenizando a agonia. A agonia desse dedo triste apontando pra mim e dizendo: você não é amorosa. Quero voar, por favor...

o Menina baiana - claquete 185

O MENINA BAIANA: Se todo dia houvesse rede em alto mar eu viajaria com você. Nao, não é romantismo, é o que chamo de espírito. Você fala alma. Que sou sua alma. Até quando? Sempre, você diz. Eu não tenho o futuro. Tenho apenas ensaios programados. Essa coisa que alguns desejam, essa coisa de só eu e você, eu estou fora disso.  Você sabe. Esse silêncio que fica, voce sabe cuidar. Eu sei cuidar. O silêncio quando é um silêncio entre almas é sempre um cuidado diante dessa distância navegando até tomar onde está a sua raiz. E quando o próprio dedo tem boca, dentes, fala, tem olhos. Uma cara no dedo indicador com vida própria, exigindo viver, chorando de fome, se queixando porque está mal cuidado por mim, pois não aceito aquela vida andando na ponta do meu dedo. Cara feia. Horrorosa. Algeum me dizendo que eu devo cuidar.
Você veio
Tomar
Minha alma
Tomar
Sou você
Em terra à vista mar
Você veio
Tomar
Maré alta e mansa
Pra eu cheirar
E te responder
Se o seu corpo é bonito
Tomar
Meu corpo dizendo sim
Enquanto dançamos pela cidade
Tomar
Na beira do mar
Tomar
Banho com você
Porque
Eu não sei nadar
Tomar água de côco
Na beira do mar
É o que tenho pra lhe dar
Tomar
Lembranças
Dessa ilha baiana
Que cá está
Tomar


Enraizada

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

o Menina baiana - claquete 184

O MENINA BAIANA: Aquela nota no início eu não escutei. Demora mesmo entrar. Eu demoro mesmo pra ir. Isso me atrapalha. Me estimula excessivamente desde as fotografias expostas como ossos expostos dessa Bahia. E daí que eu seja baiana? É daí. Meio Nara, eu mostro uma delas a ela quando sou público. Sinto dores antes das bolhas. Depois de todo choro, bolhas. Eu pergunto quando você chega pra evitá-las. Barba cheirosa e eu desconfio que visita as minhas histórias. Estou entrando no rio vermelho.

UMA PESSOA DO PLURAL: Estou com muita dificuldade em enviar as mensagens.



o Menina baiana - claquete 183

CENA: Trava língua


O MENINA BAIANA: Eu sei entrar e sair e olhar pra quem eu quero. Eu dei a volta pra fazer visitas. O som esteve muito bom. Menos os pastéis de bacalhau. Nem com azeite. Nunca mais. Nesse rio vermelho eu faço voltas, vou no samba. Sou grata a você pelo silêncio. Pra mim, isso não se faz. Isso de pausar caracteres. Existem cumprimentos básicos e simpáticos emojis. Mas silêncio? Silêncio é pra chamar o som? Morte súbita? Sinto muito. Já não fica mais no meu estômago ou fazendo tremer o meu corpo. Fica numa rua da minha fronte. Faço o trabalho de compreensão. O silêncio se não está para o som, está para morte. Que assim seja se assim prefere. Morra.

domingo, 6 de agosto de 2017

o Menina baiana - claquete 182

CENA: Quando a sede chamou


UMA PESSOA DO PLURAL: Eu tenho medo que você sofra por mim, meu amor.

O MENINA BAIANA: Prometo que não. Eu choro, mas é de emoção por você existir. Por você falar comigo, por escutar a sua voz e sentir o que vem de você. Você não largou a minha mão, não desviou a atenção de mim.

UMA PESSOA DO PLURAL:  Tinha medo de te perder. É fácil ser sincero contigo. E adoro olhar para coisas lindas.

O MENINA BAIANA: É fácil te amar e levar esse amor dentro de mim pra aonde eu for. Eu me senti segura e forte e muito desejada

UMA PESSOA DO PLURAL: Espero que te inspire na sua arte, que melhore o teu fado. Eu sei que o seu projeto musical é um projeto artístico e não comercial. Por isso o estruturas com tanto cuidado, profissionalismo e carinho. Vejo a sua alma nos teus olhos quando fecho os meus. Uma vida inteira seria de menos.

O MENINA BAIANA: Você inspira o meu viver. 

UMA PESSOA DO PLURAL: Quando olhei o seu corpo na praia, fiquei enfeitiçado com a sua cintura perfeita. A sua beleza parece sobrenatural.

O MENINA BAIANA: Existem muitas parecidas aqui.

UMA PESSOA DO PLURAL: Teu corpo e a tua alma em sintonia com as minhas mãos.

O MENINA BAIANA: Mãos que não têm dúvidas. Eu sou água do mar perto de você.

UMA PESSOA DO PLURAL: Fico completo.

O MENINA BAIANA: Não tenho direito de perguntar nada a essa vida.

UMA PESSOA DO PLURAL: A Bahia é a sua alma. Se você sair, definhará como uma flor envasada. Não gosto de gente desterrada. És enraizada. Como eu.

sábado, 5 de agosto de 2017

o Menina baiana - claquete 181

CENA: Riacho do navio


O MENINA BAIANA: Que as luzes se apaguem e eu sinta apenas aquela bem quente acima da minha cabeça, cegando o meu olhar. Isso não é esperança, é um grilo. Cega eu poderei dormir sem erva. Na caixa preta. Parede aberta diante de mim. Ah! Quantas saudades eu sinto de você. Quanto amor! Quando escuto a sua voz meu corpo recebe uma descarga elétrica. As lembranças são mesmo muito fortes. Tenho vontade de ir ao seu encontro mas devo todo dia entender que o tempo é o senhor dos destinos. Foi luz que você me trouxe.

UMA PESSOA DO PLURAL: Meu Deus!

O MENINA BAIANA: Vamos ficar por aqui só umas horas.

UMA PESSOA DO PLURAL: Tão linda, tão sensual, tão romântica, tão mulher...


o Menina baiana - claquete 179

CENA: O sol não adivinha


O MENINA BAIANA: O mar faz silêncio mas a minha mente não. Nem essas pessoas na rua. O vento traz o barulho delas a se unirem com a zoada da minha cabeça. Já coloquei o fone. Vou escutar minha sorte e estudar o que posso colocar nela. Não sei se outra língua. Esse meu jeito não cura com reza. A reza é pra encontrar esse meu sujeito. Encontrar sujeitos que me dão espelho em seus jeitos, meus jeitos, em seus cheiros que pedem minhas narinas, em seus ouvidos que pedem a minha voz, em suas vozes que pedem meus ouvidos. E parecem estar por perto pra não perdê-la. Estética, tropicálias, na minha, meu canto. Me encontro metendo pesquisa pra viver. Não foi o sistema de catracas que se dispôs a me destrancafiar. Foi a música. É ela. Nem foi a oração torta de minha mãe durante todos esses anos. Ainda que eu cante minha sorte, tenha chorado com minha sorte. Minha mãe é minha música. Eu me derreto em lágrimas duras, tão duras quantos aquilo que se coloca na ponta da perfuradeira, enfiando ela bem no fundo do mar pra encontrar sinais da pérola negra mundial. Eu me encontrei no negro gato antes mesmo dele morrer, ele sim é uma pérola negra. Brasileira. Assim, brasileira. Desse jeito meu, brasileira. Sentindo a nacionalidade toda pelos poros e pêlos. A naturalidade em meus fios de ouro prata no espelho. Na rachadura de minha pele porosa e flácida. Nos rasgos novos em volta dos meus olhos. Todo dia. Quando é dia. Eu me levanto e lavo a louça pra deixar a casa arrumada. Passar pano no chão tem que ajoelhar pra enxergar a sujeira.

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

o Menina baiana - claquete 180

O MENINA BAIANA: Eu digo logo. Pra quê engolir o dizer se é algo bom isso que sinto? Não sei se é bom pra você. O meu dizer vem de algo bom que sinto em direção a você. É assim que esse mundo pode me conter. Só assim. Olhando todo dia pra minha baía, escutando tropicálias, buscando as cantigas pra ninar a minha dificuldade de viver. Biscoitinhos e vitamina de frutas. Mão no ventre. Os lugares bons de entrar não deveriam ter saída. Ou são bons lugares de entrar porque têm saída? Seriam prisões se não tivessem saída? Olhos fechados. Mão no ventre.

UMA PESSOA DO PLURAL:  Olá, minha Rainha.

O MENINA BAIANA: Eu desejo ser amada por alguém assim como sinto o seu amor. Sinto vontade de lhe abraçar.

terça-feira, 1 de agosto de 2017

o Menina baiana - claquete 177

CENA: Cochicho


O MENINA BAIANA: Ainda estou e entendo que você sente a minha presença. O imaginário é proibido de criar expectativas em relação a você. Você é o ar, vem fazendo redemoinhos no mar e depois parece que nem brisa faz. Você também está, como é possível. Eu te entendo. A paixão entra. O amor entra e sai. A paixão arrebenta. O amor acalenta e vai. Quero dizer pra você que te amo. Acho que já lhe disse antes. Mas quero dizer agora, mesmo sendo dois pontos, nós dois, nessa distância que percorreu carta na garrafa ao mar até você estar. É a Bahia, é Salvador, rio vermelho quando a sua mente lhe trai. Ainda sou menina baiana, meu existencialista ateu sem rótulos. Sou menina baiana e nem precisa se mexer enquanto há língua. Pode ir, mas volte de vez em quando, lembre-se de mim, sob o céu da baía.

segunda-feira, 31 de julho de 2017

o Menina baiana - claquete 176

CENA: Muita tosse

O MENINA BAIANA: Quando o cigarro é encontrado pronto fica muito mais fácil e rápido o movimento. Tenho que ter ele pronto até dezembro mas estou duvidando dele. Fui à vitrine cheia de excitação e nada. Um vazio grande, como se eu tivesse que inventar angústia? Eu não sei. Quando ela vem é tão intensa. Eu sinto vontade de matar. Acabei de rumar, esqueletei o novo setlist e o sinto mais denso. Waltinho não entrou nesse ainda. Eu não quero mais dizer que a gente vai levando no cambalacho. Gosto da de Lula, dentro da minha cabeça tem um pensamento só. Tô vendo que há água e amor e axé, extra é o protesto, gita é a oração, é tão bom é o caminho nessa minha tropicália. Amor de baiano, amor de baiana, a favor do transumano.

domingo, 30 de julho de 2017

o Menina baiana - claquete 175

CENA: Muitas frases

O MENINA BAIANA: Gente que não vacila na fala. Um vício. Busco orgasmos itinerantes. É lindo ele. Tão lindo. Na sua auto-centração, no seu sumiço, por dialogar no léxico do meu hospício, é lindo. Será muito amado, já disse. Digo logo. Existem coisas muito urgentes e ele me viu. Não sei se viu a única mulher pedindo que salve as pretas, se viu mais um homem como tantos outros e ele mesmo naquele chão bordado. É um lugar de ciclos, é água, quentura, ebulição. Preciso preencher um buraco assim: Priez pour ma façon d'être, mère. Meu corpo ocioso e incensado sempre pede outro corpo e imagina quem pode ter. Ninguém.

quinta-feira, 27 de julho de 2017

o Menina baiana - claquete 172

CENA: Para trabalhar


O MENINA BAIANA: Está tudo passando. Eles estão indo como bons marujos que são. Ontem mesmo outro marinheiro - o meu cheiro, o meu olhar, o meu dançar. A vontade de bater por não poder pegar veio com um forte aperto na bochecha. Eles sempre têm vontade de bater, mesmo dançando ele me disse que não sabe o que era, mas que olhar pra mim lhe traz a vontade de me bater. A televisão toca Janis Joplin. Summertime. Deixo que me digam da vontade de beijar. Eu sei que o que desejam mesmo é bater. Até aquele que atravessou o mar, em cujos sonhos eu já aparecia. A minha companhia é apenas um fetiche. Uma vontade. Vontade dá e passa, também me disseram. Queria passar algumas horas olhando profundamente pra os olhos de alguém que não me pede beijos antes de pedir pra segurar a minha mão e passear comigo.

quarta-feira, 26 de julho de 2017

o Menina baiana - claquete 171

CENA: Dança na cidade


O MENINA BAIANA: Por que não eu. Sem dúvidas. Rastros de divã, a negativa e muita consciência. É o tal do fortalecimento do eu, sem dúvidas. Se for uma dúvida a cada ano, estou com direito a mais dúvidas por ano. Ela me disse pra evitar cores escuras às segundas-feiras. O preto tem me atraído bastante. A casa da mãe também. O amor bate à porta da casa quando é amor. Às vezes penso que basta a matemática. Agora tenho certeza que sim. A matemática dos corpos pela cidade. A pulsão é apenas o um do binário rítmico. Ela vai. Quando há tentativa de retê-la, é suicídio. O outro um é o mundo todo. Toca em algum ponto. Ninguém pra reclamar do meu cigarro! Ninguém pra me dizer: só entre eu e você. Ninguém. Alguém está vindo me dizer que vai custar quase nada, basta desejar e chamar gente. Gente do rio vermelho. Ah! Meu rio Vermelho! Nossa senhora do desejo, minha santa Muerte! É você, minha santa fé, quando me tem em seus braços e me traz menino baiano do rio Vermelho. Hoje é ele. Amanhã eu não sei. Sei que ele existe e me pergunta por que o menina baiana. Eu digo tudo, tudo está na rede, girando em moinhos sobre a água. Mundo imagens, sons e desejo. Se é groove que falta, já senti. Senti pureza de pele soteropolitana. A nossa pele de ébano. Lavada, com asas concluindo a secagem em sua última gota pronta pra voar. É chamado, diferente de favor. É por ela. É amor.

terça-feira, 25 de julho de 2017

o Menina baiana - claquete 170

CENA: Mariposa


O MENINA BAIANA: Os caminhos se estreitam e a televisão ligada preenche a minha mente incansável. Talvez eu seja uma pessoa chata. Vou buscar: Doces e Bárbaros – Um Estudo sobre Construções de Identidades Baianas, de Carlos Barros, Uma Crítica Cultural do Pagode Baiano – Música que se Ouve, se Dança e se Observa, de Ari Lima, Os Belos, O Transito e A Fronteira – Um Estudo Socioantropológico sobre O Discurso Autorreferente do Ilê Aiyê, de Carlos Aílton Conceição Silva. Estou chamando de fetiches baianos, brasileiros, o que viram antes da cantora: escrava Isaura, Gabriela, Sônia Braga, Daniela Mercury. Marisa Monte apareceu na cama no meio dos corpos encaixados. Até hoje eu rio. Escuto que sou um delírio do amor e que a menor distância é sempre o amor. Nada mais justa a canção quando eu posso me aquecer na minha cama e me sentir protegida pelo lençol e som. Se você escuta pouco as músicas e me mostrou isso, realmente não precisa escutar muita coisa. É amor puro. Por isso pode ir, meu presente na alma está marcado. O que tem de ser tem muita força. Que seja agora. Eu te amo. É outro dia que nasce. Bom dia.

o Menina baiana - claquete 169

CENA: Com terra


TERRA: Deusa cantora, forte delicada flor raio trovão.

O MENINA BAIANA: Pensei em você. Ia chamar, acredita?

TERRA: No agora, na sua cabeça corpo imaginário, o que vê fazendo com em cantar? esses lugares do "profissional artista"? Super outra coisa que não tem nome?

O MENINA BAIANA: Eu acho que não sou artista. Ou os outros é que não o são... Não sei mais de nada. Senti quando vi: não tenho pra onde fugir, está tudo em mim. É a liberdade em exercício, eu presumo. Talvez o não ser artista faça parte do processo de ser artista. Será?

TERRA: Ah! Acho que tem algo por aí sim. A busca do que é importante mesmo, da desacomodação...

O MENINA BAIANA: Eu continuo amando todos! [Gargalhadas]. Eu gosto de viver o amor, seja lá quem for. Pode ser meu bicho de estimação ou um mulherão, é tudo amor. Sexo é de outra ordem, deixo que pensem que sabem do meu corpo. Mas só eu sei. Eu insisto nos machos ainda. Mesmo sendo mais homem que eles, embora eu não saiba muito essa diferença. Mas se há a diferença de pinto e buceta, então tô considerando essa. Já pensei que eu fosse lésbica, depois percebi que essa questão de ser ou não ser é dispensável. Vou vivendo os encontros. O que desejo mesmo é alguém que tenha olhos de enxergar, ouvidos de escutar, corpo pra roçar e gozar, e muito desejo de compartilhar a solidão. Bom que é um caminho de encontro e como em todo encontro, haverá sempre uma vazão.


domingo, 23 de julho de 2017

o Menina baiana - claquete 167

CENA: Você é nosso convidado


O MENINA BAIANA: [uma leitura] "CONVITE
Mariana cantará no aniversário de Amanda! (Se tiver lugar na fila rsrs)
Terça-feira, no Sarau do Espaço de Cultura Casa da Mãe, Rio Vermelho.
[Pausa]
Teve conversa sobre morte. Sempre tem. Quando eu faltar, eu disse. É isso mesmo quando eu faltar. Independente. A bolsa é minha. Ponto. Escutamos Gal por quase quatro horas. Engoli meu choro várias vezes. Muita emoção. Senti o corpo dela vindo em direção ao meu pra me abraçar. Eu decidi continuar o meu movimento. Nó no peito e corpo sem abraço. Quando a onda vem o tempo tem me tido a ponto de colocar rapidamente as narinas pra fora da água. Ele falou de si! É tão bom entender o outro assim. Quando ficar independente você vai querer que fique dependente? Eu não. A coisa é entre a bossa nova - eu ouso -, a tropicália e axé music. Me escuto ainda afetada na voz. Uma afetação fora da interpretação. Sinto saudades dele. Penso em um vestido solto como esse. Quero poder abrir minhas pernas e sentir o ar. Eu o amo tanto, mas preciso guardar em segredo.

o Menina baiana - claquete 166

CENA: Pau na mesa

AQUELE QUE É RECONHECIDO: Adorei. Apaixonante!

O MENINA BAIANA: Obrigada pelo retorno.

AQUELE QUE É RECONHECIDO: Essa música é sua?

O MENINA BAIANA: Sua opinião é importante pra essa pesquisa. A autoria não, porém sou a primeira a cantar ela. Talvez seja minha. Por que achou que fosse minha? Tem resposta? Recebi essa pergunta de algumas pessoas, acredite.

AQUELE QUE É RECONHECIDO: Porque a harmonia, a sintonia, a melodia, soaram como se fossem suas, diante do que você já mostrou.

O MENINA BAIANA: Perfeito! O meu discurso está alinhado com a música. É muito bom ter dados!

AQUELE QUE É RECONHECIDO: De quem é essa música?

O MENINA BAIANA: Walfran Trindade. Um novo compositor. Preciso trabalhar. Ela vai ficar mais bonita. Se eu duvidar dela, já era! É um desafio. Quero colocar mais instrumentos. Levar às rádios comunitárias. Não sei como mas tô indo. Às vezes acho que não terei forças porque não depende só de mim. Mas quero falar, cantar a cidade, pro povo se enxergar. Estão ficando cegos, olhando pra partes do corpo e não pro corpo na cidade. E é tudo uma coisa só. Não adianta a "novinha" ir até o chão se nem sabe em que chão tá.