terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Seja disposto e contente assim como uma criança e sua espada luminosa a passar no meio da música no bar. Discreta criança. Seja disposta e consciente dos olhares a se abrir no meio e no final da música. Esses olhares carregam para longe, muito longe, tudo o que os instrumentos da música foram capazes de emitir. Seja amável porque amores sempre o serão. Sonhe com aquele homem que ainda está por vir tirar você de chegar acompanhada, sair sozinha e voltar só. Esse homem é você, homem. Amoroso e demandante genital. Mais amoroso passeando pela tarde e preparando com suas próprias mãos uma massa, sempre com sorriso no rosto pra você no meio da crise. Seja humilde e deixe que sua imagem e sua música circulem por qualquer lugar desconhecido. A música é a única verdade. Acima de tudo seja crente.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Uma dose pra começar o dia
Uma dose de unhas vermelhas
Uma dose de cabelos lavados
Uma dose de subir ladeira
Uma dose de dirigir o carro
Uma dose de proteína no prato
Uma dose de abraços
Uma dose de um insípido diálogo
Uma dose do corpo gélido encasacado
Uma dose de sorriso no rosto
Uma dose de tentativas de contato
Uma dose de algum elogio
Uma dose de ausência
Uma dose de sol
Uma dose do sereno
Uma dose de afastamento
Uma dose de encontro do objeto esquecido
Uma dose de caminhada
Uma dose de um cigarro apagado
Uma dose da química para o cérebro
Uma dose da quentura do cão
Uma dose de música
Uma dose de qualquer coisa que me dê uma dose pra viver uma dose

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Pesquisa de uma coisa

Estou carente de atualizações. Sei que algumas pessoas apontam Michael Foucault como obsoleto. Algo a respeito das prisões e sua relação com o racismo. Eu entendo. Mas também entendo o que aprendi com meus livros e professoras. É panóptica. É aprisionadora. É anormal. Sim, é racista acima de tudo isso. Sim, é machista acima de tudo isso. Quando o panoptismo é praticado de maneira que se possa alterar as imagens ( por exemplo, os filtros, montagens, sorrisos e poses e cenas montadas na rede social), coloca a câmera mais em si do que no outro. Lá, na rede, você é observado, você é mercadoria (,de si mesmo inclusive) [ver artigo de Tiburi] , e observador de imagens falsas, montadas. Há imagens que já se assentam no imaginário coletivo da rede, assim, uma selfie (o que é montado) repercute mais do que uma manchete de jornal (o que é fato). Essa exposição acelerada - pois se trata de registrar o instante, então é a qualquer instante - pode provocar uma perturbação entre o que é fato (a vida fora da rede/manchete de jornal) e o que é montagem (produzido pela rede a cada instante), de modo que as construções imaginárias também podem sofrer o aceleramento, tendo que adaptar-se a cada instante. Antes, as telenovelas mexiam diretamente no imaginário. Vou mais pra trás: os contos de fadas. Diz-se: estou vivendo um conto de fadas. O imaginário se adapta a essa mídia, que antes era apenas um conto de fadas.
O que eu proponho é uma investigação sobre os efeitos dessa aceleração do processo imaginário e suas relações com os sofrimentos psíquicos de quem se expõe a este ambiente (,redes sociais).
O sofrimento psíquico está relacionado com o saber fazer com o Real [Lacan], saber simbolizar com o que não se pode dar conta. Então, até que ponto a aceleração do processo imaginário (Lacan) em detrimento do Real, possibilita o sujeito a saber fazer com o Real?

Agora um moleque de rua sem absolutamente nada a perder. Vai gingando, moleque. Sim, parece menina mas é menino, veja bem. Ginga com os ombros e chuta todos os baldes de lixo da prefeitura que pelo seu caminho passa. Enfezado, menino anda na orla de Salvador, sim, na capital da resistência ele já nem sabe mais como fazer pra resistir, perdeu toda a esperança de criança. Ensinaram a ter fé mas também a perdeu. Perdeu porque perdeu o sentido da fé. Fé é pra quem move montanhas. O menino da rua nem montanha vê. Vê morro! Ele fuma desde cedo. Às vezes bebe também. Já o encontrei jogado na rua bêbado, rindo de não sei o quê. Ao menos rindo. Até te ofereci um suco mas a mão foi na garrafinha de cachaça mesmo. Maconha ele gosta, mas sozinho muitas vezes a fome não consegue matar. É livre do tráfico e nunca cheirou nada. Nem loló. Nem cola. Nem crack. Nem cocaína. Te tanto se cortar, pensou em esquentar o pó e meter pra dentro. Mesmo sem nada a perder, o menino está vivo. Por isso não vai. Se acovarda o menino. Não tem cachorro, e não vê a mãe. Nenhum parente. É um caso perdido esse moleque. Ele nada tem a perder. Em dia de festa na rua ele dança. Sozinho. Canta bem alto. Mas isso não é só em dia de festa. É só em dia de festa dentro do moleque. Chora escondido. Canta mais do que chora. Canta qualquer coisa que lhe vier à cabeça. Dança. Sozinho. Aquele outro menino pedinte na sinaleira é outro moleque. É ele, mas é outro, não vê? Parou de pedir. Já não tem mais nada a perder.
E se eu escrever até morrer
Vou descansar de viver
E seu eu cantar até morrer
Vou parar de chorar

domingo, 22 de dezembro de 2019

Jorro

LEXOTAN E JORRO DE AMOR.
A MELHOR VIROU PIOR.
LEXOTAN E PAZ NO AMOR.
O RUMO DAS COISAS
A VOLTA QUE O MUNDO DÁ
VEJS SE PÉTALAS DR FLOR VERMELHAS CAEM DO CEUMN OVER OVER

domingo, 15 de dezembro de 2019

Só atendeu porque era ela, né, Babá? Que coisa linda. Vai pro centro, a festa está lá com rosário no pelourinho. O dia está iluminado e ela já se banhou na paciência.

Iansã é a rainha dos raios. E, se ela colocou fogo, tem que chamar a fogueira. Uma pena não poder chamar a minha fogueira com o filho de Xangô que ela me trouxe... Serei água, como Iemanjá quer. A sereia sempre cantará em meio a raios e trovões. Boa quarta-feira de Iansã pra você.  Não consigo mais te seduzir. Vou cantar outros cantos.
Estão todos atrás da tela
Muito longe eles se põem
A conversar
Desabafar
Escutar
Gritar
Xingar
Silenciarem
Por trás das telas estão blindados de mim
Daquilo que lhes faço de tanto mal
Aquilo ora chamado
jorro
Jorro de amor
Uma cronicidade suicida
Assassina
É daqui pra frente
Com telas e sem telas
Aonde está a coragem
Por entretelas
O amor se apaga
O encontro surge
Novo encontro
Há de surgir
O sol está aí pra isso
O mar e o pó da terra
Que da sua morte
No meu corpo moribundo
Da tristeza de tanto jorro derramado

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Na mania está uma pessoa de baixíssima autoestima. Uma mania reversa. No período fora da mania é uma artista. Ou será que na mania é uma artista?
Você cuida do resto
Depois de me esvaziar
Cuide do resto
Há muito espalhado sobre as rochas
São como manchas de óleo
Não sai
Está tudo pela praia toda
O rato foi dissecado no meio do asfalto
Restou a cabeça com os olhos pretos brilhantes jaboticabas à luz do sol

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Não encoste
Não encoste
Siga e só
Não encoste
Faça suas contas
Arrume suas malas
Não encoste

Mudarei.
Mudarei como quem não pode escutar mais os nãos de desperdício do estados de paixão.
Mudarei feito o início de uma árvore em chão fértil.
Mudarei de caminhão.
Na estrada curta da vida.

As relações estão falidas.
O corpo emudece melhor do que uma máquina funcionando.
Derrama sal o dia todo tentando mudar.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Eu indo embora

Agora você se foi
Por que se foi em mim?
A culpa é toda minha
Os desvaneios são parte Da confusão
Do encontro testemunhado pela rainha dos raios
E o desfecho do desencanto organizado pela dona das águas doces
Agora acabou-se
Na multidão
Um beijo na testa
Por que se foi em mim?
Na solidão
O adeus com razão
E com todo respeito

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Faça silêncio
Fique surdo ao meu grito
Socorro
Estou morrendo
Fique surdo
Vou dizer que me falta ar
Que falto ao trabalho
Que tenho febre todo dia
Vou gritar de dor
Eu te peço que fique surdo
Me falta alegria
E coragem
Me falta algum toque de mão em minha pele
Acabou a velocidade
Desista de esperar por melhoras
Dê meia volta e vá
Diga aos demais que acabou o tempo
Pra ficarem aonde estão
Em silêncio
Desista de mim pra que eu vá
Em paz

domingo, 1 de dezembro de 2019

Estava tudo tão bem
Por quê? Não está bem hoje

Nem hoje nem nunca estará
Viver é viver mentindo que está tudo bem
Eu sou uma atriz
Seria muito mais fácil viver mentindo
Mas atuar requer um estudo
Uma encarnação
É impossível viver