domingo, 31 de janeiro de 2010

PLAP

Eu não sou poeta, não sei fazer poesia
Teimo escrever em versos...
Eu não sei ao menos falar
Meus olhos se impressionam, recolhe tudo, até a poeira do ar
e depois... ah, depois.... só eu sei para onde vão essas impressões
Eu sei? Estou enganada, não sei
Elas ficam fazendo cinema no meu corpo
Porque eu, você sabe, eu sou todo o meu corpo
E eu fico com papéis, canetas, tudo na cabeceira
Tentando colocar em palavras o meu indizível
Sai algo, parece com um grunhido
Um choro, penoso por permanecer tanto tempo no tráfego da garganta
Um tapa, uma cara fechada
Assim vem elas
Vomitadas, agressivas, algo contra a gravidade do real
Tento falar, e são tantas palavras de mim
Me assusto
Ofego
Fósforos, atrito, fogo na palha
Tantos detalhes, todas as impressões devidamente gravadas
E um mecanismo – se há mecanisno no que eu sou – apaziguador
Silêncio
Silêncio... estou trabalhando para voltar a falar
A partir de um ano
Difícil, eu não sabia falar a partir de um ano
Chorar eu sabia, eu tenho certeza que ainda sei
Primeiro choro, segundo choro, eu bem sei
Treinamento árduo
Descrevo detalhes interessantes apenas para o meu divã
Como o divã me entende, vê lógica nos tantos detalhes que começo a falar e eu ainda não sei
Sabe lá, em algum lugar por onde eu vivo a procurar
porque o verdadeiro eu poeta sabe usar as palavras
E o eu cantor, sabe cantar as palavras
Mas eu, compositor, ainda sofre, grita e chora e produz palavras.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Aí seu João disse:


"Eu chorei chorei chorei

Fui um menino chorão, daqueles de dar porre, fazer a mãe dá um beliscão

eu chorava, chorava e gritava"



O frescor da infância não havia em seu João

Tinha vergonha dos dentes tortos, sorria com lábios cerrados

Vergonha das marcas de crescimento

Ficava caladinho, mas escutava muito bem ao seu redor

Desde bem pequenininho, desde as almofadas quentes do interior de sua mãe



Nem mamou direito, seu João...

O sono costumava chegar sozinho, sem saculejo

Mas que menino impulsivo, esse João!

Gostava de saber história de quem já viveu

Para costurar a sua, fazer bem feito



Bem feito, João!

Esqueceu de olhar para os rastros dos seus pés

Deixou de ver o que faziam suas mãos

O netinho do vovô, língua afiada pra papai e mamãe

Fazendo rascunhos de cartas, rascunhos de vida



Oxente, João!

Se enxergue, menino!

Mais tarde é Seu João



Mas esqueceram de avisar a essa criatura!

A vida é dura, muito mais do que uma festinha sem graça de comemoração

Sem graça e sem os braços de quem fora a sua extensão



Já chega, Seu João!

Quantos balões por sua boca estourados

Tanta melancolia e sincerocídio

Deprecídio



Sabe, Seu João

Aprender a ler e a falar nunca é em vão

Seu nome gravado numa pedra, na gaveta ou na terra

se preocupe não, todos verão

Tudo assim, sem métrica, sem rima

E talvez uma canção

Para aquelas sementes que um dia você fez brotar nesse chão.

   
(A fotografia é de Aureliano Nóbrega, capturada pela internet -  Poço Pelado - Pindobaçu - BA - Brasil)

domingo, 24 de janeiro de 2010

Ainda desejo...

Desejo, desejo... Ah! Infinito delírio chamado desejo!!! Abrir mão de quê, segurar pra quê... Há futilidade, vaidade, inveja. Há vidas vivendo bem diante de mim, cada uma com seus devidos desejos. Conversamos hoje, eu e P. sobre a origem do universo, aquele bum! tão imaginado pela humanidade. A antimatéria. Assistimos a um filme. Um cara na TV diz que a terra não vai esquentar, e sim resfriar. Aí nos olhamos interrogantes. Será... Claro que sim na minha cabeça também, mas agora. Penso que se mercúrio é tão quente, é lógico que a terra está resfriando, talvez ficando mais longe do sol, resfriando. Ihh! Pode virar plutão, sem núcleo incandescente! a morte certa. Vida sem antimatéria, sem combustão, sem núcleo desejante não há, não há.... a humanidade acha que sabe, talvez um meteoro venha e destrua tudo e não dê tempo nem de abrir a boca para dizer um ai. Ou esse ser que acha ser o topo de qualquer cadeia, engolido pela pressão do universo, pela grande distância do sol, por frio, gelo...

Bem, enquanto houver humanidade, faremos humanos, deixaremos nossa semente, como ele diz. Já tenho uma, mesmo sem saber se vou deixar ou ela vai me deixar. Ele quer mais uma, e continuo sem saber se vou deixá-la ou ela vai me deixar. Plantemos então. Plantemos porque o prazer vem de cultivar, não importa como é que veio, como chegou aqui e onde vai parar. Pode ser num BUM, num BANG, no GLUB, CRASH, PLAFT, ZUM... Quem sabe.

Até agora não aprendi a usar a interrogação aqui no teclado do meu computador. Mistério cômico ou obviedade demais. Sei onde está, mas não consigo usar. O universo para mim é mais ou menos assim. Às vezes cômico, mas quando procuro a interrogação.... vou saltar essa parte.

Enfim, deixarei isso aqui para ele, grande amor da minha vida com certeza, histórias cruzadas, entrelaçadas nas nossas memórias, no nosso dia a dia, nossos planos e nossas sementes: DESEJO CULTIVAR COM VOCÊ. UM BEIJO COM MUITO AMOR.


Temos um pug agora alegrando ainda mais o nosso lar.