domingo, 25 de fevereiro de 2018

Quando o mundo inteiro,
e se o mundo inteiro, olhar pra um espelho de mundo que não Marte... Para que tantas palavras se mal-estar? Para que tantos desejos?
Quando o mundo inteiro, e se o mundo inteiro, olhar pra um espelho de mundo do cão que vê e ladra, mas não morde, e se acostuma, e retrai a mira... Para que ser menino ou menina nesse mundo? Para que paga pau, bota pau, tira pau? Para que fila no banheiro?
Para que pagar horas?
Para que tanta ilusão?
Por que não as coisas mais simples da vida?
Eu sou péssima e ótima. Eu sou eclipses.
Eu sou mal-estar bem-me-quer.
Eu sinto quando doi no meu meio do peito.
Eu também sou você, ainda que não mire nesse espelho.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Na idade em que o mais coerente é esperar nada da vida. Nem musica, nem título, nem amigos. Ainda que nada não exista, até nesse não existir, esperar algo, alcançar algo, é nada. A morte é quem alivia a vida. Esperar nada é buscar algum alívio. Buscar nada também o é.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

É um rio sem direção desde que ele borrou o meu batom vermelho e nunca mais deixou. Deixa por alguns dias. Sempre volta. Até que a morte nos separe.
Quando vem a nuvem preta eu digo não quero viver nas sombras e ele vem correndo. Está tudo bagunçado mesmo a nuvem preta passageira descarregada. Vinte e quatro horas de nuvem passageira e um solitário no dedo indicador. Meteoro. Masturbação. Ilusão.
Eu tolero.
Tu toleras?
Ela tolera?

Nós toleramos.
Vós tolerais?
Elas toleram.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Quadro casamento rasgado

O elevador tinha paredes de vidro. O teto começou a ameaçar estilhaçar. Estilhaçou sobre a minha cabeça e a de mais algumas pessoas que lá estavam. Havia uma mulher grávida. Eu assumi a posição de organizar a saída segura das pessoas. Eu seria a última a sair, ordenei que a mulher grávida saísse primeiro. Estávamos cientes do perigo, porém havia discernimento nas ações. O teto caía vagarosamente, transparente, todos abaixavam-se cautelosamente e protegiam como podiam os olhos.
De repente, uma cena de amor e sexo. Muito real. Muito intensa.
Um dia isso vai passar. Esse mal estar por todo o meu corpo. Hoje estou num limite. Posso matar alguém.
É porque não tem você
Eu posso ser feliz com outros
É porque não tem você
Eu posso ser feliz
É porque você vem
E comunicação se mede por cada vinda sua
Você sempre vem
É porque eu acredito
Sou para ti uma princesa
É porque você é o príncipe que não pode ser
Por que é?
Você me chama de amor
E esse é um chamado
É porque sou sua princesa e amo você,
Meu príncipe que não pode ser
Bem quietinha aí onde está
Sentadinha
Não, não
Aqui não!
Silêncio, agora
Preciso falar de novo?
Onde está não pode distensionar
Sim, sim
Pode nada de onde você está
Há uma nuvem de lágrimas sobre os meus olhos

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Pensei que de tão quieto estivesse dormindo. Seus flatos me diziam algo. A simbiose afetada mais do que eu imaginei. Seu pescoço estrangulando por quase meia hora enquanto eu cantava uma música na língua inglesa. Seu pescoço estrangulando enquanto alguém que não eu lhe fazia carinho, lhe carregava no colo. Eu estava feliz porque cumpríamos a viagem em paz, mas nada estava em paz. Quando eu toquei no seu corpo quis estrangular o outro corpo, aquele que eu mesmo alimentei, aquele outro corpo que consentiu, corroborou, permaneceu na inércia de se colocar cego diante do outro. Fiz uma pergunta por indignação, afinal, meu Deus!, estávamos na cena de um crime sem intenção de matar? Eu corri saltando do carro, entre a porta e a porta do outro lado minhas pernas deram apenas um passo largo. E o vômito de não suportar mais tanta falta de tato. Tanta falta de acuidade visual. Tanta falta de intenção de matar.

sábado, 17 de fevereiro de 2018

Você tem que criar
Casca
Cascão
Por baixo há
A nova fórmula da água
Você tem que criar
A membrana é uma
Gelatina
Geleia
Geral
No buraco da casca do cascão entra e sai luz
Chacras
É muito buraco
Em um único cascão
Você tem que criar
Para para de doer
Coração
Você tem que parar de si
Abrir
Sabe como faz?
Para abrir e parar de jorrar
As luzinhas de tantos buracos
Arrefece
Bomba de gás
Lacrimogêneo
Quando tudo é tão pouco

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

É menino de vez. Vez pelo rabo. Não deu certo. Vez pra pagar a conta do almoço, ejaculou na comanda e enquanto digitava a senha do cartão. Eu perguntei se toda vez teria que ser assim, porque tem algo de errado nisso.
Chegou um homem alto, preto, cujo dedo mindinho todo era feito de metal ouro. O nome foi recalcado, mas havia uma certeza de algo errado. Ele queria matar? Estava armado e, todos em perigo, abri a porta do casarão pra polícia entrar e livrar todos. Não livrou. Deixou o homem ir. Por quê? Porque o homem alegou que não queria matar, queria apenas abrir algumas cabeças pra ver os cérebros vivos funcionando. A tensão fica para sempre no casarão. Há uma ala médica. No outro dia, eu senti minha cara molhada com gotas que caiam do telhado. Era sangue. Também molhava a cara de outra pessoa pra certificar que era sangue. O homem havia voltado? Aberto cabeças no sótão? O telhado estava encharcado de sangue. A policia de novo convocada. Eu buscando o meu carro pra ir embora. Nunca achei. Nunca acharam o homem. Vieram com uma crianca, uma menina no colo, estava ferida e o meu susto achava que ela estava morta. Só ferida. O casarão foi evacuado por ordem da polícia. O homem poderia estar em qualquer lugar. Ali inclusive. Ele estava naquela menina lá fora, debochando porque construíram um casarão ao lado e o seu plano iria continuar.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Na mania

Todo dia o cão pode
Morrer atropelado
Morrer envenenado
Morrer depois de uma briga
Todo dia ele corre
Some
Todo dia ele pode nunca mais voltar
Encontrei com uma moça
Vestida de preto na rua
De braços abertos
Dizendo bem alto
Você é o melhor cão do mundo

domingo, 11 de fevereiro de 2018

Baixe a cabeça
Um pouco mais
Mantenha o queixo alinhado ao chão
Alinhado quer dizer em uma mesma linha
Levante as vistas
Assim, olhe para o horizonte
Gire cento e oitenta graus
Pode girar trezentos e sessenta
Caminhe
Amigos são nomes de pessoas
Mãe também
Pai também
Só nomes
Siga

O cão dormindo balança o rabo
Parece alegria

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Minha cama cairá
Em breve deitarei na grama com o cachorro ao lado
Comendo o que ele comer
Bebendo da poça que ele encontrar
Às vezes numa roda de capoeira
Na roda sentada a cantar
Sem coleiras
Enforcador
Vamos andar pela cidade
Até a morte chegar
Ou de tanto frio
O coração parar

Rascunhos de rasgos cicatrizando

UMA BREVE ANÁLISE INSTITUCIONAL
 Instituição: psicanalítica
Vou falar da instituição psicanalítica. Falar sobre o que eu vivi nessa instituição chamadacConfraria dos Saberes, fundada no bairro de Ondina em Salvador no ano de 2006 pelos psicanalistaa Maria da Conceição Nobre e Eduardo Sande, egressos do Colégio de Psicanálise da Bahia. Trata-se de uma composição de análise institucional sobre a formação do psicanalista no Brasil..
De que vale um diploma de formação psicanalítica e a exigência do nível superior para oo exercíci do ofício? A biografia de uma das mais importantes psicanalistas pós-freudianas, Melanie Klein (1882-
1960), informa que ela “chegou a estudar arte e história na Universidade de Viena, mas não chegou a graduar-se”. Fez análise com Ferenczi, discípulo direto de Freud e fundou sua escola de psicanalise em Londres. Caminhando no que eu tenho construído como a minha linha
freudiana do tempo aparece, após Klein, o psicanalista argentino com formação kleiniana, Emilio Rodrigué. Residindo na Bahia, escreveu a biografia de Freud em três volumes publicada aqui no Brasil pela editora Escuta em 1995 – Sigmund Freud, O Século da Psicanálise (1895-1995), contribuindo à psicanalise local na formação de muitos psicanalistas, tal como Maria da Conceição Nobre, sua analisanda e minha analista. Eu, graduanda em psicologia, sou uma psicanalista?
A história da psicanalise apresenta na biografia de importantes psicanalistas, o rompimento com a instituição psicanalítica, aliado a fatores que geram esse rompimento – a repetição destes casos merece ser destacada. Muitas vezes é um rompimento no campo teórico, como
assistimos na famosa história de Freud e Jung ou de Freud e Ferenczi, o primeiro deserdado ee est último diagnosticado como psicótico. Eu costumo dizer que Jung é um psicanalista e que Ferenczi, além de psicanalista é o verdadeiro príncipe herdeiro. Os mais contemporâneos
Jacques Lacan e Françoise Dolto também não escaparam da repetição, ambos rejeitados pela IPA (International Psychoanalytical Association).
O caminho na psicanálise é de cada um.
A instituição psicanalítica é um agrupamento de psicanalistas, que “estudam e discutem casos clínicos, pensam sobre a teoria, produzem trabalhos clínicos e teóricos e vivem no divã o método que pretendem utilizar” (SALEME, 2008, p. 103), formando novos psicanalistas - pessoas em análise que se dispõem a estudar a teoria e desenvolver a prática. Freud diz que
um psicanalista é aquele que faz análise e estuda a teoria. Eu também costumo dizer: a teoria é o chão da análise, é ela quem dá os calços para que o analisando se reconheça em seu processo, cujo trabalho consiste na flutuação do discurso atraindo novos significantes para a alteração do caminho de desejo do sujeito. Concordo com SALEME (2008, p.119): “O analistaana pode compreender os conceitos psicanalíticos se puder reconhecê-los em si próprios”. Portanto o saber da teoria psicanalítica está intrinsicamente aliado à análise, e não há teoria psicanalítica sem a clínica psicanalítica. No Brasil. hoje existem instituições psicanalíticas emitindo diploma de formação de psicanalista. Um papel assinado por uma instituição psicanalítica reconhecendo a existência de
um psicanalista é o que faz um psicanalista? Um psicanalista no Brasil precisa somente ter nível superior para exercer o ofício, conforme a Classificação Brasileira de Ocupações, emitida pelo Ministério do Trabalho (2010). O Projeto de
Lei Nº 3.944/2000, de autoria de Eber Silva, versa em seu capítulo IV que quem fiscalizará e registrará as entidades serão os Conselhos Federal e Estadual de Medicina. O Projeto de Lei foi rejeitado por unanimidade pela Comissão de Seguridade Social e Família nesse mesmo ano e
está arquivado. O artigo de BALEEIRO apresenta um apanhado da mobilização nacional,desvelando que há um interesse da Sociedade Psicanalítica Ortodoxa do Brasil (uma sociedadesocied de direito privado) em ser pioneira na regulamentação da psicanálise. Segundo a autora:
“De qualquer maneira os grupos que atuam em psicanálise
começaram a se incomodar.
Nos parece que o projeto retira ursos das cavernas, mexe com
vaidades, une facções,
promove discussões.” (BALEEIRO, 2001)
Eu, diplomada em nível médio profissionalizante desde 2000, sou uma psicanalista.
Passei a ser membro da Confraria dos Saberes em 2006. Fiz análise com Maria da Conceição
Nobre e por ela fui convidada a ingressar no grupo. Leituras, roda de discussões, eventos
filosóficos, estatuto de formação de psicanalise, atendimentos, testagens de inovações
técnicas tal qual dispositivo nomeado como “mundofreudiano”, apresentação de casos
clínicos, coordenação de grupos de estudos – fui instituída psicanalista por mim e pelos meus
pares dentro de uma organização.
Porém a normopatia esteve lá. Este termo foi encontrado em minha leitura do livro de Maria
Helena Saleme, cujo título é “a normopatia na formação do analista”, publicado em São Paulo
pela editora Escuta, em 2008, com prefácio de Joel Birman. Ao trazer sobre as repetições
sintomáticas dentro da instituição psicanalítica, esclareceu-me sobre os entraves vividos na
minha formação até a minha saída da organização em 2015, com condução às reflexões sobre
a instituição – a hipótese da autora “é de que as formações psicanalíticas inserem o analista
em formação em uma montagem perversa que transforma a criatividade em normopatia”
(p.105)
Quando da criatividade, não atende mais à instituição o formando. A autora traz que a
alteridade é posta de lado dentro da instituição pelo jogo de poder, impedindo a criação, o que
me leva a supor que isso se refere não somente ao “enrijecimento da teoria psicanalítica e o
advento das instituições psicanalíticas” (p.103), mas também a questões de extimidade
(conteúdos do setting analítico que vazam para o ambiente externo) e contratransferência (manifestação do inconsciente na análise) na instituição, haja vista que os psicanalistas em
formação geralmente são atendidos por psicanalistas do próprio grupo. Então há um convívio.
Eu o vivi até por sete anos dentro da instituição.
“A psicanálise não é uma questão de ensino e sim de
‘transmissão’. A transmissão da psicanálise se passa pela
identificação com a postura ética de outros analistas. A teoria
está escrita, alguém pode conhecer todos os livros escritos sobre o
assunto e não será, por isso, um psicanalista. A psicanálise possui
uma ética e uma liberdade de pensar que se contamina e é
transmitida na convivência com o psicanalista quando ele mostra
como ouve e como se posiciona frente às questões. A transmissão
se dá no contágio. É por isso que o aumento de regulamentos e de
critérios burocráticos não traz garantia nenhuma. Ao contrário
(...) transmite algo diverso do que se poderia chamar psicanálise.”
(SALEME, 2008, p. 103)
Atravessar as questões de uma instituição psicanalítica requer um debruçamento sobre o que
é um psicanalista, passando pelo entendimento de que um psicanalista se faz psicanalista no
divã, no encontro com o seu desejo, manifestando a sua singularidade, a sua arte, a sua
política, perfazendo caminho pelo chão da teoria freudiana.
“Justamente porque a falta-a-ser, que coloca o sujeito em
movimento de transformação no decurso da própria análise,
muito provavelmente, o colocará assumindo possíveis autorias
reflexivas e técnicas a partir de suas flutuações, abrindo “chãos”
tão singulares quanto seu próprio percurso como analisante, ou
seja, novas perspectivas teóricas e testagens práticas, como
ocorreu com os já citados Jung e Ferenczi. Sendo assim, a
psicanálise estaria muito mais para apoiar a falta-a-ser do sujeito,
pela via de sua criatividade, do que seu encerramento, comum
aos processos institucionalizantes, os quais tantas vezes tem
ocorrido, a efeito do enrijecimento normopático.” (EDUARDO
ROSA, 2016)1
 Entendo que essa análise coloca a própria psicanálise em questão.
Docente em Produção Cênica / ITEGO em Artes Basileu França
Psicólogo Clínico / Psicanálise
Life Coach / Membro da Sociedade Latino Americana de Coaching - SLAC
Doutorando em Artes Cênicas / PhD Candidate in Performing Arts
Universidade Federal da Bahia / Middlesex University London

Referências:
SALEME, Maria Helena. A normopatia na formação do analista. São Paulo: Escuta, 2008.
FREUD, Sigmund. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund
Freud. Rio de Janeiro: IMAGO, 2006.
BRASIL, Ministério do Trabalho e Emprego. Classificação Brasileira de Ocupações: CBP, 3ª ed.
Brasília: MET, SPPE, 2010.
BALEEIRO, Maria Clarice. Sobre a regulamentação da psicanálise. Trabalho apresentado na XIII
Jornada do Círculo Psicanalítico da Bahia, novembro de 2001.
Biografia de Melanie Klein encontrada em: http://febrapsi.org.br/biografias/melanie-klein/

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Sou apenas um bicho de mangue. Fica ali entre a terra e o mar e se move com dificuldade. É bom manter a distância. Eu nem sei o que é o amor.

domingo, 4 de fevereiro de 2018

Ela acredita em seus casamentos

Quero sonhar com você

Amor
Acabei de despertar depois de um sonho bom. Eu estava em algum lugar de floresta, era como se eu fosse uma visitante. Um lugar de treinamento daqueles homens de guerrilha. Parecia uma volta ao tempo. Lá havia outras mulheres, eu ficaria no grupo delas, mas havia o homem lá, especial, era o meu homem. E eu me despedia dele pra ele ir pra floresta treinar e, enquanto eu desenvolvia minhas atividades, esperava ele retornar. Era uma atmosfera de muito amor entre nós dois.
O tom da pele dele era igual ao seu, as pernas fortes, parecidas com a suas, o que eu sentia perto dele, ao falar com ele... Tudo muito parecido. Muita paz, alto astral e desejo.

sábado, 3 de fevereiro de 2018

É um tipo de pele que sai andando por aí
Um tipo de pele recobrindo um quebra-cabeça transfigurado
Curvas, reentrâncias, corrugações, alucinações
De pele pela boca sempre ferida
Casquinha arrancada
Como um docinho que é mexido
Da pele
Rasga
A pele
E a boca continua lá