quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Falta pouco para assumir a minha casa de vez. Minha casa, conforme a interpretação psicanalítica dos sonhos, quer dizer eu mesma. O sonho nada mais é que o próprio sonhador e sua realização de desejo, lugar do inconsciente sem repressões, nem recalques, nem moral. Lá é possível reunir impressões fixadas durante o dia, mixá-las com recordações carregadas de afeto da infância, com nossa imaginação e simbolismo.
Minha casa sou eu e o que escolho fazer parte de mim, onde e com quem eu quero estar, bem-estar. Saio de mim narcísica, chego em mim livre, amando e trabalhando. Conseguirei fazer várias coisas ao mesmo tempo - o mundo é assim. Meus processos de mudança acontecem lentamente, eu teimo em justificar. Mas preciso andar logo, tratar de viver. "Tem gente que pensa que a vida não acaba.." , disse minha filha. Era eu essa pessoa.

Vou buscar um guitarrista. Alguém indica?

terça-feira, 28 de setembro de 2010



Resistência, repetição
Pouca elaboração

Ai, meu coração!

Saudade que não sai de mim
Trabalho que parece não ter fim

Esse amor de se dar
sem machucar
a me espelhar

Sua voz melodiosa supõe saber de mim
Sua voz grave e misteriosa desvela-me
Sua voz através de mim

Ai, esta canção!

E agora que eu já caminhei?
E agora que aqui cheguei?
Prefiro não saber que lá sei.



Coisa difícil está escrever... Tenho sentido medo do que penso que sei, sentido medo desse patrimônio alcançado pelo meu trabalho de viver. E quem disse que essa que escreve sou eu? Essa deve ser eu contando histórias de mim! Histórias através do ego. O ego mente. Minhas verdades tendem a mudar de figura constantemente. Ouvi hoje que estou binária, ou sou isso, ou sou aquilo. Eu disse que não estou conseguindo fazer várias coisas ao mesmo tempo, eu disse! É possível até pensar em várias coisas ao mesmo tempo, mas esses útlimos dias estou querendo sair de mim narcísica. Deixa...

Não me lembre das coisas que eu sei, das coisas que eu penso que sei. Eu sei, e é só pra mim, porque meu saber é meu, de mais ninguém. Alguém pode simplesmente dizer "você não sabe". Mas no inconsciente a negativa deixa de existir. Então, sempre saberei lá, em algum lugar, no meu "sei lá".

Quero continuar amante do meu marido companheiro das nossas horas, pai da minha filha, dono dos meus cachorros. Arrumar, cozinhar, mexer com as plantas no quintal. Isso me faz bem... Planejar, sonhar, concretizar. Deixa eu viver uns dias sem contato com essa minha angústia de viver e morrer, encontrar o real sem avisos, deixar que ele me invada inescrupulosamente.

Chegar ao final da semana com aquele cansaço gostoso e comemorar a sexta-feira, porque amanhã é sábado e não preciso acordar cedo e partir para a gaiola inflamável. Mesmo que desperte com todos os raios entrando no quarto ainda sem cortinas. Ficar até altas horas conversando, comendo, amando. Já não mais fumando. Evolucionando!

Fazer esse buraco infindo no que falta a ser? Cavar, cavar, cavar, cavar. Deixa eu desapegar de mim, fazer de mim instrumento, não o centro. Não, não, estou aprendendo, você que não vê. Eu não sei descrever tudo o que sinto, não sei explicar as impressões que vejo. Não sabia como dizer da babá imprestável para meu sobrinho até se confirmar através do discurso de outrem. Eu vi, eu impressionei, eu falei de um jeito que não soube dizer direito. Mas tentei...

Será que é isso? Tentar, tentar, tentat, cavar ,cavar, faltar, faltar, desejar? O que eu não sei dizer hoje para você, talvez amanhã eu diga. Talvez essa minha necessidade de dizer que te amo demais passe, porque eu sei que vai passar. Dizer desse meu medo de que você morra, justificar meu afastamento insano, mortífero, para me defender dessa dor de um sumiço real seu na minha vida. Será que |Freud realmente explica? Então cadê esse caminho? Suponho que você saiba... Choro com essa agonia de querer dizer que sem você eu me sinto frágil, mas eu aguento seguir. É assim que tem que ser, forte? Então eu sou sem você. Deixe-me ir... Quando esse trabalho termina? Eu posso amar e trabalhar? Eu posso duvidar? Eu ... eu posso endoidar?????

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

REC

 TUDO NOVO DE NOVO
(Paulino Moska)

Vamos começar
Colocando um ponto final
Pelo menos já é um sinal
De que tudo na vida tem fim

Vamos acordar
Hoje tem um sol diferente no céu
Gargalhando no seu carrossel
Gritando nada é tão triste assim

É tudo novo de novo
Vamos nos jogar onde já caímos
Tudo novo de novo
Vamos mergulhar do alto onde subimos

Vamos celebrar
Nossa própria maneira de ser
Essa luz que acabou de nascer
Quando aquela de trás apagou

E vamos terminar
Inventando uma nova canção
Nem que seja uma outra versão
Pra tentar entender que acabou

Mas é tudo novo de novo
Vamos nos jogar onde já caímos
Tudo novo de novo
Vamos mergulhar do alto onde subimos


Paulinho Moska eu conheci desde criança, com o grupo Inimigos do Rei. Meus primos tinham o LP, e a gente ouvia muito as músicas de sucesso como "Uma Barata Chamada Kafka" (encontrei uma barata na cozinha, eu olhei pra ela, ela olhou pra mim, ofereci a ela um pedaço de pudim... perguntei se ela gostava dos Beatles, perguntei se ela era de escorpião...) e "Adelaide" (Adelaide, ô, minha anã paraguaia..). Estou me divertindo com as lembranças.

Minha infância foi muito rica de música por todos os lados, por todos os laços familiares. Conheci Jackson do Pandeiro através de meu avô João (convidei a cumade Sebastiana pra dançar um xaxado na Paraíba..). Ele cantava o tempo inteiro. Os encontros e festas familiares sempre foram cheios de música, produzida ao vivo. Microfones, teclado, percussão, alguém tocando violão, samba de roda de Santo Amaro, teatro, coreografias. Uma tia no teclado, outros tios a cantar, batucar, dançar. Como esquecer da lambada? rsrsrs Meu pai e minha mãe ouviam música em casa, sempre, que variava de Julio Ilgesias à Bob Marley, de uma orquestra à Jovem Guarda. A rádio Educadora sintonizada por eles fez parte da minha educação. Meu primeiro contato marcante com Caetano Veloso foi através de um vinil do disco Totalmente Demais Ao Vivo que minha irmã mais velha, filha de minha mãe, encontrou na casa de minha avó e, sentadas na rede, cantarolou O Quereres, e eu quis ouvir o resto do disco inteiro, a discografia inteira desse cara que se tornou meu ídolo na adolescência.

Transamérica, Globo... Eu ouvia rádio! Não se ouve mais rádio como antigamente!!! Agora tudo está num pen drive! Lembro que colocava a fita cassete no som, deixava o "rec" no ponto e corria pra destravar a tecla "pause" na hora que tocava aquela música que eu tanto queria... Aí partia para aprender a letra, fita pra trás, fica pra frente, caneta pra rebobinar, papel, caneta. Uma, duas, três, quantas vezes necessárias para eu aprender a cantar a letra da música. Não tinha dinheiro para comprar o disco nem a fita. Lembro quando meu pai chegou do trabalho, num dia da minha infância, com alguns LPs. Parece que tínhamos que escolher, cada uma um para si. Gostos distintos! Não lembro as alternativas, mas eu escolhi certeiramente, o de Madonna, Like a Prayer. Como até hoje faço, colocava para tocar as músicas preferidas, mil vezes, toda a paciência com aquela agulha a encostar no disco exatamente na música que eu queria....

Diferente, muito diferente o som de um LP para o som de um CD. Achei que só eu tinha essa opinião até assistir a uma entrevista no Jó Soares com duas pessoas que defendiam isso e que levaram até o palco esta diferenciação.

Guardei meus discos de Caetano. Um dia talvez possa ouví-los novamente.







terça-feira, 21 de setembro de 2010

Pisando no chão

A música me salva das ruas sujas dessa cidade
Dos ruídos estridentes do trânsito, dos vendedores ambulantes
Retira de mim essa angústia de andar calada


Com a música trago palavras alheias cantadas
Transcrevo  em alguma melodia o que eu não diria
O que eu não faria 

Retira os maus cheiros, retira os meus medos
Converte meu fôlego 
Em algo que eu não pego, nem vejo, mas desejo


Faz tempo não caminho pelas ruas de Salvador, faz tempo não caminhos pelas ruas. Ontem senti vontade de chorar por deparar com o lixo espalhado por todos os lugares onde eupassava, pela poluição sonora, pela insegurança de não saber onde se localizam agora os pontos de ônibus. Sem bom humor ontem. Sembom humor hoje. Salvaodr está feia. Os shoppings estão limpos, os restaurantes, os teatros. Mas as ruas... O que faz o povo dessa cidade? Joga lixo por onde passa, faz de cada esquina o sanitário da sua casa, lança entulhos por terrenos abandonados. Papel, plástico, comida, ruídos, poeira. Salvador para mim está muito feia.

Pensei no meu enclausuramento no pólo petroquímico, tudo limpinho, faixas de segurança devidamente respeitadas. Pensei em dois anos sem precisar pegar um ónibus coletivo, meu marido com sua dedicação um tanto exagerada de me transportar para todos os lugares, dizendo "por mim você não pisaria no chão"! Não, não! Tenho que pisar no chão sim!!! Não se vive no planeta chamado terra sem pisar no chão!

Eu chorei ontem caminhando pelas ruas, dentro dos ônibus coletivos, como uma menina perdida, abandonada, que não sabia voltar para casa. Como um passarinho que foi obrigado a sair da gaiola. Da avenida Garibaldi, só soube ir até o Campo Grande. De lá, tive que fazer um esforço enorme para relembrar os caminhos da cidade. Enxuguei minhas lágrimas, engoli meu choro. Meus pés tocavam o chão com as pontas dos dedos, que nem uma bailarina, porque não suportei sentir os impactos dos buracos, não queria fazer mais zoada do que já estava ouvindo. Entrei num outro ônibus e retirei um livro da bolsa. Depois acendi o meu sinal amarelo: não posso esquecer de onde estou. Guardei o livro, peguei o batom, passei nos meus lábios sem olhar no espelho. Para quê o batom? Sei lá! Não queria desaparecer entre tantos talvez... Logo a avenida Contorno e sua vista esplêndida. Queria aquele pedaço de mar sem aqueles barcos todos atracados, sem aquela marina contruída, poluindo aquele pedaço de mar da baía. Eu quis ficar sem chão, flutuar até o meu destino, não correr perigos reais. Passei pelo Comércio, depois pela Calçada, onde eu procurei os velhos trilhos de trem e os encontrei. Eu quis aquela rua limpa, sem vendedores ambulantes, sem gritos irritantes.

Dentro do ônibus fazendo o meu caminho, aquele caminh necessário, fiquei cantando para mim mesma... "Que nobreza você tem, que seus lábios são reais, que seus olhos vão além, que uma noite faz o bem e nunca mais.." Agora estou aqui escrevendo da minha estação de trabalho, nessa gaiola asseada mas inflamável, com um colega ao lado que parece não ter ouvido o meu alerta quando cheguei - estou irritada e para pouca conversa.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Ludo Real

(Chico Buarque/Vinicius Cantuária)


Que nobreza você tem

Que seus lábios são reais

Que seus olhos vão além

Que uma noite faz o bem

E nunca mais



Que salta de sonho em sonho

E não quebra telha

Que passa através do amor

E não se atrapalha

Que cruza o rio

E não se molha



Ê, ê, ê andaia

A lua ê, a lua ê

andaia



Ê, ê, ê andaia

A lua ê, a lua ê

andaia

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Vida é que nem água

Já não sei a quem eu ouço
Meu coração ou minha razão
E se tudo for só imaginação?

Fico louca ou fico sã
Abstinente ou onipotente ...

Vida é que nem água
É um, dois, três
Fluida, quente, gelada
Empedrada
Evaporada

Qual as ondas, espumante, revoltante
Faz borda como margens de algum rio
Transborda
Leva o que encontra no caminho
Vai e vem, vai e vem

Às vezes fico com minha razão
Batendo o meu coração
Fujo para a imaginação

E se a razão vem do outro
O que eu faço então?
Me transformo em água
Pra tocar meu coração



Fiquei pensando muito na minha análise, no que eu vejo, penso que vejo, e lá descrevo como minha verdade. Mas é a minha verdade! O único problema é que eu duvido até da minha verdade.

Pensei numa trindade. Talvez porque tenha lido algo sobre a santíssima trindade, mas nada com o espírito santo, deus e jesus. (Olha a minha negativa!) Em psicanálise, o não às vezes quer dizer sim no inconsciente, ou o não pode ser só não - um charuto pode ser só um charuto! Pensei no três. No três, não escrevi errado. Eu, minha analista na relação transferencial, e o mundo, e o Outro. Será que na teoria psicanalítica o analista é o Outro? Tratarei dessa questão amanhã. Porque se não for, há de existir o três em alguém, em todos. Por isso, eu penso, Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo. Jesus de besta não tinha qualquer coisa! A criatura dividiu o mundo todo, dividiu todos os espaços, fez todo mundo duvidar. Quase todo o mundo. O povo oriental tem particularidadess. Ai vem Freud... vixe! Comparação? Sim, eu tenho o direito, oxente! Pensadores, desbravadores, interrogadores, desveladores, conhecedores dessa espécie tão cheia de mistério que é o homem. Freud marcou o seu espaço. Era judeu e duvidou. Fez transferência e contra-transferência com os mais variados pensamentos. Poucos sentem, mas quem conhece a teoria freudiana, sabe que este senhor marcou o mundo também. Muitos dos que fazem a hitória da psicologia nasceram de suas reuniões das quartas-feiras em sua casa... Só que a sala de Jesus era a rua, os seus seguidores, contadores de suas histórias, foram os que formularam as narrativas.

Sim, mas voltando para a trindade. Começo a pensar seriamente nisso. Queria levar o meu marido para minha sessão. Minhas descrições são minhas. Meu coração (figurando aquilo que eu não consigo dar conta, mas somente intuir talvez) fala diferente. Minha razão está subordinada ao meu recalque, ao meu sintoma, à moral, à resistência, a minha imaginação! Meu coração está subordinado à quê? Ao que eu não consigo descrever do outro, mas sinto de alguma forma. O que chega a minha consciência dentro do setting analítico é o que se subordina somente a minha verdade, que eu constantemente duvido, porque a minha razão pertence somente a mim. E o outro? E minha analista? Minha analista é o outro eu, mas não é o outro Outro... será? Ainda fica a questão...

Não dá pra continuar o raciocínio ignorante à esta questão.

Eu estive lembrando de algo diferentemente disso para escrever e comecei a escrever o que se deu acima! Pensamento que não para. Vida é que nem água... .

Aos psicanalistas

"Notemos primeiramente que o pecado (..) é a ausência de comunicação. 
(...) Nem é preciso dizer que devemos preservar a identidade do outro. Se tomamos o seu lugar, onde é que ele poderá se colocar? Nós o faríamos desaparecer e, sob pretexto de ajudá-lo, assinaríamos o seu extermínio." (Françoise Dolto)

Sublinhar as palavras de um texto, nada mais é do que realçar aquilo que já se sabe. Ler e identificar-se com um texto o também é. Ninguém ensina alguma verdade a outro, a verdade está em cada um, nas impressões da infância, nas situações comuns da vida dentro de uma sociedade, dessa civilização. Por isso há a interpretação, por isso a psicanálise é tão interessante para mim.

Ganhei um marcador de livros de uma confrade que visitou o museu de Freud, e traz o seguinte:

"The poets and philosophers before me discovered the unconscious. What I discovered was the scientific method by wich the unconsious can be studied." (Sigmund Freud)

Interessante que ainda não havia citado qualquer coisa de Freud aqui neste blog... rsrsrs Esse senhor e sua teoria tornou-se tão interessante para mim quando iniciei a minha análise aos 22 anos, e não sabia ao menos o que era a psicanálise. Conheci os primeiro resultados desse aprendizado ao acesso do inconsciente. O primeiro livro de psicanálise que li foi a auto biografia de Françoise Dolto, cujos escritos eu busco acessar sempre, e sempre me traz bons esclarecimentos.

Então hoje eu escrevo em homenagem a cinco psicanalistas, esses dois supracitados e a mais três psicanalistas presentes na minha vida: Jacques Lacan, autor de uma releitura importantíssima da teoria freudiana e trouxe ao meu entendimento a questão do Real, do Imaginário e do Simbólico; Maria da Conceição Nobre, minha analista, a quem declaro minha paixão transferencial e dirijo meu agradecimento ao seu trabalho trazendo para mim uma possibilidade de reinventar a minha comunicação com o mundo a partir do que eu sou sem deixar de ser eu,  e a Emilio Rodrigué, analista da minha analista, cujo contato se deu e ainda se dá através da sua obra de biografia freudiana e quem eu tive o prazer de conhecer e estar sentada a seu lado, mesmo que na comemoração do seu último aniversário.

domingo, 12 de setembro de 2010

Amar é... (a maré!)

Olha o amor aí de novo!
Ele cai mas levanta
Equaliza
Sintoniza

Reconhece o cheiro dele...
Respira fundo e segue avante
Saltitante, palpitante
Desejante!

Olha o cacho de felicidade!
Cada momento aflorando, amadurecendo
Colheitas de prazer a qualquer tempo
Vivendo




Continuo pensando na questão de Deus. "Deus é amor", então se Deus é Real, o Real é amor. O imprevisível, o indizível, incompreensível. Não fui à sessão de análise essa semana, e fico pensando que quando me distancio um pouco a tendência é voltar a minha atenção para o espiritual. Só que no momento em que passo a entender essa lógica, penso que é possível trabalhar.

O amor é transferencial. Nem gosto muito de escrever definições, mas eu o entendo assim. Eu não tenho, o outro tem, não sabe que tem, eu quero, eu tenho o que o outro quer e não sei o que tenho... então vou dando o que não tenho, porque não sei que tenho, para o outro que me dá e também não sabe que tem, e queremos. Ficou difícil? Ficou não...rsrs!

SOU DE CARNE E OSSO E DEUS É REAL!

Para não esquecer a dose do remédio, estou aqui. Ainda com os quatro pontos distribuídos devidamente pelos meus dedos da mão esquerda, minha mão hábil. Hoje estou digitando ainda com alguma dificuldade.

Sintoma recorrente, já sabido. Ouço os ecos de Waltinho imitando o sotaque espanhol de Emilio Rodrigue interpretando sua repetição sintomática. Sim, e daí? Recordar. Repetir. Elaborar. Esse gozo sintomático onde eu circulo inconscientemente e conscientemente depois de repetido. Uma vez em análise, sempre em análise.

A verdade é que estou triste. Triste por saber que sei e não saber agir. Triste com meus investimentos sem lucros, triste comigo, não com qualquer outro. Porque insisto em erros. E erros insistidos pelo amor, pelo  o que eu não tenho pra dar a quem não quer.  É meu espaço público aqui, eu posso. Aqui eu não preciso conviver com a falta, eu passo ao ato, eu deleto, eu leio, releio, apago ou conservo comentários. Estou triste, e choro. Não tenho vergonha de dizer. Ser humano chora, espirra, arrota, peida, se corta, tem um câncer. Menu sortido, para todos os gostos e sintomas. Para todos os gozos.

Estou finalizando a minha leitura de mais um livro de Françoise Dolto - A Fé à Luz da Psicanálise. Muitos, muitos comentários a fazer sobre ele, pois encontrei o que há em mim em muitos trechos. Com a leitura, tive o entendimento de que Deus é nada mais que o Real, nada mais do que acontece, do que se impõe, e o Imaginário não dá conta de imaginar, o desejo não dá conta de desejar, e o Simbólico não dá conta de simbolizar. Quão confortável me senti com a leitura, porque minhas dúvidas diante da existência ou não de um criador, de um soberano absoluto, estavam me incomodando. O exemplar chegou pelo correio tem algum tempo, e eu prorrogando para ler. Uma psicanalista falando de fé. Ela diz que acredita em Jesus. Eu também não desacredito. Consegue descrever a lógica das histórias recontadas e impressas (de impressão, de atenção sobre). Do que me serviu a leitura? Para organizar meus pensamentos sobre a questão que tanto me atormentava. Posso rezar para Deus, posso conversar com o Real, pedir para Ele pegar leve comigo, não me invadir tanto...! Aí lembrei uma musiquinha que diz assim: "Cristo é real, Cristo é real, ele voltará, voltará pra mim..." Algo assim. Gosto muito mesmo é daquela mais dançante: "Céus e terras passarão, mas a palavra não passará, não, não, não passará..." (Meu compadre eu sei que também gosta!rs).

Vejo muito da minha vida quando assisto aos filmes...

Oh! Todos sabem de mim?! Mocinha imbecil! Todos sabem de todos, porque a vida é uma repetição com a elaboração do sujeito amado, amando, amante, desejante, desejável mas com o importante detalhe da presença divina do REAL! (Isso dá um filme de terror com polilogias!)

Preciso dormir, preciso de paz. Estou vigilante demais.


CARNE E OSSO


Composição: Moska e Zélia Duncan



Alegria do pecado às vezes toma conta de mim


E é tão bom não ser divina


Me cobrir de humanidade me fascina


E me aproxima do céu






E eu gosto de estar na terra cada vez mais


Minha boca se abre e espera


O direito ainda que profano


Do mundo ser sempre mais humano






Perfeição demais me agita os instintos


Quem se diz muito perfeito


Na certa encontrou um jeito insosso


Pra não ser de carne e osso, pra não ser carne e osso





quinta-feira, 9 de setembro de 2010

A poesia congratulada

Espero q gostem, para quem não leu ainda....


A GAIOLA


(Mariana Magalhães)


Cantava meu curió e eu não sabia

Tristeza ou alegria?

Sonhava com o meu curió

A gaiola se abria

Ele de tão preso nem saía



Sofria meu curió

Cativeiro malvado tão amado

Bem pequeno e asseado

Cantava pra me ver acordar

Eu imitava meu curió

Mas o dedo nele eu não tocava



E por que , meu curió?

Sua água eu trocava,

seu alpiste eu assoprava,

casca de ovo eu limpava e pendurava

Assobiava quando eu passava

Mas de nada adiantava



Sonhava, meu curió?

algum passarinho o visitava

Mas seu sossego atormentava

Batia suas asas alvoroçadas



Eu desejava, meu curió

Tantas vezes sua gaiola eu deixava

Aberta a porta, escancarada

Pra ver só se você voava



Mas que nada, meu curió

Natureza condicionada

Por uma raça mal amada

desnaturada



Eu chorei, meu curió

Vi suas pálpebras inchadas

Suas asas agitadas

Mesmo com suas garras recuperadas



Eu sofri, meu curió

Sem escolha na sua estrada

Tanto tempo para nada

Morrer preso numa gaiola

Bem bonita, toda dourada

E de nada adiantava


Cadê????

cadê minha voz
minha mão esquerda
meu cabelo penteado
todo assanhado

cadê minha casa
meu quarto
meu cachorro,
meus sapatos
meus livros e retratos

cadê jesus
quem é deus
meus cabelos brancos
quem sou eu

cadê meu violão
a afinação
meu coração
o meu adeus

Cadê meu sol
Cadê o som
Minhas palavras
cadê aquele você
criatura encantada
Não enxergo
Mas nada

domingo, 5 de setembro de 2010

Querem saber?

http://www.formspring.me/Marismagalhaes

O que quiserem perguntar sem se identificar... acho isso interessante, pelo menos por enquanto. As Carol tendem a me atualizar dessas coisas!

Tenho livre arbítrio para respondê-las, vale ressaltar para quem não conhece o Formspring. rsrsrr

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Produção no ócio

Ontem encontrei Waltinho na Confraria dos Saberes e, no final do curso, ele à porta, me pergunta:
- Em que lugar você ficou lá, com a poesia?!
- Não fiquei nos primeiros lugares, mas a festa foi linda, fiquei somente entre as quinze classificadas...
- Marmelada! Quem era a banca julgadora?
- Não sei, não vi..
- Marmelada! Sua poesia com certeza foi a melhor! Garanto que não teve outra melhor que a sua!

Lindo, Waltinho! Cantor, compositor e poeta, contemporâneo da Confraria dos Saberes, um dos primeiros a elogiar a minha escrita flutuante. Mas para mim não importava realmente estar nos primeiros lugares ou ganhar o dinheiro por eles. Eu estava no lugar do meu desejo, com a minha cara limpa, com meus amores na plateia, com atores, poetas, músicos, meus pares naquela tarde tão inesquecível! E ainda: reencontrei meu professor de teatro lá, dirigindo a festa - Osvaldo! Não fui atriz no tempo de escola. E todas as vezes que precisei ser, tenho a certeza de que não o fiz bem. Minhas recordações prazerosas estavam no coreografar, no escrever, dirigir, no cenografar...

Lembro que Osvaldo solicitou uma tarefa de elaborar um classificador decorado para guardar sei lá o quê. Fui às revistas Veja de meu pai, folhear, recortar, criar. Minha irmã mais velha, filha de minha mãe, tinha chegado com a novidade de forrar cadernos com folhas de jornal e plastificar com papel contact. Copiei a ideia. Achei a fotografia de um microfone e outra de vários girassóis voltados de costas.. como posso descrever.... como se fossem uma plateia mirada por trás... (coisa difícil descrever!). Enfim, coloquei o microfone e os girasóis olhando para ele, colados na capa, com o jornal servindo de fundo. Entreguei o trabalho e, no dia dos comentários do professor, eu não compareci à aula. No outro dia, minha colega Danielle Almeida, veio cheia de felicidade e estupefatação repassar os comentários direcionados a minha arte. Osvaldo teria tecido muitos elogios, alegando que "isso sim que é arte!", diante dos demais classificadores, penso que não tão criativos diante de um comentário público deste! rsrsrs

Com 13 anos, marcando meu retorno ao Teresa de Lisieux depois de um ano no Colégio Adventista de Salvador (onde numa apresentação de ciências sobre répteis fiz uma colega levar o seu jabuti de estimação, causando alvoroço na sala, e depois numa demonstração sobre drogas, produzi saquinhos com bolinhas para as anfetaminas e farinha de trigo para cocaína, causando o mesmo resultado!), escrevi para o Festival de Crônicas. Minhas crônica foi a vencedora dentre as demais para representar a 7ª D no festival. A crônica trazia cenas durante uma viagem de ônibus coletivo em Salvador. Bolei a frente do ônibus com compensado em madeira, todos pintaram de azul, exatamente como era o ônibus que me conduzia à escola (extinta empresa TSS... Vários apuros!) e dirigi a peça. A escola tinha um teatro, muito bom, mas a nossa turma não foi congratulada, apesar de muitos risos arrancados da plateia, o que me gerou uma enorma satisfação. As outras turmas haviam contratado diretores para executar o trabalho o que, na minha opinião figiu do que seria uma produção genuína de alunos de sétima série.

E assim, várias apresentações se seguiram. Encontro das Nações, quando gravei numa fita a música de um cantor português para todas as meninas dançarem, inclusive eu, representando a Arábia. Mais uma vez sem o reconhecimento de uma produção de adolescentes.

No segundo grau, no CEFET, estudei com meu primo e compadre, Roquinho, e conheci minha amiga Pati-Beijo. Roquinho tinha estudado no Teresa também, já havia experimentado o teatro antes. Pati tocava piano, mente fértil, criativa. Trio de teatro! Fizemos assim muitas apresentações, estreando com um júri simulado, quando muita gente de outras turmas foram assistir. Lembro de Daniela Com (havia Daniela com gordura e sem gordura! rsrs) fazendo participação especial como escrivã e, à medida que se empolgava com a dramatização, ela batia cada vez mais rápido eforte nas teclas da máquina de escrever, como se, na condição de não poder rir, a máquina fizesse isso por ela! Roquinho era um viciado em anfetaminas, Pati a namorada, eu a médica que esclarecia ao júri todas as características do uso das bolinhas, além do restante da equipe. Escrever foi muito desgastante, porque acabei realizando a tarefa sozinha, e só evoluía mais rápido quando sentávamos juntos, eu , Roquinho e Patrícia. Até hoje tenho a peça comigo. Ao final acontecia um "você decide", a peça tinha dois veredictos, e o professor era um dos que faziam parte do júri, elogiando a minha participação por ter transmitido, no meu papel de médica, todo o conteúdo relevante do trabalho! Não poderia ficar para outra pessoa, né? Sou centralizadora para certas coisas, prefiro confiar em mim! Roquinho e Patrícia deram um show, como nas demais apresentações.

Eram trabalhos desgastantes, pois sempre me responsabilizava por escrever, criar, delegar. Mas eles faziam muito bem o que eu imaginava, e improvisavam como ninguém! Nada como bons atores.... Numa determinada apresentação, sobre a imigração italiana ao Brasil, escrevi uma peça que também foi um sucesso! Sucesso mesmo! Eu de redatora e diretora, Roquinho de locutor de rádio, Patrícia de italiana, e Gerson.. ah, Gerson! de italiano! Gerson foi o ator revelação! Ele não sabia dramatizar, mas o transformei num verdadeiro italiano, com ensaios exaustivos, dedicação e persistência minha, de Roquinho e Pati. Aprendemos a cantar Volare, inserimos palavras em italiano através de uma colega da escola que havia morado na Itália. Pesquisa de música, figurino. Flávia, minha comadre, aborreceu-se com minha postura de querer um bom resultado, como se eu estivesse exigindo dela. Lembro que Roquinho disse: "relaxe... ela não sabe como é teatro... teatro é assim mesmo..." Eu tinha parceiros bons, muito bons! Então Gerson fez tudo muito bem. Roquinho tinha que sair de um rádio gigante de papel, rasgando tudo e surpreendendo o público, - cena ensaiada exaustivamente, até ele sair como a minha imaginação tinha elaborado. Eu levava tudo muito a sério, como todas as coisas que me disponho a fazer até hoje...

Contaria muito mais histórias desse tempo bom... Com certeza retornarei com muito mais lembranças! Valeu relembrar tudo isso em meio ao ócio no qual me encontro aqui neste meu trabalho atual. Pelo menos não esqueço que fui , sou e sempre serei produtiva.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Um pouco sobre Toxicomania e Psicanálise

Estou lendo um livro chamado "ALCOOLISMO, DELINQUÊNCIA, TOXICOMANIA - Outra Forma de Gozar, com texto de autoria de Charlos Melman, psicanalista com formação acadêmica em medicina psiquiátrica. 
Resolvi postar uma pequena parte e dividir com quem possa interessar a minha leitura, visto que foi de grande proveito e não conseguiria descrever de forma tão didática e precisa sobre ela. Penso que selecionei trechos claros, fáceis de entender. É uma outra forma de enxergar a toxicomania, é um outro olhar, o olhar de outro lugar, da psicanálise...

 
“Assim, se o psicanalista se misturasse com a higiene mental e fosse interrogado sobre a questão de como responder à droga, já disse qual seria a minha resposta. Quanto mais se avança no terreno da proibição, quaisquer que sejam as penas, as forças policiais e outras que estão engajadas neste negócio, asseguro que tudo é absolutamente vão, já que essa proibição simplesmente participa do fenômeno. A droga não está contra a economia, está dentro desta economia. É por isso que ainda há pouco evoquei algumas formas de tratar o toxicômano e sustento completamente que esta seria a mais simples e a menos escandalosa e, seguramente, a mais engraçada; tratar-se-ia de dizer-lhe: “se realmente você deseja sair dessa, existem boas leituras, vire-se com isto; quando tiver lido, você decidirá; depois, faz o que quiser, se você deseja brincar de morrer, e mesmo morrer...”; pois, afinal, será que somos capazes de impedir alguém que quer? Conhecemos toda esta hipocrisia do nosso aparelho social que se apresenta como amante, como cheio de amor pelos membros da comunidade; sabemos qual é o lugar, qual é o valor desta hipocrisia. Em contrapartida, respeitar este descaminho já consiste em não tratar o toxicômano como um menor ou como um doente.

(…) Creio que os toxicômanos não vêm ao psicanalista porque encontram o remédio universal, a panaceia, e que então a questão para eles não é mais a de sua existência – que é a questão comum – mas simplesmente a de dispor deste remédio. Consideram que existe no jogo social um defeito e nisto eles têm toda razão. E é mesmo este defeito na organização que eles denunciam como doença, bem mais do que sua própria toxicomania. Ao contrário, eles estimam ter encontrado um meio mais preciso ,mais eficaz para... mas para o que exatamente? Que grande efeito podemos atribuir à droga? Seria tentado a dizer – se devêssemos supor aí um efeito geral – que é o efeito de aliviar a dor da existência. A droga é, sem dúvida, a melhor maneira de se desembaraçar, de apaziguar o que concerne à dor de existir.

(…) Agora, por que o toxicômano não se considera doente? (…) Trata-se, graças a este remédio, de aliviar-se da existência; teríamos mesmo vontade de dizer que o objeto do gozo do toxicômano é a morte, que ele consiste – mesmo que seja por eclipses – em desaparecer, em ausentar-se... e sabemos que quando retorna ao dia, quando reermege, isto não se faz sem um certo drama, pois neste momento o mundo lhe parece particularmente cinza e duro e, ele mesmo, bastante insuportável. Assim, se chegássemos a dizer que o toxicômano goza da morte - o que é aliás uma experiência muito antiga e que tem suas tradições (evoco aí a tradição cultural chinesa – seja confuciana ou budista – onde o ideal é justamente a suspensão da existência, com uma opiomania socialmente instalada), compreende-se perfeitamente que a noção mesma de doença e do que põe a vida em perigo possa estar ausente de sua lógica. É uma noção que pertence , para ele, à ideologia médica, mas está ausente de sua organização. É a razão pela qual o grande risco é que ele acabe indo até o fim.”

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Eu com os nomes (eu como os nomes!)

Histeria


Histéricas mentirosas

Histéricas narcisistas

Compulsivas

Bipolares

Impulsivas



Histéricas coloridas

Femininas, masculinas

Transcendentais

Cardíacas

Infantes

Sutis

Perversas

Sadomasoquistas

Depressivas

Hiperativas



Suicidas?



Invente um nome para ser produtiva!



H de homem

Humano

Histérica



Na histeria não há falta?

Tem jeito de viver com a falta

Não existe gente santa...
 
 
 
 
 
 
 
(Tela de Lucien Freud)