domingo, 30 de abril de 2017

o Menina baiana - claquete 37

O Menina baiana não põe fogo de longe. Ela se acha fogo que pode pegar de longe. Porque quer. Quer porque quer. Não tem jeito de baixar o fogo quando quer, porque quer. E já procurou muito pelas respostas, não pense que não. Será que é porque gosta de tapinha na cara? Por que não? Menina baiana tem tesão por existencialista ateu. Ele mexe comigo, ela diz, quando ele me chama de putinha. Ela diz que gosta. Diz que gosta quando ele diz quero. Deve ser porque quer. Quando diz. Menina baiana acende de salvador quando ele diz quero. Com o corpo que ele tem pra dar. A voz vem do corpo. Ela se toca. E só quer que ele toque. Quer porque quer.

o Menina baiana - claquete 36

Funk, funk, funk. Funk, funk, funk. Entrando pela janela. Um pagode meio funkeado. Pago-funk. Funk, funk, funk. A Música Popular Brasileira. Vocês parecem combinar em muitas coisas, não?

O MENINA: Eu quero escutar música baiana bem alto no carro na rua até às 22 horas. Depois dessa hora só o barulho do mar. Eu fico me perguntando como é que pode esse tipo de vontade nessas condições, mas não encontro resposta. Talvez porque faça parte de mim e vai aonde eu me direcionar. Você vai ver. Você sabia? Trem das cores foi feita pra Sônia Braga. Por isso tão linda. Encontrei ela no terreiro de mãe Stella catando lixo do chão. Olhei pro corpo de uma mulher, me senti atraída vendo Sônia Braga num filme na televisão. E fomos apresentadas. Sim, pensei que meu santo ia baixar. A música me invadiu de um jeito que eu tive que me controlar, eu me arrepiava toda sem parar. Enquanto tem gente querendo um bocado de coisas, outros nada.

o Menina baiana - claquete 35

CENA: Muito contato com o real


O MENINA: Há o inconsciente, porque​ há memória. Freud fala: reminiscências. A gente tem que​ lembrar como andar, comer, falar e o que aconteceu ontem pra cumprir a tarefa do dia seguinte. Isso é realmente efeito da civilização, com o adestramento. Quanto menos alienado, menos inconsciente. Aí pode apenas existir. Digo pode porque nesse mundo é tudo uma questão de poder, relação de poder, como diz Foucault. Só que nesse caso, de apenas existir, é poder consigo. Me sinto como Neruda no filme. Fazendo roteiro o tempo todo.

o Menina baiana - claquete 34

CENA: Patrimônio


O MENINA: A única coisa que estou planejando é meu próximo show. Mais nada. O resto é pensamento solto. Acabou um monte de coisas pra mim nessa vida.

O AMIGA: Recomeçar....Todo dia. Olha eu!

O MENINA: Acredito em pouquíssimas.

O AMIGA: Recomeçando ávida toda.

O MENINA: Ao menos eu não precisei mudar meus móveis de casa, mas estou beirando a morte, saindo dessa fase agora, com certeza serei mais forte. E mais velha.

O AMIGA: Quantas mortes dessa você​ tem num ano?

O MENINA: Vixe... Boa pergunta. Eu sou péssima em matemática. Não muitas, mas sempre são muito dolorosas. Pra eu matar e morrer é doloroso. E amigos que me matam de um jeito e acham que ainda são meus amigos é pior ainda.

O AMIGA: Você mata e morre que graça tem? Tem que matar e viver.

 O MENINA: Parece que acontece de matar e viver, mas só depois. Porque vira "patrimônio".

O AMIGA: Muito complexo para meu entendimento.

O MENINA: Que psicologia você​ tá fazendo hein? O cara te dando aula é você​, porque​ todos os personagens são o sonhador. Você quer escutar a minha voz? Eu sou escritora!
Eu escrevo mesmo antes de ir à escola. Acho que os homens não gostam de mulher apaixonadinha.Ou gostam mas por vaidade.

O AMIGA: "vai deixando a gente pra outra hora... Quando se der conta já passou"

O MENINA: Eu cantando. É o único jeito. Quero que leia meu material de novo. Pode ler? Minha justificativa. Acho que escrevi muito. Se não puder hoje, depois. Estou lendo Simone de Beauvoir e acho que sou gay.

sábado, 29 de abril de 2017

o Menina baiana - claquete 33

CENA: Pra qualquer um

O MENINA: Acho que estou atravessando a morte agora. A amizade quando acaba é ruim. Eu devo ser muito boba então. Mas enquanto eu enxergue sentimento, eu estarei perto de quem eu gosto. Eu dizer: sinto saudades. E a outra pessoa dizer: eu também sinto. Acho que tem algo muito maior do que o que é genital. É saudade de estar na presença. Amar é acompanhar. Estar perto de algum jeito. Eu acho. Porque a vida é essa solidão mesmo. Eu choro de soluçar toda vez que tenho que me despedir até hoje. A cartomante disse que ele viria. Ele está vindo. E eu estou aprendendo a atravessar o dilacerante que há em minhas paixões. Quando eu gosto, eu gosto. Veja: [pega o celular e mira a tela] "Vc é muito linda. Inteligente e bem resolvida. É o tipo de mulher que qualquer homem casaria. Sua personalidade é rara. Você é única e seu valor é insubstituível. Tem carisma único e um sorriso que enche qualquer lugar de cor. Era pra você tá casada e bem casada. Você deu mole. Ia te dar uma luz espiritual.Tenho vidência da vida alheia. Na minha não vejo nada. Se for casada comigo, todo dia tem um homem diferente na cama. O problema é aguentar o ritmo. Sou quase ninfomaníaco.Tu guenta? Bora casar? Casamento moderno, cada um na sua casa. Paixão é do corpo. Amor é da alma. As pessoas não​ nascem prontas, elas se encaixam.Bem assim." Viu? Sou um fetiche. Pra qualquer um?

sexta-feira, 28 de abril de 2017

o Menina baiana - claquete 32

CENA: You don't know me

O MENINA: Uma vontaaaade de lhe chamar de amor... Meu amor... Diga, amor. Vamos, amor. Sim, amor. Oi, amor. Não, amor. Ai, amor. 


"Não tem problema, quê que eu vou dizer, não tem problema, quanto mais amor mais vale a pena outros temas" (Carlinhos Cor das Águas)

o Menina baiana - claquete 31

CENA: Greve geral

A QUERENTE: Posso te ligar? Posso? Tá chateada comigo? [pausa] Não entendi. Beleza então. [pausa] Não vai falar? [pausa] Esse é o seu problema. Não me quer mais?

O MENINA: Você desconhece os meus problemas. 

A QUERENTE: Diga.

O MENINA: Eles nunca passaram pelo sexo, inclusive.

A QUERENTE: Não me quer nunca mais?

O MENINA: Te querer?


"Eu, tu e todos no mundo tememos por nosso futuro, ET e todos os santos valei-nos, livrai-nos desse tempo escuro, lá lá lá lá lá lá lá" (Gilberto Gil)

o Menina baiana - claquete 30

CENA: Uma criança que não precisa ser ninada pra dormir 

O MENINA:  Viver é igualzinho a caminhar dentro da água. Se maré vazante, anda mais leve, se maré cheia, as pernas pesam mais, se esforçam mais. Quando eu digo que nada não existe... É isso. É rede porque é maré! Aí inventaram o amor. Que bobagem... O outro nunca está lá onde a gente alcança. É só a gente que vai. Vai só. Só miragem é o que há. Por isso é bom olhar para si. Ser em si. A consciência de si. O outro é o outro. Ele aparece nas relações, nos encontros. Coisa difícil é encontrar o outro. Por isso outros. Mas só um. Além de mim, só um. Acho que estou vendo uma folha verde ainda enrolada em si e de tão recém nascida.  É macia como a pele de um bebê e frágil também. Essa folha brota de mim e faz seus esforços pra desenrolar-se. É uma folha só. Ainda. Vou deixar a justificativa do tamanho que está. Quem quiser ler vai ler ou então vai do release aos outros dados. É lá onde estou dizendo quem eu sou, a obra é isso. Sou eu. Eu vou indo comigo. Quem quiser que leia. Esse meu fazer é o meu desejo de desejo.




quinta-feira, 27 de abril de 2017

o Menina baiana - claquete 29

CENA: Outro dia só existe pra quem dorme.

O MENINA: Meus ouvidos estão cada vez mais sensíveis. O único barulho que eu não posso dar jeito é o que faz a água batendo nas pedras quando é enchente. Ou vou pra bem longe dele, lugar onde eu não viveria muito bem porque seria ficar longe de mim. Do outro lado está a África se eu o atravessar. Mas isso não é preciso porque já a trouxeram de lá e a prova disso é que eu estou aqui. A "negra", como a irmãzinha chamava. Pra ela, dá boca dela, o meu nariz não era nariz, e sim"ventas". Isso porque ela se enxergava no espelho de não sei onde, porque é filha de preto, neta de preto, bisneta de preto, preto da saúde.  Eu acreditava quando ela cantava pra mim "ovelha negra da família"... Talvez porque meu sonho nunca tenha sido uma família, ou porque eu não gostava de brincar de bonecas ou colecionar papéis de carta. Ou porque aprendi a ler sem ir pra escola, ou porque eu fui "inútil", "irresponsável", "irritante" porque disse a ela que quem era a mulher do pai dela não era nem eu nem ela. [gargalha alto e canta alto] "Ah! Bruta flor do querer! Ah! Bruta flor, bruta flor!" [gargalha] Eu sei lá o que ela queria de mim que eu nunca tive pra dar. Tem gente que é assim. Um bocado de gente é assim. Às vezes eu sou assim, ondina ciumenta. Entretanto, en-tre-tan-to, eu escuto ceu. Eu amo, eu amo, eu amo, eu amo... Será que um dia farei um disco que eu goste de escutar? Eu canto, eu canto, eu canto... Venha ouvir a ovelha negra de ouvidos sensíveis! Fale baixo. Fale bem baixo. Fique calada. Caladinha. Escute. Meu disco.


"Que Deus entendeu de dar toda magia, pro bem, pro mal, primeiro chão na Bahia, primeiro carnaval, primeiro Pelourinho também, que Deus deu" (Gilberto Gil)

o Menina baiana - claquete 28

CENA: Insone

O  MENINA: Duas horas e cinquenta e um minutos na capital baiana. Tô nauseada. Insone. Não sei se o barulho que esse mar faz está me acalentando ou perturbando. Já desisti de escrever, desisti de escutar música... Eu tô quase desistindo de um monte de coisas. As pessoas só querem  o excesso do que é belo. Aí elas riem. Se lavam de belo. Ah... do que é esdrúxulo não.. do que é grotesco...mais grotesco do que a mim, nauseada... Ah...eu entendo Elis, entendo Amy, entendo Micheal... A única coisa que me provoca algum pixel é o dia 28 de maio... e olhe lá se esse 28 de maio chegar. Eu não sei se esse 28 de maio... Que ele chegue. Eu não entendo nada de Sartre, nem de existencialismo, nem do que ele fez com Simone de Beauvoir. O que eu sinto é vontade de vomitar. Me dê um interruptor, me dê um interruptor, me dê um interruptor... Vou interromper.

o Menina baiana - claquete 27

CENA: Lavando a solidão

O MENINA: Minha vovozinha sabida me viu hoje e me perguntou: porque está tão magrinha? Minha vovozinha calada já me disse um monte de coisas. Disse também: você ainda tem estrada, eu já caminhei. Reaja. Sim, minha vovozinha, sou uma neta obediente agora. Prometo, vou parar de xingar. Prometo, vou parar de sentar no portão pra assistir aos meninos jogarem bola. Prometo, vou apenas trabalhar. Prometo, vou me alimentar melhor, minha vovozinha. Quer sentar comigo e fazer bolsas de ráfia? Quer que eu vá atender no balcão da sua venda? Forrar os botões, vovozinha? Eu escutei sim, está só, sozinha, minha vovozinha. Quer a rede pra deitar? Vamos assar castanhas de caju? Sim, vovozinha, eu levarei as cascas das frutas pras galinhas. Eu colocarei o resto do almoço pro cachorro preto, a mim ele não morde, vovozinha. Domingo vamos tomar sorvete? Serei ri-rica, vovozinha, assim ele me chamava, lembra? Má-rí, vovozinha. Ela leu minha mão e disse que achou engraçado porque eu não nasci pra ser pobre. Fui escondida, vovozinha. Quer que eu sente no banco da igreja pra escutar o seu coral? Você me enxerga, vovozinha? Se eu dormir, você me acorda?  Eu gosto de banana real, vovozinha...

quarta-feira, 26 de abril de 2017

o Menina baiana - claquete 26

CENA: Sem sinal

O AMIGA:  Vamos ter fé!!

O MENINA: Sem a fé de que é possível fazer algo, fica difícil. Incrível. Veja: a cartomante parece que tá acertando mesmo. Quero acender uma vela. Qual a vela que acendo pra essa alegria? Ao menos isso tem me dado alguma alegria.

O AMIGA: Como faço? Quero ir na cartomante. Rosa pro amor...

O MENINA: Verde, de esperança. Eu e minhas ideias! Como você está? Vou te mandar uma música que eu achei bonita.

O AMIGA: Meio apaixonada...uma ansiedade...

O MENINA: Escute essa que pode aliviar. Eu tô caminhando e constatando, mas não que eu acredite nela [ri] Fui lá quando estava me sentindo assim, apaixonada e ansiosa. Me causou um alívio, porque ela fala as coisas numa segurança impressionante. Depois me aborreci. Ela falar do meu futuro porque eu paguei pra isso! Mas agora que a revolta passou, estou vendo que a saída pra tudo é fé e amor.


"É tão bom quando a gente se entrega à beleza, se sente em total realeza com a natureza e o amor, é tão bom quando cicatriza uma ferida abrindo as portas da vida prum beija-flor te beijar, é tão bom quando a gente tem fé e acredita que existe uma vida bonita como quem cultiva uma flor, é tão bom não se desesperar com besteiras nem levar a sério as asneiras que algum ser humano tramou, é tão bom ir colando os pedaços da vida e sentir toda ira incontida que teima em queimar todo ser é esquecer toda a mágoa que molhou teus olhos, saber que no fundo unicórnios, pavões e mistérios no ser, há" (Luiz Caldas)



terça-feira, 25 de abril de 2017

o Menina baiana - claquete 25

Adentrou a casa e foi direto pra rede. Parou o balanço com a ponta do pé no chão. Voltou-se à janela de modo que vejo somente as suas curvas se fazendo no tecido.

O MENINA: Sou da rede e ela me enreda. Babel, pura babel, mas igual. Gente não precisa ser sempre original. Eu invento cais, invento cores da razão, invento apresentação... [pausa e fixa o olhar] Eu quero ser tocada. Deitar minha cabeça num colo e sentir dedos pelos meus cabelos arrepiando o meu corpo inteiro e lembrar que isso existe. Que existe o som do S na fala de alguém. Fale nós aí. Mesmo que seja nó, fale nós aí. Escute: nós. É uma canção de ninar o S quando alguém faz cafuné enquanto fala. Sem cafuné já o é, quem dirá com... [se vira na rede] Edith Piaf amava Marcel. Marcel morava longe. Ele vivia com a família dele, longe. Às vezes eles se encontravam, jantavam, se amavam. Ela amava ele e sempre esperava ele voltar e enquanto isso, cantava. [se vira na rede]
Hoje eu quero beijar um beijo querido. Hoje eu quero um abraço querido, escutar um coração e alisar uma mão querida, segurar um dedo mindinho querido, sentir minhas mãos passarem por um rosto querido, passarem na aspereza de uma barba querida ou de um rosto sem barba querido. Um beijo querido hoje é tão fora do meu alcance... Tem dias que querer nessa vida me deixa triste e eu choro.


"escute essa canção que é pra tocar no rádio, no rádio do seu coração, você me sintoniza e a gente então se liga nessa estação" (Moraes Moreira)

o Menina baiana - claquete 24

CENA: Darte un beso

O MENINA: Quando eu tiver passado por essa terra... Passado já tenho... Quando eu virar pó. Pó eu já sou nessa imensidão... Quando eu não proferir palavras. Assim, quando da minha boca não saírem mais palavras, nem um beijo pra te dar... Eu choro pensando. Porque yo soy llorona. Quiero que no te falte nada. 

segunda-feira, 24 de abril de 2017

o Menina baiana - claquete 23

CENA: Abraço

O MENINA: Você​ quer meus livros? Não usei nada ontem. Estava muito feliz pra me drogar. Não vou mais estudar nada de psicanálise. Já usei hoje. Isso só tem me atormentado.


O PISC! : Então não leia.

O MENINA: Eu quero tirar de mim. Eu quero ser simples. Falar do dia, andar pela rua. Escutar música. Eu fico tão triste toda vez que eu tenho que me afastar da sua presença. Isso não pode. Fale da minha vida o que quiser. Isso não tem valor. Um pedaço de carne sem toque. Já estamos mortos.

O PISC!: Obrigada.

O MENINA: Parece que vou explodir. Que habita em mim. Sou eu quem lhe agradeço por você existir. Você é lindo.


O PISC!: Eu sou você. É com isso que caminhamos juntos. É a nossa beleza.




o Menina baiana - claquete 22

CENA: Amor.

O MENINA: Você me ama. Só pode ser. Não, não me ame nunca. Isso não tem cura. Se eu cantar, cantar, fizer gente feliz por isso, pronto. Deus vai me salvar. Estou à beira da morte.

O EXISTENCIALISTA: Cante! Cante!

O MENINA: Sonhei caminhando com você nas ruas. Eu arrumando uma mochila pra caber coisas minhas e suas enquanto alguém que dividia a morada pintava a casa. Ontem quase vomito de tanta coisa na minha cabeça e aperto no meu peito. Eu nunca estive tão consciente da maluquez.

O EXISTENCIALISTA: Desculpe por tudo.

O MENINA: Não precisa pedir desculpas, eu aprendi muito e continuo aprendendo. Pra ser feliz nessa vida é preciso cantar.

O EXISTENCIALISTA: Ou é preciso sambar.

O MENINA: Também.

 O EXISTENCIALISTA: Eu não sei sambar. Nem cantar.

O MENINA: Sabe sim.

O EXISTENCIALISTA: Sei não.

O MENINA: Todo mundo sabe.

o Menina baiana - claquete 21

CENA: Canto da cidade

O MENINA: Por onde eu ande nessa cidade, ela me chama. Hoje ondina estava me chamando. Acho que ficou com ciúmes das cores vivas que recebi ontem. Ah, ondina ciumenta! Todo dia rio vermelho. Teria até beijo se eu fosse flores de Frida. Beijos da boca de um existencialista ateu. Eu rio. Há lugares que me chamam cantando música baiana. Eu gosto da barroquinha. Já o itaigara... O itaigara... Esse me chama cantando o silêncio das sereias. Se eu fosse Ulisses saberia tapar meus ouvidos. Mais Penélope nem sabe do canto das sereias... ela vive bordando, bordando...


domingo, 23 de abril de 2017

o Menina baiana - claquete 20

As suas visitas têm lhe feito bem, eu julgo. Na sua ausência, quando prolongada, ela fica bastante irritada. Hoje saiu, comprou coisas e arrumou o quarto. Daqui posso vê-la deitada de bruços, com os pés apontando pro teto, esfregando um no outro.

O MENINA: É tão retinha essa linha... Tão perfeita... Como é que pode uma reta perfeita como essa ser curva do mundo? Ser curva e parecer infinita... Às vezes turva linha, mas sempre reta. Haverá sempre quem cante moça, ela não foi feita pra cantar só pra mim. Eu quero me divertir no dia do aniversário. De tão simbiótica, fiz nascer geminiano. Chega uma hora que tem que ignorar, não é? Eu te entendo... Entendo mesmo. Vai ver que Frida sufocava Diego de tanto amor. [pausa] Se é que amor sufoca.


"Às vezes lhe comparo com a calmaria do mar, um vento silencioso, um Caymmi a bocejar, mas você é agitada até no modo de falar, é um trio na calçada, Armandinho Dodô e Osmar" (Walfran Trindade)

o Menina baiana - claquete 19

CENA: Cientista

O MENINA: Uma coisa parece que tapa a outra. Recebi de mim mesma Eu me desfiz de tudo depois de começar a ler a náusea. Mentira. Não me desfiz de tudo. Me desfiz dos livros. Assim como Raquel de Queiroz queimou meu couro debaixo do sol. Mas Raquel foi indicação da escola, Sartre não, foi coisa da minha cabeça mesmo. O esboço eu li primeiro. Entendi nada. Nada não existe. Temos a ciência pra explicar isso. A minha vem assim: a gente se dirige à morte e esse caminho vive oscilando densidades, saímos de áreas menos densas em direção às mais densas, atravessando-as.  A densidade é tão baixa, tão baixa que às vezes parece um vácuo. Pode ser. Meus vácuos  comunicantes! [gargalha e seu corpo se contrai] Me comunicou até a náusea. Passei mal passando as folhas. Nada não existe. De nada adiantou. Foi um duto até o existencialista ateu. Foi um duto.

o Menina baiana - claquete 18

CENA: Com bomba no peito

O MENINA: Muitos anos no divã, a coisa vira um hábito. Mesmo longe dele, um hábito. Hábito de entrar muito na coisa e ficar entrando, é um grande labirinto fuçar o inconsciente.  Por isso eu entendo quando ele diz "deixe a psicanalista". Entendo e me rasgo toda. Ele disse que é assim mesmo. Não só ele. Mas foi ele quem me disse: deixe. Deixe ela ir. Talvez ele tenha dito com isso: deixe ela ir e venha. Mas não foi bem assim. Deixe ela ir e vá. Como se eu já não tivesse indo. Olhe eu aqui, sentada nessa sala. Vê. Eu achando que sou. Nada. Só. A minha pesquisa. Vou cantar dia 26 de maio. Eu criei o Bombambulante há um ano, depois de passar treze criando o hábito de deitar, falar, associar livremente. Hoje tive vontade de me desfazer desse nome. Sinto ele bem no meio do meu peito... Se eu fosse filha de puta em Calcutá, estaria na linha.

sábado, 22 de abril de 2017

o Menina baiana - claquete 17

Hoje ela tá. Tá que tá. Vai chamar assim mesmo? Então tá. Estarei aqui espiando. Deixe eu te avisar: ela estava gritando, xingando agora a pouco. Vai assim? Sim, cantou também hoje. Cantou alto. Dizendo ela que é filha da puta e que já pariu um filho de puta.

O MENINA BAIANA: Filho de puta tira a mãe da culpa. Frida amava Diego e era simbiótica. Macaco, cachorro - tudo simbiótico. O melhor é aquele que deixa entrar. Quando não deixa, mata. Andei matando um bocado hoje neste amatamento. Entre, pode entrar. Tá aberto.


"Mudei o nexo da palavra" (Alexandre Leão)

o Menina baiana - claquete 16

CENA: Àquela

[Riscando com giz o chão]

O MENINA BAIANA: Melhor que orar é cantar. Como cristais a morte se materializa. Vai mostrando a cara. Isso acontece no diálogo com o silêncio. Receber o telefone na cara também cristaliza. Agora chega! [levanta impetuosa e vai saindo de cena enquanto fala]Ave Maria! Eu vou cantar! 

[Volta rapidamente com um pano (de chão) nas mãos. Ajoelha, limpando o chão enquanto canta Ilê de Luz]

O que é que faz alguém imaginar uma música na voz de outrem? Ele pediu essa, imagina! " Me diz que sou ridículo mas no fundo tu me achas lindo. " ou então: " você me quer, você me quer?" Eu te quero como uma nuvem carregada de chuva. Aquele tipo de nuvem que quando vem é dizendo que está chegando. Eu te quero assim. E quando um raio e seu trovão se mostrarem, pode chover em mim, na minha origem. Me enxarque toda [torce o pano de chão mirando a boca e sorri]. Eu gosto mesmo é de carnaval...  no meu juízo, no seu juízo...  

o Menina baiana - Claquete 15

CENA: A Outra

MENINA BAIANA: Naquele dia que a Outra me negou um camarão de capote eu chorei. Eu gritei. Eu esperneei. Eu pedi, ela não me deu. Ele pediu, ela deu a ele. Ela gostava de dar mas não a mim. Eu berrei e desci pra casa de minha avó. Fui pra janela da casa dela. Sete portas e eu só enxergava a janela, me pendurei lá e xinguei. Xinguei tanto, tanto, gritei tanto!... Minha vovozinha esquecida... Minha vovozinha... Por que deixou essa menina xingar tanto da sua janela? Era tão raro sobrar camarão de capote... A Outra precisava agradar o filho da patroa, patroa essa que insinuou que seu marido pegava a vizinha quando quem tava pegando a vizinha era o marido dela. Era linda a vizinha, linda e amorosa... [pausa riscando o chão de giz] Agora é o Menina baiana.Tantas crianças se mantando... Eu acho q estão enxergando o mundo mais cedo e logo desistem... A criança tá solta.

sexta-feira, 21 de abril de 2017

Menina baiana - claquete 0

CENA: E não havia nada

MENINA BAIANA: Só você e sua música
Quer que eu cante pra você
Uma música 
Só minha
Pra você perceber
o meu vazio
Correndo pro seu vazio
De perguntas sem respostas? Mariana Magalhães.

Menina baiana - claquete 14

CENA: A chuva cai e o horizonte tão pequeno.

MENINA BAIANA: Minha paixão é ela mas eu digo que é você... [gargalha] Ah... Eu sou apaixonada por você. Agora eu to aqui com Simone De Beauvoir. Querendo conhecer. Querendo sair. Querendo ficar e querendo sair pra conhecer o teatro que eu quero fazer a minha próxima apresentação. [Pausa] Eu gosto de você. É esse o jeito de existir. [Pausa] Mas de vez em quando essa vida me deixa um pouco triste. [ri] Eu te amo.

Menina baiana - claquete 13

Haverá Cantora Criada antes de Menina baiana? Ela responde que sim.


MENINA BAIANA: 26 de maio. 


Essa pergunta já estava na sua cabeça antes mesmo de existir pergunta haja vista a resposta imediata.


MENINA BAIANA: Nela. A minha cabeça se ocupa dela. Fico surda pra o mundo com ela na minha cabeça. É o meu pensamento só quando a onda bate forte dentro da minha cabeça que só quer amor, sentimento esse impedido de querer. Ninguém quer amar. O amor o é. Só. Então eu penso nela e ela me faz cantar o amor.


Menina baiana - claquete 12

CENA: Pensando alto. Pensando alto. Pensando alto.


MENINA BAIANA: Vocês não quiseram ficar comigo. Agora eu vou viver com ela. Só com ela. Não sentem ciúme... Nunca sentiram. Ciúme é só vaidaaaaaade. Vai ver que é isso. Eu sei que vocês estão comigo e eu amo vocês. 


[Ela sai andando enquanto fala]

Trrrrrrrrrrrrr... Pê, pê, pê, pê, pê. Mn, mm, mn, mm... Trrrrrrrrrrrrr... Ng, ng, ng, ng.




"Teu cabelo preto, explícito objeto, castanhos lábios, ou pra ser exato, lábios cor de açaí" (Caetano Veloso)

quinta-feira, 20 de abril de 2017

Menina baiana - claquete 11

CENA: Prolabore

MENINA BAIANA: Estou c um probleminha sério... Me entrego às drogas? Nunca mais vou beber bebida alcoólica. Meu santo não gosta.

[Silêncio]

Eu sinto saudade da sua presença. Em carne e osso.

[Qualquer um ou todos]: Em breve teremos mais tempo e dinheiro para nos encontrarmos mais.

MENINA BAIANA: A cantora criada precisa me sustentar, senão vou morrer mais cedo.

quarta-feira, 19 de abril de 2017

Menina baiana - claquete 10

CENA: Feminicídio

MENINA BAIANA: Não existiu um homem sequer a continuar vivendo comigo uma paixão. Acho que não me "aguentam". Mas ninguém aguenta ninguém, alguém ama alguém.

O EXISTENCIALISTA ATEU: Não sei...

MENINA BAIANA: Estou falando de mim.

[Com o celular nas mãos]

Estão agora dizendo que isso "não pode"

[Ri, debochando]

O homem pegar na cabeça pra enfiar mais a boca.

O EXISTENCIALISTA ATEU: Pode se quiser.

MENINA BAIANA: Daqui a pouco vão falar dos tapinhas... Se essa moda pega, pode ter certeza, vai ter muita gente morrendo fazendo sexo com robô. Claro que pode se quiser. Mas estão falando mal disso nesses discursos que se dizem feministas.Tem medida pra tudo pra quem quiser fazer o que quiser nessa hora... Nessa hora gostosa... Aff!

[Pausa]

Pegar com força será "não pode".

[Ri]

Atar será "não pode"...

[Exibe a tela do celular]

Essa sou eu podendo nada.

[Gargalha. Volta a tela do celular pra si e depois exibe a tela]

E essa aqui sou eu quando tava podendo...

[Gargalha]

Veja! Ai ai ai ...

[Pausa e respira fundo, sorrindo]

Quando eu morrer pode dizer: "ela era muito exagerada!" Pode dizer enquanto viva também​. E diga, com toda a convicção: "ela se apaixonou por mim e dizia que me amava" também​.

[Deita e descansa o celular no peito]

Minha libberdade ainda me conduz a estar aqui falando com você​. Me diga, liberdade tem a ver com esperança? Ou não existe esperança em liberdade?

[O existencialista ateu está ocupado]

Hoje tá foda... Foda e vazio.


"Me diz, onde é que eu vou achar alguém pra me entender assim?" (Ananda Góes)

Menina baiana - claquete 9

CENA: Treinador

MENINA BAIANA: Thank you for all. But have a question.

COACH: Please

MENINA BAIANA: I wrote a question. I do not have a answer.

COACH: Which one?

MENINA BAIANA: This is a question

COACH: I thought you said you dont have genital demand on me...

MENINA BAIANA: This is my surch.

COACH: That's why I prefer having silence for this kind of question.

MENINA BAIANA: Why? A simple answer: Yes or not

COACH: Specific silence to avoid specific investment.

MENINA BAIANA: Como sabe qual o meu investimento na minha pesquisa?

COACH: Nessa pergunta o investimento está sobre a minha punheta...

MENINA BAIANA: Nada a ver!
Ou a ver em parte.. Porque a pergunta quem fez fui eu.

COACH: Isso

MENINA BAIANA: Um dia você vai me perguntar algo e eu vou ter o prazer de sublinhar essa. Thank you very much.

COACH: É uma punheta interessante pensando em mim!




"Ore por esse meu jeito, manhê. Reze por esse meu jeito, mãe... Não?" (Ananda Góes)

terça-feira, 18 de abril de 2017

Menina baiana - claquete 8

Foto: "Esse lugar é muito grande", acervo Mariana Magalhães, 2017.


Aqui já é dia. Ela ficou acordada a madrugada inteira. Nem sequer um cochilo. Não chorou. Ficou "trabalhando". Descobriu que tem razão: Sartre futucou Freud fazendo roteiro de filme, mas o Eu é de Husserl. Ela não conhece o Eu de Husserl, passou muito tempo se fazendo no divã. Descobriu que inventa coisa que não existe.
Por que o sono não veio, eu lhe pergunto.


MENINA BAIANA: Por que as folhas sabem procurar pelo sol? Eu sou uma árvore.


Parece-me um conflito: insônia e árvore... A pergunta (de psicólogo) é: "como pegar a energia de um conflito para produzir uma superação criativa?"


MENINA BAIANA: Estou produzindo. Tenho apenas que me alimentar melhor. Preciso dormir.



"Todo santo dia, pois todo dia é santo" (Edson Gomes)



Menina baiana - claquete 7

Foto: "Piano trancado no canto", acervo Mariana Magalhães, 2017




CENA: Data marcada

 MÚSICO: Podemos marcar pra final de junho a reunião?

MENINA BAIANA: Já com os músicos? Você pode me dizer com quais pessoas essa reunião? Escutei um vídeo do sax no trabalho com Dora Baiana. Vc pensa naqueles moldes? Acho que já conversamos sobre isso, mas vi o vídeo depois e tá voltando na minha cabeça. Não, não tô falando de cachê nem de maestro. Tô falando de efeito sonoro do instrumento saxofone. Eu não quero aquele sax.
Se vc consegue me entender, se colocar sopro, tem que ser tipo Timbalada, não sei explicar... Nem sei se é sax. Então, é bom que o saxofonista saiba que talvez sim ou talvez não, depende do que eu escutar. Quero um sopro que rasgue e fale junto comigo. Que nem mesmo "bebeu água, tá com sede?", Entende? Ou Vidigal de Daniela no feijão e arroz, feijão c arroz, n lembro. Sax "meloso" só se for em uma canção que peça. Não posso. Mais três caches não posso. Seria perfeito. Só um trompete não rola? Sim, entendo que é o que tem lá, mas não tenho orçamento. Tenho planos pra esse trabalho. Ou sai o sopro ou entra um sopro. Adoraria tudo.

[Ela sai de cena mas ele continua. Pausa. Ela volta.]

Aquele setlist que passei sofrerá alterações. Poucas.Tudo bem? Ok. Que dia de junho vc sugere? Data. Dia 30 é uma sexta. Estarei disponível depois das 17 horas. Aí vc pode fazer a ponte com os demais e saber se há um horário em comum
 Vou reservar aqui na minha agenda 

[Risos]

Esse dia especial! Vamos nos divertir! E trabalhar duro. Ahh...Não vem me dizer q é trabalho mole porque eu já sei que não é. Ao menos pra mim não. Já estou trabalhando tem tempo nesse Menina Baiana. Gostaria que acompanhasse na rede social se lhe interessar. Tem a página no Facebook e perfil no Instagram. Eu lhe agradeço. Boa noite. Só acho que agora é bom que você esteja consciente da importância que é esse investimento e parceria pra mim. E que enxergue o limite entre escutar a minha voz quando quer ou pra quê quer, ou escutar a minha voz que trabalha e busca cantar como uma maneira de sentir que estou viva. Por isso entrei em contato, por isso abri a porta da minha casa pra você. Eu quero que qualquer tipo de pensamento seu que passe além de música e amizade seja sempre reconduzido pra música e amizade. Eu já tenho uma grande responsabilidade que é fazer essa apresentação.

Menina baiana - claquete 6

Cena: O Amor se mede pela qualidade da paixão 


MENINA BAIANA: Eu te amo. Tenho mais o que fazer do que ficar me dedicando a quem não deseja se dedicar a mim. Os caminhos são livres e essa vida é uma verdadeira mentira. Então, minta. Continue mentindo pra todas. Elas vão se apaixonar por você mas te digo, existencialista ateu, poucas irão dedicar-se a existir junto a você. Fale comigo quando quiser. Está desbloqueado para nunca mais eu bloquear. Talvez essa seja a sua próxima ação. Digo mais: eu posso falar de psicanálise. Você não. Você, ao que me parece, não leu Freud. Fale sobre o existencialista ateu que é, não sobre alguém ser ou não ser psicanalista.

 [Ela dá meia volta]

Voltei aqui e te desbloqueei porque li isso desse fdp:

O ego não é, diretamente, unidade das consciências refletidas. Existe uma unidade 
imanente destas consciências: é o fluxo da consciência que se constitui ele mesmo 
como unidade dele mesmo [...] o Ego é unidade dos estados e das ações –
facultativamente das qualidades. Ele é unidade de unidades transcendentes e é ele 
mesmo transcendente. (Sartre, J-P. 1994: 59)

Passando o olho num artigo


O EXISTENCIALISTA ATEU: Nao consigo entender o que disse Sartre.

MENINA BAIANA: Você simplesmente é. Não sei por que dá nome ao que é, como quis me dar o nome psicanalista. Unidades de consciências refletidas eu entendi como "o Outro" , como diz Lacan, tudo que não é você mas que está em você por espelho. Você olha pro outro e se reconhece no outro. Aqui ele está falando de psicanálise. Unidade imanente destas consciências. Ele fala em unidade. Não tem outra coisa com a qual o ego se relaciona a não ser ele mesmo - "estados" e "ações". Sartre foi em Freud e fez a bomba atômica da psicanálise. Ele é psicanalista, nada de existencialista. Mas, como tudo o que difere do que é o inconsciente freudiano o povo diz que não é psicanálise, então coloca outro nome. No caso dele, o existencialismo. Você não precisa entender. Você é o Ego que ele tá falando. É o transumanamente. Aí você me mostrou mas teve suas restrições. Não sei bem o que passou com você. Por isso que digo que você mentiu e tô vendo que tudo é mentira, porque não continua nos estados e ações, porque "o ego é facultativamente das qualidades", isso é de cada um colocar o adjetivo, o sentido, seja lá o que for, no que faz (mesmo entre o silêncio, a loucura ou o fogo, por exemplo).



"Eu que já andei pelos 4 cantos do mundo procurando, foi justamente num sonho que ele me falou." (Paulo Coelho/Raul Seixas)

segunda-feira, 17 de abril de 2017

Menina baiana - claquete 5


CENA: Menina baiana e Pisc!

Tire férias de mim
Pode ir

[ ;) ]

Afinal, é problema meu que eu deteste emoji
Sartre leu Freud
Onde está o id, estará o ego
Só isso
É tudo consciência
Não tem nada de insconsciente mesmo
o insconsciente só pode ser inconsciente na consciência então foda-#3 o inconsciente
Olhe vc, falando de muktivocalodaes, de posições de eu, de movimento atencional
Eh uma merda
Eh uma merda
A teoria freudiana é apenas a pulsão
Sim, só ela, porra nenhuma de inconsciente, merda nenhuma de objeto a lacaniano
Foda+#3 Lacan
Eu sonho pq estou com meu corpo em funcionamento
Um ansiolítico eh um anestésico com tempo de ação curto. Então Michael foi lá, sabido e rico e perturbado, contratou um médico pra lhe anestesiar geral
De modo que ele não sonhava, não pensava o seu corpo. Funcionamento e abria os olhos pro outro dia
Elis cheirava e enfiava cocaína
Não sei se enfiava no rabo por causa da voz, eu acho que, se ela já teve essa experiência, sabe que uma química pelo intestino entra muito mais rápido na corrente sanguínea do que pela mucosa nasal
Eu sei
E era isso q ela procurava, uma excitação pra se sentir viva, porque o vazio é a única coisa que existe
Quem inventou a beleza do mar? Quem não podia ver o mar?
Quem inventou a beleza da floresta? Quem começou a matar a floresta
Quem inventou que existe amor
O Jesus Cristo
Esse desgraçado
Pq antes era tudo junto
As sereias de Ulisses cantavam​ e calavam
O Exu é a encruzilhada
Eu digo eu te amo? Mentira! Por que eu digo eu te amo.... Porque eu aprendi que essa é a coisa mais bonita do mundo pra se dizer a alguém
E eu quero lhe dar o que é de mais bonito
Assim como eu digo a outras pessoas. Mas você.... Eu não vou suportar ver você indo
Não é a psicanálise
É o existencialismo 
ateu
É uma bomba atômica,
Uma peste é pouco pra uma bomba atômica
Agora de que jeito eu vou cantar?
Eu escuto minha voz no gravador , isso mesmo, no gravador e acho ela horrível
Vejo meu corpo no espelho e ele está raquítico e fraco
Meus olhos passam o dia inteiro marejados
E eu sinto dor de barriga
E eu sinto minha carne tremer
Sinto pontos no meu corpo pulsarem sem sentido
Cantar vazia desse jeito

Menina baiana - claquete 4


Eu tô aqui olhando pra ela deitada na cama enxergando uma fragilidade no seu corpo franzino de menina. Não chega a um saco de cimento o peso desse corpo. E ele chora. Eu fico pensando que é mentira quando ela diz que quer todos. Quem quer todos não vive sozinha, sempre está com alguém. O que estou vendo é ela deitada na cama sozinha. Ela entra e sai de casa (e pouco tem saído) sozinha.

Agora pegou o celular e a vejo franzir a fronte. Tem lágrimas correndo pelo lado esquerdo do rosto - é o meu campo de visão daqui. Ela virou pro outro lado encolhida, escondeu o rosto e continua com o celular na mão. Pergunto se está tudo bem.

- Sim. Estou trabalhando.

Acho que mente pra mim. Menina baiana trabalha desde cedo? Só se for trabalho de amar.

sábado, 15 de abril de 2017

Menina baiana - claquete 3








CENA: Menina baiana e o existencialista ateu

- Essa tá solteira e é bonitona

- Esse nome não me é estranho...

- Busque em suas memórias-sensações e talvez encontre algo... Hoje é aniversário da morte de Sartre. Eu tinha um livro chamado A Náusea... Náusea... não lembro... Não sei onde está. Lembro bem que me senti muito angustiada quando comecei a ler e parei.

- Será que foi ela a menina que uma vez puxei a cadeira e fiz ela cair feio no chão?? Me arrependi na hora.

- Ontem encontrei essa matéria que compartilhei com você aqui [http://www.huffpostbrasil.com/rafael-alves-de-oliveira/o-que-bruna-lombardi-tem-a-nos-ensinar-no-caso-ze-mayer/] e quero lhe agradecer por me colocar em contato com essa coisa.

- Contato com o quê?

- Com essa coisa que é o existencialismo. Queria que isso tivesse chegando menos "rasgante", mas vai ver que é assim mesmo pra algumas pessoas se entenderem.

- É sempre rasgante.

- Antes de nomes no gênero masculino não se usa crase!... Acho que eu tô muito trans...

[Ele solta três beijos pra ela]

- Sinto amor por você, haja vista que o amor é uma xícara sempre a esvaziar-se. Beijos.


Minhas músicas eu as encontro na rádio. Muitas delas. Agora chamo a minha playlist no aplicativo de música de M FM, portanto, a minha rádio, hoje com cerca de 90 músicas. Poucas ainda, algumas não encontro lá. Encontro sintonizando a rádio ou caminhando pela rua ou escutando alguém cantar, como escutei minha irmã cantando O Quereres e fui devorar Caetano aos 9 anos.

Eu gosto de música brasileira.

Encontrei Raul Seixas cantando na rádio Educadora FM semana passada. Ainda canta.

I am.

Eu já encaminhei a base do meu setlist ao meu novo diretor musical, vou cantar música baiana.



sexta-feira, 14 de abril de 2017

Menina baiana - claquete 2




Foto: Carol Magalhães, 2016


É porque eu quero todos
Os mais aperfeiçoados
De psicólogo a filósofo a músico

Conselho: queiram só um
um só
Basta
Nada

Assisti a um vídeo desses de Facebook​ e as 15 mulheres nigerianas uniram-se a uma que disse que não queria mais ficar casada dessa maneira aceitando a poligamia. Disseram todas que não queriam ele e hoje todas tem seus maridos.

Menina Baiana:  Hum...! [Com a mão na cintura, entortando um pouco a cabeça e torcendo os lábios, duvidando, sacudindo-se levemente]


segunda-feira, 10 de abril de 2017

Zé do caroço

Uma roda de samba com Tiago e outros que eu não conhecia. Não tínhamos ensaiado nada, as músicas era tocadas pela metade, cantadas pela metade. Parecia um lugar de esquina, como um casarão e suas portas todas abertas pra quem quisesse entrar. Talvez um bar. Eu com um microfone na mão, não sabia acompanhar uma música sequer. Havia familiares presentes, meu pai eu acho que estava lá, meu tio Tonho, tio Silvio. Eu perguntava a tiago, onde estava o monitor pra o meu retorno, ele apontava uma caixa dizendo: acho que eh esse aí. Mas a sensação era a de que ninguém levava a sério a música q estava fazendo, talvez todos estivessem bêbados, eu me via entre as raras mulheres ali, talvez a única. De repente chegava Gerônimo Santana e eu fazia todo mundo interromper a desordem que estava acontecendo e pedia pra colocar o tom de É D'Oxum e chamava Gerônimo pra perto. Ele vinha, mas eu não conseguia entrar no tom. Tiago cantava o tom pra mim mas eu não conseguia escutar em meio ao barulho do lugar. Gerônimo cantava assim mesmo, mesmo sem a gente encontrar o tom em comum, e fazia um jogo de sedução, passava disso, me pegava pela cintura e eu me colocava de costas pra ele e ele me abraçava dançando, de modo que o meu corpo ficava bem junto ao meu. Ele ia embora depois que eu o colocava sentado na quina de uma mesa, empurrava cada uma de suas pernas uma pra cada lado e simulava um tapa no meio das suas pernas, saindo em gargalhadas, todos em gargalhadas. Depois já era um lugar como um mercado, as cadeiras dispostas entre as torres de prateleiras, e quem chegava era Xandy de Pilares, pessoa íntima dá turma que estava reunida. Eu sentia a minha perna, a coxa direita, começar a coçar. E aquilo me tirava a concentração na música. Quando eu olhava estava um caroço grande, como o bico de um peito. Eu pedia a Xandy pra cantar ZÉ Do caroço. Era uma zoada grande. Chegou alguém dizendo que sabia o q era aquilo na minha perna, sim, era um peito na minha perna e que saía com um cirurgia simples.
Como se eu tivesse adquirido no contágio com essa pessoa que me explicava o que era aquilo.

domingo, 9 de abril de 2017

Ascendente

"pare de agredir quem te ama, Mariana"

Eu perguntava a minha pinscher enquanto apontava pra algumas partes do corpo dela:
- Aqui pode?
- Grrrrr...
- E aqui pode?
- Grrrrr....

Quando eu a beijava nas mesmas partes que meu dedo havia apontado, ela nunca rosnava.

Qual o isqueiro que te acende, ascendente?

Verdade Verdadeira




A bagunça está no quarto
Nos cantos
Onde não há bagunça
Está o vazio
Na verdade, verdade verdadeira
Está tudo morto
E as cores
Tudo é preto
E o sol
Teima em colocar à vista
Queimando as vistas
Defuntadas
Da vida nos cantos

domingo, 2 de abril de 2017

Cair fora entre ir

                                        Selfie


Cair fora entre ir lá fora e não cair
Alguém pode dizer a você seja menos, seja mais ou acabe com isso?
Pode

Não
Não
Não
Ele subia a ladeira da Gamboa falando firme enquanto a ordem era pra fechar os vidros e travar as portas

Tenho boca
Talvez muita cera nos ouvidos
(Assim Ulisses atravessou as sereias silenciosas
Não sabendo ele que poderia morrer de silêncio
Continuou andando amarrado)

Nao
Nao
Não
Quer morrer asfixiado hoje comigo aqui dentro?
Então dê a volta com a chave na ignição
- Detesto ar condicionado.
- Eu também, mas estou em Salvador e sou mulher.