quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Mensagem de dezembro de 2010

Hoje é isso, hoje para o ano que vem. Retirei as palavras da letra de Vanessa da Mata, aquela moça que escreve e faz música sobre as coisas do amor como ninguém. A música chama-se "As Palavras". Sabe quando a cabeça tá querendo livrar-se de pensamentos ruins e vem uma música? Na minha não vem só uma...rsrsr Vem várias!

Essa é a mensagem para o ano de 2011. Todo mundo manda mensagens nesse mês de dezembro então estou fazendo coisas que todo o "gado" humano faz... Para mim o mês tinha o aniversário de meu avô, e agora tem o aniversário de uma pessoa que é a jóia da minha vida, o meu motivo de viver. O resto das comemorações para mim são desinteressantes. Mas deixo registrado, dizendo pra mim e para quem se identifica com a frase:

FAÇA LUZ ONDE HÁ INVOLUÇÃO!

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Viva aos símbolos!

Segundo o candomblé, ano que vem é de Oxum. Meu marido me chamou e disse: "ano que vem é de seu santo..." Ele fica confuso, minha instabilidade dentro dos simbolismos... Mas os símbolos estão aí para servir à instabilidade característica do ser humano! Viva aos símbolos!

Onde não há o que colocar, coloque um símbolo. Na falta da palavra, coloque um símbolo. No que se chama amor existem vários símbolos... O que são mesmo as coisas, são só símbolos! Então viva os símbolos!

A vida é só o que representa a morte, a única coisa que há de fato e que inclusive poderia ter qualquer outro nome. Que tal SORTE? A morte poderia ser chamada também de sorte... Sorte de quem viveu a vida. E por que não a morte ser chamada de vida? É tudo igual! Um a negativa do outro, como a palma e as costas da mão.

No momento estou meio assimbólica, procurando, procurando... Os símbolos que já existem não me bastam, mas eu sigo. A minha comunidade de parentes serpentes, a mostra mais próxima do resto da humanidade, nada me excita nesta minha sorte. A família desejada talvez sim. Vivo insatisfeita e a única coisa que quero é morrer insatisfeita, porque senão já morri. Se fosse possível eternizar momentos como estar num banho de mar... (Humm... isso cheira ao mar em mim dentro do útero de minha mãe - coisa difícil de relembrar e mais difícil ainda de esquecer!). Depois que estou só, tudo é insatisfação. TPM, TDAH, BIPOLAR... rsrsrs

Então, dentro do que cabe este mês de dezembro já cheio de figurinhas douradas, prateadas, vermelhas, barbudas, estrelares, cabe também mais algum símbolo, mas da minha criação. O ano que vem promete!

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Feliz [compras de] Natal!!!!

A letra da música a seguir é em homenagem a esta data tão "especial" que se aproxima... rsrsr A minha cara!! Quando a ouvi pela primeira vez, lembrei da canção que ouvia no programa Rá Tim Bum! na TVE - "A Velha a Fiar". O ciclo vicioso da sociedade na qual eu vivo e inconscientemente me corrompo...Será?



BOLSA DE GRIFE 
Composição: Vanessa da Mata

Comprei uma bolsa de grife, mas ouçam que cara de pau.
Ela disse que ia me dar amor, acreditei, que horror.
Ela disse que ia me curar a gripe, desconfiei, mas comprei.
Comprei a bolsa cara pra me curar do mal
Ela disse que me curava o fogo, achei que era normal
Ela disse que gritava e pedia socorro, achei natural

Ainda tenho angústia, sede.
A solidão, a gripe e a dor.
E a sensação de muita tolice nas prestações que eu pago pela tal bolsa de grife.

Nem pensei, um impulso pra sanar um momento.
Silenciar, barulho. Me esqueci de respirar.
Um, dois, três
Eu paro.
Hoje sei
Que nem tudo será
Escrevi meu colar,
Dentro há o que procuro

Ainda tenho angústia, sede.
A solidão, a gripe e a dor.
E a sensação de muita tolice nas prestações que eu pago pela tal bolsa de grife.

Meu amigo comprou um carro pra se curar do mal.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Ti Ti Ti - novela também é cultura!

Cultura brasileira tem telenovela. Depois de tantos anos de pouca criatividade e sucesso (salvo A Favorita, que foi a  minha favorita durante muitas noites da semana!), a Globo resolveu readaptar o sucesso da década de 80, de Cassiano Gabus Mendes, Ti Ti Ti. Tem sido a favorita lá em casa, quando todas as noites a família senta reunida para assistir, como todo bom brasileiro.


As músicas que ouço durante a novela estão muito boas! Pelos dados internéticos o cd da trilha sonora atual ainda não foi divulgado, e com certeza não corresponde ao original. "You'll See" de Madonna aparece na voz da escocesa Susan Boyle, muita linda. Tem "Nature Boy" de Caetano, a saudosa e sempre linda "Aventura" de Eduardo Dusek,  "Cry Me a River" na voz de Diana Krall, e ainda o "filho" de Raul Gil, Rick Vallen! De composição própria a música "Sei Lá", com um arranjo muito bonito por sinal, o que me causou surpresa, pois acompanhei o seu desenvolvimento durante os programas de Raul aos sábados na Record e confesso que assistir às apresentações dele me causava uma sensação de cansaço pelo excesso de energia, movimento e carregamento na voz que o mesmo colocava ao interpretar a maioria das canções.

Enfim, alguém que eu ainda não sei quem é, está cantando "True Colors" de Cindy Lauper. Não sei se a composição é dela, mas quem nasceu nos anos 80 e não conhece essa música é porque não ouve músicas! rsrsrsr. Como todas as canções presentes na novela de hoje, ela está muito bem sintonizada com o personagem que faz a abordagem do amor homossexual. Minha filha de menos de 10 anos tem assistido e penso que a transmissão do amor entre duas pessoas do mesmo sexo está chegando muito bem à sua compreensão...

Faz muito tempo, muito tempo que uma trilha sonora é tão bem selecionada e executada numa novela global. Escreveria muito mais observações sobre Ti Ti Ti...rsrsrs Sabe quando a gente espera o horário da novela chegar e diz "agora começou a minha novela"? Acontece todos os dias lá em casa! As interpretações estão muito bem feitas e percebe-se que o trabalho dos atores tem sido realizado com muito divertimento. É isso, é uma telenovela divertida, leve, para toda família.

Ah! Não posso esquecer de citar os meus personagens preferidos - Lipe e Mabi! Dois adolescentes que nunca irão existir, mas que têm dado lição para os bons entendedores...

A letra a seguir é para ilustrar as boas recordações dos anos 80. Muito linda...


True Colors - Cindy Lauper

You with the sad eyes
Don't be discouraged
Oh I realize
It's hard to take courage
In a world full of people
You can lose sight of it all
And the darkness inside you
Can make you feel so small


But I see your true colors
Shining through
I see your true colors
And that's why I love you
So don't be afraid to let them show
Your true colors
True colors are beautiful,
Like a rainbow


Show me a smile then,
Don't be unhappy, can't remember
When I last saw you laughing
If this world makes you crazy
And you've taken all you can bear
You call me up
Because you know I'll be there


And I see your true colors
Shining through
I see your true colors
And that's why I love you
So don't be afraid to let them show
Your true colors
True colors are beautiful,
Like a rainbow


I can't remember
When I last saw you laughing
If this world makes you crazy
And you've taken all you can bear
You call me up
Because you know I'll be there


And I see your true colors
Shining through
I see your true colors
And that's why I love you
So don't be afraid to let them show
Your true colors, true colors
True colors are shining through
I see your true colors
And that's why I love you
So don't be afraid to let them show
Your true colors
True colors are beautiful,
Like a rainbow

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Eu e água

Composição: Caetano Veloso

A água arrepiada pelo vento
A água e seu cochicho
A água e seu rugido
A água e seu silêncio

A água me contou muitos segredos
Guardou os meus segredos
Refez os meus desenhos
Trouxe e levou meus medos

Grande mãe me viu num quarto cheio d'água
Num enorme quarto lindo e cheio d'água
E eu nunca me afogava

O mar total e eu dentro do eterno ventre
E a voz de meu pai, voz de muitas águas
Depois o rio passa
Eu e água, eu e água
Eu

Cachoeirinha, lago, onda, gota
Chuva miúda, fonte, neve, mar
A vida que me é dada
Eu e água

A água
Lava as mazelas do mundo
E lava a minha alma
Lava minha alma



A poesia do atualíssimo Caetano (eu adoro Caetano!rsrsrs) levou-me a pensar sobre onde estarei na festa de Ano Novo. Gosto de passar a festa de Ano Novo perto das águas...

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Beleza x Horror

"(...)a beleza torna o indivíduo insensível ao horror." Disse Philippe Julien no livro Psicanálise e o Religioso - Freud, Jung, Lacan - o qual dedica "para aqueles que, ardendo no prazer da verdade, tornaram-se presa dos cães de seus próprios pensamentos". Assim ele define a sublimação, conceito tão divergido entre psicanalistas. O trabalho como resposta à angústia, o belo como resposta ao horror. Algo assim, eu penso e concordo com Philippe Julien.

O que me levou a escrever esse post a partir dessa leitura foi o meu dia de ontem, especialmente. Desprovida de um veículo próprio, sem qualquer vontade de ficar em casa, combinamos, eu e meu marido, de irmos à praia. Já passada a hora ideal do sol para a pele do ser humano, fomos ao ponto de ônibus. Itapuã? O ônibus dá muita volta... Barra, então. Sol muito lindo na cidade de Salvador, ponto turístico da cidade, saltamos na praia da Barra, já sem a beleza histórica das pedras portuguesas (nunca deixarei de me indignar!)andamos até o Porto.

Muita gente no caminho, muita gente. Começa a minha sensação de horror. Sem óculos escuros para aplacar o excesso de luz, eu sigo ao lado do meu companheiro, sentindo-me protegida daquela multidão. Vez ou outra ele pára e verifica se existe algum lugar para o nosso estacionamento, mas não. Sinalizo a areia preta, suja. Caminhamos. Relembro a Avenida Sete de Setembro com tanta gente, indo e vindo, bebendo, sorrindo, caminhando. De repente um alvoroço! Nada não...só um transeunte acabara de ser surpreendido por uma mão atacando o seu pescoço que carregava uma gargantilha (quem sabe de ouro)!

Minha definição de que nada não existe é impávida, sigo assustada. Meu marido decide ir ao sanitário público e, levando a minha bolsa junto consigo, diz para eu ficar próxima à roda de capoeira que acontecia. Cena bonita: sol, praia, pessoas sorrindo na roda, música de capoeira. O mesmo grupo de garotos assaltantes vem na mesma direção que me encontro. Escondo com os braços cruzados a minha aliança de ouro, ainda assustada.

Decidimos estacionar no Porto da Barra. Aluguel de cadeira e sombreiro são mais que necessários. Eu, assutada e mal humorada, prefiro sentar na minha esteira de palha. Uma mulher gorda reclama da cadeira quebrada enquanto na mão carrega um osso de galinha. Um amontoado de gente e cadeiras ao meu redor. Assim decido olhar para o que eu entendo por belo: meu marido, seu sorriso, o mar.

Muitos minutos tentando enxergar um lugar mais vazio para entrar na água. Lugar onde nunca me banhei, tenho receio de entrar sozinha, pois não sei nadar. Assim, entramos juntos na água da praia do Porto da Barra, eu tentando manter o equilíbrio com tantas pedras embaixo dos meus pés para não cair. A água está espetacular! Fria, transparente, energizante. Vejo beleza. É o mar, e sinto-me bem.

Já sentados num restaurante, supostamente protegidos, meu companheiro diz:

- É a cidade onde eu moro, fazer o quê?

Volto para casa, com o frescor inesquecível das águas do mar do Porto da Barra, decidindo o lucro o meu dia.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Simplesmente linda

A letra da canção a seguir vale a pena ser ouvida. Posto aqui em comemoração ao primeiro ano do meu blog, remédio para tantas horas...

O Rouxinol
Composição: Milton Nascimento

Rouxinol tomou conta
Do meu viver
Chegou quando procurei
Razão pra poder seguir
Quando a música ia
E quase eu fiquei
Quando a vida chorava
Mais que eu gritei
Pássaro
Deu a volta ao mundo
E brincava
Rouxinol me ensinou
Que é só não temer
Cantou
Se hospedou em mim

Todos os pássaros
Anjos dentro de nós
Uma harmonia trazida
Dos rouxinóis

Bis, para crianças!

DIA DE CARURU

Na Bahia, em Salvador se come muito caruru. Na casa da tia Carminha não era diferente - todo ano tinha caruru. Aliás, não só caruru, tinha vatapá, farofa amarela, xinxim de galinha, banana da terra frita, arroz branco e dois tipos de feijão – o fradinho e o preto.

Tia Carminha, era negra, descendente dos que eram escravos na Bahia. Era casada com tio Vítor, e só tinha uma filha, Aninha. Como Aninha não lhe deu netos, então os filhos da sua irmã Lourdes eram seus sobrinhos, mas tratados como filhos. Os filhos dos seus sobrinhos-filhos eram os seus sobrinhos-netos, e enchiam a casa quando era o dia do caruru.

Num determinado ano, todos os sobrinhos compareceram à casa de tia Carminha. A casa era toda verde, num bairro chamado Pau Miúdo. Já era noite quando aos poucos começaram a chegar seus sobrinhos-filhos e seus sobrinhos-netos, além dos só sobrinhos e demais amigos.

Na casa havia um terraço, onde Aninha e tio Vitor preparava as mesas e cadeiras, a vitrola para tocar música e os refrigerantes dentro do gelo para servir na temperatura ideal. Tia Carminha não saía da cozinha até tudo ficar pronto.

Ah! Também havia plantas e jabutis, muitos jabutis, de diversos tamanhos, no terraço. Tia Carminha acreditava que a presença dos bichos afastava os maus espíritos que quisessem entrar na sua casa.

Então, todos estavam lá, comendo, bebendo, conversando, dançando. Fafá, Cacá, Vevéu e Tatá estavam lá, conversando encostadas na mureta do terraço de onde podiam ver o quintal da casa lá embaixo, guardado pelo cachorro Tubarão.

Tubarão ninguém via. Tio Vítor dizia que ele mordia e só aparecia de noite, bem tarde, para espantar os ladrões. Fafá era bem pequena, mais gordinha que as outras, e não tinha altura suficiente para nem para enxergar por cima do muro.

Fafá, Cacá, Vevéu e Tatá conversando ali, resolveram começaram uma brincadeira de adivinhar a música. Uma dizia uma palavra que a música continha e as outras cantavam músicas que continham a palavra, até acertar a música que estava no pensamento de quem lançou a palavra. Assim, cada uma tinha a sua vez de dizer a palavra para as outras acertarem a música do pensamento.

De repente, Vevéu, a mais velha daquele grupinho perto do muro formado por meninas sobrinhas de tia Carminha, percebeu algo muito esquisito e falou:

- Fafá, você está alta...

E todas olharam para Fafá, tão gordinha e agora mais alta, conseguindo enxergar tudo por cima do muro.

- É mesmo! – concordaram Cacá e Tatá.

Fafá sorria sorrateira, feliz por estar enxergando o que antes não conseguia enxergar. Só não conseguiu ver Tubarão, porque esse ninguém via.

Observando Fafá da cabeça aos pés, tentando entender que tipo de mágica tinha acontecido para que ela repentinamente crescesse, Vevéu teve um sobressalto!

Fafá estava em pé, em cima do jabuti da tia Carminha, toda gordinha, agora não mais baixinha!

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Primos-irmãos

Era uma vez três irmãs e dois irmãos. Matilde, Afrodite e Brigite eram irmãs, primas de Luiz e Geraldo, também irmãos. Eles já brincavam muito juntos quando nasceu Curó, irmã de Luiz e Geraldo, prima de Matilde, Afrodite e Brigite também.


O pai das primas era irmão do pai dos primos, e a mãe dos primos era irmã da mãe das primas – quase um problema de matemática! Mas tudo ficou mais fácil quando eles cresceram e entenderam que faziam parte de uma grande família.


Seus sobrenomes eram iguais, e por isso eles se chamavam de primos-irmãos. Sempre passeavam juntos, ou encontravam-se na casa de Luiz, Geraldo e Curó para brincar. As meninas moravam em apartamento, no último andar e por isso era melhor brincar na casa dos primos, pois correr ou pular no chão não incomodava os vizinhos embaixo.


Quase todos os domingos, os pais deles iam visitar o sítio do irmão mais velho chamado Tonho. O sítio parecia um clube de recreação – havia uma casa grande, uma piscina com uma parte funda e outra rasa, árvores, churrasqueira, brinquedos e muita música. A animação era completa para os primos-irmãos!


O nome da brincadeira predileta era “baleado”. Eles montavam dois times e um contra o outro tentava acertar a bola no adversário. O time que conseguia acertar alguém gritava bem alto “baleô!” e a pessoa atingida pela bola, se não a segurasse nas mãos sem deixar cair, tinha que sair e aguardar a próxima jogada. Quando outros primos estavam presentes no sítio o jogo ficava mais eletrizante! Mas não eram primos-irmãos como eles.


Matilde e Luiz eram os mais velhos, e por isso tinham mais força no arremesso. Geraldo era menor, mas muito habilidoso, corria velozmente para pegar todas as bolas. Brigite era do mesmo tamanho que Geraldo, não tão ágil, mas conseguia fugir de ser baleada pela bola. Já Afrodite, mesmo um pouco maior que os mais novos, era a mais sensível de todos. Costumava chorar em todas as jogadas, pois sempre era atingida pela bola desastrosamente.


Um dia, enquanto jogavam baleado no meio das várias árvores do sítio do tio Tonho, o time do Luiz estava ganhando e Afrodite ainda não havia sido atingida por nenhuma bola, algo muito ruim aconteceu. Brigite passou a bola para Luiz, que com seu arremesso forte tentou eliminar do jogo Matilde, tão forte quanto ele.


Curó brincava de fazer bolo e docinhos na terra molhada bem perto da clareira, pois era a menor e não podia participar desta brincadeira por medida de segurança. Aliás, Curó, quase não participava das brincadeiras, mas ficava atenta por perto, brincando de outras coisas como nesse dia no sítio.


Ao lado da casa, na clareira onde acontecia o jogo, havia um tapete rosa formado pelas flores do jambeiro. Ao redor, uma mangueira, alguns coqueiros e um limoeiro que pouco dava limões. Eles sabiam que as árvores do sítio haviam sido plantadas e cultivadas pelo pai dos pais deles, o avô José. Ao fundo podiam ser avistados o chuveiro e a piscina.


Como uma bala, a bola arremessada por Luiz com tanta força, passou por Matilde e, quando ia atingir Afrodite, Geraldo pulou para agarrar. Mas a bola-bala escapuliu das suas mãos ágeis e foram parar no limoeiro. Num segundo saíram do pé de limão muitos bichos formando uma nuvem de formigas voadoras.


Mas não eram formigas voadoras! Eram marimbondos! Todos os primos-irmãos foram atacados por picadas dos insetos voadores, incomodados com a bolada que a casa deles recebeu...


Em toda parte do corpo de cada primo-irmão apareceram caroços enormes, inchados, e eles sentiram muita dor. Choraram até acabar o dia de domingo no sítio.


Afrodite chorou mais que todos.


Curó foi a única que escapou das picadas dos marimbondos.


FIM.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Mais achados

Até hoje arrumo coisas da mudança... Encontrei um papel que uma colega do tempo de escola escreveu ao estudar a minha caligrafia.  Essa mesma pessoa um dia fez al eitura da minha mão e disse que eu não viveria muito, só até uns 60 anos! Poderosa ela, hein?! Eu, como toda adolescente curiosa e destemida, sujeitava-me a essas interpretações... Só não me deixei hipnotizar, porque até hipnotizador tinha naquela escola! Penso que ela transcreveu a análise, tipo péssimos psicólogos ao fazer um relatório com base em testes psicológicos - a receita está pronta, é só somar os pontos e ver em que resultado se encaixa. Eu fazia todos os testes da revista Capricho e Querida na minha adolescência, não consigo lembrar do resultada de qualquer um! rsrsr... Sou avessa a testes psicológicos, seus resultados são, na maioria, inconsistentes e inexpressivos. Um bom psicólogo tem que saber fazer uso objetivo de um teste, pois só ele pode aplicar e interpretar, então... prefiro não entrar nessa questão, é algo para ser dissertado posteriormente.

Vou transcrever esse papel e depois descartá-lo. Todos os meus testes de revistas da adolescência serão representados pela transcrição a seguir! Minha caligrafia mudou muito, ficou mais "preguiçosa". Nos tempos de escola fui obrigada a escrever com caligrafia técnica. Quando criança minha diversão era fazer caligrafia em letras cursivas, e quando adolescente, com a introdução da caligrafia técnica, tudo ficou misturado! Talvez porque os pensamentos vão ficando mais rápidos com o passar dos anos, com o amadurecimento, e não dá tempo de escrever com tanta destreza quanto antes, hoje enxergo o quanto minha letra está feia. Mas como em todo teste, descrição de signos de zodíaco, ou até mesmo no encontro de algumas charlatãs "mães de santo", sempre há algo que se encaixa perfeitamente (em qualquer ser humano!), aí vai:

MARIANA
- Equilíbrio é a palavra. Concentrada, egoísta, narcisista, raciocinadora, reflexiva. Dona de si;
- Detalhista, minuciosa. Amante da análise de consciência;
- Agradável naturalidade;
- Dureza mo trabalho, energia em todas as atividades e em todas as manifestações da vontade;
- Cultura principalmente. Temperamento analítico;
- Originalidade de pensamento, ama os jogos e os prazeres;
- Pessimismo talvez causado por cansaço momentâneo;
- Pessoa nobre e honrada que trilha o melhor caminho a seguir tendo em vista a obtenção dos deus objetivos. Controle do estado de ânimo;
- Moderação. Precisão e raciocínio. Perfeição em tudo que faz;
- Pessoa enérgica e boa constituição física. Solidez de princípios e ideias bem determinadas;
- Capacidade auditiva, luta de sentimentos, gosto pela música. Temperamento nervoso;
- Fácil adaptação, equilíbrio e harmonia espiritual;
- Equilíbrio, equilíbrio + equilíbrio...
- Expansão e reserva, visão clara, lucidez, boa inteligência;
- Cortesia e boas maneiras. Organização;
- Vaidade e presunção que conduzem à mentira para alcançar glória ou parecer mais do que se é;
- Vacilação ou indecisão;
- Reserva, ocultação do verdadeiro modo de pensar, hipocrisia;
- Se apega ao sólido e tangível, ao prático;
- Esquecimento, descuido e distração;
- Timidez, inibição no sexo;
- Gênio explosivo, fácil irritabilidade;
- Consciência aberta, espírito menos estreito.


Isso não deixa de ser interessante - minha letra fala de mim? É o outro falando de mim..


terça-feira, 9 de novembro de 2010

Tem gente que pouco me interessa



Tem gente que pouco me interessa
E só me fez rir à beça
Com seu mal jeito de ser
Tem gente que nem sabe dessa
E caminha sem ter pressa
de rir e feliz viver

é aquele que não se enxerga
é aquele que não se escuta
é aquele que se diz pai
é aquela que diz dar a mão
Tanta gente pouco me interessante, verdade
Tantos palpites nada intrigantes, falta sagacidade
Pouco me interessa
Pouco me interessa
E me faz rir à beça

Na hora do afã
Pouco me interessa
Quando a boca pede mais
Pouco me interessa
Quando peito meu desejo
Nada mais interessa

Talvez um sujeito
Um desejo
um sonho
um aperto
um amor
um beijo



É assim que ando, caminhando, permitindo somente a presença das pessoas que me interessam, que realizam trocas, adicionam ou multiplicam comigo. O bem estar alheio incomoda muita gente. Que espécie estranha é essa o humano! Pensa pra existir, sorri quando quer chorar, chora quando quer sorrir, grita quando quer dizer "eu te amo"... Sou eu parte dessa espécie. Parte porque tenho meus cães para me lembrarem todos os dias que sou nada, e nada não existe. O que existe eu penso que existe, pois me treinaram a não duvidar que existe. 

Quem disse que cadeira é cadeira, que verde é realmente verde etc.? Acredito nisso tudo aí. Só me custa agora é acreditar na humanidade, porque essa precisa ter fim urgentemente, está sem limites. Poucos os que dizem que são e são de verdade. Ah! Como saber o que são de verdade? Verifique seus atos! Veja se é aplicável o altruísmo, a caridade, a honestidade, verifique se num conjunto de atos em 24 horas essa pessoa reúne virtudes admiráveis por qualquer livro religioso. Humm, nem você mesmo? Nem eu. Mas o que mais me interessa eu posso querer, compartilhar, adquirir, alugar. Quem mais me interessa eu posso me comunicar de alguma forma - pego o telefone e ligo, ou coloco um disco compacto para ouvir ou assistir.

O que menos me interessa também importante, saber o que não se quer é importante. A humanidade é a derrota do mundo, não precisamos de bomba atômica. O ser humano é tão ruim que vai-se matando aos poucos. Masoquistas enlouquecidos. E eu? Levo a consciência de que sou nada, portando, não existo. Porém eu me interesso por mim, porque eu sei em que acredito, em que duvido, sei do que me esquivo. 

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Achados

Um pedaço de papel, uma folha, um caderno sempre me acompanham. Assim encontrei alguns escritos meus...


ISSO
Quando sinto isso quero a morte
Quero a sorte de ser alguém
Com sabedoria bastante pra saber que isso é assim
Porque quando sinto isso
Tenho nós de estresse nos músculos da minha face
Meu corpo se encolhe e dói
Como a "fecha-a-porta-maria" do mato
Vou lá na minha infância onde busco o frescor de estar feliz
Pois quando sinto isso sempre lembro de ter sentido
Agora de maneira muito mais frequente
Espíritos obsessivos? Descrença em deus?
O que será, o que será?
Isso tem remédio? Então o que é isso?
Saber que isso sou eu não me basta
Porque quando sinto isso não me suporto
Me odeio, me maltrato, me incompreendo
Isso pode ter vindo de lá de dentro, onde tudo era tão quente
Lugar de gritos abafados, sem amor
Só  planos
Sou fruto de um plano! É isso!
Plano de quem? Meu é que não...
Disseram-me que para aliviar isso, eu chame por deus
Já chamei. Ele nunca chega.
Minha saúde é da natureza, dos gritos que com certeza ouvi
Minha tristeza
Sou o boicote de plano alheio
Decidi não me tornar objeto desde muito cedo
Agora sinto isso
Estou pagando o meu preço.



BOA MORTE!

Para quê sofrer para escrever
Sofrer e esquecer
Para essa dor passar e eu, finalmente
Obviamente
Morrer

Quero palmas, gargalhadas
Muita pompa, casa lotada
Minha presença em 48 horas
Arrumadinha, confortável
Sem ser incomodada

Quero nesse dia ser o olho que tudo espia
Mas não denuncia
Ser o ouvido que tudo escuta
Mas não julga
Minha boca bem fechada contra a moscaria
Quero agonia
Um som dançante, bastante alegria
Quando chegar o meu dia

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

MEU CÃO GENTE

Desde criança convivo com Pinschers. Tootsie, Tilt, Twinkle e June foram os mais marcantes. Tootsie foi a minha primeira paixão cachorreira, cadela de meu tio materno, vivia dentro da casa de meus avós. Namorava Tilt e gerou muitos filhotes, como Twinkle. Tootsie foi quem me fez desejar a raça para sempre, e ganhei June próximo ao Natal de 1999 da minha amiga de longas datas, hoje minha comadre. Meu tio falava inglês fluetemente (ainda fala) e penso que por isso a preferência por nomes na língua inglesa.
Eu passava horas com Tootsie e Tilt no terraço da casa de meus avós, conversava com eles, muito cedo descobri o valor da amizade de um cão. Tootsie tinha crias sempre, nunca vi uma pinscher parir tanto. Meu tio não controlava muito isso, mas ela era uma cadela linda, dentro dos padrões, amorosa, alerta, obediente dentro dos limites da obediência que lhe foi transmitida. Ninguém, além de mim e de meu tio, tinha intimidade suficiente para tocar-lhe ou manejar seus filhotes. Atacava quando necessário. É uma saudade da qual eu não gosto muito de falar porque inevitavelmente vem uma emoção com lágrimas. Para a raça admitir duas pessoas como dono é algo incomum, ainda mais entre uma criança e um adulto. Por isso ela é tão inesquecível e especial para mim.
Tilt era o macho, marido de Tootsie. O seu prognatismo inferior deixava sua espressão muito engraçada, esquisita para mim. Solicitava atenção a todo o momento, mas nunca deixava eu carregá-lo, rosnava e eu desistia de concluir o ato. [escrevendo esta postagem, neste exato momento, tive a sensação de deja vú] Pulava de alegria, pulava muito. Havia uma rede na qual eu sentava para me balançar, brincar, conversar com eles. Ele não subia.
Cuidei de fihotes, dei mamadeira, deitava Tootsie para dar de mamar aos filhotes. Muitos nasciam doentes, ela rejeitava, eu ficava tentando fazê-los sobreviver. Um deles morreu em minhas mãos de criança, e minha avó disse: "enrole num jornal e jogue no lixo". Assim o fiz, sem compreender, mas o fiz. Fora da casa havia uma lixeira feita de pneu de carro, e  lá o depositei com cuidado, sabendo que o caminhão do lixo viria e o levaria para qualquer lugar depois de imprensá-lo bastante.
Twinkle foi para minha casa e adotou minha mãe como dona, pois a mesma era quem dava a sua comida. Não comia ração. Gostava muito de carne crua. Minha mãe resolveu devolvê-la para a casa de meus avós. Durante as minhas visitas, a maior parte do tempo com eles no terraço, não me importava com outras coisas. Tinha agonia de vê-los o tempo todo presos num espaço, sem conviver com as pessoas, privados de circular pela casa. Não demorou muito recebo a notícia que todos serão doados. Chorei, e minha mãe criticou a minha dor. Meu pai interferiu sensível porém asperamente com minha mãe, defendendo a minha expressão de tristeza e dor.
Fui visitá-los na casa da acolhedora da doação, que não era nada acolhedora! Os cães ficavam num espaço muito menor, separados com uma tábua do restante do espaço e fizeram muita festa quando eu apareci. Choro até hoje. Não retornei para me defender de algo que eu não podia interferir e fazer voltar atrás.
Assim, nos meus quinze anos, idade a ser comemorada, preferi ganhar um cachorro. Não desejei festa, queria um cachorro. Disse exatamente as raças de pequeno porte que não serviriam para um bom convívio e as que não eram de meu desejo. Nada foi levado em consideração por minha mãe, figura que costumava definir esse tipo de ações dentro do lar. Ela fez uma festa de quinze anos no casarão de meus tios, mandou costurar uma roupa nova para mim, convidou pessoas, e alguns dias antes dessa festa não desejada por mim, apareceu com uma cadela predominantemente cocker spaniel, preta, linda, com cara de muito dócil, levada até lá por uma tia materna que, entre essa cadela e uma poodle, ficou inteligentemente com a poodle (que desapareceu tempos depois!). Lacinho de fita vermelho elas levaram até a minha cama e me despertaram com o presente de grego. A cadela veio com sarna, sem caudectomização, que na época ainda era legalizada, e tinha um temperamento nada parecido comigo: sua agitação era explosiva! Destruía tudo que tocava. Lembrei do filme Lilo e Stich, para quem asssitiu, Eva, esse era o nome dela, era igualzinha a Stich, programada para destruir o mundo, porém muito linda. Eu não tinha experiência para educá-la, nem tempo. A sarna e a cauda levou-me a conhecer o veterinário Gilton Marques, até hoje médico dos meus cães. Cuidamos, eu e ele (com o dinheiro de meus pais!) de tudo, e fiquei muito feliz ao receber as congratulações por ter feito um bom trabalho. Porém, Eva-Stich continuava programada, e como foi uma realização de desejo meio às avessas, eu não conseguia nem imaginar a hipótese de doá-la, comecei a entrar num estado de estresse. Minha mãe percebeu e eu cedi ao seu imperativismo - doar a cadela. Sofri e depois fiquei aliviada, ela foi para um lugar bom, aos cuidados de boas pessoas, isso era importante para mim.
Depois veio Jade, a primeira, única e última poodle da minha vida,abraçada por todos da família, cujas características antes da aquisição eu fiz questão de ressaltar. Minha mãe perguntou, lembro bem: "Quer levar, Mariana?" Eu prontamente respondi: "Querer levar eu quero, porém a cadela não será só de minha responsabilidade..." Visto que já havia ressaltado suas particularidades, principalmente com sua pelagem. Assim, dediquei-me a Jade, como a todos os bichos que passaram pela casa de meus pais (tinha um cágado chamado Mitchell o qual fui contra a permanência dele pois o lugar dele não podia ser no piso cerâmico! e um curió chamado Ninho, que desde a minha noção de mim mesma, ele esteve engaiolado, cantante e estressado também). Aí ganhei a minha querida pinscher, June, cujo nome tem relação com a deusa da sabedoria de não sei qual mitologia. Era para ser chamada de Joplin, por causa de Janis Joplin, porém minhas irmãs acharam difícil a pronúncia e, acertadamente a mais velha, muito boa nisso como fora ao escolher o nome de Jade, lembrou de um nome de perfume da Natura e assim batizamos a pequena.
Esse pinscher da foto é muito fofo! Queria um filhote para colocar aqui e ilustrar essa postagem. June era muito parecida com ele quando pequena, porém suas orelhas eram caídas. Eu cheguei a pensar que não iriam levantar, mas levantaram! June foi a realização do meu desejo, e está viva até hoje. Uma cadela obediente, que faz todo o trabalho de um bom pinscher mesmo sem ter sido adestrada. Longe de ser neurótica, como a maioria das pessoas que não simpatizam com a raça pensam. Sinto-me segura com a sua presença, pois é um excelente cão de guarda e alerta, não late por besteira e avisa o perigo, além de atacar quando preciso! Meu marido a acha dengosa, porque de vez em quando ela faz xixi no lugar errado, mas só para provocá-lo. Minha filha prefere o nosso pug, Tosh, porque, segundo a mesma "ele é mais carinhoso". Claro, um pinscher não é feito para ser carinhoso senão com o seu próprio dono! rsrsr Elas brigam como verdadeiras irmãs, e é algo muito interessante e engrandecedor para a educação de ambas. June é uma sábia e sabe viver muito bem, vai comigo para onde quer que eu vá, desde um passeio de carro até à praia, como um viagem de ônibus até ao veterinário, como tantas vezes fomos.
A partir dela eu reconheci o quanto sou mesmo capaz de criar bons cães. Segui a receita de uma moça com quem cruzei em frente à escola na qual eu estudei, já com uns 16 ou 17 anos, que apareceu a minha frente com um pinscher no colo e deixou que eu o tocasse:
- Mas não morde?
- Não, não morde, pode tocar...
- O que você fez para esse pinscher ser assim?
- É só dar muito amor, muito amor...


Indico a visitação do site a seguir para quem deseja saber mais sobre a raça Pinscher. Foi um dos textos mais completos sobre o tema que já li.
http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/pinscher/pinscher.php

SE GOSTOU DO TEXTO E SE GOSTA, INTERESSA-SE OU ADMIRA UM CÃO, SIGA O MEU SEGUNDO BLOG, ESTE TEXTO ESTÁ LÁ!
http://meucaogente.blogspot.com

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Escolhas

A revista Superinteressante faz tempo não é tão interessante. Minha crítica vai para o teor fútil e superficial das suas reportagens. Penso que uma reportagem séria tem seu custo, principalmente para uma revista brasileira.
Lembro de meu pai ter contratado a assinatura mensal da revista quando eu era criança. Nunca chegava o exemplar. Sabe-se lá o que acontecia... A assinatura foi cancelada, eu acho.

Meu marido vira e mexe adquire exemplares quando a matéria principal chama a sua atenção. Ele adora revistas, não se concentra muito em livros como eu, mas esse funcionamente rende-lhe sua atualização com o mundo, com as novidades. O telejornal eu aprendi a assistir com ele, e descobri que a minha atenção auditiva juntamente com a visual não se dão muito bem. Hoje eu ouço telejornal, prefiro o rádio à televisão. Entre um filme legendado e dublado, prefiro o primeiro, os sons são algo secundário num filme para mim, salvo os filmes nacionais, pois domino a minha língua pátria. Não tenho paciência para desenhos animados, às vezes assisto ao Os Simpsons, pelo conteúdo, pois o gráfico é muito pouco atraente!

Retornando à revista, encontrei num desses exemplares adquiridos cuja matéria principal é sobre os sonhos. Meu contato com a teoria da psicanálise tem uns 6 anos, minha biblioteca é composta principalmente com exemplares desse conteúdo. A teoria freudiana costuma me alimentar quanto aos assuntos psicológicos. Mas não comecei a escrever para falar dos sonhos. O que me chamou atenção foi uma sessão (da qual também retirei algo sobre os sonhos num exemplar encontrado dentro de um dos veículos que me levam ao trabalho), chamada PAPO. Nessa edição o título é: "Não escolha demais. Seu cérebro pode pifar", com texto de eduardo Szklarz numa entrevista à Sheena Iyengar, deficiente visual e professora de negócios da Universidade Columbia. Algo muito breve, conforme perfil da revista, mas interessante para mim, pois havia constatado isso desde que me tornei consumidora independente - meu salário, meus gastos. O que essa moça declara tem um sentido lógico. Vou transcrever uma parte para não violar os direitos autorais da revista:

"(...) quanto mais opções temos, mais esse processo [de escolha] fica pesado e confuso. Acabamos sobrecarregados. E nos sentimos obrigados a escolher só porque só porque as opções estão disponíveis. (...) Precisamos ser estratégicos. Quanto mais você simplificar ou delegar escolhas que não são importantes, mais recursos mentais terá para as que importam. Para mim, é importante pensar sobre como vou organizar um estudo. Não Não me importa tanto o que vestir para ir ao trabalho. Em 3 minutos decido a roupa e o sapato, e assim elimino decisões que ocupariam meu tempo. (...) O que digo é: escolha bem o momento em que vai fazer suas escolhas."

O quanto o aspecto cultural interfere nesse processo de escolha é fundamental. Assim vivo e sofro por viver numa sociedade capitalista, e brasileira, que recebe todo o lixo de tudo quanto é canto do mundo! Mas às vezes as oportunidades são únicas, ou se escolhe ficar parado na inércia ou agarrar. Até para gastar dinheiro tem que ter oportunidade (de tê-lo na conta!). Opto sempre pelos meus momentos de satisfação. Não sei se entrar na minha angústia toda semana é algo tão lucrativo, os momentos de prazer são raros nessa vida e eu não sei quando morrerei.

Enfim, passei aqui para corrigir os erros de digitação deixados nas últimas postagens e acabei escrevendo. Meu remédio...

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

SENSUAL

Líndíssima, e sem comentários. Mesmo triste e depressiva, mesmo aos que amam e desamam, essa poesia é algo singular que todo brasileiro, pelo menos eles, deveriam tomar conhecimento. Belchior está na minha lista de prediletos, um dos poucos que me faz chorar.

Ney Matogrosso regravou também lindamente, como tudo o que ele canta, embora penso que tenha trocado o trecho "uma fera- animal ferido" por "bicho- animal ferido" e "quero lhe deixar molhada em bom humor", ele canta "molhada de amor". A fonte de pesquisa dessa poesia foi a internet, não acho que seja uma fonte muito precisa...

Estou triste, mas esse achado me trouxe algo de bom, de bom do que existe em mim romântica e sensual.



Quando eu cantar



quero ficar molhado de suor.


E por favor não vá pensar


que é só a luz do refletor.


Será minha alma que sua


sob um sol negro de dor;


outro corpo, a pele nua,


carne, músculo e suor.


Como um cão que uiva pra lua


contra seu dono e feitor;


uma fera-animal ferido


no dia do caçador;


humaníssimo gemido


raro e comum como o amor.


Quando eu cantar


quero lhe deixar


molhada em bom humor.


E por favor não vá pensar


que é só a noite ou o calor.


Quero ver você ser


inteiramente tocada


pelo licor da saliva,


a língua, o beijo, a palavra.


Minha voz quer ser um dedo


na tua chaga sagrada.


Uma frase feita de espinho,


espora em teus membros cansados:


sensual como o espírito


ou como o verbo encarnado.



Sensual - Composição de Belchior e Tuca, interpretada por Belchior no álbum "Todos os Sentidos", de 1978

domingo, 17 de outubro de 2010

Vai ser uma overdose de ansiolítico se isso é que existe
Uma pessoa desejar o fim e não tocar no fim
Só uma overdose, a última dose, aquela que desliga tudo
sim , sim , uma vez depressiva, sempre depressiva
Bipolar
Ter, dê, à
Uma hora assim, outra hora assado
Ninguém aguenta um sujeito impetuoso e mal amado
Nem o próprio sujeito
Boicotador de si mesmo, correndo pra tocar na morte, experimentanto [experimentando] infelicidades
enlouquecendo o alheio de tão concentrado em si mesmo
Loucura também é narcisismo?
Tire o ponto de interrogação e diga
Se o quem me pôs nessa vida teve um péssimo plano
Sofrimento que não descola, angústia que me persegue, me amola, enche meu saco
Indignação com a falta de educação alheia, com moleques falando besteiras
Nem aí pra o futuro do país, nem aí para o fim do mundo
então que venha o fim do mundo
se ninguém quiser eu quero pra mim
Viver pra morrer, tem algo tão incomprensível quanto isso?
E se nem tudo eu posso fazer
em nome da moral , de bons costumes
em nome da hipocrisia do homem
Sublimar, sublimar, afundar
porque até a arte tem limite nesse lugar
que ninguém tem limite
quer algo mais contraditório do que não poder gritar dentro da sua própria casa
mas a casa não é minha, não é meu esse lugar
eu não sou da sua rua, nem falo a sua língua
minha vida é completamente diferente da sua
não sei resolver coisas
não sei o que é paz
nem soube o que é pai!
Quando eu pensei que sabia, me avisaram que era meu avô
E que dor... perder aquele que me deu lições e prazeres,
aquele que não gritava comigo, que me encaminhava e um dia eu estava pedalando sozinha
aquele que soube me pedir carinho, que era feliz com a minha companhia
O mundo era movimento perto dele, a música sempre estava, mesmo inventada
Eu fiquei com jackson do pandeiro, meu coração no seu santo, caetano, minhas lembranças no doce de leite
Eu pensava, sentia, curtia, sorria
Não consigo mais...
Talvez um ansiolítico resolva
Um psiquiatra fingindo entender a minha dificuldade de viver
Uma analista que eu supunha saber
Do meu próprio inimigo que eu tento conviver
Este espaço é meu, e ninguém me impedirá
Aqui eu posso gritar, xingar
Há um aviso na entrada, leia se aguentar
Escrevo pra ver se resolve
se eu consigo conviver com essa vontade louca de morrer, de deixar de ser
Sei que um sono vai me bastar
E se meu coração parar de bater eu vou agradecer

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Cama nova

Minha cama nova
Meu quarto pintado
Não aceito rugas nas paredes
quero-as lisas, limpas
Assim como o lençol da minha cama nova
onde com você vou deitar e inaugurar

Um cão novo, os cães de antes
Todas as paredes pintadas de branco
Caqueiro novo, muda nova
Cuidado com o que já está plantado
Nosso quarto, nossa cama
Livre de passados,
livre antigos amassos,
longe das velhas rugas

Assim quero seu abraço,
meus braços entrelaçados
No movimento do meu sono
encontrar seu corpo no caminho de me ajeitar
encontrar o seu gosto e dormir ao seu lado
Como um casal apaixonado

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Parte da parte da história,

Adquiri o novo álbum de Vanessa da Mata, "Bicicletas, Bolos e Outras Alegrias", juntamente com o de Zeca Baleiro, "Trilhas - Música para Cinema e Dança".

Vanessa e Zeca fazem parte da história do meu matrimônio. Fomos assistir ao primeiro show de Vanessa em Salvador quando foi possível pagar somente R$14,00 por cada ingresso. Imediatamente comprei dois, sabia que ele não iria resistir a esse convite. Teatro Jorge Amado, 2004, se não me engano. Como sempre testanto meus níveis insuportáveis de ansiedade, ele chega pouquíssimos minutos antes de começar o show, quando todos já estavam entrando e escolhendo os melhores lugares, todo molhado da chuva que resolveu cair subtamente para presentear esse encontro. A chuva é sempre bem-vinda, o mar é sempre bem vindo, foi dentro das águas que nos beijamos a primeira vez. Meu marido é literalmente meu presente das águas... Se sou mesmo de Oxum como dizem, nada mais justo.

Quando entrei na loja pra comprar o cd, ele disse que eu ia comprar pra ficar criticando. Mas eu funciono assim, desde que comecei a consumir música. Pouco compro o disco original hoje em dia, porém se o faço, vasculho tudo o que ele traz - observo cuidadosamente todos os detalhes de encarte, de capa, instrumentos de cada música, profissionais envolvidos, letras das músicas, minha interpretação delas, arranjo, cores. Ouço, reouço, ouço, reouço, de novo, e de novo. Minha mãe dizia antigamente com os LPs que eu ia "furar o disco"! Meu pai, que eu ia quebrar o aparelho de som!

Temos todos os álbuns de Vanessa da Mata, por coleção. O meu predileto é o primeiro, cuja criatividade de composições próprias ainda não foi superado, porém a dicção dela deixa a desejar. Isso foi melhorando nos próximos discos, o som foi chegando a sua influência do reggae. Sua parceria com Kassin foi fazendo o molde do que é o trabalho dela hoje. Som gostoso de ouvir, mesmo eu ficando irritada com o agudo persistente da sua voz, mas o som dela é pra quem ama, quem vive o amor. Baladinhas românticas, de uma moça com seus 30 anos que escreve poesias e faz músicas, tudo na sua cabeça, pois a mesma não toca instrumentos, só "arranha". Esse novo cd está assim. Como não sou de ouvir um som só, Vanessa me satisfaz de vez em quando. Estou no tempo de degustação do álbum...

Zeca Baleiro.. Ah! Zeca Baleiro foi meu grande amor quem me apresentou. Perguntando se eu conhecia o som de Zeca, ele cantou justamente "Quase Nada" enquanto caminhávamos pela praia. Fui capturada inconscientemente pela letra da música - meu marido tem um excelente gosto musical, porém quando canta é algo quase indecifrável! Mas eu gosto, amo quando ele canta, no seu tom especial, quando eu tento decifrar o que ele está cantando e consigo (às vezes não!rsrs) Ele não canta qualquer música para mim, as músicas se transformam em A MÚSICA, quando ele canta. Assim, Zeca Baleiro, com seu vozeirão grave, legítimo, com sua criatividade poética e sonora é o que há de bom e moderno na música brasileira. Não sabia que ele compunha para cinema e dança, e fiquei satisfeitíssima com essa ideia. O Xote do Edifício está tocando na rádio, e eu adoro. Rosi Campos (aquela atriz que fez a "mamuska" numa novela global), está cantando uma faixa e a voz é muito lindinha!

Ouço músicas internacionais, mas não existe qualquer coisa que se compare a boa música brasileira. Disso eu posso falar com muito orgulho do meu país, embora exista pouco reconhecimento e investimento da arte. Tenho vontade de morar em outro lugar quando penso da desvalorização de um artista brasileiro, quando penso na falta de sensibilidade dos próprios brasileiros em reconhecer uma boa música. Ouço tudo, do pagodão à música clássica, mas não consumo tudo. O ritmo do arrocha e música tipo seresta é o único que consegue bloquear a minha escuta. Lembro que minha tia tocava teclado e tinha um botãozinho que fazia o break nas músicas. Em inglês significa romper, quebrar, separar com "força". Não sei explicar isso direito, mas o arrocha para mim é assim, o botãozinho do break, o tempo todo, do início até o fim, fazendo faltar uma elabroação instrumental... Confesso que acho a dança algo super interessante, criativo, bem a cara do brasileiro, e invejo quem tem a coordenação motora hábil ao ponto de desenvolvê-la! André Abujmra, filho de Antônio Abujmra (o inesquecível Ravengar!), autor de trilhas como Castelo Rá-Tim-Bum! etc., aconselhou o não preconceito, que se imaginasse o encaixe de estilos como Sandy, com Pink Floyd e música clássica, e algo seria possível sim...Eu concordo. O que falta é esse algo possível aparecer mais na música popular brasileira.

Hoje não enxergo bons cantores, nem compositores. A mídia está fabricando um monte de artista que nem sequer estudou a sua própria voz, não tem técnica nem para fazer melhor ainda com o seu próprio dom. Ouvi dizer que Luan Santana canta muito. Discordei no ato, mas preferi não prosseguir com a discussão. Gosto musical não se discute, o que se justifica a diversidade. Dom também precisa de técnica, precisa ser educado, lapidado, e ser afinado é completamente diferente de ter uma boa voz. Gosto quando o cantor me arrepia com a sua potência de voz, quando a voz me transmite coisas diferentes do que já ouvi, quando me deixa sem respirar ou respirando melhor só pela atração que me causa com sua música. Por isso fico chateada com o agudo de Vanessa da Mata às vezes...rsrsrs Tem vozes maravilhosas de mulheres... As baianas Cátia Guimma, Márcia Short, Cídia (de Cídia e Dan), Jussara Silveira, Vânia Abreu, a própria Ivete Sangalo, a sua irmã, Mónica Sangalo (que voz maravilhosa!) fazem parte da minha lista de admiração. No Brasil inteiro... Ângela Maria, para mim é exemplo sim, pena que hoje em dia pouco se faz referência a uma voz como a dela.

Enfim, vou colocar a letra da música de Zeca Baleiro para ilustrar a postagem de hoje. Faz parte da parte romântica da minha história... Para você que ler a seguir, imagine-se caminhando na areia da praia, com o homem que julgar mais lindo. Cheiro de mar. A cena tem que ter cheiro!

Desejo momentos assim para todos que se descobrem amando...

QUASE NADA
(Zeca Baleiro / Alice Ruiz)

De você sei quase nada
Pra onde vai ou porque veio
Nem mesmo sei
Qual é a parte da tua estrada
No meu caminho

Será um atalho
Ou um desvio
Um rio raso
Um passo em falso
Um prato fundo
Pra toda fome
Que há no mundo

Noite alta que revele
Um passeio pela pele
Dia claro madrugada
De nós dois não sei mais nada

De você sei quase nada
Pra onde vai ou porque veio
Nem mesmo sei
Qual é a parte da tua estrada
No meu caminho


Se tudo passa como se explica
O amor que fica nessa parada
Amor que chega sem dar aviso
Não é preciso saber mais nada

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

no saci

Acabo de ler o jornal na internet e descubro o Dia do Saci: "Restaurante cria menu para o Dia do Saci e vende kit com cachimbo". Quem é Saci? O que é saci?


O Dia do Saci consta do projeto de lei federal nº 2.762, de 2003 (ainda não é lei aprovada pelo Congresso Nacional), elaborado pelo então líder do governo Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e Ângela Guadagnin (PT-SP) com o objetivo de resgatar figuras do folclore brasileiro, em contraposição ao "Dia das Bruxas", ou "Halloween", da tradição cultural dos EUA. Propõe-se seja celebrado em 31 de outubro. Anteriormente, consta que iniciativas semelhantes já tinham sido aprovadas na  Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo e na Câmara Municiapl de São Paulo.

FONTE: http://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_do_Saci

Sou do tempo que Saci era somente o nosso personagem folclórico, figura da raça negra, que fumava cachimbo e fazia brincadeiras de mau gosto para proteger a sabedoria da mata. Dispunha de uma só perna, o que o fazia pular ao se locomover com agilidade. Mas costumava mentir, lembro muito bem do Sítio do Pica Pau Amarelo, de Monteiro Lobato. A risada do Saci no programa de televisão era hilária! Meio rouco, penso que te tanto fumar...rsrrs

Estou no tempo em que o saci é uma gíria fluentemente utilizada pela população da cidade onde vivo, da periferia ou não. O cachimbo é o do usuário de crack, improvisados com latas principalmente. "Estou no saci" quer dizer que estou com muita vontade de. Como a origem da gíria vem dos usuários de crack,  então é somente a vontade de usar mais a droga. Essa vontade não é uma simples vontade, é algo insuportável de sentir, aí então o sujeito perde a noção de si mesmo e, para conseguir mais uma pedra para colocar no cachimbo, salta mais que o nosso folclórico saci. Essa é uma das consequências avassaladoras do uso so crack. A mentira do saci é que a droga vai saciar se consumida imediatamente, o que não acontece. O crack vicia rápido, reúne restos de substâncias químicas detonadoras de neurônios. Engana o corpo, engana a mente por pouquíssimos minutos, a sensação de desprazer é muito mais intensa que a de prazer. É o que dizem, é o que todos estamos constatando vivenciando as consequências da presença constante da pedra no caminho de todos nós hoje.

No CETAD - Centro de Estudos e Terapia do Abuso de Drogas, da UFBA, a maioria dos frequentadores dos grupos de terapia são dependentes do crack. Tomam o famoso rivotril para combater a ansiedade. Neste domingo na revista Muito do jornal A Tarde trouxe uma entrevista com Antonio Nery, fundador do CETAD. Ele declara descordar do slogan "crack é cadeia ou caixão". É mais que óbvio que a reposta à questão do crack não deve ser colocada de forma binária, vai muito além disso...

Não sou especializada no assunto, um pensamento vai buscando outro. Da manchete do saci do restaurante, para o saci da nossa mitologia, para o saci dos nossos dias... diretamente para o pagode oriundo da periferia da minha cidade, muitas vezes retrato da pouca leitura, do apelo ao sexual. A letra da canção a seguir ilustra a postagem de hoje. A banda não sei se existe ainda, mas o seu líder é hoje conhecido como Edcity, figura interessante do estilo, abordando pontos da realidade social.  Ah! observe que também tem a bruxa!!!!!! kkkkkkkkk São os símbolos fazendo arte...

 SACI - Fantasmão
"Todo mundo sabe que o saci dança de uma perna só
Ainda mais quando tá na bruxa!"


Eu sei que a galera tá curtindo a noite com azaração
Depois da balada a galera no posto quer mais curtição
Eu sei que a galera tá curtindo a noite com azaração
E depois da balada a galera do posto quer mais
curtição


Não exagere galera, se ligue na idéia que eu vou lhe
dizer


Cuidado com a lombra que a lombra te pega
Te joga daqui, te joga de lá
Cuidado com a lombra que a lombra te pega
Te joga daqui, te joga de lá
Cuidado com a lombra que a lombra te pega
Te joga daqui, te joga de lá
Cuidado com a lombra que a lombra te pega
Te joga daqui, te joga de lá


Tá no saci
Dançando de uma perna só


Tá no saci
Dançando de uma perna só
Tá no saci
Dançando de uma perna só
Tá no saci
Dançando de uma perna só


Tá na bruxa negão
Tá na bruxa negão
Tá na bruxa negão
Não vá perder a noção

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

No caminho

No caminho eu vejo carros, caminhões
Vejo os mesmos bichos, mesmos sítios
No caminho eu ora sinto frio, ora sinto calor
Agonia condicionada
Alegria quando abertas as janelas
Todo dia, nessa mesma trajetória
para lugar onde não estou
Para lugar parado e inflamável
De estruturas mórbidas, poluídas, poluentes

No caminho tento me concentrar
Em algo para me retirar
Me colocar de volta
É o meu caminho
Tento enxergar a beleza
De repente algumas flores azuis, amarelas,
acesas em meio ao denso verde mato
Coloco minha alma junto à música
Coloco meu espírito em atos dignos
Faço planos, desligo

No caminho, todo dia, filas nada organizadas
Atitudes ilegais e desleais
Buraco, asfalto

Casas de papelão
Lixo pelo chão
Meu estômago quase na mão
Minha cabeça nesse caminho
Todo dia
Indo e vindo


Cheguei na gaiola e abri minha caixa de mensagem. Recebo regularmente mensagens de reflexão, auto ajuda, sei lá como chamam. Coincidentemente parte de uma delas dizia que "a estrada do bem está cheia de tropeços e dificuldades,mas é por ela que se chega aos campos floridos da felicidade". Bonito isso, né? K K K, como costuma dizer quem me mandou a mensagem. Recorro ao meu remédio então. Tento escrever. Falar de felicidade? Meu marido fala tanto nessa felicidade, que quer ser feliz...

Quem será essa poderosa, dona de todos os sonhos alheios? Insisto em dizer que ela não existe. Existe o buraco que se cava para alcançá-la e, no meio do caminho, sente-se o cheiro dela, o gosto, temperatura e o que mais o sentido humano é capaz de captar - felicidade não é necessidade, não se pode pegá-la, nem alcancá-la. Já pensou "chegar à felicidade"? Eu morreria então. Lembrei do pote de ouro no fim do arco íris! Alguém conhece o fim do arco íris? Só existe o fim do arco íris quando a luz do sol deixa de incidir sobre as gotas de chuva presentes no ar, e quando tem alguém para obervá-lo. Se não existe observador, o arco íris aparece como qualquer outro fenômeno. Já cansei de gritar: olha o arco íris! quando ninguém ao meu lado ainda o havia visto.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

DESAPARECIDO

(Mano Chao)

Me llaman el desaparecido
Que cuando llega ya se ha ido
Volando vengo, volando voy
Deprisa deprisa a rumbo perdido

Cuando me buscan nunca estoy
Cuando me encuentran yo no soy
El que está enfrente porque ya
Me fui corriendo más allá
Me dicen el desaparecido
Fantasma que nunca está
Me dicen el desagradecido
Pero esa no es la verdad
Yo llevo en el cuerpo un dolor
Que no me deja respirar
Llevo en el cuerpo una condena
Que siempre me echa a caminar

Me dicen el desaparecido
Que cuando llega ya se ha ido
Volando vengo, volando voy
Deprisa deprisa a rumbo perdido

Me dicen el desaparecido
Fantasma que nunca está
Me dicen el desagradecido
Pero esa no es la verdad
Yo llevo en el cuerpo un motor
Que nunca deja de rolar
Yo llevo en el alma un camino
Destinado a nunca llegar

Me llaman el desaparecido
Cuando llega ya se ha ido
Volando vengo, volando voy
Deprisa deprisa a rumbo perdido


 
Manu Chao (Paris, 26 de junho de 1961), cujo nome completo é Jose-Manuel Thomas Arthur Chao é um músico francês. Recomendo a escuta desse som.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Falta pouco para assumir a minha casa de vez. Minha casa, conforme a interpretação psicanalítica dos sonhos, quer dizer eu mesma. O sonho nada mais é que o próprio sonhador e sua realização de desejo, lugar do inconsciente sem repressões, nem recalques, nem moral. Lá é possível reunir impressões fixadas durante o dia, mixá-las com recordações carregadas de afeto da infância, com nossa imaginação e simbolismo.
Minha casa sou eu e o que escolho fazer parte de mim, onde e com quem eu quero estar, bem-estar. Saio de mim narcísica, chego em mim livre, amando e trabalhando. Conseguirei fazer várias coisas ao mesmo tempo - o mundo é assim. Meus processos de mudança acontecem lentamente, eu teimo em justificar. Mas preciso andar logo, tratar de viver. "Tem gente que pensa que a vida não acaba.." , disse minha filha. Era eu essa pessoa.

Vou buscar um guitarrista. Alguém indica?

terça-feira, 28 de setembro de 2010



Resistência, repetição
Pouca elaboração

Ai, meu coração!

Saudade que não sai de mim
Trabalho que parece não ter fim

Esse amor de se dar
sem machucar
a me espelhar

Sua voz melodiosa supõe saber de mim
Sua voz grave e misteriosa desvela-me
Sua voz através de mim

Ai, esta canção!

E agora que eu já caminhei?
E agora que aqui cheguei?
Prefiro não saber que lá sei.



Coisa difícil está escrever... Tenho sentido medo do que penso que sei, sentido medo desse patrimônio alcançado pelo meu trabalho de viver. E quem disse que essa que escreve sou eu? Essa deve ser eu contando histórias de mim! Histórias através do ego. O ego mente. Minhas verdades tendem a mudar de figura constantemente. Ouvi hoje que estou binária, ou sou isso, ou sou aquilo. Eu disse que não estou conseguindo fazer várias coisas ao mesmo tempo, eu disse! É possível até pensar em várias coisas ao mesmo tempo, mas esses útlimos dias estou querendo sair de mim narcísica. Deixa...

Não me lembre das coisas que eu sei, das coisas que eu penso que sei. Eu sei, e é só pra mim, porque meu saber é meu, de mais ninguém. Alguém pode simplesmente dizer "você não sabe". Mas no inconsciente a negativa deixa de existir. Então, sempre saberei lá, em algum lugar, no meu "sei lá".

Quero continuar amante do meu marido companheiro das nossas horas, pai da minha filha, dono dos meus cachorros. Arrumar, cozinhar, mexer com as plantas no quintal. Isso me faz bem... Planejar, sonhar, concretizar. Deixa eu viver uns dias sem contato com essa minha angústia de viver e morrer, encontrar o real sem avisos, deixar que ele me invada inescrupulosamente.

Chegar ao final da semana com aquele cansaço gostoso e comemorar a sexta-feira, porque amanhã é sábado e não preciso acordar cedo e partir para a gaiola inflamável. Mesmo que desperte com todos os raios entrando no quarto ainda sem cortinas. Ficar até altas horas conversando, comendo, amando. Já não mais fumando. Evolucionando!

Fazer esse buraco infindo no que falta a ser? Cavar, cavar, cavar, cavar. Deixa eu desapegar de mim, fazer de mim instrumento, não o centro. Não, não, estou aprendendo, você que não vê. Eu não sei descrever tudo o que sinto, não sei explicar as impressões que vejo. Não sabia como dizer da babá imprestável para meu sobrinho até se confirmar através do discurso de outrem. Eu vi, eu impressionei, eu falei de um jeito que não soube dizer direito. Mas tentei...

Será que é isso? Tentar, tentar, tentat, cavar ,cavar, faltar, faltar, desejar? O que eu não sei dizer hoje para você, talvez amanhã eu diga. Talvez essa minha necessidade de dizer que te amo demais passe, porque eu sei que vai passar. Dizer desse meu medo de que você morra, justificar meu afastamento insano, mortífero, para me defender dessa dor de um sumiço real seu na minha vida. Será que |Freud realmente explica? Então cadê esse caminho? Suponho que você saiba... Choro com essa agonia de querer dizer que sem você eu me sinto frágil, mas eu aguento seguir. É assim que tem que ser, forte? Então eu sou sem você. Deixe-me ir... Quando esse trabalho termina? Eu posso amar e trabalhar? Eu posso duvidar? Eu ... eu posso endoidar?????

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

REC

 TUDO NOVO DE NOVO
(Paulino Moska)

Vamos começar
Colocando um ponto final
Pelo menos já é um sinal
De que tudo na vida tem fim

Vamos acordar
Hoje tem um sol diferente no céu
Gargalhando no seu carrossel
Gritando nada é tão triste assim

É tudo novo de novo
Vamos nos jogar onde já caímos
Tudo novo de novo
Vamos mergulhar do alto onde subimos

Vamos celebrar
Nossa própria maneira de ser
Essa luz que acabou de nascer
Quando aquela de trás apagou

E vamos terminar
Inventando uma nova canção
Nem que seja uma outra versão
Pra tentar entender que acabou

Mas é tudo novo de novo
Vamos nos jogar onde já caímos
Tudo novo de novo
Vamos mergulhar do alto onde subimos


Paulinho Moska eu conheci desde criança, com o grupo Inimigos do Rei. Meus primos tinham o LP, e a gente ouvia muito as músicas de sucesso como "Uma Barata Chamada Kafka" (encontrei uma barata na cozinha, eu olhei pra ela, ela olhou pra mim, ofereci a ela um pedaço de pudim... perguntei se ela gostava dos Beatles, perguntei se ela era de escorpião...) e "Adelaide" (Adelaide, ô, minha anã paraguaia..). Estou me divertindo com as lembranças.

Minha infância foi muito rica de música por todos os lados, por todos os laços familiares. Conheci Jackson do Pandeiro através de meu avô João (convidei a cumade Sebastiana pra dançar um xaxado na Paraíba..). Ele cantava o tempo inteiro. Os encontros e festas familiares sempre foram cheios de música, produzida ao vivo. Microfones, teclado, percussão, alguém tocando violão, samba de roda de Santo Amaro, teatro, coreografias. Uma tia no teclado, outros tios a cantar, batucar, dançar. Como esquecer da lambada? rsrsrs Meu pai e minha mãe ouviam música em casa, sempre, que variava de Julio Ilgesias à Bob Marley, de uma orquestra à Jovem Guarda. A rádio Educadora sintonizada por eles fez parte da minha educação. Meu primeiro contato marcante com Caetano Veloso foi através de um vinil do disco Totalmente Demais Ao Vivo que minha irmã mais velha, filha de minha mãe, encontrou na casa de minha avó e, sentadas na rede, cantarolou O Quereres, e eu quis ouvir o resto do disco inteiro, a discografia inteira desse cara que se tornou meu ídolo na adolescência.

Transamérica, Globo... Eu ouvia rádio! Não se ouve mais rádio como antigamente!!! Agora tudo está num pen drive! Lembro que colocava a fita cassete no som, deixava o "rec" no ponto e corria pra destravar a tecla "pause" na hora que tocava aquela música que eu tanto queria... Aí partia para aprender a letra, fita pra trás, fica pra frente, caneta pra rebobinar, papel, caneta. Uma, duas, três, quantas vezes necessárias para eu aprender a cantar a letra da música. Não tinha dinheiro para comprar o disco nem a fita. Lembro quando meu pai chegou do trabalho, num dia da minha infância, com alguns LPs. Parece que tínhamos que escolher, cada uma um para si. Gostos distintos! Não lembro as alternativas, mas eu escolhi certeiramente, o de Madonna, Like a Prayer. Como até hoje faço, colocava para tocar as músicas preferidas, mil vezes, toda a paciência com aquela agulha a encostar no disco exatamente na música que eu queria....

Diferente, muito diferente o som de um LP para o som de um CD. Achei que só eu tinha essa opinião até assistir a uma entrevista no Jó Soares com duas pessoas que defendiam isso e que levaram até o palco esta diferenciação.

Guardei meus discos de Caetano. Um dia talvez possa ouví-los novamente.







terça-feira, 21 de setembro de 2010

Pisando no chão

A música me salva das ruas sujas dessa cidade
Dos ruídos estridentes do trânsito, dos vendedores ambulantes
Retira de mim essa angústia de andar calada


Com a música trago palavras alheias cantadas
Transcrevo  em alguma melodia o que eu não diria
O que eu não faria 

Retira os maus cheiros, retira os meus medos
Converte meu fôlego 
Em algo que eu não pego, nem vejo, mas desejo


Faz tempo não caminho pelas ruas de Salvador, faz tempo não caminhos pelas ruas. Ontem senti vontade de chorar por deparar com o lixo espalhado por todos os lugares onde eupassava, pela poluição sonora, pela insegurança de não saber onde se localizam agora os pontos de ônibus. Sem bom humor ontem. Sembom humor hoje. Salvaodr está feia. Os shoppings estão limpos, os restaurantes, os teatros. Mas as ruas... O que faz o povo dessa cidade? Joga lixo por onde passa, faz de cada esquina o sanitário da sua casa, lança entulhos por terrenos abandonados. Papel, plástico, comida, ruídos, poeira. Salvador para mim está muito feia.

Pensei no meu enclausuramento no pólo petroquímico, tudo limpinho, faixas de segurança devidamente respeitadas. Pensei em dois anos sem precisar pegar um ónibus coletivo, meu marido com sua dedicação um tanto exagerada de me transportar para todos os lugares, dizendo "por mim você não pisaria no chão"! Não, não! Tenho que pisar no chão sim!!! Não se vive no planeta chamado terra sem pisar no chão!

Eu chorei ontem caminhando pelas ruas, dentro dos ônibus coletivos, como uma menina perdida, abandonada, que não sabia voltar para casa. Como um passarinho que foi obrigado a sair da gaiola. Da avenida Garibaldi, só soube ir até o Campo Grande. De lá, tive que fazer um esforço enorme para relembrar os caminhos da cidade. Enxuguei minhas lágrimas, engoli meu choro. Meus pés tocavam o chão com as pontas dos dedos, que nem uma bailarina, porque não suportei sentir os impactos dos buracos, não queria fazer mais zoada do que já estava ouvindo. Entrei num outro ônibus e retirei um livro da bolsa. Depois acendi o meu sinal amarelo: não posso esquecer de onde estou. Guardei o livro, peguei o batom, passei nos meus lábios sem olhar no espelho. Para quê o batom? Sei lá! Não queria desaparecer entre tantos talvez... Logo a avenida Contorno e sua vista esplêndida. Queria aquele pedaço de mar sem aqueles barcos todos atracados, sem aquela marina contruída, poluindo aquele pedaço de mar da baía. Eu quis ficar sem chão, flutuar até o meu destino, não correr perigos reais. Passei pelo Comércio, depois pela Calçada, onde eu procurei os velhos trilhos de trem e os encontrei. Eu quis aquela rua limpa, sem vendedores ambulantes, sem gritos irritantes.

Dentro do ônibus fazendo o meu caminho, aquele caminh necessário, fiquei cantando para mim mesma... "Que nobreza você tem, que seus lábios são reais, que seus olhos vão além, que uma noite faz o bem e nunca mais.." Agora estou aqui escrevendo da minha estação de trabalho, nessa gaiola asseada mas inflamável, com um colega ao lado que parece não ter ouvido o meu alerta quando cheguei - estou irritada e para pouca conversa.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Ludo Real

(Chico Buarque/Vinicius Cantuária)


Que nobreza você tem

Que seus lábios são reais

Que seus olhos vão além

Que uma noite faz o bem

E nunca mais



Que salta de sonho em sonho

E não quebra telha

Que passa através do amor

E não se atrapalha

Que cruza o rio

E não se molha



Ê, ê, ê andaia

A lua ê, a lua ê

andaia



Ê, ê, ê andaia

A lua ê, a lua ê

andaia

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Vida é que nem água

Já não sei a quem eu ouço
Meu coração ou minha razão
E se tudo for só imaginação?

Fico louca ou fico sã
Abstinente ou onipotente ...

Vida é que nem água
É um, dois, três
Fluida, quente, gelada
Empedrada
Evaporada

Qual as ondas, espumante, revoltante
Faz borda como margens de algum rio
Transborda
Leva o que encontra no caminho
Vai e vem, vai e vem

Às vezes fico com minha razão
Batendo o meu coração
Fujo para a imaginação

E se a razão vem do outro
O que eu faço então?
Me transformo em água
Pra tocar meu coração



Fiquei pensando muito na minha análise, no que eu vejo, penso que vejo, e lá descrevo como minha verdade. Mas é a minha verdade! O único problema é que eu duvido até da minha verdade.

Pensei numa trindade. Talvez porque tenha lido algo sobre a santíssima trindade, mas nada com o espírito santo, deus e jesus. (Olha a minha negativa!) Em psicanálise, o não às vezes quer dizer sim no inconsciente, ou o não pode ser só não - um charuto pode ser só um charuto! Pensei no três. No três, não escrevi errado. Eu, minha analista na relação transferencial, e o mundo, e o Outro. Será que na teoria psicanalítica o analista é o Outro? Tratarei dessa questão amanhã. Porque se não for, há de existir o três em alguém, em todos. Por isso, eu penso, Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo. Jesus de besta não tinha qualquer coisa! A criatura dividiu o mundo todo, dividiu todos os espaços, fez todo mundo duvidar. Quase todo o mundo. O povo oriental tem particularidadess. Ai vem Freud... vixe! Comparação? Sim, eu tenho o direito, oxente! Pensadores, desbravadores, interrogadores, desveladores, conhecedores dessa espécie tão cheia de mistério que é o homem. Freud marcou o seu espaço. Era judeu e duvidou. Fez transferência e contra-transferência com os mais variados pensamentos. Poucos sentem, mas quem conhece a teoria freudiana, sabe que este senhor marcou o mundo também. Muitos dos que fazem a hitória da psicologia nasceram de suas reuniões das quartas-feiras em sua casa... Só que a sala de Jesus era a rua, os seus seguidores, contadores de suas histórias, foram os que formularam as narrativas.

Sim, mas voltando para a trindade. Começo a pensar seriamente nisso. Queria levar o meu marido para minha sessão. Minhas descrições são minhas. Meu coração (figurando aquilo que eu não consigo dar conta, mas somente intuir talvez) fala diferente. Minha razão está subordinada ao meu recalque, ao meu sintoma, à moral, à resistência, a minha imaginação! Meu coração está subordinado à quê? Ao que eu não consigo descrever do outro, mas sinto de alguma forma. O que chega a minha consciência dentro do setting analítico é o que se subordina somente a minha verdade, que eu constantemente duvido, porque a minha razão pertence somente a mim. E o outro? E minha analista? Minha analista é o outro eu, mas não é o outro Outro... será? Ainda fica a questão...

Não dá pra continuar o raciocínio ignorante à esta questão.

Eu estive lembrando de algo diferentemente disso para escrever e comecei a escrever o que se deu acima! Pensamento que não para. Vida é que nem água... .

Aos psicanalistas

"Notemos primeiramente que o pecado (..) é a ausência de comunicação. 
(...) Nem é preciso dizer que devemos preservar a identidade do outro. Se tomamos o seu lugar, onde é que ele poderá se colocar? Nós o faríamos desaparecer e, sob pretexto de ajudá-lo, assinaríamos o seu extermínio." (Françoise Dolto)

Sublinhar as palavras de um texto, nada mais é do que realçar aquilo que já se sabe. Ler e identificar-se com um texto o também é. Ninguém ensina alguma verdade a outro, a verdade está em cada um, nas impressões da infância, nas situações comuns da vida dentro de uma sociedade, dessa civilização. Por isso há a interpretação, por isso a psicanálise é tão interessante para mim.

Ganhei um marcador de livros de uma confrade que visitou o museu de Freud, e traz o seguinte:

"The poets and philosophers before me discovered the unconscious. What I discovered was the scientific method by wich the unconsious can be studied." (Sigmund Freud)

Interessante que ainda não havia citado qualquer coisa de Freud aqui neste blog... rsrsrs Esse senhor e sua teoria tornou-se tão interessante para mim quando iniciei a minha análise aos 22 anos, e não sabia ao menos o que era a psicanálise. Conheci os primeiro resultados desse aprendizado ao acesso do inconsciente. O primeiro livro de psicanálise que li foi a auto biografia de Françoise Dolto, cujos escritos eu busco acessar sempre, e sempre me traz bons esclarecimentos.

Então hoje eu escrevo em homenagem a cinco psicanalistas, esses dois supracitados e a mais três psicanalistas presentes na minha vida: Jacques Lacan, autor de uma releitura importantíssima da teoria freudiana e trouxe ao meu entendimento a questão do Real, do Imaginário e do Simbólico; Maria da Conceição Nobre, minha analista, a quem declaro minha paixão transferencial e dirijo meu agradecimento ao seu trabalho trazendo para mim uma possibilidade de reinventar a minha comunicação com o mundo a partir do que eu sou sem deixar de ser eu,  e a Emilio Rodrigué, analista da minha analista, cujo contato se deu e ainda se dá através da sua obra de biografia freudiana e quem eu tive o prazer de conhecer e estar sentada a seu lado, mesmo que na comemoração do seu último aniversário.

domingo, 12 de setembro de 2010

Amar é... (a maré!)

Olha o amor aí de novo!
Ele cai mas levanta
Equaliza
Sintoniza

Reconhece o cheiro dele...
Respira fundo e segue avante
Saltitante, palpitante
Desejante!

Olha o cacho de felicidade!
Cada momento aflorando, amadurecendo
Colheitas de prazer a qualquer tempo
Vivendo




Continuo pensando na questão de Deus. "Deus é amor", então se Deus é Real, o Real é amor. O imprevisível, o indizível, incompreensível. Não fui à sessão de análise essa semana, e fico pensando que quando me distancio um pouco a tendência é voltar a minha atenção para o espiritual. Só que no momento em que passo a entender essa lógica, penso que é possível trabalhar.

O amor é transferencial. Nem gosto muito de escrever definições, mas eu o entendo assim. Eu não tenho, o outro tem, não sabe que tem, eu quero, eu tenho o que o outro quer e não sei o que tenho... então vou dando o que não tenho, porque não sei que tenho, para o outro que me dá e também não sabe que tem, e queremos. Ficou difícil? Ficou não...rsrs!

SOU DE CARNE E OSSO E DEUS É REAL!

Para não esquecer a dose do remédio, estou aqui. Ainda com os quatro pontos distribuídos devidamente pelos meus dedos da mão esquerda, minha mão hábil. Hoje estou digitando ainda com alguma dificuldade.

Sintoma recorrente, já sabido. Ouço os ecos de Waltinho imitando o sotaque espanhol de Emilio Rodrigue interpretando sua repetição sintomática. Sim, e daí? Recordar. Repetir. Elaborar. Esse gozo sintomático onde eu circulo inconscientemente e conscientemente depois de repetido. Uma vez em análise, sempre em análise.

A verdade é que estou triste. Triste por saber que sei e não saber agir. Triste com meus investimentos sem lucros, triste comigo, não com qualquer outro. Porque insisto em erros. E erros insistidos pelo amor, pelo  o que eu não tenho pra dar a quem não quer.  É meu espaço público aqui, eu posso. Aqui eu não preciso conviver com a falta, eu passo ao ato, eu deleto, eu leio, releio, apago ou conservo comentários. Estou triste, e choro. Não tenho vergonha de dizer. Ser humano chora, espirra, arrota, peida, se corta, tem um câncer. Menu sortido, para todos os gostos e sintomas. Para todos os gozos.

Estou finalizando a minha leitura de mais um livro de Françoise Dolto - A Fé à Luz da Psicanálise. Muitos, muitos comentários a fazer sobre ele, pois encontrei o que há em mim em muitos trechos. Com a leitura, tive o entendimento de que Deus é nada mais que o Real, nada mais do que acontece, do que se impõe, e o Imaginário não dá conta de imaginar, o desejo não dá conta de desejar, e o Simbólico não dá conta de simbolizar. Quão confortável me senti com a leitura, porque minhas dúvidas diante da existência ou não de um criador, de um soberano absoluto, estavam me incomodando. O exemplar chegou pelo correio tem algum tempo, e eu prorrogando para ler. Uma psicanalista falando de fé. Ela diz que acredita em Jesus. Eu também não desacredito. Consegue descrever a lógica das histórias recontadas e impressas (de impressão, de atenção sobre). Do que me serviu a leitura? Para organizar meus pensamentos sobre a questão que tanto me atormentava. Posso rezar para Deus, posso conversar com o Real, pedir para Ele pegar leve comigo, não me invadir tanto...! Aí lembrei uma musiquinha que diz assim: "Cristo é real, Cristo é real, ele voltará, voltará pra mim..." Algo assim. Gosto muito mesmo é daquela mais dançante: "Céus e terras passarão, mas a palavra não passará, não, não, não passará..." (Meu compadre eu sei que também gosta!rs).

Vejo muito da minha vida quando assisto aos filmes...

Oh! Todos sabem de mim?! Mocinha imbecil! Todos sabem de todos, porque a vida é uma repetição com a elaboração do sujeito amado, amando, amante, desejante, desejável mas com o importante detalhe da presença divina do REAL! (Isso dá um filme de terror com polilogias!)

Preciso dormir, preciso de paz. Estou vigilante demais.


CARNE E OSSO


Composição: Moska e Zélia Duncan



Alegria do pecado às vezes toma conta de mim


E é tão bom não ser divina


Me cobrir de humanidade me fascina


E me aproxima do céu






E eu gosto de estar na terra cada vez mais


Minha boca se abre e espera


O direito ainda que profano


Do mundo ser sempre mais humano






Perfeição demais me agita os instintos


Quem se diz muito perfeito


Na certa encontrou um jeito insosso


Pra não ser de carne e osso, pra não ser carne e osso





quinta-feira, 9 de setembro de 2010

A poesia congratulada

Espero q gostem, para quem não leu ainda....


A GAIOLA


(Mariana Magalhães)


Cantava meu curió e eu não sabia

Tristeza ou alegria?

Sonhava com o meu curió

A gaiola se abria

Ele de tão preso nem saía



Sofria meu curió

Cativeiro malvado tão amado

Bem pequeno e asseado

Cantava pra me ver acordar

Eu imitava meu curió

Mas o dedo nele eu não tocava



E por que , meu curió?

Sua água eu trocava,

seu alpiste eu assoprava,

casca de ovo eu limpava e pendurava

Assobiava quando eu passava

Mas de nada adiantava



Sonhava, meu curió?

algum passarinho o visitava

Mas seu sossego atormentava

Batia suas asas alvoroçadas



Eu desejava, meu curió

Tantas vezes sua gaiola eu deixava

Aberta a porta, escancarada

Pra ver só se você voava



Mas que nada, meu curió

Natureza condicionada

Por uma raça mal amada

desnaturada



Eu chorei, meu curió

Vi suas pálpebras inchadas

Suas asas agitadas

Mesmo com suas garras recuperadas



Eu sofri, meu curió

Sem escolha na sua estrada

Tanto tempo para nada

Morrer preso numa gaiola

Bem bonita, toda dourada

E de nada adiantava


Cadê????

cadê minha voz
minha mão esquerda
meu cabelo penteado
todo assanhado

cadê minha casa
meu quarto
meu cachorro,
meus sapatos
meus livros e retratos

cadê jesus
quem é deus
meus cabelos brancos
quem sou eu

cadê meu violão
a afinação
meu coração
o meu adeus

Cadê meu sol
Cadê o som
Minhas palavras
cadê aquele você
criatura encantada
Não enxergo
Mas nada

domingo, 5 de setembro de 2010

Querem saber?

http://www.formspring.me/Marismagalhaes

O que quiserem perguntar sem se identificar... acho isso interessante, pelo menos por enquanto. As Carol tendem a me atualizar dessas coisas!

Tenho livre arbítrio para respondê-las, vale ressaltar para quem não conhece o Formspring. rsrsrr

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Produção no ócio

Ontem encontrei Waltinho na Confraria dos Saberes e, no final do curso, ele à porta, me pergunta:
- Em que lugar você ficou lá, com a poesia?!
- Não fiquei nos primeiros lugares, mas a festa foi linda, fiquei somente entre as quinze classificadas...
- Marmelada! Quem era a banca julgadora?
- Não sei, não vi..
- Marmelada! Sua poesia com certeza foi a melhor! Garanto que não teve outra melhor que a sua!

Lindo, Waltinho! Cantor, compositor e poeta, contemporâneo da Confraria dos Saberes, um dos primeiros a elogiar a minha escrita flutuante. Mas para mim não importava realmente estar nos primeiros lugares ou ganhar o dinheiro por eles. Eu estava no lugar do meu desejo, com a minha cara limpa, com meus amores na plateia, com atores, poetas, músicos, meus pares naquela tarde tão inesquecível! E ainda: reencontrei meu professor de teatro lá, dirigindo a festa - Osvaldo! Não fui atriz no tempo de escola. E todas as vezes que precisei ser, tenho a certeza de que não o fiz bem. Minhas recordações prazerosas estavam no coreografar, no escrever, dirigir, no cenografar...

Lembro que Osvaldo solicitou uma tarefa de elaborar um classificador decorado para guardar sei lá o quê. Fui às revistas Veja de meu pai, folhear, recortar, criar. Minha irmã mais velha, filha de minha mãe, tinha chegado com a novidade de forrar cadernos com folhas de jornal e plastificar com papel contact. Copiei a ideia. Achei a fotografia de um microfone e outra de vários girassóis voltados de costas.. como posso descrever.... como se fossem uma plateia mirada por trás... (coisa difícil descrever!). Enfim, coloquei o microfone e os girasóis olhando para ele, colados na capa, com o jornal servindo de fundo. Entreguei o trabalho e, no dia dos comentários do professor, eu não compareci à aula. No outro dia, minha colega Danielle Almeida, veio cheia de felicidade e estupefatação repassar os comentários direcionados a minha arte. Osvaldo teria tecido muitos elogios, alegando que "isso sim que é arte!", diante dos demais classificadores, penso que não tão criativos diante de um comentário público deste! rsrsrs

Com 13 anos, marcando meu retorno ao Teresa de Lisieux depois de um ano no Colégio Adventista de Salvador (onde numa apresentação de ciências sobre répteis fiz uma colega levar o seu jabuti de estimação, causando alvoroço na sala, e depois numa demonstração sobre drogas, produzi saquinhos com bolinhas para as anfetaminas e farinha de trigo para cocaína, causando o mesmo resultado!), escrevi para o Festival de Crônicas. Minhas crônica foi a vencedora dentre as demais para representar a 7ª D no festival. A crônica trazia cenas durante uma viagem de ônibus coletivo em Salvador. Bolei a frente do ônibus com compensado em madeira, todos pintaram de azul, exatamente como era o ônibus que me conduzia à escola (extinta empresa TSS... Vários apuros!) e dirigi a peça. A escola tinha um teatro, muito bom, mas a nossa turma não foi congratulada, apesar de muitos risos arrancados da plateia, o que me gerou uma enorma satisfação. As outras turmas haviam contratado diretores para executar o trabalho o que, na minha opinião figiu do que seria uma produção genuína de alunos de sétima série.

E assim, várias apresentações se seguiram. Encontro das Nações, quando gravei numa fita a música de um cantor português para todas as meninas dançarem, inclusive eu, representando a Arábia. Mais uma vez sem o reconhecimento de uma produção de adolescentes.

No segundo grau, no CEFET, estudei com meu primo e compadre, Roquinho, e conheci minha amiga Pati-Beijo. Roquinho tinha estudado no Teresa também, já havia experimentado o teatro antes. Pati tocava piano, mente fértil, criativa. Trio de teatro! Fizemos assim muitas apresentações, estreando com um júri simulado, quando muita gente de outras turmas foram assistir. Lembro de Daniela Com (havia Daniela com gordura e sem gordura! rsrs) fazendo participação especial como escrivã e, à medida que se empolgava com a dramatização, ela batia cada vez mais rápido eforte nas teclas da máquina de escrever, como se, na condição de não poder rir, a máquina fizesse isso por ela! Roquinho era um viciado em anfetaminas, Pati a namorada, eu a médica que esclarecia ao júri todas as características do uso das bolinhas, além do restante da equipe. Escrever foi muito desgastante, porque acabei realizando a tarefa sozinha, e só evoluía mais rápido quando sentávamos juntos, eu , Roquinho e Patrícia. Até hoje tenho a peça comigo. Ao final acontecia um "você decide", a peça tinha dois veredictos, e o professor era um dos que faziam parte do júri, elogiando a minha participação por ter transmitido, no meu papel de médica, todo o conteúdo relevante do trabalho! Não poderia ficar para outra pessoa, né? Sou centralizadora para certas coisas, prefiro confiar em mim! Roquinho e Patrícia deram um show, como nas demais apresentações.

Eram trabalhos desgastantes, pois sempre me responsabilizava por escrever, criar, delegar. Mas eles faziam muito bem o que eu imaginava, e improvisavam como ninguém! Nada como bons atores.... Numa determinada apresentação, sobre a imigração italiana ao Brasil, escrevi uma peça que também foi um sucesso! Sucesso mesmo! Eu de redatora e diretora, Roquinho de locutor de rádio, Patrícia de italiana, e Gerson.. ah, Gerson! de italiano! Gerson foi o ator revelação! Ele não sabia dramatizar, mas o transformei num verdadeiro italiano, com ensaios exaustivos, dedicação e persistência minha, de Roquinho e Pati. Aprendemos a cantar Volare, inserimos palavras em italiano através de uma colega da escola que havia morado na Itália. Pesquisa de música, figurino. Flávia, minha comadre, aborreceu-se com minha postura de querer um bom resultado, como se eu estivesse exigindo dela. Lembro que Roquinho disse: "relaxe... ela não sabe como é teatro... teatro é assim mesmo..." Eu tinha parceiros bons, muito bons! Então Gerson fez tudo muito bem. Roquinho tinha que sair de um rádio gigante de papel, rasgando tudo e surpreendendo o público, - cena ensaiada exaustivamente, até ele sair como a minha imaginação tinha elaborado. Eu levava tudo muito a sério, como todas as coisas que me disponho a fazer até hoje...

Contaria muito mais histórias desse tempo bom... Com certeza retornarei com muito mais lembranças! Valeu relembrar tudo isso em meio ao ócio no qual me encontro aqui neste meu trabalho atual. Pelo menos não esqueço que fui , sou e sempre serei produtiva.