domingo, 3 de janeiro de 2016

Um dentista. Um protético. Já fiz sexo com um protético. Ele pega a prótese. Ora é minha prótese, ora pertence a meu pai. É a prótese de meu pai. Tem cárie na prótese? Ele nunca responde as minhas perguntas. Limpa, entra, sai. Seus gestos valem as palavras, então agora eu tenho que sentar. Deitar. Serei examinada. Baixa a calça. Silêncio. Sinto o corpo dele ao meu lado, algo como um estetoscópio descansa sobre as minhas costas. Sinto tesão. Silêncio. Começo a me incomodar, quero levantar. O meu nome sai da boca dele como uma ordem pra eu permanecer. Como minha mãe me chamava a atenção, só chamando o meu nome, sem explicações.
A entrada de um outro protético ou dentista é inusitada. Ele reconhece a ação do outro e olha pra mim insinuando (sem emitir palavras): uma pena... Você não enxerga o que está acontecendo? Imediatamente eu me levanto, vestindo minha calça, e digo (sem palavras): é claro! Isso é abuso! Ele abusa das pacientes! Então o abusador fica imóvel, apenas respirando, sem qualquer expressão de susto ou culpa. O protético desvelador, começa a se arrumar para o trabalho. Suas calças estão folgadas, caindo. Sem palavras, ele me pede pra ajudá-lo, sem palavras eu já estava disposta, antes mesmo de ser solicitada. Por trás dele, levanto a sua calça branca, percebo a sua cueca frouxa num corpo bastante magro. Tarefa cumprida, em agradecimento.