quinta-feira, 31 de março de 2011

Vale a pena ver de novo, não!

Com um certo atraso, recebo cinco notificações da escola de minha filha. Motivos: conversa em sala de aula, desrespeito à professora, atraso, conflito. Na mesma semana, mais duas - conversa em sala de aula. Telefono para a escola, com um certo abalo emocional. Marco uma reunião, marco sessão com analista para ela. Mas quem está precisando de analista? Acalmo meus impulsos inconscientes cristãos de culpa e procuro pensar na situação. Isso não levam horas, levam dias!!

Não concordo com a punição de uma criança retirando o que lhe dá prazer, mas se o que tem lhe dado prazer são passatempos fúteis oferecidos pela televisão aberta brasileira, eu não penso duas vezes em colocar em prática.  Desde que começou a frequentar a escola, com um ano e três meses de nascida, o fez no turno vespertino. Este ano, no segundo do fundamental, resolvemos experimentar o turno matutino. Ela sempre disposta, aceitou, e desde então, acorda cedo e volta cheia de disposição ainda. O tempo que permanecia dormindo pela manhã, passou a ficar em frente à televisão pela tarde. O resultado disso, dentre outras coisas, é que ela já sabe o nome de vááaaaarios atores globais e todo o conteúdo das novelas!!! Alerta geral para a mamãe aqui... Após as notificações determinei horários para tomar as doses diárias do "veneno" eletrônico - prescrição de mãe. "Vale a Pena Ver de Novo", não. "Vídeo Show" para descansar do almoço. Fazer as tarefas enquanto a "Sessão da Tarde" não começa, porque ao filme é permitido asssitir. No lugar de "Malhação", "Todo Mundo Odeia o Chris". É o espaço de tempo no qual eu chego em casa e sentamos para rever as tarefas da escola, conversar, ler, cantar.

Eu, muito mais retraída e observadora na infância,  tenho encontrado certa dificuldade de compreensão no que diz respeito a esse tipo de comportamento numa criança. Assim, vou tomando atitudes pensando no seu desenvolvimento como sujeito desejante. Uma criança desejante não é mais uma criança, é A Criança. Ela sabe o que quer, não teme desafios. Porém, mesmo pouco interessada em envolver-se no desejo de outrem, minha filha sempre demonstrou excelente comunicação e manteve a sua volta grande parte dos seus companheiros de sala de aula. Muito engraçado foi o telefone tocar de noite e eu ouvir do outro lado uma voz aguda de criança perguntando: - Alô, Clarice está? kkkkkkkkkkkkk Como ela cantou ontem uma música de sua autoria: criança depois de cinco anos, é uma criança grande! E não foi um telefonema não, muitos telefonemas, convites para os finais de semana etc. (Os visitantes deste blog gostam muito desses relatos, não?! E quem conhece a "anã" sabe o quanto ela é capaz de atrair a atenção de pessoas...).

- Mãe eu não consegui calar a boca em nenhuma matéria!
- Mas por que isso, minha filha?
- Não sei , todo mundo fica puxando conversa comigo!

Dia seis de abril encontrarei com a professora regente. Um encontro demasiado tarde, pois o contato que mantenho com a escola sempre foi muito intenso. Não precisa nem escrever aqui os motivos dessa intensidade...rsrsr  

Espero e trabalho para que minha filha caminhe para uma vida adulta saudável.

terça-feira, 29 de março de 2011

Deslocamento

Ontem mudei os móveis da sala de lugar. Estou escrevendo mais não sei em que formato vai ficar, poesia ou prosa... mas, andiemo! Desde que saí da casa de meus pais, a minha frequência de mudar de casa é anual. Meu quinto deslocamento de endereço tem alguns meses, algo mais próximo de que é meu. O imóvel é herança familiar do meu cônjuge.

Agora, percebo a aparição da palavra: deslocamento. Por isso gosto de escrever. Escrever é continuar em análise, porém não a análise propriamente dita (quero voltar a minha análise!). O deslocamento em psicanálise é uma forma de apresentação consciente do que há no inconsciente, censurado e reprimido. Andiemo...

Isso de arrumar, desarrumar, mudar de lugar, é da minha natureza. Se convivo bem, não sei, mas quando concluo uma arrumação, se possível daquelas que deixam o meu corpo extramamente cansado, sinto uma satisfação. A vida para mim não costuma se apresentar de outra forma. Não sou adepta ao perfeccionismo de forma obsessiva, mas o que há de obsessivo em mim é perfeccionista.

A verdade é que está difícil sem o meu trabalho de análise. Ouvi Chalie Sheen numa entrevista dizer que se alguém passasse alguns minutos com o cérebro dele, não iria suportar. Identificação imediata com a declaração.

Pra que mente?
Pra que mente sente?
Definitiva, mente
Substancial, mente
Reservada, mente
Anterior, mente
Diariamente extrema, mente
Possessiva, mente
Habitualmente eloquente, mente
Ridícula, mente
Estranhamente sincera, mente

Hoje tive um sonho curioso: eu estava no bairro da Liberdade, cuja paisagem se apresentava como uma cidadezinha do interior, com artesanato por todos os cantos, seguindo uma figura presente da minha adolescência para chegar num determinado local e sentarmos para fumar maconha. Uma tia aparecia, acompanhada por minha avó materna, e juntas olhávamos uns sapatinhos de louça cor de rosa. Ela criticava. Eu dizia que pessoas outras gostam daquilo, achando tudo "bonitinho". Eu não estava na companhia delas, nos encontramos ali. Lembro perfeitamente de olhar para o lado, como quando se sente estar sendo observado, e meus olhos encontravam o tom amarelo dos olhos de um gato preto, junto com outros gatos pretos. Como se estivessem sendo vendidos também. Mas o olhar do gato era interpretativo: "Está me olhando...? sou bonito, hein... miauuuuu" rsrsr Algo assim. Eu seguia, de mochila nas costas, meu celular tocava junto com a esperança de ser Paulo no telefone. Era só uma mensagem corriqueira de operadora. Já anoitecendo eu seguia, já não mais tão destemida, porque à noite já não era tão seguro fumar maconha na rua. Eu tinha medo, mas a vontade persistia.

Sonho de fumante! kkkkk Bairro da Liberdade e eu querendo fumar maconha! Sim, sim! kkkkkk Sapatinhos de louça cor de rosa. Minha avó espionando, minha tia opinando! kkkkkkkkkkkk O amigo da adolescência era na verdade o namorado de meu tio que muitas vezes animava minhas tardes na casa de minha avó... Quantos deslocamentos há nesse sonho... xá ver...ave! Vixe!!!! De ovelha negra, para gato preto... Conteúdos já não tão reprimidos pelo meu inconsciente.

(imagem: http://1.bp.blogspot.com)

terça-feira, 22 de março de 2011

Para Juliana - a caçulinha

Completo
Composição: Pedro Laborne/Túlio Ferolla

É tão bom ter alguém por perto
Pra você se sentir completo
Ter a mão que te leva pro futuro
Vislumbrando um horizonte seguro
É tão bom viajarmos juntos
E viver aproveitando tudo
Amanhã vai ser melhor que hoje
Novos sonhos ao amanhecer
Imagino milhões de sorrisos
Cada um com seu jeito de ser
Mas ligados no mesmo destino
Um amor feito eu e você

O céu e o mar, a lua e a estrela
O branco e o preto, tudo se completa de algum jeito
Homem, mulher
A faca e o queijo, o incerto e o perfeito
Tudo se completa de algum jeito


 Coisa difícil foi colocar no papel coisas da minha cabeça no dia 13 de março deste ano. Demorou muito tempo para chegar ao entendimento de ter recebido um grande presente neste dia há 29 anos atrás. Sou lenta mesmo. Portanto, faço do dia do meu aniversário, o dia dela. Para mim isso tem muito mais sentido do que a minha vinda a este mundo.

Aí está em poesia, revelada musicalmente na voz das irmãs Sangalo no DVD "Pode Entrar", de Ivete, representando um dos mais nobres sentimentos, quando se teve amor, educação e valorização do que é ser irmão de verdade na vida.

domingo, 20 de março de 2011

PERGUNTAS E RESPOSTAS

- Mãe, você e Paulo fazem sexo?

- Aham.

- Vocês transam?

- Fazer sexo e transar é a mesma coisa, filha, adultos fazem isso..

- Fazem muito? Vocês fazem muito?

- Não sei se muito, mas faço o que adultos fazem.

Respondi com naturalidade. Ufa! Mas não é alívio por ter respondido tranquilamente à questão. O sentimento vem porque ela perguntou a mim, não a outra pessoa. Um dia desses, vendo o outdoor sobre o uso da camisinha com Leo Santana do Parangolé, (o que lhe chamou a primeira atenção com certeza) ela fez a pergunta:

- O que é camisinha?

- É uma proteção para o homem.

- Para o pinto?

- Sim.

- Proteção pra quê?

- Contra doenças.

Ela, muito mais atualizada:

- Mas tem camisinha pra mulher também...

- A camisinha da mulher é diferente.

- Pra proteger a “totoca”?

- Sim, mas só adultos usam isso.

Bem, penso que as respostas saciaram as perguntas! Rsrssrsr... Eu poderia dizer que achei que ouviria tais questionamentos mais tarde, e não aos sete anos do seu nascimento, porém conheço muito bem a figura gerada por mim e percebo, com a minha sensibilidade, por onde caminham as suas observações.

Assistimos à televisão em família, atitude que indico a todos os pais. O seu conteúdo só é um mal para a criança quando não supervisionada por seus responsáveis educadores. Assim, quando a única distração conveniente para todos é o entretenimento com este “ente eletrônico” - para mim uma das maiores invenções humanas -, a solução é não assistir calado com a presença de um sujeito em formação. Aproveite o intervalo para tecer comentários, educar, seja com novelas, noticiários, ou com desenhos animados. Se estiver aproveitando o tempo no qual a criança assiste para fazer outras coisas, ainda assim, não deixe de conversar. Colocar palavras é muito importante, deixar que a imaginação da criança voe muito alto é extremamente perigoso.

Hoje ela assistiu a um filme de terror. Mais um na sua lista. Já experimentou trechos de “Chuck, o boneco assassino”, por “Exorcista, o início”.

- Eu sei que tudo isso é maquiagem! Lembra quando eu sentia medo do lobo-mau fazendo “ahhhhh” e eu tinha medo? Eu vi que era maquiagem! Tudo que acontece em filme é mentira!

Essa é uma conclusão importante, um dado de realidade, já não pertencerá à imaginação. Esses entendimentos são meus, não sei se tenho razão. São coisas de ser mãe e mulher, curiosa da psicanálise, com meu “chip” bem atualizado. Eu li muita revista “Capricho” e “Querida” quando começamos eu e minhas irmãs a entrar na adolescência, minha mãe achou mais prático, eu penso. Nada que invalidasse a transmissão de conhecimentos, afinal, uma leitura é sempre uma leitura. Mas eu desejo um relacionamento mais estreito com a minha filha pra tratar dessas questões. A revista é uma boa ilustração .

Ela costuma acompanhar também as nossas reações emotivas, principalmente de Paulo. Um dia, enquanto eles dois assistiam ao noticiário sobre as enchentes devastadoras no Rio de Janeiro (nunca vi uma criança dessa idade assistir ao noticiário e tecer comentários! Ela faz sempre!), observou lágrimas caindo no rosto dele:

- Não chore... isso é lá no Rio de Janeiro, não é aqui...

Não preciso falar das explicações que ele deu, hoje ela já compreende muito bem quando isso acontece e até fica mais atenta.

Enfim, relatar as peripécias deste ser para mim é muito prazeroso. Observar seu desenvolvimento a partir de tanta informação que o mundo de hoje traz, juntamente com o que ele já me trouxe, é desafiante e não muito fácil. São detalhes, perspicácia e amor dedicado a um ser que não está pedindo para recebê-lo, e eu aprendo a ter em cada segundo para lhe dar. É algo como fotossintetizar...

sábado, 19 de março de 2011

Mesmo que eu morra eles estarão lá
Brincadeira, poeira, canção
Isso nunca acabará
Mesmo que eu vá
E toda a festa aconteça
Não faltará conversa, mentira
Nem cachaça, nem besteira
Minha febre chamada viver
Logo passará
Dentro de mim vai queimando
e aos poucos apagando

Enquanto isso, eu cá
esperando a morte chegar.

Argolas

Ela está no fundo e vê as argolas, como se já tivesse se livrado de todas. Tem um sorrisinho no rosto dela, veja! Mas essa é a cara do começo, antes de mergulhar nas circunferências, antes de fazer as bordas para colocar coisas dentro.

Uma para a orelha, outra para pulseira, outra no pescoço, no cabelo, tornozelo, cintura... Um “tomara-que-caia”, mais uma argola. Coisa difícil será livrar-se das argolas! Melhor mesmo é fazer poesia, dançar e cantar. Olhe! Achei mais uma no seu dedo! Coisa fina, de ouro, de outro.

Pensa que tem a cara do começo ainda... pouco se olha no espelho porque não há tempo. Quer ar, ar, ar, respirar. Aprende até a dar nó em gravata, nó em pingo d'água.

Pisa em buracos e, quando afunda pensa em se livrar. Só quer ar. Não deseja andar engomadinha, arrumadinha, nem agradar. Mas percebe que buraco parece argola. Quando chega ao fundo, um ponto, e assim volta.

Entende que a vida é isso, argola do tempo, anilha para quem gosta muito de voar.

Foto: Caroline Lima | Edição: Alile Dara

terça-feira, 15 de março de 2011

Dia Nacional da Poesia - 14 de março

    AUTOPSICOGRAFIA
    Composição: Fernando Pessoa
    O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente. E os que lêem o que escreve, Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só a que eles não têm. E assim nas calhas de roda Gira, a entreter a razão, Esse comboio de corda Que se chama coração.

sábado, 12 de março de 2011

Meu Aniversário


Composição: Vanessa da Mata

Hoje é meu aniversário
Corpo cheio de esperança
Uma eterna criança, meu bem
Hoje é meu aniversário
Quero só noticia boa
Também daquela pessoa, oba
Hoje eu escolhi passar o dia cantando
De hoje em diante
Eu juro felicidade a mim
Na saúde, na saúde, juventude, na velhice
Vou pelos caminhos brandos
A minha proposta é boa, eu sei
De hoje em diante tudo se descomplicará
Com um nariz de palhaço
Rirei de tudo que me fazia chorar
Cercada de bons amigos me protegerei
Numa mão bombons e sonhos
Na outra abraços e parabéns
Quero paparicações no meu dia, por favor
Brigadeiros, mantras, músicas
Gente vibrando a favor
Vamos planejar um belo futuro pra logo mais
Dançar a noite toda
Fela Kuti, Benjor e Clara
Parabéns, Bianca!
Parabéns, Felipe!
Parabéns, Micael!
Parabéns, Mateus!
Parabéns, Artur!
Parabéns, Luisa!
Parabéns, eu! Parabéns, eu!
Parabéns, Brendon!
Parabéns, Guiga!
Parabéns, Mayanna!
Parabéns, João!
Parabéns, Duda!
Parabéns, Dri!
Parabéns, eu! Parabéns, eu!

quarta-feira, 9 de março de 2011

Na Cadência do Samba

Composição: Ataulfo Alves/Paulo Gesta/Matilde Alves

Sei que vou morrer não sei o dia
Levarei saudades da Maria
Sei que vou morrer não sei a hora
Levarei saudades da Aurora

Eu quero morrer numa batucada de bamba
Na cadência bonita do samba

Mas o meu nome ninguém vai jogar na lama
Diz o dito popular
Morre o homem, fica a fama

Quero morrer numa batucada de bamba
Na cadência bonita do samba

sexta-feira, 4 de março de 2011

Carnaval de Salvador

Moraes Moreira estará presente no carnaval deste ano em Salvador. Nunca deveria ter saído. O mau gosto tomou conta do carnaval da cidade - músicas sem poesia, partituras pobres, violência nas ruas. Estou há dias tentando organizar as minhas ideias para escrita a respeito do carnaval de Salvador, mas a tristeza tende a tomar conta daquela alegria de anos atrás. E olhe que não são muitos anos (esse mês estou completando meus 30!rsrsr). Não consigo passar pela circuito tradicional da festa em dias normais e não remeter meus pensamentos à ela. A alegria das figuras inusitadas, da música, cheiro... só quem tem a saudade sabe.

Vi o carnaval na Carlos Gomes quando criança, a família montava acampamento num apartamento que eu não lembro muito bem, e de lá eu vi Sarajane, Luiz Caldas, Chiclete com Banana, e até Luiz Gonzaga, já bem velhinho, sentadinho em cima do trio. Minha prima Aninha ensinava a jogar serpentinas da janela. Caminhamos de dia até a Castro Alves e vi do chão o trio elétrico. Impossível não se apaixonar à primeira vista ao primeiro som de um trio elétrico. Sem falar na fantasia de havaiana que minha mãe pôs nas suas três filhas que me deixou desconfortada (mania que maioria das mães tem de vestir fantasias sem consultar!). Depois, já adolescente, comecei a curtir o carnaval na Avenida Sete, pois uma tia morava lá e assim tornou possível viver bons anos de carnaval com segurança e conforto. Lá eu dancei com o trio de Armandinho Dodô e Osmar, senti a perfeição do que se denomina como música do axé de Márcia Freire, Netinho, o som perfeito do Araketu com Tatau, Daniela Mercury e seu show ambulante, Olodum, o cheiro dos Filhos de Gandhy... Entrei nos apertos com Chiclete com Banana, com direito a mão de ladrão pelo bolso e tudo! rsrsrs Lembro que uma certa noite, aliás, uma certa madrugada, ouvi de lá do apartamento (não era possível ver muita coisa, porque o andar era acima da casa dos 10) a voz de Lazzo, que ainda não era Matumbi, e fiquei contagiada... Banda Mel, Margareth Menezes, a torcida do Bahia com Ricardo Chaves, a lavagem com Asa de Águia...

Corre, corre, lá vem, lá vem um trio!!!!

Essas recordações são de tirar o meu fôlego, tanto que nem parágrafo lembrei de colocar para o texto respirar! rsrsr Mas é assim, era assim, carnaval do Campo Grande, pela Avenida Sete de Setembro e Carlos Gomes, até chegar de volta ao Campo Grande de Novo. Tem algo mais interessante do que esse trajeto? Pois até com isso os donos do carnaval estão decidindo acabar...

O carnaval de Salvador, não é mais para o povo de Salvador e para os fiéis simpatizantes dessa cidade. Sou do tempo em que sair num bloco de carnaval era coisa de rico, e se colocasse endereço de bairros populares nem se conseguia comprar e isso gerava polêmica. Por que não se polemiza mais, visto que hoje não está diferente? Não é para qualquer pessoa a possibilidade de comprar um dia num bloco, que custa no mínimo 100 reais. E os blocos suspensos chamados de camarotes? Camarote era nas janelas das casas, de estabelecimentos. Não apertava as pessoas nas calçadas. Hoje nem vendedor ambulante pode transitar livremente na rua durante a festa. Definitivamente, o carnaval já passou para os soteropolitanos. Tenho pouquíssima coragem para ir às ruas durante os dias de festa, mas confesso que deprimo quando não vou.

Falar do carnaval é muita pauta, daria muito mais linhas para essa postagem, mas finalizarei com uma poesia musicada de Moraes Moreira, que mexe muito com as minhas lembranças, retrata de onde vem essa alegria do carnaval soteropolitano e, com certeza, onde ela tocar aos meus ouvidos, eu cantarei e pularei meu carnaval. Os grifos são meus.

CHÃO DA PRAÇA
Composição: Moraes Moreira

Olhos negros cruéis, tentadores das multidões sem cantor
Olhos negros cruéis, tentadores das multidões sem cantor


Meu amor quem ficou nessa dança meu amor tem pé na dança
Nossa dor meu amor é que balança nossa dor o chão da praça
Vê que já detonou som na praça porque já todo pranto rolou
Olhos negros cruéis, tentadores das multidões sem cantor ...
Olhos ne gros cruéis, tentadores das multidões sem cantor


Eu era menino, menino um beduíno com ouvido de mercador
Lá no oriente tem gente com olhar de lança na dança do meu amor
Tem que dançar a dança que a nossa dor balança o chão da praça ôuôuô