quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Caiu a ficha
Eu a vi ali embaixo
No chão
Faltou ar
Muita febre alta
Vomitos
Internação

A ponte retrátil se abriu
Eu a vi sumindo
Surgindo uma piscina
Limpida e própria
Para todos

Ainda falta ar
Afinal há um elevador
Com porta entreaberta
Frio na barriga
Estado de choque
Uma borracha na paixão

Os olhos burros querem atirar em todos os barcos da linha burra do horizonte
Bang Bang

Covardes brincam
Com eu te amo
Não se brinca
Quero atirar até afundar
A sua boca maldita
Desgraçado
Barco à vela
Assim de longe é mais fácil
Para covardes


sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Fotografia

Então concordaram sobre a Santa morte. Ela lhe falou da santa fé que encontrou na música. Ele lembrou que nascer e morrer é a todo tempo.

sábado, 11 de agosto de 2018

Diário de bordo

Agora é o sol, haja vista que sempre foi ele desde a primeira partícula.
Será por isso essas luzes vindo em direção ao meio do meu peito fazendo um aperto e cindindo em muitas linhas o meu corpo quente, respiração em repouso, óculos escuros, protetor labial, cuidado com a água imprópria, molho só os pés, escuto sobre a vida de uma desconhecida sem dentes inferiores cujo marido brinca com o meu cão. São desenhos do sol. São muitas linhas luminosas. Às vezes doi o aperto. Às vezes é dor da paixão. Às vezes não. Muita dor no mundo. O Sol queimando.

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

S2

É linda a minha mascara
Linda a minha bandeira do Brasil hasteada
A minha rede
Meu sofá
São lindas as minhas plantas
É lindo aguardar brotar
Meus livros são lindos
E a cabeceira da minha cama
O criado-mudo é lindo
Lindo é o meu amigo cão
Linda é a prainha
O arco-íris
O horizonte
O meu lugar

domingo, 5 de agosto de 2018

Fotografia

Tenho certeza que aquela velha sentada no banco da praça sabe
Aquela velha sentada no banco da praça que viu o casal de velhos se aproximar e sentar ao seu lado
Eles falaram sobre o mais esperado encontro de filosofia do ano
Disseram que viajar não serve pra nada mas que morar nos lugares sim
Ele falou das chicotadas que levou da menina de cabelos longos na juventude
Ela disse que já não acredita mais em casamentos
Disse assim: cada vez menos
E mostrou a ele o outro casal de velhos dançando forró no clarão da praça
Ele a convidou pra dançar
E ela perguntou se era um convite sério
Falaram de tempo musical e arte marcial e música clássica
De mergulhos na baía e de pesadelos com o fundo do mar
Ela disse que viu outro mundo
Ele disse que não viu cavalos marinhos
Ela falou que se ele escrever será lembrado após a morte
Ele disse que tudo será esquecido em quinhentos anos
Ela pediu pra ele parar com isso
Sobre isso de ser esquecido
Eles se olharam e sorriram
Ela falou que lhe falta a fé
Ele disse que a vida é sem sentido
Ela disse que o silêncio é um sentido da vida
Ele diz que enquanto isso faz as coisas que lhe dão prazer
E aquela velha levantou sorrindo desejando boa noite ao casal

sábado, 4 de agosto de 2018

Diário de bordo

Obrigada pelo seu medo
Obrigada
Obrigada
E não havia nada
Obrigada por isso
Obrigada
Uma psicopatologia
Muito obrigada
Obrigada

Tudo de ruim que um dia eu senti, hoje já não sinto nada, foi tanto amor e fé, e hoje já não é nada, vem o silêncio, os feches de luz do lado de fora congruem bem no meio de mim, à altura do peito, eu canto todo dia e quando escurece sou ainda aquela criança que teme morrer de quê?

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Diário de bordo

Você é o meu eu preferido
Eu sou tão você quando está comigo que quando você não está eu deixo de ser muito eu
E é só isso
O seu silêncio me provoca
Outros eus meus
Eu medito
Eu rezo
Eu choro
Eu resigno
Eu proíbo

Eu estou aqui com você
Eu amo você
Eu atravesso o meu mar e posso entender
Que eu vivo melhor quando me vejo em você