sábado, 29 de junho de 2019

sábado, 22 de junho de 2019

Essa elaboração, essas invenções, esses excessos de escrita e solicitação de diálogo fazem parte da mania. É como estar em um poço tentando subir e encontrando o ar pra respirar enquanto isso acontece.

quinta-feira, 20 de junho de 2019

Vamos dar oportunidade
Pra quem quiser calar
No silêncio tudo pode mudar
Vamos dar oportunidade
Pra quem quiser falar
Pode escrever
Se mexer
Tatuar
Vamos dar oportunidade
Pra quem quiser se mostrar
Levantar o cartaz
Pintar a camisa
Tirar a camisa
Vamos dar oportunidade
Até quando não pudermos dar
Essa é a dança de muitas correntes
Mesmo que ninguém mereça oportunidade
Mesmo que alguém nem na própria língua consiga falar

terça-feira, 18 de junho de 2019

Você me diz que eu sou petulante, né? Acho que sou sim, viu?🎶

Um dia ele me disse: vc é a futura Maria Bethânia
Eu disse: você viu Maria Bethânia? Ah! Não sou só Maria Bethânia! Viram Piaf, Elba..  tantas outras!
Ele me disse: por que você não faz um show cantando Maria Bethânia?
Eu disse: porque eu sou Mariana Magalhães
Ele me disse: você parece Maria Bethânia mais nova.



Coleta seletiva - reciclando

Adeus, adeus, boa viagem...
Amores vãos...
Andaluzes de Gandhi
Aves de rapina
Abelhas rainhas
Adeus, adeus, eu vou na roda...
Se eu fosse Penélope, teria um Ulisses pra esperar enquanto teço minha colcha de palavras...
Aos poucos vou entendendo que foram muitos anos pra Ulisses voltar, muitas sereias e monstros, e que Penélope vivia de miragens.
Que responsabilidade desses dois!
"Meu amor é marinheiro e mora no alto mar, coração que nasceu livre não se pode acorrentar"
Não há quaisquer motivos pra estar em Homero... Não há palavras nessa odisseia. Navegar é preciso.
Reza a correnteza.

sábado, 15 de junho de 2019

Foi quase um vexame, mas não foi vexame.

Narrativa da sessão de preparação vocal com Nancy Viégas em 23/05/2019 antes da apresentação do Blá Blá Blá Bombambulante, em celebração do Ano 3, na prática como pesquisa.

Extrato de gerânio nas mãos esfregadas e dirigidas até às narinas. Corpo sentado numa cadeira sem braços, relaxamento dos ombros e maxilar com palavras induzindo à consciência do corpo: "sinta sua bunda na cadeira, seus pés no chão, seus braços soltos" etc. Depois, corpo no chão, respiração e exercícios vocais, a voz a chamada ao tom mais agudo de modo que falar agora requer uma nova performance, já não é falar simplesmente, é falar com ênfase em um novo personagem porque é uma voz inventada. Violão entra no exercício pra trazer o novo canto. Eu fico pensando que não vou conseguir e a tendência é sempre dirigir a voz pro grave, ela chama pro agudo o tempo todo, em qualquer sinal de desistência (que se configura com a voz no grave).
Aos poucos começo a cantar, mesmo com a tosse e uma sensação de sufocamento quando o ar entra pela garganta. A todo tempo (e até hoje) visualizo a parte do meu corpo cujo exame na véspera acusou o inchaço e por isso a rouquidão. Uma peça acima da entrada do funil das cordas vocais, intactas pelas imagens no exame.
As mãos com cheiro de gerânio sempre eram trazidas às narinas, uma sensação de aconchego e tranquilidade.
Exercícios vocais enquanto a voz é recolocada pela via da busca do agudo. "tem gente que não faz o trabalho porque não quer fazer esses exercícios" - são movimentos iguais aos de um bebê com a boca e a respiração. Trrrrrrrr.... MnMnMn.... Ssssssssssss... Sinto algum medo enquanto tudo está se passando. De pé, fui do alto ao chão com as duas mãos, coisa que não fazia antes e que passei a exercitar todos os dias na praia.
Comecei arrumar os últimos detalhes do figurino lá no estúdio enquanto trabalhava a voz, mostrando o que eu ia fazer, tudo no mais agudo que eu pude.


Nancy  e eu na sessão.


quinta-feira, 13 de junho de 2019

DIÁRIO DE UM MÊS


1o dia

Um mês a partir de que dia? Ora bolas! A atenção deve ser prestada no presente. Isso é lógica, filosofia, matemática, e colocam o nome de mindfullness. Depois do romantismo ainda há muitos resquícios dele. Enchente de resquícios mirando e tentando entrar na atenção plena, no diálogo lógico, analítico, objetivo. Saber misturar as cores, ser camaleoa pelo mundo é um querer.  Essa é a mais branda paixão que já vivida. Deve-se produzir, trabalhar, continuar. O estado é de paixão, um apaixonante espelho.

2o dia

O mar está muito cheio e só existe a vontade de Tom Jobim. A insônia chegou às 3:30 h com algum corpo estranho no ouvido direito. A andança tem sido um tanto surda. Vários teclados na caixa e ninguém atende. Se for um mês de silêncio absoluto, estará tudo resolvido no próximo mês - não haverá um relacionamento. Mais um. Já nem é possível saber que tipo de bicho solto se é. Olhos são cerrados para reavivar memórias dos corpos, mas a paixão é tão branda que parece convidar a desapaixonar, haja vista a repetição sintomática.

3o dia

Uma decisão com discernimento e lógica. Não há um relacionamento. Sequer alguma semente dele. Até o peito aperta e quase o choro apetece. Há um sorriso aliviado. Amores são para serem deixados livres, assim é ele todo sentimento. Uma bactéria pode ser transmitida pela boca de um homem e matar uma mulher. A mão é levada ao peito e o olhar para dentro, guardando um pouco do que há de bom, para dar pro cão. É pensado sobre a fase de consciência analítica da inveja. A inveja primordial, infantil. O pensamento está na genialidade de Tom Jobim e Dorival Caymmi e o apego ao retrovisor... isso não existe na música. Isso que faz a humanidade humana. A música é sempre o presente. É só isso. Só música.

4o dia

E náuseas depois da insônia. Vem Sartre,  Bouvoir, mas em nada tem a ver. Porque tem nada. O outro é sempre um vazio e a obra é o que move a existência. O fazer da obra, não a obra feita. A música precisa de muito silêncio, eu compreendo. O corpo vai-se arrumando nesse tempo de estio.  No silêncio absoluto da pausa de mil compassos, a mesma água nunca molhará os mesmos corpos.

5o dia

Uma concha do mar pra morar agora é o bastante. Cartas e palavras amenizam o corpo desorganizado, oferecem o suporte desafetado e preciso do bem-dizer. A imperatriz mostra o quanto o caminho fecundo foi percorrido, pede atenção a esse patrimônio. Ela é grávida tal qual a rainha do mar. Quanto às facas, impossível segurar todas, é momento de reflexão, de apaziguamento. No só depois é que se deve tomar alguma decisão sobre o próprio lugar.

6o dia

As cartas silenciaram. Silenciaram quase tudo. O romantismo parece drenado. Pela teoria da pulsionalidade, há o desvio do objeto para o qual as vicissitudes da pulsão se dirige. Ela é a dona de tudo, até das cartas. Entre o somático e o psíquico, no entre, portanto em cada ser e coisa com nome, porque sempre haverá o entre. Se já se sabe da teoria da relatividade? Não se sabe. Todo saber é suposto. É suposto que o silêncio desse som prolongado do entre dois corpos, faça surgir outro corpo, corpo cheio de novidade sobre si mesmo. É bonito e tem sentimentos ligados à prosperidade.

7o dia

O dia em que se comemora a ascensão de algum morto. Está viva a admiração e o bem-querer, mas dando os últimos suspiros as intenções de investimento libidinal. Um sufocamento pela madrugada, um carro sem trava nas portas numa ladeira íngreme engatado na macha de força subindo enquanto os olhos são ofuscados pelo sol no topo e a máquina capota. O peito formiga e incomoda. As lembranças estão lá, capotando no deserto do silêncio. As cartas ainda não voltaram pra me dizer mais nada. É denominado desinvolução o desapego. Buena vista social club na falta de uma coletânea de músicas preferidas.

8o dia

Segue o som. Se a ausência pelo fato da morte propriamente dita chegar, já estará tudo em ordem.  Antes havia o medo, agora passou. A informação de outrem acalanta: dizem que e é assim mesmo esse tipo de silêncio, pois nele há um discurso e pode haver uma produção criativa, acadêmica ou artística, por exemplo. Também dizem que o silêncio não é uma violência nesse caso. Quando o umbigo é aberto e suturado, deixa de ser o centro do universo-corpo, é preciso deixar outros centros, diversos centros, desfazer-se dos centros. Cada poro pode agora ser todo o universo, no corpo e fora dele. O som é a respiração do silêncio, ele se dá a milhões de quilômetros de distância se há ouvidos para escutar. O som é luz. Deixa alumiar.

9o dia

Já é possível descer à praia. As pedras parecem estar deslocadas depois das chuvas. Tem mais areia por cima acobertando. Algum alimento de voz foi dado ontem por alguns segundos. E foi recebido, com alívio de escutar um tom sonolento e carinhoso. Nesse dia de hoje é desconhecida ainda a direção a seguir quanto a dois corpos em voz no mundo. Ligam-se ou desligam-se. É prudente observar a dinâmica. Se há paragem, a terra continua girando mesmo assim.

10o dia

Há com certeza a sintonia inconsciente. Quando já não se sabe mais rezar, é preciso rezar. Todos rezando juntos agora. Reza para o dia nascer todo dia. Uma explicação a si mesmo diante da impotência: a doença é uma manifestação da vida. Dizem: karma. A reza é para manter a chama da vida. Chama. Reza. O corpo imerso numa banheira cheia de água morna. Reza e chama a vida. Todos estão conectados para a travessia.

11o dia

Como uma ave de rapina certeira, uma voz por tantos idolatrada agarra um corpo cheio de instrumentos musicais. Agora é o além dessa voz. Uma boa viagem. O amor é para ser deixado. De novo esse lamento. É agonia, é trabalho. Todo dia, todo dia, todo dia. Se o vazio preencher toda a entrega, haverá em breve um suicídio.


12o dia

A tentativa é realizar de maneira obsessiva, a exemplo do movimento da terra em torno do sol, do dia e a noite, das quatro estações, da maré  cheia e seca, do obsessivo rei sol que parece nunca desistir do trabalho de brilhar. Nesse movimento há folhas verdes oferecendo a cor e há folhas secas levadas pelo vento, tão vivas quanto a cor das folhas verdes. O olhar para o chão e para o alto traz em si o entendimento da visão cíclica de tudo. Até a água salgada que mina de um corpo tem fim ainda que esse corpo seja quase todo água. O amanhã que é hoje requer sempre mais força do que ontem.

13o dia

O plano de ontem para hoje talvez nunca seja cumprido. A vida é uma bomba estourando. Ressaca moral é o que há nesse dia. Sobre o que foi repensado, repetido, agora em elaboração se vê o ponto inicial da reta tangente. Milton Nascimento e muita emoção - estrada de fazer.  É  interessante como seres humanos idolatram outros seres humanos. É interessante como seres humanos tratam outros seres humanos como deuses. É escutado: deusa. De quê? O recolhimento, os rituais, a discrição, a performance, pode suscitar essa visão em tantos olhos, mas o além disso é só carne e osso e solidão. A música é a deusa, ninguém mais e nada mais nessa terra. Personificar a música em um ser humano é diminuir o potencial dela em cada um.

14o dia

Só o choro em silêncio lava a tristeza de uma saudade, de uma mágoa, de um frustração, daquilo que poderia ser mas não é. O sal descarrega o mau olhado e tudo se renovará.

15o dia

Quem sabe isso quer dizer amor.  Não há outra direção senão a do recolhimento nesse momento.

16o dia

O corpo tem sede dentro da fantasia. O silêncio da rua deserta na beira da praia realiza um desejo infantil. As coisas meio desativadas meio funcionando. Basta observar o respirar: está sempre funcionando mas parece estar desativado. Aos poucos o que era o real, a única coisa que se tinha, se transforma em miragem e a miragem aos poucos evanesce tomada pelo deserto da rua. Poderia ser apenas o silêncio, um recolhimento, um afastamento. Pode ser um tempo atendido. Pode ser o espaço contínuo para um novo encontro na beira da praia.  Na areia muitos falam muitas línguas, a água daqui é mais caliente do que no Chile e um convite ao mergulho é recusado sem cerimônia. O calendário é marcador persecutório. O tempo é uma invenção estúpida. A direção sempre será a mesma com marcador e sem marcador.


17o dia

Há um exercício para desobjetar que, quando é apreendido, torna-se mais rápido o processo. A paixão transforma-se em lembranças indolores enquanto é possível escutar as badaladas do sino da igreja a cada hora do dia. Se é mantido o holofote no sino, tudo ficaria insuportável. O som do silêncio entre as badaladas tem barulho suficiente para compor novas músicas. O cão ajuda bastante. O mar também. A família durante uma noite junina também. A desarrumação da casa, as provas previstas, a busca pela fonte do ser está à frente do romance. O romance só existe quando uma pessoa segura o corpo de outra pessoa e a auxilia a fazer estrela.


18o dia

O trabalho chama. A reza é um trabalho. Antes que esse dia acabe, a vida é parecida com a novela e com os filmes, muito mais diferente. Perguntas para entender o mundo foram agraciadas por respostas. Há um vazio enorme entre dois corpos. Nesse vazio pode estar contida a criatividade de cada um para saber lidar com esse vazio na tentativa de comunicação de si ao próximo. Cachorro marca com urina, cheira o ânus do outro. Ser humano faz girar o canto das palavras  na música por aí. Tudo é música. Por isso que há um apreço pela continuidade do homem através da mulher.

19o dia

Na noite desse dia pela cidade há provas, há compra de um novo livro, há abraços apertados e novas parcerias. As pessoas parecem aos poucos afinarem-se em seus objetivos, talvez enxergando o pouco tempo da vida. O tempo da vida. Qualquer tempo. Vai-se à Freud, vão-se aos antigos textos, vê-se a pobreza da imaturidade para o florescer de uma pessoa que escreve para não enlouquecer. O cão passeia. O filho custa entender as regras em uma comunidade. A civilização continua asfixiando o mar. Os coalas deixarão de existir em breve. Mesmo tempo em que deixará de existir a afeição por quem prefere manter a distância entre os corpos.

20o dia

A felicidade do cão livre é igual à felicidade de uma pessoa livre. A ginga, a velocidade, o olhar, os chãos em alguma parte da cidade feita na beira no mar faz da pessoa e do cão corpos dispostos a arriscar suas vidas pela liberdade. A sintonia entre os corpos é forte quando o pensamento ainda objeta no entre vazio. Um corpo pode sentir o outro vindo lá de longe, ou indo pra longe. É bom quando a notícia de muito longe é a que traz os corpos pra mais perto, bem perto, pra colar um no outro. Mais tarde, à noite, provas, beijos, abraços.

21o dia

Feliz. Está no modo de relacionar-se. O medo exala no corpo e o cão reage com latidos. O pior do medo é não saber-se medo e transformar-se em agressividade. Nunca será paz. Será sempre guerra. Viver é guerrilhar até a morte.

25o dia

O chiado da respiração nas narinas. Há pouco a se fazer. A ave de rapina hoje cedo grita no céu com asas bem abertas. É o azul e ela. Lá de longe onde toda beleza do mundo se esconde. Saramago revela a inexistência do ceu. Do inferno saem as palavras em poesia, o estado dos diabos para Bukowski. Vê-se o homem cru para o qual a mulher é apenas um costume. Quando a mulher faltar é proibido chorar. Os dias estão contados.

quarta-feira, 12 de junho de 2019

RESENHA

Bom dia. Qual o texto de Coimbra? Está no portal?
Quais os pontos relevantes do código de ética?
Todos! Ok!
Qual o filme?
Ok, obrigada
Bom dia. Assisti metade do filme.
Sim, mas tentei ontem e não consegui mais
Interessante, eu também senti dor de cabeça mas não havia ligado uma coisa com a outra
A gente está chamando de filme... Há uma distância colocada quando a gente chama de filme...
Padilha documentou, organizou, coletou dados
Tem tudo a ver com o texto. Eu desejei que a autora entrasse mais sobre como o fazer a história do conceito de direitos e humano pode alterar a vida de um sujeito, embora a gente saiba
Por quais vias, principalmente a via do afeto, do suporte afetuoso amoroso
O sujeito, no direito de ser sujeito, sempre demanda amor, é o que penso
Há muitas forças sobre esse sujeito protagonista do filme, essas forças reverberam em todas nós, no juízo, como se apresentou a dor de cabeça, eu suponho
 "protagonista do filme"...
Desse sujeito, cidadão brasileiro, impedido de exercer a cidadania, de se engajar politicamente e alterar alguma coisa na vida. Ele não sairia dali sem matar alguém, só se o deixassem ir embora em paz.
Matou pra consumar a sua própria morte. A cena mais assustadora foi o formigueiro humano atacando. Seria até mais justo que o deixassem ser linchado. O canibalismo nunca deixou de existir.
Ele não suportou essa "mãe"
Ela é incrível, mas ele precisava de mais que o chão, o quarto, as batatas, ele não tinha instrumentos pra alterar a vida, é o que vejo.
Alterar o gozo é difícil, leva muito tempo, muito trabalho, às vezes nem dá tempo
Polícia no Brasil é para executar
A mídia também
Se ele não tivesse expectadores, abortaria o plano, tudo foi retroalimentado pra haver um assassino e vítimas, é essa a realidade o tempo todo.
Não foi arquitetado, o dedo estava no gatilho
E ele foi atacado
Foi linchado pela polícia
Dá no mesmo
Sr o deixassem ir em paz, seria outro desfecho
Pior é o diretor desse documentário ter apoiado a candidatura do atual presidente
Ele foi ameaçado nos tempos do outro filme, na era PT
Mas é muita incoerência
O justo é manter o direito de viver
Quando ele mata a moça, mexe no direito de viver de todo mundo que estava colado com essa moça, colado = identificado
Sem falar no ritual do canibalismo, comer a carne do inimigo é ingerir a força que ele tem
Que força teve esse rapaz!
Fiquei pensando no que seria o contrário de uma depressão. No lugar de sucumbir, ele parte pro ataque
A infância é realmente a fase crucial na vida de uma pessoa
Crianças pretas não importam, mulheres pretas não importam. A população preta continua sendo exterminada e encarcerada. Eu pensei que a autora do texto ia me fazer enxergar a questão dos direitos humanos diferente do que eu já havia concluído, de que o movimento é para sempre
Isso é o raso, está posto. Quero saber o que altera essa vitimização.
70% das mulheres encarceradas na Bahia vivem privadas de liberdade sem sentença. A mulher é matada na frente do filho. O filho (eu não sei qual idade tinha), que ainda não sabia ler, portanto sem repertório pra lidar com o horror, vai pra rua e não volta nunca mais.
Li um artigo sobre os riscos psíquicos de crianças entre 0 a 3 anos, não lembro se é uma lei
Ok
Só sei que cada vez mais crianças estão sendo enquadradas em espectros autistas, porwue não estão colocando em prática uma política pública que oferece atenção ao psicológico de crianças antes de entrarem na escola
Há uma cadeia de vitimização
Pretos, mulheres, crianças e adolescentes, são os alvos
Em volta disso há a falida guerra contra as drogas (está provado que no Brasil há uma epidemia de álcool), há uma retroalimentação da precariedade das condições básicas pra se viver etc.
O texto convoca: o que cada um pode fazer pra alterar as diversas vitimizacoes. Deixa bem claro que é a partir de si.
Mas esse vínculo pode ser cortado, o que não pode ser cortada é a condição básica pra se viver
Comida, cuidados com o corpo, abrigo e trabalho
A moça que doa o sopão tá alterando em que a condição de vítima dos moradores de rua?
Acho que estou excedendo já. Me sinto impotente mas buscando o pouco de minha potência pra alterar o meu raio.

terça-feira, 11 de junho de 2019

Berra, berra, berra um carneiro
Uiva, uiva, uiva uma cadela
Grita a cigarra até explodir
Escuta em seus ouvidos
Nos ouvidos da cada um:
Explode Coração

Engole o berro, o uivo, o grito
Mete todo pra dentro desse corpo aberto sem juízo
Fica em silêncio
Escuta o mato
O rio é logo ali
Escuta o mato

Fechar o corpo
Fechar o corpo
Fechar o corpo
Para que não se comova
Tampar os ouvidos
Tampar os ouvidos
Tampar os ouvidos
Para que não se iluda
Cerrar o bico
Cerrar o bico
Cerrar o bico
O seu canto é de morte

segunda-feira, 10 de junho de 2019

Uns rascunhos pra fechar um pouco a abertura do livro da vida.
Umas decisões tudo ou nada em prol de alguma estabilidade do transtorno mental

Que dizem
Que dizem?

Caapora no mato é capitão
Escuta o mato
Em nome de deus


Isso é uma doença mental com sintoma exposto. O pensamento vem na frente ou atrás de uma música em volume e sempre juntos. Os pensamentos base são  música e tudo o é. Vento entrando pela janela, mar, pingos de chuva, e todas as melodias em poesia sempre.


sexta-feira, 7 de junho de 2019

Uma barata tonta
Um rato em um labirinto
Um cão atrás do próprio rabo
Um macaco pra lá e pra cá
Sem saída
Uma lacraia em si enrolada
Um gato preso em um quarto
Um pássaro se debatendo no pequeno cativeiro
Uma baleia que assassina
E eu
E eu
E eu
Bicho solto
Abrindo o chão com as mãos
Chame
Chame
Sem compromisso


A solidão se perde no coro da música. Ali tudo pode acabar. Ali acaba a minha guerra. A busca pelo outro ali acaba e ninguém mendiga ninguém porque no coro da música é todo mundo consciente de sua partícula voz.
Se pedem o bis sempre o terão. Essa é a parte do que ainda resta da perda da solidão. É sempre uma surpresa.
O corpo que canta se expande na verdadeira energia do ser humano. A própria máquina se desorganiza e cria um só órgão sem formas. O coro é uma emanação dos corpos. A voz cantada é o desprendimento dos órgãos setorizados cujo nome lhe deram corpo.
A felicidade e a entrega despudorada e pacífica está nas vozes ritmadas por algumas horas. A paz está em poucas horas. O amor é trabalhar para que existam poucas horas de vozes em coro.

A casa do diabo

Um escritor muitas vezes desperdiça palavras.
Quero usar a medida certa, o suficiente da palavra, pra chegar ao outro, comunicar, obter interlocução. Um escritor conversa com o vazio e as palavras entornam assim.
Vem atrás
A conquista é a nossa sabotagem
Pega e larga
Mais uma vez
Pega e larga
Vai aonde? Pega
Pelo amor de deus! Larga

quinta-feira, 6 de junho de 2019

A companheira

A companheira é aquela a quem se pede ajuda pra arrumar a mala da longa viagem

A companheira é quem percebe se o shampoo acabou e providencia outro

A companheira é quem silencia no colchão enquanto são feitos arranjos pro próximo dia

A companheira cala algum ciúme

A companheira é quem toca a sua fronte cheia de dores

A companheira massageia todo o seu corpo pedindo que seja livrado de todo o mal

A companheira vela o seu sono

A companheira desperta do próprio sono no seu mínimo movimento durante a noite

A companheira consegue dormir quando finalmente escuta o seu ronco

A companheira se despe sem pudor

A companheira se enfeita com argolas para a sua segurança

A companheira perfuma e hidrata a pele

A companheira cuida dos cabelos

A companheira compra suas cervejas preferidas

A companheira providencia o jantar para celebrar o retorno da sua viagem

A companheira escolhe uma lingerie atraente para a sua volta

A companheira faz a farofa desejada

A companheira vibra com o seu trabalho

A companheira é feliz com cada sucesso seu

A companheira te lembra de fechar a porta de casa com as chaves nas mãos

A companheira sabe aguardar o final da viagem

A companheira está disposta no dia da volta

A companheira ri muito alto das suas histórias infantis

A companheira assiste a um filme inteiro enquanto você dorme ao lado e finge assistir junto

A companheira te dá a mão quando você procura enquanto dirige o carro

A companheira atende ao seu pedido e senta na mesa pra jantar

A companheira escuta com todo prazer a sua discoteca

A companheira conhece o som da sua respiração

A companheira reconhece o seu semblante feliz ou cansado ou cheio de agitação

A companheira sabe ir embora quando é indesejada

A companheira aprendeu a se despedir no meio da noite

A companheira mora ao seu lado

É companheira só
Ele se vai e me deixa um grito chamando por deus
Me pede pelo amor de deus
Eu conheço o amor de deus em mim quando eu busco a presença dele antes de partir
Porque senti o seu sopro cansado
E vi suas voltas em torno da arena
O seu corpo pedindo pra sair dali
Pensei ter lhe faltado
Ar
Pensei ter lhe irritado
A música estava lá mas não inteira
Música para o cérebro
Escutei de alguém
Enquanto eu quem via a sua alma
Enquanto eu quem de longe sentia a sua respiração
Antes do grito no meu ouvido o sonho avisando
Para onde está indo?
Eu não escutei claramente
Era a sua voz nos meus ouvidos
Em súbito quase em vômitos levantei
Fiz novas tentativas
Recebi o grito
Quase o choro
Pra eu te deixar
O que são seis meses depois de uma semana? Passados quinze dias. E mais, qualquer mais ou menos. Todo dia é dia de folia. Todo santo dia. Contagem sem destino essa. Quanto tempo terei pra sempre te reencontrar? Besteira de contagem. Um dia eu estava anestesiada dos pés à cabeça. Um dia eu estava com furos profundos na pélvis. Que dia foi esse dia? Olhei pro meu umbigo um dia. Mexeram no meu umbigo. Depois, muitos dias olhando pro próprio umbigo. Naquele dia de talhos na barriga e sua voz cansada. No dia marcado pra te escutar você muito cansado. Olhei de longe pra você naquele dia e fiquei preocupada em ser o último dia. Umas horas sonoras com você. Umas ondas quase incontroláveis nessas horas em mim.

quarta-feira, 5 de junho de 2019

Estudando lógica:



Eu não quero nada com ninguém

Eu quero algo com alguém

Eu, que quero algo com alguém, busco eu não quero nada com ninguém

Assim, eu não quero nada com ninguém.

terça-feira, 4 de junho de 2019

Elas morreram de paixão a vida inteira. Drogadas de paixão entre a música e suas psicanálises alucinaram um bem-querer. Que nunca chegou. Fingiu que chegou. Chegou e fingiu que ficou. Muitos choques no peito, iam e vinham como badogues e pedras mirando o passarinho. Pra não sei o quê... Só matar o passarinho. Elas amaram até morrer da incompreensão do amor. Na gigante microscópica paixão moveram outros mundos com muita força. Quem suportaria tanta força? Quem suportaria tanto afeto? Se foi impossível seus próprios corpos suportarem tantos buracos abertos sem nunca cicatrizar, quem faria isso? De tão abertos buracos, outros corpos vinham e se esbaldaram, diziam sem querer que as amavam e por eles elas faziam tudo. Tudo era nada nesses casos.
Quando lembro do amor impossível meus olhos ainda se enchem de mar

O mar impossível do amor

Ponho o meu barquinho à deriva quando o peito aperta

Atravesso o Atlântico seguindo a rota sem saber o caminho

Barquinho, barquinho, frágil como papel na água, é obrigado a voltar

Da areia da paciência acredito no norte verdadeiro e na união perfeita do ceu com o mar

O barquinho parece nunca desistir de navegar no mar impossível do amor

Canto pro mar azul ou cinzento

Invento iemanjá pra aliviar o amor impossível e consolar o meu barquinho

Frágil barquinho

Descascado barquinho

Desmantelado barquinho

Furado barquinho

Estraçalhado barquinho

Desperdiçado barquinho




sábado, 1 de junho de 2019

O mar de noite é assim

No fim das contas
Depois do reboliço
Dos talhos no abdômen
De vômitos e febres
Dos choros e pedidos
Depois do colo da mãe
Da verdade das tias
Do companheirismo das irmãs
Depois da declaração do pai
Das cenas de amigos
Do presente musical
Pra não acabar a humanidade
Lá no fim das contas
Um pouco no pescoço
A vela branca é acendida

A enferma não sabe se chora porque ainda está viva
A enferma não sabe se ri porque está viva
Ela não sabe bem para quê acende uma vela no final das contas
Acende e gira um pouco o crânio pra esquerda
Com as contas por aqui
E os ouvidos lá no mar

Escuta o mar
Escuta
Em nome de deus