quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

É proibido dar o número de telefone a estranhos na rua. É proibido falar com estranhos, é proibido falar com o artista da reportagem mesmo que ele apareca na sua frente de repente. É proibido fazer reuniões  pra tratar do negócio da arte com homens no quarto. É proibido fumar com homens dentro de um quarto. É prpibipr escutar o homem dizendo eu te amo. É proibido transar com homem quando ele diz que a sua presença lhe faz muito bem. É proibido pensar. Proibido falar. Proibido cantar.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Cretina

Escreva aí um livro. Se você está perdido, sente o vazio no peito, chora o dia inteiro, tem insônia, irritação, sudorese, letargia, aceleração mental e cardíaca, escreva um livro aí. Você pode. Você lida muito bem com as palavras. Ou você é uma tartaruga que levou cinquenta anos depositando os ovos na paciência e todo mundo só viu isso hoje ou você é uma tartaruga de cabeça decepada, com certeza. Se você só consegue sair de casa com o seu cão na guia e assim pode caminhar pela madrugada na paciência, você pode escrever com o cão ao seu lado. Escreva aí um livro com essas coisas tão sensíveis que vê. Ali, você viu, aquela grama verde banhada de flores brancas caídas de uma única árvore. Você conseguiu enxergar a beleza daquela natureza enquanto reformam esse trecho da cidade, então você consegue escrever um livro. Desde que eu te conheço você sente essas dores e profere palavras, e eu te digo: "quem te trisca, faz você sangrar, ou faz você florir". Você consegue escrever um livro sobre feridas e flores? Escreva um livro sobre "a grama estar para o homem assim como a árvore está para a mulher". Eu sei que você detesta quando lhe dizem o que você deve fazer. Estou um pouco sem jeito de lhe dizer isso. Mas você vai fazer o que com esse corpo hipersensível que aponta para o mundo todos os erros quando o erro é você? Mamãe, não chore, não tem mais filhinha, ah! minha mãe menininha se foi. Olhe, o cão farejando e atento ao redor. Ele te ajuda. Por que você diz que não aguenta mais e fica indo pro mesmo lugar? Escreva aí um livro. Mas use bem as palavras porque elas podem me machucar muito. Suas palavras já me machucaram muito. Eu sei que as pessoas todas mentem e você procura a palavra certa até encontrar o nome pra essas pessoas "cretinas". Seja um pouco cretina também. Escreva um livro e busque a cura pela palavra. 
Essa moça é pra mais tarde
Deixe quieto mas deseje bons dias
Mantenha à vista
Deixe que ela transborde em palavras
Muitas palavras sem sentido
E sinta o quanto ela sente o que aí você pôs no mundo
Não só você
O entorno também
Mas só você
Deixe o tempo abrir
Agora que a encontrou

Olhe um pouco de longe
Venha um pouco pra perto
Você quer?
Uma moça assim
Salta muito alto
Com você
E se faz de colchão
Quando suas pernas deixarem de alcançar a terra

EMBUSTE

2 - NO DIA DO NADA

Vide posições dos dias do nada.

1- Lambada de serpente
2- Pseudo blues
3- Vapor barato
4- Flor da pele
5- Dois rios
6- Sangue latino
7 - infinito particular
8 - por onde andei
9 - por causa de você menina
10 - o meu estranho amor
11 - A paz
Não necessariamente nessa ordem. Intercalam-se vozes informativas: depiis de axe, música brasileira e matrizes africanas, música farmácia máxima, presidente da república.

Fim.

1 - NO DIA DO NADA

Escuridão, som do mar

Canta: Hello, darkness/hello, darkness, my old friend, darkness/ in my brain/in my brain (vocalises em Silvia)

Luz vem, é manhã, tarde, noite, como quiser atensionalmente quem for conceber a luz. Cores do dia todo. Som do mar em maré cheia, maré vazia quase não tem som. Não pode parar nunca.

Silêncio.

Canta: Certas Coisas

Luz trabalha saindo da escuridão enquanto canta enquadrado na moldura flutuante, amarela corpo inteiro ou azul cabeca e busto. Amarela corpo inteiro.


Cenário: cama com cabeceira. Atrás da cabeceira jaz lixo plástico amontoado enormemente. Talvez uma escultura esse amontoado, de modo que o transporte seja facilitado. Cola quente e lixo. Todo o espaço atrás da cabeceira é ocupado por lixo plástico. Cama lençol preto, ora flutua. Livros espalhados pela cama e chão, muitos livros. Violão. Rede de pesca no fundo no palco com furo retangular, na luz é trabalhado o dia, a tarde, a noite.

Figurino: Despe-se. Calcinha e sutiã bege. Limpa.



Um dia ela desiste
De enviar carta
Bater a minha porta
Telefonar quando eu não quero atender
Ela vai esquecendo de mansinho
E vai entendendo que eu quero desapego
Quero distância
E só pode vir quando eu quero

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Ansiolíticos e o seu valor
Ansiolíticos e a sua função
Ansiolíticos vão chegando ao final
Ansiolíticos
Tome um
Tome dois
Segura a onda assim
Mergulha na onda
E ela vai passar

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

El silencio es la mejor solución

Eu estava sóbria e o calor vinha de dentro pra fora desde muito cedo. Escrevi minha inteligência flutuante na caixa de textos. Uma escrita entusiasmada, um movimento contra a dor do outro, contra a minha dor. Dedos encharcados pingando compulsivamente buscando uma, duas, três, mais soluções pra que o sonho viva e simbolize a sua realização fora do moinho promotor da corrente de água pelos dedos. Sare a dor do outro, sare a minha dor.
Isso é desmedido e insano. A dor do outro pode até estar em insterseção com o meu conjunto de dores, alguma dor do outro. Agora vem a reação em voz (do outro) agitada, gritada, de dor, mas também com alguma solução pra esses elementos na interseção.
A voz, aquilo que me marca no superemotivo, me diz pra parar  de rodar o moinho. Um pouco. Um pouco assustada com a voz gritada, porém ausente de violência entre os significantes. Ofereço-lhe o que pediu. Ideias, minha  inteligência, palavras impetuosas. Minha boca mal abre de dor. As dores trocam um contato e o conjunto se desprende, elementos voam, a poeira sobe pelo lugar todo. Eu digo que estou doente. O outro diz que está deprimido. Acha que está. Eu tenho certeza que estou. Porque, onde está aquela coisa pra fazer que pode mover o mundo moinho gigante fora da minha inteligência?
Um encontro é marcado, e acontece. Mais água, agora pela boa, dolorida, mas o aquecimento do corpo em inteligência impede de paralisar. Eu fiz, eu posso, vamos lá, ainda é, já é, estamos juntos e desejamos mover o mundo consciente de nossos elementos doídos, espalhados como a poeira do dia, cuja chuva de agora vem assentar e resfriar o corpo queimando de dentro pra fora, porque o sonho vai continuar a ser sonhado.

domingo, 27 de janeiro de 2019

Entre duas mudas e um adeus - eu lhe pergunto: quem lhe deu tanto axé?

Um beijo realização de desejo que nunca mais será o beijo que eu desejo.
Prolongado e macio. Muita paz e amor. No andar de cima da casa onde acontecia uma festa, ele dizia: eu te amo, posso namorar com você de vez em quando?

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Você fica aí.

O fio transpassado pelo meio do tronco estava lá. Aos poucos comprimindo a pele gerando um sulco. O movimento repele o fio e um incômodo é sentido.
Qualquer coisa que se sinta nesse momento é importante. O bocejo anuncia a fraqueza de um corpo mal oxigenado há dias. O cão arrasta esse corpo no amanhecer. O mar também chora o choro incontido de tanta vergonha por não ter superado o luto. Era menina e morreu, em seus braços, cheia de palavras dizia: você é a melhor mãe do mundo.
O dia seguinte é o de tempos idos daquela de quem tirei a culpa por ser filha - o filho que o pai não teve, ela deu de qualquer jeito.
Uma crise, outra crise, aos poucos saindo da crise, mas é incompreensível a cura pelo jorro das palavras que encerram ciclos junto àqueles quem lhe fizeram de isca pro seu bel prazer. Agora o corpo é trans, deixe que ele se transforme e fiquem longe. Toda inteligência e canto foram deletados pra que a vida morra com a morte, nada além.
Apenas uma criada das insanas paixões que adoecem a alma de quem fora ensinada a reverenciar o amor por outrem. Balela, mentira, lorota, e dor, muita dor.
A vela branca ficará apagada, essa fé de vela é duvidosa, pode incendiar uma casa. Até porque é inútil chamar, pedir, mentalizar o amor romântico - ele tem a arte dissimulada de durar enquanto é carnaval.
Muitas despedidas ao mesmo tempo pra poder prosseguir. Cada um já encontrou o seu espelho favorito e assim foi correspondido depois da passagem pelo portal da paciência.
Mamãe, não chore, a vozinha meiga de uma criança hiperativa que no silêncio da casa foi flagrada cortando o forro do sofá.
Corta a mamãe, poderia haver esse pedido. Ou mate a mamãe. Tomara que o tempo voe, ainda que o amor nunca cicatrize.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

 Desde criança era fácil ficar impressionada com as notícias, seja na voz da vizinha quem chegou avisando que seu Glicério morreu e precisa de alguém pra vestí-lo, seja no telejornal avisando que a nova epidemia é do ebola. Também era fácil ficar horas impressionada com a aranha tecendo sua teia embaixo da cama - ficava ali debruçada com a bunda pra cima e a cabeça enfiada o mais próximo e imperceptível que podia pra não atrapalhar o trabalho do inseto e tampouco o seu trabalho de observação. Ou admiração? Contemplação? Meditação. Parece ter sido essa criança meditativa. Explosiva também. Chorona. Num dia de meditação com aranha, alguém chegou no quarto e soltou a ponta do toalha, roçando todo o trabalho da trabalhadora e desconectando a meditação. Súbito revoltoso e ninguém entendia o que havia de tão absurdo em simplesmente passar pelo quarto se despindo de uma toalha perto de uma cama enquanto havia alguém ali no chão. O ódio em palavras vinha aos berros, mas explicava motivo.
Tobé brincava de escola com a irmã mais velha e com a irmã mais nova. A mãe garante que ela foi à alfabetização já sabendo ler. A mesma irmã que lhe ensinou ler, estudou com ela a lei da improbidade administrativa antes de Tobé tornar-se funcionária pública. Conheceu o município de cabo a rabo, com sol, com chuva, com esgoto a céu aberto, com terras deslizando e gritos de que perdeu sua terra.
Mas não é esse o motivo da história. Tobé sempre foi trabalhadora, uma leoa, quando o assunto era agilizar e contribuir pra equipe. Aos poucos o serviço público vai tirando o brio da juventude sedenta por criações, o jogo político nem se fala.
Ali nos Dois Leões tem uma ladeira enorme que subindo, subindo, é capaz de chegar no Largo do Tamarineiro. Era ali que morava nesse dia.
Chegou do trabalho e brincou um pouco com o seu filho único. Acomodou-se e todas e as luzes se apagaram pra deixar vir o outro dia.  Sábado. Ensolarado dia de faxina, de cozinha, de compras, de som alto na vizinhança, de vasculhar o necessário os materiais escolares do menino pra ver se trouxe algo que não deveria ou se tem cuidado com o que tem. Tudo certo, nos conformes. Tobé também tinha uma paixão, um músico famoso de Salvador, também era famoso na dança e publicava textos de filosofia analítica - você acredita? Emcontravam-se e amavam-se com o melhor dos humores, sempre. Ele estava pra chegar quando Tobé começa a sentir a agitação da rua. Tons de vozes aumentados, urros. Enxuga a mão na roupa e olha onde está o menino - brincando no quarto de recortar e colar, escutando música. Chega da janela e vê uma reunião de homens cercando um homem caído no chão.
Alguma coisa estava errada. Muitos em pé e um deitado. Acidente de moto? Não via moto. Caiu em um choque epiléptico? Nenhum sinal de corpo contorcendo. Ao desfocar a roda, observando o entorno pra começar a construir o roteiro da cena, Tobé escuta um urro, é o tempo somente do próximo chute e do próximo urro. Sucessivos chutes e urros sem parar. Todo mundo assistindo. Mas o que é que é isso? Escuta: "pra você aprender, seu...". Mais chutes, chutes, chutes. Tobé grita da janela: "O que é isso?" Ninguém escuta. Grita mais: "Parem com isso!" O som das pancadas, do pagode , dos urros, da música  casa, da panela de feijão começando a pegar pressão, seus gritos eram mudos.
De repente param. Muito sangue no chão. A vítima pedia "água, por favor".
Tobé entrou em casa, disse ao menino que ficasse onde estava, pegou a garrafa de água. Tinha que descer as escadas.
Tarde demais.
Ficou impressionada.

O canto da sereia

Me tira essa dor do peito
Meu deus
Me tira
Me tira essa dor do peito
Meu deus
Mentira
Me tira essa dor do peito
Meu deus
Me tira
Me tira essa dor do peito
Meu deus
Me tira
Me tira essa dor do peito

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

PELA FLORESTA AZUL

Dia de Reis e
olhos nos olhos dentro a fora. Sol a pino no centro da cidade. Uma brisa na praça cheia de árvores. Quem caminha pela avenida deserta? Um preto. Uma preta. O calor entranhado em seus corpos os unem enigmaticamente. Sabe lá deus em que ponto do carnaval estão naquela avenida, rumo à cidade alta, ali perto daquele primeiro elevador. O preto aparenta viver o que vier, vive muito bem com o real. A preta doa, vende, negocia com a imaginação. Jazz um desnivelamento que, se não for música, o destino saberá o que será.

A Objeto - criminoso

Eu quis o seu canto. Foi o que me chamou de mim naquele dia, na sua sala, depois no quintal de sua tia, quando tive a percepção. Simplesmente.

domingo, 20 de janeiro de 2019

A pausa do até amanhã



Amanhã é longe demais

Enquanto isso


Roda a baiana
Em alma estandarte
Chama a batukada
Põe uma perna pra cima
Estica a outra
Fecha os olhos
Abraça a causa de sua queixa pro mundo


Tudo se transformará.

sábado, 19 de janeiro de 2019

O SOPRO DO MAESTRO

Isso é uma voz, esse sopro pelos metais
Uma voz de tão perto, me assusta
De onde veio? Ossos!
Sua voz firulante entrou na minha voz em exercício
Agora a respiração parece um índio no meio da mata soprando
Sozinho
Soprando
Ossos e seus ares
Na perfeição acústica do grito no deserto de si mesmo

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

O tempo todo era o mar, as ondas vindo em minas gerais. Da janela esperávamos a maior, iria invadir tudo, segurem-se! A notícia da morte de alguém por causa das ondas chegou. Oh, que tristeza, se não é conosco... O rapaz era falante e o ambiente convencia a ficar.
 Há algo de muito errado quando o pensamento envia ao corpo a ordem pra sucumbir. Queria a garra de um lutador.
Imagino, porque já senti e fiz isso, olhando pra ela, não é ela quem me apraz. Então fico mudo por dias, faço de conta que as palavras não são dirigidas a minha pessoa e que tenho responsabilidade zero sobre as palavras que surgem. Zero. Ainda que minha língua nos dedos dos seus pés, meus dedos na segurando o seu corpo pela vulva, na gengiva deslizando pelos dentes, e o meu pedido pra que não me deixe só tenha sido atendido, é zero.
Nunca bata a minha porta. Não venha. Nem me envie mais mensagens. Nem olhe pra mim nos corredores. Apague suas memórias. Pegue suas mudas e mate, doe, queime, cultive. Faça o que desejar bem longe daqui.
 Se eu hoje há uma pesquisa em andamento, é preciso imergir.
E nada vem na onda.
Todo está desierto.

3 pa pa pa

A música de matriz africana na história da música brasileira.

Abre.
Cama.
Água, deitada, recostada.

13'11"

Escreve. Audio.

Vapor barato à flor da pele.

Pra te ver melhor até deitar e ficar.





2 pa pa pa

Pro nada, srmi-fetal.

Pseudo blues e psicodélica luz.

DJ, arranjador, qual a clave, percussão e violão.



Uma motocicleta vermelha
Outra motocicleta vermelha
Uma mensagem virtual

Encontros

Um carro cinza
Uma mensagem virtual
Um navio com velas
Um carro preto com contas

Desencontros

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

No chão do banheiro

Estou enxergando o ser humano de miséria. Quando a pessoa é degolada, a cabeça ainda vê e transmite emoções. Viver é também fugir de perder o corpo pra um degolador. Então tudo acaba por aqui?

Eu sinto vir algo pra corda se manter flexível e firme e atravessar a paixão novamente. Muito trabalho, grande trabalho, árduo trabalho, o genuíno trabalho de apaixonar-se pelo trabalho - aquilo que você mais gosta de fazer?

Meu amigo, serei escritora. Creia. Eu acredito porque, veja isso, quanto vômito pelo chão. Meus netos herdarão direitos autorais. É uma lógica. Porém, se eu todo dia acreditar nisso, eu deixo de ser uma futura escritora.

E os ouvidos das paredes? Se tivessem memória, cantariam. A cantora canta o tempo todo. Olhe, quantas cantadas. Quantas enrascadas por causa da música. Porque há um corpo inteiro cantante e os espelhos todos estão estilhaçados.

O som mais longe que escuto muitas vezes é o mar. Será ele que me prende à beira da paciência? Tem percussão e fogos de artifício algumas vezes. Nidro e fico no lugar. Devo falar dos pensamentos? São os melhores. E os piores.
Duvide de mim, minha cara. Eu digo é, depois desdigo bem rápido. As palavras correm pelas mãos, perversas como as pedras ferindo as paredes de rocha, o chão argiloso e o corpo em carne viva, quando o seu oposto ensaiava ser oposto pra dizer... quem você é e do que você sabe.

Ninguém sabe nada. Absolutamente.

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

1 pa pa pa - Das Dores de Oratórios

João canta e toca até ali.

"Porque o amor é como fogo,
Se rompe a chama
Não há mais remédio"
Foi por amar
Que ela iô iô iô
Se amasiou com a tal solidão do lugar.
Foi por amar
Que ela iô iô iô
Só pecou nas noites de sonho ao gozar.
Foi por amar
Que ela iô iô iô
Só ficou só
Ele a deixou
Só ficará...


Um globo terrestre ou qualquer outra coisa segura com as duas mãos, fetal, cobertor, travesseiro fofo.

Luz baixa, bem baixa vindo da porta.
Instrumental.

Ou algo com música sem parar. Sem parar. Nenhum buraco sem. Uma hora ininterrupta.
Não, o silêncio é música.

Não existiria som senão houvesse o silêncio. Toca. Canta, áudio.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

O que é não ter e ter que ter pra dar

Colchao sobre paletes tudo branco? Moldura amarela corpo todo ou azul pela metade. Criado mudo cheio de livros cadernos lapis isqueiro copo com água.

Hello, darkness, my old friend


O sertao o mar o grito - fim de show, se despe e retira a maquiagem, se retira e volta. Senta na cama. Deita na cama.

Texto. Barriga pra cima corpo estirado olhos abertos. Volta o corpo. Fetal.

Silêncio. Luz amarela em fade in.

Corpo alonga.
Arranha o violão.

Lambadade serpente.

Faz cigarro. Ensina a fazer cigarro. Cigarro na boca e livro. De bruços.

Texto. Projeção desenho. Dream a litlle dream of you dublado.
Luz em curto circuito. Nágila Goldstar Maria Tuti Luisão. Cry me a River no chão dublado.

O fim é na cama. Pés esfregam. Luz repartindo o corpo estirado. Alonga perna. Luz. Alonga braço. Luz. Encosta na cabeceira?

Silêncio.

Fone e Lee Morgan.

Vira contra. Rede de pesca ao fundo. Buraco retangular na rede. Luz no buraco.

Hello, darkness, my old friend, darkness. In my brain.

Livros, caderno, folhas artigo celular?

O jazzistas eram perseguidos. Os sambistas eram perseguidos? Os pretos baianos são perseguidos.


Violão. Por onde andei.

Deita. Fetal.

Silêncio.

Texto

A música de matriz africana na história da música brasileira - podcast rumpilezz
Arranjo réveillon. Olhos fechados. Cama corpo atravessado.



Dois, três, quatro, cinco, seis, sete dias - uma vela.

Arranha negro amor.
Vapor barato.



















quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

A imortalidade está mesmo na obra. Aonde quer que o sujeito vá, é possível estar com a obra de outros sujeitos, aqui, ali, lá do outro lá do oceano, no quinto dos infernos, no ceu. Quando a obra do sujeito desvela o obscurantismo do eu, além de estar com ela em algum lugar, se caminha com ela. Um apanhado dos séculos quando é trazido para a fala, mexe com o corpo. A palavra é estruturante narcísica. Uma vez, diante de uma plateia, disse: o narcisismo é a base de tudo. Assim, leviana, fálica, digo o que me vem à mente com o meu direito à palavra. Todos têm direito à palavra.
Se os sonhos trazem muita água, se o silêncio da boca ativa os sons do pensamento em música, se a batucada arrepia descontroladamente, tem algo aí, há ancestralidade.
Quanto tempo ainda terei pra viver desvelando meu eu? Escuto sobre africanismo e música negra na Bahia. Os pretos reconhecem-se negros. Minha curvatura desidentificada com o termo me mantém preta. Mulher preta nordestina baiana brasileira sul-americana.
Vomito, vomito a favor da sanidade, da circulação pela cidade, contra os pares que evanescem.

Hello, darkness, my old friend

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Despedidas de hoje

- Por acaso, las cartas estão com você hoy?

Ele é esguio e firme, voz segura e dicção clara. Usa barba e articula o corpo todo enquanto fala. Sua gargalhada é escutada à longa distância.

- Não estão. Posso buscá-las.

- Ótimo.

Eles vão caminhando para o mesmo lado separadamente. Uma hora depois reencontram-se no mesmo ponto, ele diz:

- Tá na mão!

- Venha!

- Está calmo por aí?

Os objetos em cima da mesa são retirados rapidamente à espera.

- Já sabe como é, né?

- Acho que sei.

- Embaralha, mentaliza e corta em quatro montes.



sábado, 5 de janeiro de 2019

Estamos em páginas diferentes

O meu cavalo manso e teria que esperar a embarcação para atravessarmos o mar em direção a nossa casa. Enquanto isso, confraternizávamos entre familiares, amigos em um vilarejo.
Buscava um colete salva-vidas, havia de ter um colete salva-vidas - a busca era um tanto desconfortável, mas a coragem não faltaria pra atravessarmos juntos.
Carregava no colo uma criança linda e sorridente,  erguendo-a enquanto mirava em seus olhinhos bem vivos. Havia uma tarefa de reunião escolar, coisa agora recalcada apesar dos esforços em trazer à tona.
Então o pressentimento confortou o Real. Quem atenderá ao pedido de socorro enquanto a onda vem arrebatar uma mulher e um cavalo e uma criança? Transcrições apagadas e o meu dedo sob o ecrã teima em escrever em caixa alta. O mar é meu eu que agiganta mergulhado nesse Outro. Uma tristeza, porque a tristeza é a mãe da alegria.

~

Cada espelho amortece a mira agigantada do eu, barra ele. Talvez o Outro seja a dose do Real, ainda que seja a Muerte.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Eu, embaixador da paz, dia da confraternização universal

Fui embaixo da terra
No calor da terra
Bati facho no terreiro
Perdi-me na luxúria
Tremi de amor e vontade
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O cheiro da casa do quarto de Aldinar. O cheiro das casas das pretas avós. A penumbra. O silêncio no terreiro de  gemidos pelourinhos, vejo um preto e uma preta bem ali. Gemendo. Amassando a madeira do chão. Uma orquestra de inspiração e expiração, alongamento e contração. Um calor Muito calor. Corpo em chamas por dentro. Por fora. Acabou.
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