domingo, 28 de abril de 2013

Pronta para lhe ouvir

Você sabe o que é calar a felicidade
Estar ao seu lado e não poder falar
Para não ser atropelada pelo seu silêncio
Não sabe que, ao escrever, estou me esvaindo em sofrimento
Tenho mil coisas a lhe contar
Também quero cantar
Mas, de tão poucos movimentos, me dói até em respirar
Sigo calada
de costas para você
Sentidos aguçados
Espero um movimento seu
Por favor, me explique, se explique
Me convença de que os meus problemas são passageiros
ainda desembarcando
e seguimos juntos no mesmo trem
Então posso compartilhar com você essa conquista
Todos os dias
O trabalho, o sucesso, o cansaço
Os planos, as metas, a paciência
O amor

Permanceço em silêncio
Pronta para lhe ouvir.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Poema do nadador

(Jorge de Lima)

A água é falsa, a água é boa
Nada, nadador!
A água é mansa, a água é doida,
aqui é fria, ali é morna,
a água é fêmea.
Nada, nadador!
A água sobe, a água desce,
a água é mansa, a água é doida.
Nada, nadador!
A água te lambe, a água de abraça,
a água te leva, a água te mata.
Nada, nadador!
Se não, que restará de ti, nadador?
Nada, nadador.

sábado, 6 de abril de 2013

Dose de remédio

Momento de dor e angústia. Daqueles momentos inexplicáveis, quando uma imagem mal feita, excêntrica, nojenta, faz alterar na pessoa o que há de mais ruim e assustador. Será possível? Uma imagem? Mexer te tal modo com a minha química encefálica e me causar tamanho sentimento? Escrevo para fugir do medo, do desespero de tentar colocar nomes nos buracos, cada um com o seu bicho. O choro já passou mas o sono não chegou. A agonia mediastínica não cessa, creio que a escrita possa me ajudar. Salvar-me - essa é a intenção de quem deixou Deus e seus derivados naufragar. Tem preço alto a salvação.

Já disse que quero música no meu velório, meu corpo presente por 48 horas. Esta é uma obra poética e confessional, e por isso eu digo o que quero. Doi muito querer o que eu quero. Uma humaninade humana. Meu desespero deve ser a vontade de me tornar selvagem novamente, pois desconheço qualquer coisa mais desumana do que a própria humanidade. Vaidade, luxúria, soberba. Contato zero com a natureza. Tudo é para serventia. Nem tudo. O que jaz na minha cabeça jamais, é meu. Ofereço a quem eu quiser e declarar ou insinuar precisão. Coisa de ser psicóloga e psicanalista. As marcas vão cicatrizando, e nesse lugar as células sensitivas já não funcionam mais. Portanto, um ansiolítico neste momento não me faria mal. Suporto tantas noites sem ele, um de quando em vez seria uma aspirina. Porque minha dor de cabeça é no meu peito, meu grito é no meu choro, e meu remédio é trabalhar.

E a danada nada de passar.

Talvez seja uma parte de mim tentando se desvencilhar, definitivamente. Então, fica o que nesses buracos? Só os bichos asquerosos, só imagem terrível? Vou pichá-los, acidificá-los, efervercê-los e liquidá-los. Tapar e conservar só um buraco, empurrar o bicho e paralisar ele. Preencher e preparar um mamilo no lugar para saciar essa minha vontade de fumar, essa doença que teima em se manifestar e me aterrorizar.

É preciso finalizar. A conversa muito se estendeu. Amanhã cedo testarei meus neurônios, edificando os meus desejos.