sábado, 19 de maio de 2012

Não dizer


O não dizer cabe

na sua dança

no seu charme

no meu sexo

no seu sexo

O não dizer cabe

no meu choro

na minha solidão

O não dizer

cabe no bem querer

no mal me quer

na insensatez dos seus olhos

de vidro

por isso

um grito também

no não dito

uma tontura também

do maldito

Que eu não digo

terça-feira, 15 de maio de 2012

Cabeça partida

Minha alma de criança ferida
Já não cabe mais em mim
Não tenho responsabilidades
Por essa criança de cabeça partida

É tanta pirraça
Parando na porta da desgraça
Tanta birra, cara enfezada
Bico na boca
Mamadeira nas mãos
Vazia

Porre para dormir
Sem hora para acordar

A criança está ferida
Sonhando
Passa ao longe de realizar

A criança partida
Fora de minha alma
Tende a desejar

Mamãe, eu quero!
Mamãe eu, quero...

terça-feira, 1 de maio de 2012

Ao lado do relógio parado
Há o relógio à pilha funcionando
Ao lado do relógio do mundo
Há o relógio do meu braço pulsando

Assim, acordo todos os dias
Quando é dia
Espreguiço e levanto, andando
Faço o círculo do meu dia
Às vezes obrigada a ficar de pé
Ou sentada, conforme comando
Sem espreitar a caça
Mas o próprio ser humano
Aguardando a volta do final
Dos trinta dias
Do meu relógio pulsando
Para enfim encher um carrinho de mercado
Retornar à casa e, por mais trinta
Sentir que estou me alimentando
E pagando
Vestindo
Por vezes rindo
Dormindo, acordando
Levantando, espreguiçando...

Decido ser velho, como dizem que é o mundo
No seu relógio que não funciona
Agora estou pensando.