quinta-feira, 10 de maio de 2018

Você diz pra eu observar a minha fala cujo assunto é ela. Recorrentemente ela. Isso mexe comigo, doutor. Os pensamentos craquelam todo santo dia. Os olhos ardem constantemente. Agora lacrimejam. Estou com o posso nada, o leão e a criança. E você? Está tudo muito claro, doutor. O que quer viver sem pensar nela? Eu não vivo sem ela. Tampouco você. Vê? E aquele caminhão que você foi obrigado a ver por baixo e de lá atestar ela? Isso me ajuda a viver, doutor. O correio me entrega livros,  eu penso em promover saúde e realizar projetos, desejo atravessar o oceano Atlântico. Com ela, doutor. Sem ela eu não sou.
Essa agonia sentida enquanto eu respiro o ar imaginariamente escasso, o passeio com o cão de guarda guiado pelo estrangulador, o chamado surdo pra que os olhos cerrem o dia que findou. Vê? É tudo dela. A vida só existe porque ela permite, doutor. Você bem sabe. Está há meses sonhando em subir aos ceus num canarinho. Então me diga, doutor. Quem vai lhe proporcionar essa viagem senão ela?

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