quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Agora um moleque de rua sem absolutamente nada a perder. Vai gingando, moleque. Sim, parece menina mas é menino, veja bem. Ginga com os ombros e chuta todos os baldes de lixo da prefeitura que pelo seu caminho passa. Enfezado, menino anda na orla de Salvador, sim, na capital da resistência ele já nem sabe mais como fazer pra resistir, perdeu toda a esperança de criança. Ensinaram a ter fé mas também a perdeu. Perdeu porque perdeu o sentido da fé. Fé é pra quem move montanhas. O menino da rua nem montanha vê. Vê morro! Ele fuma desde cedo. Às vezes bebe também. Já o encontrei jogado na rua bêbado, rindo de não sei o quê. Ao menos rindo. Até te ofereci um suco mas a mão foi na garrafinha de cachaça mesmo. Maconha ele gosta, mas sozinho muitas vezes a fome não consegue matar. É livre do tráfico e nunca cheirou nada. Nem loló. Nem cola. Nem crack. Nem cocaína. Te tanto se cortar, pensou em esquentar o pó e meter pra dentro. Mesmo sem nada a perder, o menino está vivo. Por isso não vai. Se acovarda o menino. Não tem cachorro, e não vê a mãe. Nenhum parente. É um caso perdido esse moleque. Ele nada tem a perder. Em dia de festa na rua ele dança. Sozinho. Canta bem alto. Mas isso não é só em dia de festa. É só em dia de festa dentro do moleque. Chora escondido. Canta mais do que chora. Canta qualquer coisa que lhe vier à cabeça. Dança. Sozinho. Aquele outro menino pedinte na sinaleira é outro moleque. É ele, mas é outro, não vê? Parou de pedir. Já não tem mais nada a perder.

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