Aí seu João disse:
"Eu chorei chorei chorei
Fui um menino chorão, daqueles de dar porre, fazer a mãe dá um beliscão
eu chorava, chorava e gritava"
O frescor da infância não havia em seu João
Tinha vergonha dos dentes tortos, sorria com lábios cerrados
Vergonha das marcas de crescimento
Ficava caladinho, mas escutava muito bem ao seu redor
Desde bem pequenininho, desde as almofadas quentes do interior de sua mãe
Nem mamou direito, seu João...
O sono costumava chegar sozinho, sem saculejo
Mas que menino impulsivo, esse João!
Gostava de saber história de quem já viveu
Para costurar a sua, fazer bem feito
Bem feito, João!
Esqueceu de olhar para os rastros dos seus pés
Deixou de ver o que faziam suas mãos
O netinho do vovô, língua afiada pra papai e mamãe
Fazendo rascunhos de cartas, rascunhos de vida
Oxente, João!
Se enxergue, menino!
Mais tarde é Seu João
Mas esqueceram de avisar a essa criatura!
A vida é dura, muito mais do que uma festinha sem graça de comemoração
Sem graça e sem os braços de quem fora a sua extensão
Já chega, Seu João!
Quantos balões por sua boca estourados
Tanta melancolia e sincerocídio
Deprecídio
Sabe, Seu João
Aprender a ler e a falar nunca é em vão
Seu nome gravado numa pedra, na gaveta ou na terra
se preocupe não, todos verão
Tudo assim, sem métrica, sem rima
E talvez uma canção
Para aquelas sementes que um dia você fez brotar nesse chão.
(A fotografia é de Aureliano Nóbrega, capturada pela internet - Poço Pelado - Pindobaçu - BA - Brasil)
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