sábado, 30 de janeiro de 2010

Aí seu João disse:


"Eu chorei chorei chorei

Fui um menino chorão, daqueles de dar porre, fazer a mãe dá um beliscão

eu chorava, chorava e gritava"



O frescor da infância não havia em seu João

Tinha vergonha dos dentes tortos, sorria com lábios cerrados

Vergonha das marcas de crescimento

Ficava caladinho, mas escutava muito bem ao seu redor

Desde bem pequenininho, desde as almofadas quentes do interior de sua mãe



Nem mamou direito, seu João...

O sono costumava chegar sozinho, sem saculejo

Mas que menino impulsivo, esse João!

Gostava de saber história de quem já viveu

Para costurar a sua, fazer bem feito



Bem feito, João!

Esqueceu de olhar para os rastros dos seus pés

Deixou de ver o que faziam suas mãos

O netinho do vovô, língua afiada pra papai e mamãe

Fazendo rascunhos de cartas, rascunhos de vida



Oxente, João!

Se enxergue, menino!

Mais tarde é Seu João



Mas esqueceram de avisar a essa criatura!

A vida é dura, muito mais do que uma festinha sem graça de comemoração

Sem graça e sem os braços de quem fora a sua extensão



Já chega, Seu João!

Quantos balões por sua boca estourados

Tanta melancolia e sincerocídio

Deprecídio



Sabe, Seu João

Aprender a ler e a falar nunca é em vão

Seu nome gravado numa pedra, na gaveta ou na terra

se preocupe não, todos verão

Tudo assim, sem métrica, sem rima

E talvez uma canção

Para aquelas sementes que um dia você fez brotar nesse chão.

   
(A fotografia é de Aureliano Nóbrega, capturada pela internet -  Poço Pelado - Pindobaçu - BA - Brasil)

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