quinta-feira, 5 de maio de 2011

Discutir a relação

Assumo minhas discussões (muitas confusões também! rsrsr) diárias....
[Trecho da entrevista à revista Muito com o psicólogo Alexandre Coimbra Amaral, que atende diariamente famílias e casais.]

O que é uma família funcionar bem?
Uma família funcionar bem é ela construir um sentido de pertinência que dê a pessoa a ideia de que ela é amada, que a identidade dela tá presente naquele grupo, mas que também liberta a pessoa para viver experiências fora, para além da famíllia. É uma família que funciona como raíz e como asa. Que ao mesmo tempo dá a pessoa uma identidade sólida, mas que liberta essa pessoa para voar em direção ao seu próprio caminho.

O psicanalista Contardo Calligaris já classificou o clássico “discutir a relação” dos relacionamentos amorosos como a “antecâmara da funerária”. Ele diz que falta uma “ética discursiva” aos casais, que acabam dizendo o que não deviam e depois se arrependem. Você que faz terapia familiar e de casal acredita na DR?

Discordar do Contardo Calligaris é muito difícil (risos). Acho que a gente perdeu a capacidade de conversar. As pessoas não se escutam mais. Então o espaço da terapia familiar tem sido o espaço deste ritual que a família tem perdido de encontro. Muitas vezes a família só se encontra na sessão de terapia familiar. É chocante. Você dá um espaço de 15 dias entre uma sessão e outra e aí você pergunta: o que vocês conversaram nesses dias? ‘Não, a gente não conversou nada’. E aí você precisa dar uma chamada na família para dizer que a terapia também acontece entre as sessões. O espaço da terapia familiar tem sido mal interpretado como sendo o único espaço de encontro, de diálogo. Conversar significa me atualizar sobre quem sou eu naquela família, a partir das minhas mudanças, e em quem cada pessoa da minha família está se transformando. Porque é conversando que eu consigo construir um sentido de identidade em transformação. Se eu não converso na minha família ou com o cônjuge, eu fico com uma imagem datada da pessoa. A coisa mais comum entre filhos e pais é o filho chegar pro pai e dizer: ‘Meu pai, você fica me tratando como seu fosse aquela lá de trás, mase eu não sou mais, eu sou outra pessoa. Será que você não compreende?’. Eu sempre pergunto se essa filha tem dado espaço para que o pai tenha acesso a descobrir quem ela já é. É uma responsabilidade compartilhada. Todo mundo entra nessa dança. Essa conversa é necessária para que essas imagens sejam transformadas e fiquem cada vez mais próximas de quem nós somos. 



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Segundos Saberes (para o seu comentário)