domingo, 25 de setembro de 2011

A pior das angústias

Apresento-me a este branco. Meus olhos enxergam a ausência das cores a cada passo que tento dar, como num palco de teatro, onde lá sou só eu e minha fala, minha interpretação. Quem já subiu ao palco sabe que um passo à frente no breu pode ser uma queda fatal. Por isso atraso o passo, por isso olho para baixo, por isso apresento-me ao branco. A luz foca o meu rosto, e por ora enxergo faces além do breu em um ocaso deprimente. Mas rejeito as cores, apago meus reflexos e o som me salva. Nem sei qual o caminho. Escolho a crise do fechar os olhos e deixar que qualquer interferência tome conta de mim. Parada na marcação do tablado, eu releio minhas palavras afetadas, com voz falhada, rouca, sem poder chorar para dizer a verdade daquilo que escrevi. Assim complico a vida da plateia, pouco concentrada em palavras e desejante de um espetáculo catártico.

Não vou falar da loucura, não vou falar da infância, não vou falar em nome de raça, nem religião, nem indignação óbvia. Vou falar da pior das angústias, a de ser presa de mim sem caçador.

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