domingo, 19 de maio de 2019

Quando o outro paga pra ver a sua invenção, a invenção já não é mais sua. Quando o outro vem e lhe informa dos acontecimentos da própria vida, essas coisas trágicas, e você, preocupado, depois de alguns dias, pergunta como vai a vida do outro e ele não responde, é bom que você morra pra esse outro. Quando eu morrer pra vocês, observem, morrerão também os diálogos inacabados por opção. Morrerá a ignorância de uma tentativa de diálogo. Morrerá a pessoa a quem você só se comunica quando quer. Quer mais atenção. Quero mais atenção. Sua vida não comporta a vida minha. Nem trechos dela. Por quê? Se até lá trechos da vida são ignorados, pra que alimentar a vida? Morre na estrada, estirado, até na linha do trem do caminho de santo amaro. Aproveitem e façam um samba e subam a ladeira batendo palmas. Que ladeira? A ladeira onde os corpos são engavetados. Se o meu corpo nem servir pra pesquisa, pra quê meu corpo? Nessa noite o corpo está dirigindo em alta velocidade, sozinho com a máquina com quem decidiu se relacionar nessa noite. É uma reta a caminho de casa. É uma reta e logo a primeira à esquerda. Antes dessa entrada tudo se transforma em breu. Meus olhos estão completamente cegados. Meus ouvidos escutam, não há carros atrás tampouco à frente. Os pés no acelerador, é impossível encontrar a entrada à esquerda só com ouvidos e pés no acelerador. Segue em frente a criatura cega e mais adiante a luz dos farois e algumas pessoas e carros na rua desconhecida, ainda naquela reta. O caminho está perdido, logo a decisão é fazer o retorno e continuar seguindo direto, acreditando que a rua estará lá. Procura o pedal do freio e ele some. Ultrapassa carros mas se há um pedestre ele será matado, porque freio eu já perdi.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Segundos Saberes (para o seu comentário)