quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

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Se o corpo está morto mas ainda assim caminha
É um corpo conscientemente político
Anda fazendo com a morte
Isso não é pra qualquer pessoa
Diferentemente dos zumbis
O corpo morto conscientemente político interfere ativamente aonde quer que vá
Muitas vezes é expulso de muitos lugares
Afinal, como pode um morto falar?
Até no seu silêncio esse corpo defunto assusta só de olhar pra ele
Pouco importa porque todos os espelhos do mundo que se coloquem diante de um morto estão estilhaçados
Se não estiverem, em pouquíssimo tempo se desmantelarão
Os corpos vivos saem catando os caquinhos do vidro
Há os corpos vivos que pegam uma ponta de estilhaço e se cortam
O corpo morto conscientemente político é todo despedaçado mesmo
Quando o sol bate nele é bem capaz de cegar
Tem corpo vivo que chora com o brilho e agradece pela oportunidade de estar com um corpo morto: uma experiência com a morte
Bem de perto
Triscando
É frio calculista cético realista psicanalista artista transtornado em muitos pólos o corpo morto
No meio da festa ele é pouco notado mas ainda assim entra na roda de samba dos corpos vivos suados na beira da praia
Faz tudo isso enquanto anda
Abre a boca para denunciar aos corpos vivos que o seus corpos mortos chegarão em breve
Por causa da onda
O corpo político morto consciente aponta
Dele quase nada se extrai de ego
É um só
Ego da morte no corpo conscientemente político
Arma de fogo não lhe comove
Aliás, é desprovido de emoções vitais
Despido da busca pela existência
Provoca choques e altas pressões nos corpos vivos
Marginal temido
Duro na queda
Um corpo morto conscientemente político
Tem ginga e expressão porque a morte sempre será música na vida dos corpos vivos

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