quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Tensão pré-menstrual

Faz algum tempo não acredito em muita coisa, nem em TPM. A psicanálise fez favores a mim, inclusive o favor de chegar ao entendimento que uma tensão pré-menstrual não passa da acentuação de efeitos sintomáticos do próprio sujeito. Homem não tem TPM, portanto. Deve ter algo como uma tensão muito grande se não faz sexo, não coloca pra fora a sua "produção testoterógena". Como a interpretação é de cada um (mais um favor da psicanálise) eu chego as minhas conclusões. Sei que nesse período anterior à menstruação, o corpo feminino retém líquido, esperando um bebê que não vai chegar dentro do útero. Ai vem a minha opinião: pense num balde cheio depensamentos, sei lá, palavras, letras, frases, períodos, livros. Esse "material", menos denso que a água, está lá, no fundo de mim, às vezes vem nos meus sonhos, às vezes no meu ato falho, às vezes num momento de forte emoção, ou numlapso. Meu corpo, mensalmente, começa a segurar todo o líquido dentro dele, pensando que o tal bebê vai chegar. Água, água, água. (Lembrei na música horrorosa da péssima Cláudia Leite... o carnaval de Salvador já foi bom!) Agora esse balde cheio de todas aquelas coisas supracitadas, vai enchendo também de água, e tudo vai subindo, subindo, até transbordar, primeiro aos poucos, depois num choro, num grito, no medo, no pânico, na preguiça, na covardia, no excesso de emoção, contradição, nas dores de cabeça, no enjôo... enfim, em tudo o que todas as mulheres são capazes de sentir durante este período, inclusive várias passagens ao ato (matar também pode!). Assim, todo mês, entra água nos meus pensamentos. Dizem que atividade física melhora, eu sei muito bem disso. O lazer também. Toda mulher tem TPM? Não. Há aquelas que podem extrair proveito quando corre pra pegar um ônibus, quando é preciso subir e descer as ladeiras de Salvador, quando tem uma academia que preste bem pertinho da sua casa (quando não tem uma dentroda sua própria casa!), quando o dinheiro é suficiente para pagar a massoterapia, o personal trainer, uma viajem no final se semana, e principalmente, quando o trabalho lhe traz prazer.

Cresci vendo todas as mulheres da minha família exercendo a profissão de "dona de casa". É profissão? Não sei, mas que elas trabalhavam e ainda trabalham muito nisso é fato. Meu trabalho é externo, para uma empresa que polui o meio ambiente, monopoliza a ecomia nacional e destrói milhões de ecossistemas e, para se dizer responsável socialmente, patrocina a maioria dos eventos artísticos do Brasil e projetos sociais – o que não lhe custa muito. Enfim, o meu trabalho hoje não me traz prazer, ainda mais quando penso no verdadeiro produto do trabalho total da empresa. Mas fui crescendo e vendo as mulheres da minha vida trabalharem em casa, em prol dos seus, sustentadas financeiramente pelos seus maridos. Isso é primitivo, vem de longe, o homem tem a força braçal, o homem é provedor da alimentação, do sustento da família.

Estou vivendo em plena transformaçao social e faço parte da estatísca que mede o número de mulheres provedoras do seus lares. Para mim, total inversão das imagens que vivenciei, mesmo ouvindo repetitivamente minha mãe "orientando" que eu deveria estudar, trabalhar e sustentar a mim mesma, sem depender de homem para isso. Agora, pensando assim, rapidamente... casamento nada, né?! Aham... ela dizia que eu colocaria o homem para fora no caso de uma separação... (Estou na TPM, no transbordar dos meus pensamentos, quero chorar, estou sofrendo com minhas associações..). Eu fui obediente a ela, não a mim. Tenho notícias de pelo menos uma mulher que trabalha para seus luxos, e consegue fazer crescer uma poupança bancária rapidinho, porque o seu marido é o provedor, ele paga todas as contas e mais um pouquinho, ele trabalha e quase não respira, e ela desfila, e morre de amores por ele, faz jantar à luz de velas e tudo...

Como dizer com tanta autoridade o que eu tenho que fazer com o homem que eu escolher? As mães frustradas podem matar seus filhos... Estou sofrendo, paralisada, morrendo eventualmente. Não quero ficar nesse lugar, não quero obedecer a qualqer outra pessoa que não seja eu mesma. Eu quero enrolar docinhos, pintar, viajar sem os maridos com minhas irmãs e amigas, eu quero cuidar da minha casa e deixar ela sempre arrumada, como eu gosto, sair pra resolver alguma coisa e poder comprar um enfeite novo, encontrar um vestido na promoção e ficar feliz... Quero colocar meus projetos em prática, meu trabalho por prazer, fazer a minha faculdade a ajudar as pessoas a seguirem os seus próprios desejos...

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