sábado, 3 de março de 2012

Simbólico

O meu saber repele a minha pele. Eu descamo, despelo. Tento fazer poesia para explicar a minha pele que muda os meus sentidos.

A minha gengiva também resolveu despelar, mas em pedaços tão grandes que mais parecia a minha língua saindo do lugar. Sabe pedaços de peito de frango, pedações pequenos, sem cozinhar? Assim eu, sentindo a pele solta sobre os meus dentes, meti os dedos dentro da boca e puxei a pele do lugar.

No pedaço de carne ainda podia ver os orifícios marcados pela ausência do dente. Apresentei o pedaço de carne a minha mãe e perguntei: "o que você pensa ser isso?" Ela respondeu, para a minha surpresa, com uma sabedoria ainda não sabida por mim: "isso é coisa de índio". Nossa! Eu achei que ela enxergaria somente o pedaço pequeno de peito de frango crú!

Coisa de índio na minha cabeça. Coisa natural. Passagem necessária, marcada. Minha pele animal. Bebê ganhando dentes ainda sem saber por quê.

Coisa de índio é ritual. Assim, aperto um fumo pra ficar legal, ando sem roupas pela casa, contemplo o sol, a lua, o mar.

Faço explicações claras, tenho vontade de chorar, por vezes me rasgar. Trocar a pele toda. Mas só posso fazer isso com a minha língua, com o que sai da minha boca a salivar.

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