sexta-feira, 29 de outubro de 2010

MEU CÃO GENTE

Desde criança convivo com Pinschers. Tootsie, Tilt, Twinkle e June foram os mais marcantes. Tootsie foi a minha primeira paixão cachorreira, cadela de meu tio materno, vivia dentro da casa de meus avós. Namorava Tilt e gerou muitos filhotes, como Twinkle. Tootsie foi quem me fez desejar a raça para sempre, e ganhei June próximo ao Natal de 1999 da minha amiga de longas datas, hoje minha comadre. Meu tio falava inglês fluetemente (ainda fala) e penso que por isso a preferência por nomes na língua inglesa.
Eu passava horas com Tootsie e Tilt no terraço da casa de meus avós, conversava com eles, muito cedo descobri o valor da amizade de um cão. Tootsie tinha crias sempre, nunca vi uma pinscher parir tanto. Meu tio não controlava muito isso, mas ela era uma cadela linda, dentro dos padrões, amorosa, alerta, obediente dentro dos limites da obediência que lhe foi transmitida. Ninguém, além de mim e de meu tio, tinha intimidade suficiente para tocar-lhe ou manejar seus filhotes. Atacava quando necessário. É uma saudade da qual eu não gosto muito de falar porque inevitavelmente vem uma emoção com lágrimas. Para a raça admitir duas pessoas como dono é algo incomum, ainda mais entre uma criança e um adulto. Por isso ela é tão inesquecível e especial para mim.
Tilt era o macho, marido de Tootsie. O seu prognatismo inferior deixava sua espressão muito engraçada, esquisita para mim. Solicitava atenção a todo o momento, mas nunca deixava eu carregá-lo, rosnava e eu desistia de concluir o ato. [escrevendo esta postagem, neste exato momento, tive a sensação de deja vú] Pulava de alegria, pulava muito. Havia uma rede na qual eu sentava para me balançar, brincar, conversar com eles. Ele não subia.
Cuidei de fihotes, dei mamadeira, deitava Tootsie para dar de mamar aos filhotes. Muitos nasciam doentes, ela rejeitava, eu ficava tentando fazê-los sobreviver. Um deles morreu em minhas mãos de criança, e minha avó disse: "enrole num jornal e jogue no lixo". Assim o fiz, sem compreender, mas o fiz. Fora da casa havia uma lixeira feita de pneu de carro, e  lá o depositei com cuidado, sabendo que o caminhão do lixo viria e o levaria para qualquer lugar depois de imprensá-lo bastante.
Twinkle foi para minha casa e adotou minha mãe como dona, pois a mesma era quem dava a sua comida. Não comia ração. Gostava muito de carne crua. Minha mãe resolveu devolvê-la para a casa de meus avós. Durante as minhas visitas, a maior parte do tempo com eles no terraço, não me importava com outras coisas. Tinha agonia de vê-los o tempo todo presos num espaço, sem conviver com as pessoas, privados de circular pela casa. Não demorou muito recebo a notícia que todos serão doados. Chorei, e minha mãe criticou a minha dor. Meu pai interferiu sensível porém asperamente com minha mãe, defendendo a minha expressão de tristeza e dor.
Fui visitá-los na casa da acolhedora da doação, que não era nada acolhedora! Os cães ficavam num espaço muito menor, separados com uma tábua do restante do espaço e fizeram muita festa quando eu apareci. Choro até hoje. Não retornei para me defender de algo que eu não podia interferir e fazer voltar atrás.
Assim, nos meus quinze anos, idade a ser comemorada, preferi ganhar um cachorro. Não desejei festa, queria um cachorro. Disse exatamente as raças de pequeno porte que não serviriam para um bom convívio e as que não eram de meu desejo. Nada foi levado em consideração por minha mãe, figura que costumava definir esse tipo de ações dentro do lar. Ela fez uma festa de quinze anos no casarão de meus tios, mandou costurar uma roupa nova para mim, convidou pessoas, e alguns dias antes dessa festa não desejada por mim, apareceu com uma cadela predominantemente cocker spaniel, preta, linda, com cara de muito dócil, levada até lá por uma tia materna que, entre essa cadela e uma poodle, ficou inteligentemente com a poodle (que desapareceu tempos depois!). Lacinho de fita vermelho elas levaram até a minha cama e me despertaram com o presente de grego. A cadela veio com sarna, sem caudectomização, que na época ainda era legalizada, e tinha um temperamento nada parecido comigo: sua agitação era explosiva! Destruía tudo que tocava. Lembrei do filme Lilo e Stich, para quem asssitiu, Eva, esse era o nome dela, era igualzinha a Stich, programada para destruir o mundo, porém muito linda. Eu não tinha experiência para educá-la, nem tempo. A sarna e a cauda levou-me a conhecer o veterinário Gilton Marques, até hoje médico dos meus cães. Cuidamos, eu e ele (com o dinheiro de meus pais!) de tudo, e fiquei muito feliz ao receber as congratulações por ter feito um bom trabalho. Porém, Eva-Stich continuava programada, e como foi uma realização de desejo meio às avessas, eu não conseguia nem imaginar a hipótese de doá-la, comecei a entrar num estado de estresse. Minha mãe percebeu e eu cedi ao seu imperativismo - doar a cadela. Sofri e depois fiquei aliviada, ela foi para um lugar bom, aos cuidados de boas pessoas, isso era importante para mim.
Depois veio Jade, a primeira, única e última poodle da minha vida,abraçada por todos da família, cujas características antes da aquisição eu fiz questão de ressaltar. Minha mãe perguntou, lembro bem: "Quer levar, Mariana?" Eu prontamente respondi: "Querer levar eu quero, porém a cadela não será só de minha responsabilidade..." Visto que já havia ressaltado suas particularidades, principalmente com sua pelagem. Assim, dediquei-me a Jade, como a todos os bichos que passaram pela casa de meus pais (tinha um cágado chamado Mitchell o qual fui contra a permanência dele pois o lugar dele não podia ser no piso cerâmico! e um curió chamado Ninho, que desde a minha noção de mim mesma, ele esteve engaiolado, cantante e estressado também). Aí ganhei a minha querida pinscher, June, cujo nome tem relação com a deusa da sabedoria de não sei qual mitologia. Era para ser chamada de Joplin, por causa de Janis Joplin, porém minhas irmãs acharam difícil a pronúncia e, acertadamente a mais velha, muito boa nisso como fora ao escolher o nome de Jade, lembrou de um nome de perfume da Natura e assim batizamos a pequena.
Esse pinscher da foto é muito fofo! Queria um filhote para colocar aqui e ilustrar essa postagem. June era muito parecida com ele quando pequena, porém suas orelhas eram caídas. Eu cheguei a pensar que não iriam levantar, mas levantaram! June foi a realização do meu desejo, e está viva até hoje. Uma cadela obediente, que faz todo o trabalho de um bom pinscher mesmo sem ter sido adestrada. Longe de ser neurótica, como a maioria das pessoas que não simpatizam com a raça pensam. Sinto-me segura com a sua presença, pois é um excelente cão de guarda e alerta, não late por besteira e avisa o perigo, além de atacar quando preciso! Meu marido a acha dengosa, porque de vez em quando ela faz xixi no lugar errado, mas só para provocá-lo. Minha filha prefere o nosso pug, Tosh, porque, segundo a mesma "ele é mais carinhoso". Claro, um pinscher não é feito para ser carinhoso senão com o seu próprio dono! rsrsr Elas brigam como verdadeiras irmãs, e é algo muito interessante e engrandecedor para a educação de ambas. June é uma sábia e sabe viver muito bem, vai comigo para onde quer que eu vá, desde um passeio de carro até à praia, como um viagem de ônibus até ao veterinário, como tantas vezes fomos.
A partir dela eu reconheci o quanto sou mesmo capaz de criar bons cães. Segui a receita de uma moça com quem cruzei em frente à escola na qual eu estudei, já com uns 16 ou 17 anos, que apareceu a minha frente com um pinscher no colo e deixou que eu o tocasse:
- Mas não morde?
- Não, não morde, pode tocar...
- O que você fez para esse pinscher ser assim?
- É só dar muito amor, muito amor...


Indico a visitação do site a seguir para quem deseja saber mais sobre a raça Pinscher. Foi um dos textos mais completos sobre o tema que já li.
http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/pinscher/pinscher.php

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http://meucaogente.blogspot.com

Um comentário:

  1. Você me faz lembrar de coisas muito boas com esses textos... queria ter essa memória privilegiada que tem.
    Saudades de todos esses cachorros que passaram por nossas vidas (até da pestinha da Eva!)e agora saudade de June também, que, outra vez, deixou de conviver comigo.
    Amo cachorros, mas não sei se tenho esse dom e paciêcia pra cuidar e conhecer eles tão bem quanto você.

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