quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Parte da parte da história,

Adquiri o novo álbum de Vanessa da Mata, "Bicicletas, Bolos e Outras Alegrias", juntamente com o de Zeca Baleiro, "Trilhas - Música para Cinema e Dança".

Vanessa e Zeca fazem parte da história do meu matrimônio. Fomos assistir ao primeiro show de Vanessa em Salvador quando foi possível pagar somente R$14,00 por cada ingresso. Imediatamente comprei dois, sabia que ele não iria resistir a esse convite. Teatro Jorge Amado, 2004, se não me engano. Como sempre testanto meus níveis insuportáveis de ansiedade, ele chega pouquíssimos minutos antes de começar o show, quando todos já estavam entrando e escolhendo os melhores lugares, todo molhado da chuva que resolveu cair subtamente para presentear esse encontro. A chuva é sempre bem-vinda, o mar é sempre bem vindo, foi dentro das águas que nos beijamos a primeira vez. Meu marido é literalmente meu presente das águas... Se sou mesmo de Oxum como dizem, nada mais justo.

Quando entrei na loja pra comprar o cd, ele disse que eu ia comprar pra ficar criticando. Mas eu funciono assim, desde que comecei a consumir música. Pouco compro o disco original hoje em dia, porém se o faço, vasculho tudo o que ele traz - observo cuidadosamente todos os detalhes de encarte, de capa, instrumentos de cada música, profissionais envolvidos, letras das músicas, minha interpretação delas, arranjo, cores. Ouço, reouço, ouço, reouço, de novo, e de novo. Minha mãe dizia antigamente com os LPs que eu ia "furar o disco"! Meu pai, que eu ia quebrar o aparelho de som!

Temos todos os álbuns de Vanessa da Mata, por coleção. O meu predileto é o primeiro, cuja criatividade de composições próprias ainda não foi superado, porém a dicção dela deixa a desejar. Isso foi melhorando nos próximos discos, o som foi chegando a sua influência do reggae. Sua parceria com Kassin foi fazendo o molde do que é o trabalho dela hoje. Som gostoso de ouvir, mesmo eu ficando irritada com o agudo persistente da sua voz, mas o som dela é pra quem ama, quem vive o amor. Baladinhas românticas, de uma moça com seus 30 anos que escreve poesias e faz músicas, tudo na sua cabeça, pois a mesma não toca instrumentos, só "arranha". Esse novo cd está assim. Como não sou de ouvir um som só, Vanessa me satisfaz de vez em quando. Estou no tempo de degustação do álbum...

Zeca Baleiro.. Ah! Zeca Baleiro foi meu grande amor quem me apresentou. Perguntando se eu conhecia o som de Zeca, ele cantou justamente "Quase Nada" enquanto caminhávamos pela praia. Fui capturada inconscientemente pela letra da música - meu marido tem um excelente gosto musical, porém quando canta é algo quase indecifrável! Mas eu gosto, amo quando ele canta, no seu tom especial, quando eu tento decifrar o que ele está cantando e consigo (às vezes não!rsrs) Ele não canta qualquer música para mim, as músicas se transformam em A MÚSICA, quando ele canta. Assim, Zeca Baleiro, com seu vozeirão grave, legítimo, com sua criatividade poética e sonora é o que há de bom e moderno na música brasileira. Não sabia que ele compunha para cinema e dança, e fiquei satisfeitíssima com essa ideia. O Xote do Edifício está tocando na rádio, e eu adoro. Rosi Campos (aquela atriz que fez a "mamuska" numa novela global), está cantando uma faixa e a voz é muito lindinha!

Ouço músicas internacionais, mas não existe qualquer coisa que se compare a boa música brasileira. Disso eu posso falar com muito orgulho do meu país, embora exista pouco reconhecimento e investimento da arte. Tenho vontade de morar em outro lugar quando penso da desvalorização de um artista brasileiro, quando penso na falta de sensibilidade dos próprios brasileiros em reconhecer uma boa música. Ouço tudo, do pagodão à música clássica, mas não consumo tudo. O ritmo do arrocha e música tipo seresta é o único que consegue bloquear a minha escuta. Lembro que minha tia tocava teclado e tinha um botãozinho que fazia o break nas músicas. Em inglês significa romper, quebrar, separar com "força". Não sei explicar isso direito, mas o arrocha para mim é assim, o botãozinho do break, o tempo todo, do início até o fim, fazendo faltar uma elabroação instrumental... Confesso que acho a dança algo super interessante, criativo, bem a cara do brasileiro, e invejo quem tem a coordenação motora hábil ao ponto de desenvolvê-la! André Abujmra, filho de Antônio Abujmra (o inesquecível Ravengar!), autor de trilhas como Castelo Rá-Tim-Bum! etc., aconselhou o não preconceito, que se imaginasse o encaixe de estilos como Sandy, com Pink Floyd e música clássica, e algo seria possível sim...Eu concordo. O que falta é esse algo possível aparecer mais na música popular brasileira.

Hoje não enxergo bons cantores, nem compositores. A mídia está fabricando um monte de artista que nem sequer estudou a sua própria voz, não tem técnica nem para fazer melhor ainda com o seu próprio dom. Ouvi dizer que Luan Santana canta muito. Discordei no ato, mas preferi não prosseguir com a discussão. Gosto musical não se discute, o que se justifica a diversidade. Dom também precisa de técnica, precisa ser educado, lapidado, e ser afinado é completamente diferente de ter uma boa voz. Gosto quando o cantor me arrepia com a sua potência de voz, quando a voz me transmite coisas diferentes do que já ouvi, quando me deixa sem respirar ou respirando melhor só pela atração que me causa com sua música. Por isso fico chateada com o agudo de Vanessa da Mata às vezes...rsrsrs Tem vozes maravilhosas de mulheres... As baianas Cátia Guimma, Márcia Short, Cídia (de Cídia e Dan), Jussara Silveira, Vânia Abreu, a própria Ivete Sangalo, a sua irmã, Mónica Sangalo (que voz maravilhosa!) fazem parte da minha lista de admiração. No Brasil inteiro... Ângela Maria, para mim é exemplo sim, pena que hoje em dia pouco se faz referência a uma voz como a dela.

Enfim, vou colocar a letra da música de Zeca Baleiro para ilustrar a postagem de hoje. Faz parte da parte romântica da minha história... Para você que ler a seguir, imagine-se caminhando na areia da praia, com o homem que julgar mais lindo. Cheiro de mar. A cena tem que ter cheiro!

Desejo momentos assim para todos que se descobrem amando...

QUASE NADA
(Zeca Baleiro / Alice Ruiz)

De você sei quase nada
Pra onde vai ou porque veio
Nem mesmo sei
Qual é a parte da tua estrada
No meu caminho

Será um atalho
Ou um desvio
Um rio raso
Um passo em falso
Um prato fundo
Pra toda fome
Que há no mundo

Noite alta que revele
Um passeio pela pele
Dia claro madrugada
De nós dois não sei mais nada

De você sei quase nada
Pra onde vai ou porque veio
Nem mesmo sei
Qual é a parte da tua estrada
No meu caminho


Se tudo passa como se explica
O amor que fica nessa parada
Amor que chega sem dar aviso
Não é preciso saber mais nada

3 comentários:

  1. Quase uma colunista
    muito bom a materia
    bjos
    Flávia

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  2. Mari, você está escrevendo cada vez melhor. Essa sua "cachaça" acaba embriagando a todos nós!
    Ah, você ficou sabendo da "passagem" do Dr. Ângelo Gaiarsa semana passada? Você não me disse se pesquisou e qual a impressão que teve a respeito dele.
    Bjs.

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  3. Valmir, valeu pela visita! Passagem? Ele esteve em Salvador? O linha dele é jungiana. Jung frequentava todas às quartas-feiras a casa de Freud... Não li sobre Gaiarsa...

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