sexta-feira, 4 de março de 2011

Carnaval de Salvador

Moraes Moreira estará presente no carnaval deste ano em Salvador. Nunca deveria ter saído. O mau gosto tomou conta do carnaval da cidade - músicas sem poesia, partituras pobres, violência nas ruas. Estou há dias tentando organizar as minhas ideias para escrita a respeito do carnaval de Salvador, mas a tristeza tende a tomar conta daquela alegria de anos atrás. E olhe que não são muitos anos (esse mês estou completando meus 30!rsrsr). Não consigo passar pela circuito tradicional da festa em dias normais e não remeter meus pensamentos à ela. A alegria das figuras inusitadas, da música, cheiro... só quem tem a saudade sabe.

Vi o carnaval na Carlos Gomes quando criança, a família montava acampamento num apartamento que eu não lembro muito bem, e de lá eu vi Sarajane, Luiz Caldas, Chiclete com Banana, e até Luiz Gonzaga, já bem velhinho, sentadinho em cima do trio. Minha prima Aninha ensinava a jogar serpentinas da janela. Caminhamos de dia até a Castro Alves e vi do chão o trio elétrico. Impossível não se apaixonar à primeira vista ao primeiro som de um trio elétrico. Sem falar na fantasia de havaiana que minha mãe pôs nas suas três filhas que me deixou desconfortada (mania que maioria das mães tem de vestir fantasias sem consultar!). Depois, já adolescente, comecei a curtir o carnaval na Avenida Sete, pois uma tia morava lá e assim tornou possível viver bons anos de carnaval com segurança e conforto. Lá eu dancei com o trio de Armandinho Dodô e Osmar, senti a perfeição do que se denomina como música do axé de Márcia Freire, Netinho, o som perfeito do Araketu com Tatau, Daniela Mercury e seu show ambulante, Olodum, o cheiro dos Filhos de Gandhy... Entrei nos apertos com Chiclete com Banana, com direito a mão de ladrão pelo bolso e tudo! rsrsrs Lembro que uma certa noite, aliás, uma certa madrugada, ouvi de lá do apartamento (não era possível ver muita coisa, porque o andar era acima da casa dos 10) a voz de Lazzo, que ainda não era Matumbi, e fiquei contagiada... Banda Mel, Margareth Menezes, a torcida do Bahia com Ricardo Chaves, a lavagem com Asa de Águia...

Corre, corre, lá vem, lá vem um trio!!!!

Essas recordações são de tirar o meu fôlego, tanto que nem parágrafo lembrei de colocar para o texto respirar! rsrsr Mas é assim, era assim, carnaval do Campo Grande, pela Avenida Sete de Setembro e Carlos Gomes, até chegar de volta ao Campo Grande de Novo. Tem algo mais interessante do que esse trajeto? Pois até com isso os donos do carnaval estão decidindo acabar...

O carnaval de Salvador, não é mais para o povo de Salvador e para os fiéis simpatizantes dessa cidade. Sou do tempo em que sair num bloco de carnaval era coisa de rico, e se colocasse endereço de bairros populares nem se conseguia comprar e isso gerava polêmica. Por que não se polemiza mais, visto que hoje não está diferente? Não é para qualquer pessoa a possibilidade de comprar um dia num bloco, que custa no mínimo 100 reais. E os blocos suspensos chamados de camarotes? Camarote era nas janelas das casas, de estabelecimentos. Não apertava as pessoas nas calçadas. Hoje nem vendedor ambulante pode transitar livremente na rua durante a festa. Definitivamente, o carnaval já passou para os soteropolitanos. Tenho pouquíssima coragem para ir às ruas durante os dias de festa, mas confesso que deprimo quando não vou.

Falar do carnaval é muita pauta, daria muito mais linhas para essa postagem, mas finalizarei com uma poesia musicada de Moraes Moreira, que mexe muito com as minhas lembranças, retrata de onde vem essa alegria do carnaval soteropolitano e, com certeza, onde ela tocar aos meus ouvidos, eu cantarei e pularei meu carnaval. Os grifos são meus.

CHÃO DA PRAÇA
Composição: Moraes Moreira

Olhos negros cruéis, tentadores das multidões sem cantor
Olhos negros cruéis, tentadores das multidões sem cantor


Meu amor quem ficou nessa dança meu amor tem pé na dança
Nossa dor meu amor é que balança nossa dor o chão da praça
Vê que já detonou som na praça porque já todo pranto rolou
Olhos negros cruéis, tentadores das multidões sem cantor ...
Olhos ne gros cruéis, tentadores das multidões sem cantor


Eu era menino, menino um beduíno com ouvido de mercador
Lá no oriente tem gente com olhar de lança na dança do meu amor
Tem que dançar a dança que a nossa dor balança o chão da praça ôuôuô


8 comentários:

  1. Me arrepiei com suas lembranças, que em parte são minhas também... Era bom demais curtir aquele carnaval de músicas bonitas, mortalhas, fantasias, mamãe-sacode! Lembro que eu e Silvinho ficávamos sem confetes logo nos primeiros dias de carnaval, jogávamos td de vez na rua! kkkkkkkkk E o new wave no cabelo?? kkkkkkkkkkkkk Êee coisa boa lembrar dessas coisas... Adorei o texto!

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  2. Boas lembranças as suas tb!!rsrsr New wave no cabelooooo!!!!

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  3. Deixa o texto respira,minha poeta sobrinha soteropolitana,ja fui bom disso no chão da praça,no rebolado das mulatas,com cerveja ou com cachaça,hoje so lembranças dos velhos e bons carnavais,vc me fez retornar ao pasado de boas musicas nativa,e eu nas multidões mais com cantores,AINDA JOVEN E COM AMORES:

    Beijos nas minhas LINDAS SOBRINHAS,COM MUITO CONFETES.

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  4. Karacas Mari... era mesmo.. para sair no bloco vc tinha que enviar foto e tudo.. se fosse negro e/ou feio não tinha o direito nem de comprar... isso nem faz tanto tempo assim..rs


    Muito legal seu texto... eu fiz uma viagem no tunel do tempo.. Bons tempos, ainda bem que tive a oportunidade de curtir muito bem.
    Mas tudo muda amiga.. e sempre pra pior. O que esta acontecendo com o mundo hein?... tenho medo do que pode acontecer daqui a mais 10 anos..viuxi!

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  5. Ah, que bom, ainda bem, pensei que envelheci aos quarenta anos! Já te falei da minha intolerância a esse má gosto que intitulam carnaval, atualmente.
    Somada as suas boas lembranças, lembrei-me de uma vizinha, que considero minha segunda mãe, ela tb alugava casa e eu tava colada, tinha até um banco que revezavamos entre um trio e outro , isso quando a perna não aguentava mais acompanhar. Que bom que pude viver essa magia!!!!

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  6. QUE TAL ESCREVER TENTAR ESCREVER PARA ALGUM
    JORNAL OU REVISTA?

    AGORA QUANTO A FANTASIA DE HAVAIANA, BEM QUE VOCES FICARAM BONITINHAS NÃO FOI?

    ADOREI O TEXTO. PARABÉNS. BEIJOS SUA MÃE.

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