domingo, 11 de abril de 2010

Trabalhando um dia desses


Passeando pela noite de sábado na capital onde moro, trânsito intenso de carros e pessoas. Eu vi um homem, estirado ao chão, tronco no passeio e pés na pista. Meu marido diz: “Esse é um..” Também vi um rato, corpo inteiro na pista. Então novamente retruca: “Que comparação...” 

Homens morrendo como ratos. Caídos no chão, sangue brotando por orifícios do crânio. Homens estão morrendo como ratos! Talvez um atropelamento, uma rixa entre vizinhos ou, mais provavelmente, dívida com o sistema do tráfico de drogas. Polícia escoltando o corpo, multidão já dissipada, tráfego normal, passei novamente pelo indivíduo estirado ao chão. Senti cheiro de sangue no ar. Não senti o cheiro do rato. Mas rato quando está morto fede... Penso que a vítima da morte estava passando no lugar errado e na hora errada. Talvez fosse uma morte por engano. Mais uma vez: “Que nada...”

Que nada é o agora, o homem deitado lá no chão! Pensei em ter alucinado, pois no primeiro momento o enxerguei enrolado literalmente num pano branco. Eu vi. Depois o lençol na pista. Mais um. Morte sem direito, sabe-se lá por quê. Adolescentes engravidando disparadamente, crianças crescendo sem a representação de um pai, fora da lei. O pai da horda é quem tem uma arma em punho. É o mesmo que manda no comércio paralelo, ilegal e quase institucionalizado do crack, da cocaína, do “pitilho” (cigarro de maconha misturada à pequenas quantidades de crack). Possuo muitas críticas à mídia e ao Estado sobre a criminalização da maconha, cabe para outro discurso. 

Agora, diante dos meus olhos eu vejo cenas que aparecem todo os dias na televisão. Sentimento de COMUNIDADE. Não sei qual a origem dessa palavra. COMUMnidade. Isso acontece hoje em todas as comunidades da minha cidade. É, portanto, algo comum e, tanto para mim como para poucos cidadãos que nela existem, HORRORIZANTE! Seres humanos, homens urbanos, terceira capital mais importante do país, onde tudo começou, e acabou. Então vamos começar de novo? Impossível. Todas as manhãs, quando eu era criança, ouvia no radinho de pilha de meu pai na hora de acordar para ir à escola, sintonizado na rádio mais assistida em transmissão AM na minha cidade: “Vumbora, vumbora, olhe a hora, vumbora, vumbora...” Eu preciso saber a origem da palavra comunidade, as palavras não têm um único sentido! ..................... 

Já passou da hora! A internalização do conceito desta palavra sob a qual vivemos é mais do que preciso, é necessário . Borbulhar a cultura social e política atual, com o nosso trabalho, nossas ações sociais, nossos acessos ao mundo inteiro através da internet, sem esquecer da nossa criatividade e da decência que nos resta, é um exercício desse conceito. Sou simplesmente uma cidadã soteropolitana, apaixonada pela minha cidade, empregada na maior empresa do Brasil e quinta empresa do mundo e, somente por amor, psicanalista -, uma cidadã comum. Estou cansada, enjoada de assistir à mídia local exaltar a ação falida da polícia contra o tráfico de drogas, além de me preocupar bastante com a segurança da minha família. 

Sugiro, definitivamente, transformar, reciclar, limpar. Se não tem lixo pelas ruas, não tem ratos, muito menos ratos mortos.

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