quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Eram deusas de pedras, furiosas, surgiam quebrando muros onde estavam adormecidas lá dentro, onde ninguém imaginava que existissem. No portal de pedra, muito alto no meio de um bosque cujo caminho dava tanto pra praia quanto pra um campo aberto, surgia uma tempestade de insetos, uma onda escura, arrastando tudo pela frente, inclusive pessoas, pessoas conhecidas. Algum evento familiar acontecia. Uma mesa de almoço de uma determinada família, posta na beira da praia, acontecia e eu, que não fora convidada, aproximei-me para cumprimentar os presentes. Algumas palavras minhas foram encaradas como inconvenientes, alguém me fazia sinal pra parar de falar. Com um papel em uma das mãos e uma bolsinha com meus documentos pessoais na outra, vi a onda do mar aproximando-se antes de todos. Não deu tempo, ela veio inundando tudo. Comida, celulares, pratos, peixe frito em postas - tudo desfez-se. Depois do recuo da onda, peguei meu celular que estava sobre a mesa e o abri pra tentar fazê-lo funcionar, já descrente. O alívio me vinha quando percebi que o papel em minhas mãos estava intacto. Eu seguia. Era uma apresentação em meio a confusão de deusas de pedras furiosas caminhantes e errantes, tempestade de insetos, praia, campo, e eu fora convidada a cantar. Minha voz, sensível aos acontecimentos, eu sentia fraca, mas sabia: o que eu cantar dará certo, a cantora já foi criada. Um copo de vidro é deixado  em minhas mãos como responsabilidade. Entro no palco sentindo-me fraca, voz fraca. Começo a cantar e de repente me dou conta que estou no palco da concha acústica e um público de convidados, casa cheia!, canta junto comigo, canta alto, grita, e eu me sinto acolhida e feliz, enxergando muitas falhas no canto, sabendo que depois dali será o mesmo desamparo de antes dali.

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