sexta-feira, 18 de junho de 2010

Quando uma criança é surrada o que está em questão não é apenas o castigo físico. A raiva e o descontentamento do adulto com sua própria vida são elementos que fazem irromper a violência de uma forma muito mais contundente do que o que quer que a criança tenha feito.
O castigo físico fere muito além do corpo. As surras levam, de enxurrada, tudo que necessita de coragem pra ser feito.

Maria da Conceição Nobre – psicóloga e psicanalista, coordenadora da Pesquisa O que eles não Gostam Projeto Proteger - Salvador /Bahia


Encontrei este trabalho de Conceição pesquisando textos para colocar no blog da Confraria dos Saberes. Como teimo em fazer tudo ao mesmo tempo agora, sem a paciência dos lobos, teria eu antes pensado em escrever e aqui estou.

Este trecho faz transferência com a minha sessão de análise hoje. Parecia uma sessão de emergência para mim, mas fora marcada. Ela me telefona desde ontem e hoje consegue falar: “Eu te liguei porque achei esse horário estranho...” Mas era uma emergência! Ela não sabia...

Logo na porta encontro Duto Santana, psicanalista, dançarino, mestre em dança, meu querido Duto. Faço festa, foi uma surpresa encontrá-lo, e fazendo análise com Conceição! Ufa! Agora sim... rsrsrrsr Antes de chegar lá, uma conversa franca sobre o meu relacionamento com o meu amado marido. O que eu tenho a oferecer? O que me falta? O que eu quero dele? O que ele tem? Nossa, eu tenho um marido... Sou merecedora de um marido... Posso compartilhar o que temos e trocar quando não temos. Dar o que não tenho para dar. Um par, meu companheiro, sensível, inteligente, capengante nessa vida como eu. Porém, isso é importante, coloquemos nossa ortopedia em prática!

Isso! Como me emociono e me estarreço com todo o meu processo. Tem uma inteligência burra em mim, como consegui nomear. Interpretação bem dita. Será que ela é uma entidade superior. Para mim, seu suposto saber, seu inconsciente afinado e flutuando com o meu é o que há. E eu quase não aguento! Por que não uma meditação? Sim, já tentei, mas não consigo. Medite, ouça uma música antes de dormir. Olhe o que estou fazendo antes de dormir - escrevendo. Como me cortar? A vida é besta. Mas dói. Construa sua ortopedia. Construirei em mim o meu sujeito. Eu vou escolher qual o predicado de mim. Conjugarei sofrer, conjugarei viver? Viver. Conjugarei. Fazer. Conjugarei. Trabalhar. Conjugarei.

Minhas noites não têm sido plenas faz uns muitos dias. Insônia, angústia, mais que angústia, ansiedade. Anseio tudo, como supracitei, tudo ao mesmo tempo agora. Aí paraliso na minha. Tem atestado pra isso? Vou mostrar à médica pra ver se ela entende, porque o dia de ontem para mim, aliás, as horas que se passaram, já não sou mais eu. Eu faço análise! Então hoje eu (talvez eu releia e lembre pontuando assim. Sou meio esquecida):

Entendi porque Waltinho persiste na ideia de localizar o inconsciente em algum lugar do corpo humano;

Enxerguei que posso escolher não sofrer;

Relembrei como o meu sintoma toma conta de mim e como posso fazer para fazê-lo trabalhar ao meu favor;

Contextualizei que o meu pai, quando não o incomodava, não era a lei, mas a permissividade;

Entendi quando minha mãe declarou a terceiros ser eu uma mãe bem mais paciente do que ela foi;

Compreendi que meus pais não são autores de mim;

Lembrei que a violência não é só física mas também verbalizada;

Pensei não ser possível recordar de muitos fatos da minha primeira infância (será que recordar de um não basta?! A resposta é não, idiota!)

Percebi que comecei a soltar palavrões nas minhas sessões de análise;

Assustei quando quase perdi o meu parceiro, marido, amante em nome de uma moralidade falsa;

Percebi o quanto estou cansada de mim sintomatizante;

Estou trabalhando para construir a minha ortopedia e caminhar com os meus próprios pés.

Tem mais, muito mais. Essa experiência de pontuar a sessão é interessante... enfim, pontuar não é curar, é organizar. Estou me organizando.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Segundos Saberes (para o seu comentário)