sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Você fica aí.

O fio transpassado pelo meio do tronco estava lá. Aos poucos comprimindo a pele gerando um sulco. O movimento repele o fio e um incômodo é sentido.
Qualquer coisa que se sinta nesse momento é importante. O bocejo anuncia a fraqueza de um corpo mal oxigenado há dias. O cão arrasta esse corpo no amanhecer. O mar também chora o choro incontido de tanta vergonha por não ter superado o luto. Era menina e morreu, em seus braços, cheia de palavras dizia: você é a melhor mãe do mundo.
O dia seguinte é o de tempos idos daquela de quem tirei a culpa por ser filha - o filho que o pai não teve, ela deu de qualquer jeito.
Uma crise, outra crise, aos poucos saindo da crise, mas é incompreensível a cura pelo jorro das palavras que encerram ciclos junto àqueles quem lhe fizeram de isca pro seu bel prazer. Agora o corpo é trans, deixe que ele se transforme e fiquem longe. Toda inteligência e canto foram deletados pra que a vida morra com a morte, nada além.
Apenas uma criada das insanas paixões que adoecem a alma de quem fora ensinada a reverenciar o amor por outrem. Balela, mentira, lorota, e dor, muita dor.
A vela branca ficará apagada, essa fé de vela é duvidosa, pode incendiar uma casa. Até porque é inútil chamar, pedir, mentalizar o amor romântico - ele tem a arte dissimulada de durar enquanto é carnaval.
Muitas despedidas ao mesmo tempo pra poder prosseguir. Cada um já encontrou o seu espelho favorito e assim foi correspondido depois da passagem pelo portal da paciência.
Mamãe, não chore, a vozinha meiga de uma criança hiperativa que no silêncio da casa foi flagrada cortando o forro do sofá.
Corta a mamãe, poderia haver esse pedido. Ou mate a mamãe. Tomara que o tempo voe, ainda que o amor nunca cicatrize.

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