sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Produção no ócio

Ontem encontrei Waltinho na Confraria dos Saberes e, no final do curso, ele à porta, me pergunta:
- Em que lugar você ficou lá, com a poesia?!
- Não fiquei nos primeiros lugares, mas a festa foi linda, fiquei somente entre as quinze classificadas...
- Marmelada! Quem era a banca julgadora?
- Não sei, não vi..
- Marmelada! Sua poesia com certeza foi a melhor! Garanto que não teve outra melhor que a sua!

Lindo, Waltinho! Cantor, compositor e poeta, contemporâneo da Confraria dos Saberes, um dos primeiros a elogiar a minha escrita flutuante. Mas para mim não importava realmente estar nos primeiros lugares ou ganhar o dinheiro por eles. Eu estava no lugar do meu desejo, com a minha cara limpa, com meus amores na plateia, com atores, poetas, músicos, meus pares naquela tarde tão inesquecível! E ainda: reencontrei meu professor de teatro lá, dirigindo a festa - Osvaldo! Não fui atriz no tempo de escola. E todas as vezes que precisei ser, tenho a certeza de que não o fiz bem. Minhas recordações prazerosas estavam no coreografar, no escrever, dirigir, no cenografar...

Lembro que Osvaldo solicitou uma tarefa de elaborar um classificador decorado para guardar sei lá o quê. Fui às revistas Veja de meu pai, folhear, recortar, criar. Minha irmã mais velha, filha de minha mãe, tinha chegado com a novidade de forrar cadernos com folhas de jornal e plastificar com papel contact. Copiei a ideia. Achei a fotografia de um microfone e outra de vários girassóis voltados de costas.. como posso descrever.... como se fossem uma plateia mirada por trás... (coisa difícil descrever!). Enfim, coloquei o microfone e os girasóis olhando para ele, colados na capa, com o jornal servindo de fundo. Entreguei o trabalho e, no dia dos comentários do professor, eu não compareci à aula. No outro dia, minha colega Danielle Almeida, veio cheia de felicidade e estupefatação repassar os comentários direcionados a minha arte. Osvaldo teria tecido muitos elogios, alegando que "isso sim que é arte!", diante dos demais classificadores, penso que não tão criativos diante de um comentário público deste! rsrsrs

Com 13 anos, marcando meu retorno ao Teresa de Lisieux depois de um ano no Colégio Adventista de Salvador (onde numa apresentação de ciências sobre répteis fiz uma colega levar o seu jabuti de estimação, causando alvoroço na sala, e depois numa demonstração sobre drogas, produzi saquinhos com bolinhas para as anfetaminas e farinha de trigo para cocaína, causando o mesmo resultado!), escrevi para o Festival de Crônicas. Minhas crônica foi a vencedora dentre as demais para representar a 7ª D no festival. A crônica trazia cenas durante uma viagem de ônibus coletivo em Salvador. Bolei a frente do ônibus com compensado em madeira, todos pintaram de azul, exatamente como era o ônibus que me conduzia à escola (extinta empresa TSS... Vários apuros!) e dirigi a peça. A escola tinha um teatro, muito bom, mas a nossa turma não foi congratulada, apesar de muitos risos arrancados da plateia, o que me gerou uma enorma satisfação. As outras turmas haviam contratado diretores para executar o trabalho o que, na minha opinião figiu do que seria uma produção genuína de alunos de sétima série.

E assim, várias apresentações se seguiram. Encontro das Nações, quando gravei numa fita a música de um cantor português para todas as meninas dançarem, inclusive eu, representando a Arábia. Mais uma vez sem o reconhecimento de uma produção de adolescentes.

No segundo grau, no CEFET, estudei com meu primo e compadre, Roquinho, e conheci minha amiga Pati-Beijo. Roquinho tinha estudado no Teresa também, já havia experimentado o teatro antes. Pati tocava piano, mente fértil, criativa. Trio de teatro! Fizemos assim muitas apresentações, estreando com um júri simulado, quando muita gente de outras turmas foram assistir. Lembro de Daniela Com (havia Daniela com gordura e sem gordura! rsrs) fazendo participação especial como escrivã e, à medida que se empolgava com a dramatização, ela batia cada vez mais rápido eforte nas teclas da máquina de escrever, como se, na condição de não poder rir, a máquina fizesse isso por ela! Roquinho era um viciado em anfetaminas, Pati a namorada, eu a médica que esclarecia ao júri todas as características do uso das bolinhas, além do restante da equipe. Escrever foi muito desgastante, porque acabei realizando a tarefa sozinha, e só evoluía mais rápido quando sentávamos juntos, eu , Roquinho e Patrícia. Até hoje tenho a peça comigo. Ao final acontecia um "você decide", a peça tinha dois veredictos, e o professor era um dos que faziam parte do júri, elogiando a minha participação por ter transmitido, no meu papel de médica, todo o conteúdo relevante do trabalho! Não poderia ficar para outra pessoa, né? Sou centralizadora para certas coisas, prefiro confiar em mim! Roquinho e Patrícia deram um show, como nas demais apresentações.

Eram trabalhos desgastantes, pois sempre me responsabilizava por escrever, criar, delegar. Mas eles faziam muito bem o que eu imaginava, e improvisavam como ninguém! Nada como bons atores.... Numa determinada apresentação, sobre a imigração italiana ao Brasil, escrevi uma peça que também foi um sucesso! Sucesso mesmo! Eu de redatora e diretora, Roquinho de locutor de rádio, Patrícia de italiana, e Gerson.. ah, Gerson! de italiano! Gerson foi o ator revelação! Ele não sabia dramatizar, mas o transformei num verdadeiro italiano, com ensaios exaustivos, dedicação e persistência minha, de Roquinho e Pati. Aprendemos a cantar Volare, inserimos palavras em italiano através de uma colega da escola que havia morado na Itália. Pesquisa de música, figurino. Flávia, minha comadre, aborreceu-se com minha postura de querer um bom resultado, como se eu estivesse exigindo dela. Lembro que Roquinho disse: "relaxe... ela não sabe como é teatro... teatro é assim mesmo..." Eu tinha parceiros bons, muito bons! Então Gerson fez tudo muito bem. Roquinho tinha que sair de um rádio gigante de papel, rasgando tudo e surpreendendo o público, - cena ensaiada exaustivamente, até ele sair como a minha imaginação tinha elaborado. Eu levava tudo muito a sério, como todas as coisas que me disponho a fazer até hoje...

Contaria muito mais histórias desse tempo bom... Com certeza retornarei com muito mais lembranças! Valeu relembrar tudo isso em meio ao ócio no qual me encontro aqui neste meu trabalho atual. Pelo menos não esqueço que fui , sou e sempre serei produtiva.

5 comentários:

  1. Mari, A primeira vez que vi "O Auto da Compadecida" foi numa apresentação de você no CEFET, lembro de acompanhar os ensaios e lembro de Roque esquecendo a fala na apresentação...acho que vocês eram Chicó e João Grilo, não era? Pati era a mulher do padeiro, não era? Foi muito divertido! Se eu fosse se sentir saudade eu até diria que deu saudade... rsrs

    Bjo!

    P.S Gostei do seu espaço. Estou sempre por aqui bisbilhotando a sua cabeça!rs

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  2. OLÁ , TUDO BEM MARIANA?

    O QUE ABUNDA EVENTUALMENTE, ESCASSEIA.

    Este é um título perigoso, pois a colocação da virgula é tão imprescindível como a vestimenta de um astronauta, nas suas viagens espaciais.

    Mas, indo objetivamente ao assunto e sem maiores churumelas ou subterfúgios , sempre gostei muito de pássaros , mantenho as gaiolas absolutamente, limpas, comida farta e água renovada.

    Antes, não suportava a idéia de admitir um pássaro em cativeiro, com todo o espaço do mundo à sua disposição, o céu azul infinito e ele ter que ficar trancafiado.

    -Como minha senhora? A senhora se sente assim, no seu casamento?

    Perdoe , mas contente-se ao lembrar que um astronauta dentro da cápsula espacial ...

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    UM ABRAÇÃO CARIOCA.

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  3. Obrigada, Dani!O espaço é nosso!
    Súplica atendida com sucesso, Paulo! rsrsr

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  4. Lembro muito bem da peça do ônibus e da apresentação do Encontro das Nações, sucesso e eu estava lá pra aplaudir!!! Lembro da construção das outras tb. É minha irmã... acho que nasceu pra isso mesmo. A Globo tá te perdendo!!!!!!

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