terça-feira, 25 de abril de 2017

o Menina baiana - claquete 25

Adentrou a casa e foi direto pra rede. Parou o balanço com a ponta do pé no chão. Voltou-se à janela de modo que vejo somente as suas curvas se fazendo no tecido.

O MENINA: Sou da rede e ela me enreda. Babel, pura babel, mas igual. Gente não precisa ser sempre original. Eu invento cais, invento cores da razão, invento apresentação... [pausa e fixa o olhar] Eu quero ser tocada. Deitar minha cabeça num colo e sentir dedos pelos meus cabelos arrepiando o meu corpo inteiro e lembrar que isso existe. Que existe o som do S na fala de alguém. Fale nós aí. Mesmo que seja nó, fale nós aí. Escute: nós. É uma canção de ninar o S quando alguém faz cafuné enquanto fala. Sem cafuné já o é, quem dirá com... [se vira na rede] Edith Piaf amava Marcel. Marcel morava longe. Ele vivia com a família dele, longe. Às vezes eles se encontravam, jantavam, se amavam. Ela amava ele e sempre esperava ele voltar e enquanto isso, cantava. [se vira na rede]
Hoje eu quero beijar um beijo querido. Hoje eu quero um abraço querido, escutar um coração e alisar uma mão querida, segurar um dedo mindinho querido, sentir minhas mãos passarem por um rosto querido, passarem na aspereza de uma barba querida ou de um rosto sem barba querido. Um beijo querido hoje é tão fora do meu alcance... Tem dias que querer nessa vida me deixa triste e eu choro.


"escute essa canção que é pra tocar no rádio, no rádio do seu coração, você me sintoniza e a gente então se liga nessa estação" (Moraes Moreira)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Segundos Saberes (para o seu comentário)