quinta-feira, 27 de abril de 2017

o Menina baiana - claquete 27

CENA: Lavando a solidão

O MENINA: Minha vovozinha sabida me viu hoje e me perguntou: porque está tão magrinha? Minha vovozinha calada já me disse um monte de coisas. Disse também: você ainda tem estrada, eu já caminhei. Reaja. Sim, minha vovozinha, sou uma neta obediente agora. Prometo, vou parar de xingar. Prometo, vou parar de sentar no portão pra assistir aos meninos jogarem bola. Prometo, vou apenas trabalhar. Prometo, vou me alimentar melhor, minha vovozinha. Quer sentar comigo e fazer bolsas de ráfia? Quer que eu vá atender no balcão da sua venda? Forrar os botões, vovozinha? Eu escutei sim, está só, sozinha, minha vovozinha. Quer a rede pra deitar? Vamos assar castanhas de caju? Sim, vovozinha, eu levarei as cascas das frutas pras galinhas. Eu colocarei o resto do almoço pro cachorro preto, a mim ele não morde, vovozinha. Domingo vamos tomar sorvete? Serei ri-rica, vovozinha, assim ele me chamava, lembra? Má-rí, vovozinha. Ela leu minha mão e disse que achou engraçado porque eu não nasci pra ser pobre. Fui escondida, vovozinha. Quer que eu sente no banco da igreja pra escutar o seu coral? Você me enxerga, vovozinha? Se eu dormir, você me acorda?  Eu gosto de banana real, vovozinha...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Segundos Saberes (para o seu comentário)