sábado, 5 de agosto de 2017

o Menina baiana - claquete 179

CENA: O sol não adivinha


O MENINA BAIANA: O mar faz silêncio mas a minha mente não. Nem essas pessoas na rua. O vento traz o barulho delas a se unirem com a zoada da minha cabeça. Já coloquei o fone. Vou escutar minha sorte e estudar o que posso colocar nela. Não sei se outra língua. Esse meu jeito não cura com reza. A reza é pra encontrar esse meu sujeito. Encontrar sujeitos que me dão espelho em seus jeitos, meus jeitos, em seus cheiros que pedem minhas narinas, em seus ouvidos que pedem a minha voz, em suas vozes que pedem meus ouvidos. E parecem estar por perto pra não perdê-la. Estética, tropicálias, na minha, meu canto. Me encontro metendo pesquisa pra viver. Não foi o sistema de catracas que se dispôs a me destrancafiar. Foi a música. É ela. Nem foi a oração torta de minha mãe durante todos esses anos. Ainda que eu cante minha sorte, tenha chorado com minha sorte. Minha mãe é minha música. Eu me derreto em lágrimas duras, tão duras quantos aquilo que se coloca na ponta da perfuradeira, enfiando ela bem no fundo do mar pra encontrar sinais da pérola negra mundial. Eu me encontrei no negro gato antes mesmo dele morrer, ele sim é uma pérola negra. Brasileira. Assim, brasileira. Desse jeito meu, brasileira. Sentindo a nacionalidade toda pelos poros e pêlos. A naturalidade em meus fios de ouro prata no espelho. Na rachadura de minha pele porosa e flácida. Nos rasgos novos em volta dos meus olhos. Todo dia. Quando é dia. Eu me levanto e lavo a louça pra deixar a casa arrumada. Passar pano no chão tem que ajoelhar pra enxergar a sujeira.

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