quarta-feira, 16 de agosto de 2017

o Menina baiana - claquete 205

CENA: A sagração da primavera


O MENINA BAIANA: Há machismo e covardia. Os homens e mulheres aprenderam muito bem como atingir aquelas revolucionárias, aquelas vanguardistas. Eles vêm, dispostos, e vão, sem qualquer explicação de mínimo respeito. Eu vou me entendendo sujeito nesse mundo em que quero morrer. Fora da alienação há salvação ou suicídio? Fui kardecista e é uma perturbação essa coisa de caridade, espírito obsessor e umbral.

UM SER DE LÁ DO SERTÃO: Essa coisa de fé na humanidade... Tá por fora.

O MENINA BAIANA: Só não cortei meus pulsos ainda, acho que porque fiz análise esses anos todos. Está cada vez mais curto o salto. E quando eu estou na rua sinto uma agonia enorme. Hoje o carro era uma arma em minhas mãos. Não fique perto de mim. Você está longe, mas sabe, não fique perto. Esse perto pode lhe fazer algum mal. Eu quero mesmo morrer. O seu movimento, o meu movimento, tem funcionado. As pessoas ficarão mais tempo na terra se o conhecerem.

UM SER DE LÁ DO SERTÃO: É importante para viver encontrar-se com o ser.

O MENINA BAIANA: Mas é proibido ser aqui nesse mundo que criou os seres. Esse encontro com o ser é a própria morte. Estou me tremendo muito. Acabou.

[Pausa]

Josephine falou disso - pra mulher a arte é muito mais difícil. Imagine eu aqui nesse lugar chamado Salvador. É isso, mas é velado. Tenho que me transformar all the time.

UM SER DE LÁ DO SERTÃO: Penso em você todos os dias e todas as noites.





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